Memória | O triste fim de José Gavronski

Por Marcolino Jeremias

José Gavronski (foto) foi um militante libertário que iniciou sua trajetória nos anos 20. Na década seguinte foi colaborador assíduo do coletivo editorial do periódico anticlerical A Lanterna. Segundo ele: “Os anarquistas eram pessoas corretas, criteriosas e cumpridora de seus deveres”. Foi muito próximo de militantes como Edgard Leuenroth, Affonso Schmidt, Maria Lacerda de Moura e Patrícia Galvão. Em sua chácara, em Guaianases, promoveu encontros libertários.

Nas páginas de A Lanterna, manteve intensa polêmica com o padre Leopoldo Aires que era diretor de um jornal religioso. O debate terminou com Gavronski persuadindo o clérigo, que acabou largando a batina e casando-se. Gavronski guardava com orgulho o recorte do jornal que noticiava o enlace. Em 1952, publicou seu livro ‘Hóstias Amargas’, cujo prefácio foi escrito justamente pelo poeta Affonso Schmidt. Um verdadeiro libelo contra o clericalismo.

Em 1935, foi preso pela polícia política da ditadura de Getúlio Vargas, acusado de pertencer a Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização que ingressou atraído pelo lema “Pão, Terra e Liberdade”. Mesmo sem ter cometido crime algum, esteve nos presídios Maria Zélia e Paraíso durante 15 meses.

Lamentavelmente, o dentista aposentado, por dificuldades econômicas, teve que vender sua chácara e passou seus últimos anos vivendo em um Lar Evangélico, na Zona Noroeste em Santos. Em meados dos anos 80, aos 93 anos de idade, José Gavronski escreveu suas memórias que registravam, entre outras coisas, um amplo panorama do sistema carcerário ao qual eram submetidos os presos políticos, durante o Estado Novo. O livro nunca foi publicado, os originais ficaram com o autor, que guardava o texto em uma inseparável e antiga pasta marrom. A história brasileira perdeu um grande vulto das lutas sociais que não conseguiu registrar devidamente suas memórias. Fica aqui nossa homenagem ao companheiro!

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Os grilos cantam
Apenas do meu lado esquerdo –
Estou ficando velho.

Paulo Franchetti