Memória | A voz feminina da revolução

Por Marcolino Jeremias

“Sou velha, e por isso madura e já atravessando o meio século, já farda de ilusões. Não sei se a amiga é moça ou velha, se sofre ou tem sofrido, como eu os efeitos das injustiças e desigualdades sociais, principalmente essas desigualdades que fazem da mulher nesta sociedade um simples objeto de luxo e de gozo. (…)

Até hoje, todas as nossas companheiras, casadas com companheiros, que andam nestas agitações, são das que mais sofrem, devido à falta de coerência de companheiros que pregam nas associações a liberdade, e as trazem em escravidão permanente no lar, onde estas só têm que seguir o que a vontade absoluta do seu senhor o determina. Além disso, os companheiros que pregam a liberdade absoluta de que carecemos todos, de acordo com as nossas ideias que hão de ser vitoriosas um dia, não gostam de levar suas companheiras consigo para as suas associações (…)

Os maiores inimigos das ideias que nos dominam, entre nós, até hoje, tem sido os próprios propagandistas (…) precisamos atrair primeiro o povo e depois dizer-lhes a verdade. Eles levam, ao contrário, a espantar o povo. (…) Cada dia que passa, precisamos nos empenhar para que tenhamos, mesmo a pretexto de festejos que não estão no fundo, de acordo com as nossas ideias, procurar ter quem nos leia e quem nos ouça, e nunca nos ocorra a triste ideia de criticar os que, por coerência, para conquistar o público, transigem nessas coisas”.

— Carta da operária Maria Rosa para a operária Elvira Fernandes, Rio de Janeiro, Maio de 1913.

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Nem uma brisa:
o gosto de sol quente
nas framboesas

Betty Drevniok