Por Carlos Paul | 22/08/2022
O livro mais recente do historiador baixo-californiano Gabriel Trujillo Muñoz (Mexicali, 1958), “Los salvajes de la bandera roja: La revolución floresmagonista de 1911 en Baja California y sus consecuencias”, aborda, explicou o autor, “a história de uma Revolução Mexicana mais radical e muito pouco mencionada nos livros: a história do anarcossindicalismo na região fronteiriça do país, e a da contrarrevolução conservadora que por várias décadas mantiveram militares e intelectuais porfiristas”.
Publicado pelo Fundo de Cultura Econômica (FCE), “Los salvajes de la bandera roja…” “propõe demonstrar que o floresmagonismo, como movimento armado e ideológico, é parte importante da Revolução Mexicana, e que também se estendeu por várias partes do país”.
Na história oficial Ricardo Flores Magón, apontouo investigador, “sempre é considerado unicamente precursor da Revolução Mexicana, mas foi muito mais que isso. Dizê-lo precursor é esquecer que os revolucionários floresmagonistas estiveram ativos entre 1910 e 1916. Houve levantes armados que seguiram suas doutrinas anarcossindicalistas em Sonora, Sinaloa, Chihuahua, Veracruz, Jalisco, Colima, Oaxaca, Guerrero, Coahuila, Morelos, Yucatán, Zacatecas e Baja California.
“O livro se centra em uma das etapas mais controvertidas do trabalho revolucionário floresmagonistas que se desenvolveu na zona fronteiriça entre México e Estados Unidos, no distrito norte da Baja California, em entidades como Mexicali, Calexico, Ensenada, Tijuana e San Diego, onde se tocaram diversos interesses, tanto políticos, econômicos e sociais do porfirismo, como os interesses econômicos de algumas companhias estrangeiras.”
Repercussões
“Los salvajes de la bandera roja… “ao mesmo tempo que aborda a campanha militar revolucionária dos floresmagonistas na Baixa Califórnia, dá conta também da contrarrevolução conservadora que por várias décadas, a partir de 1911, mantiveram militares do Exército federal, como Celso Vega e Esteban Cantú, intelectuais porfiristas como Rómulo Velasco Ceballos e Enrique Aldrete, além de empresários e comerciantes de ambas as nacionalidades”.
Fala-se também “sobre as enormes repercussões e consequências do movimento armando floresmagonista na franja fronteiriça, que não se pode manter por muito tempo, já que no final triunfou o movimento maderista, e foi ao qual quase todo o país se sujeitou”, explicou o especialista.
“Ante o movimento floresmagonista houve uma virulenta reação de setores clericais, militares, políticos, empresariais, da embaixada estadunidense, de companhias estrangeiras e seus interesses econômicos criados, e dos porfiristas que queriam regressar ao poder.”
Os porfiristas, explicou Trujillo, “se converteram em maderistas enquanto buscavam a forma de regressar, o que conseguiram com a chegada ao poder do usurpador VictorianoHuerta”. A figura que se estabeleceu como cacique na Baixa Califórnia foi o coronel porfirista-huertista Esteban Cantú. Criou uma espécie de estado autônomo, até 1920, enquanto no resto do país se encontravam vilistas, carrancistas, obregonistas; quer dizer, o estatus quo porfirista na zona fronteiriça se manteve até 1920.
“E esse regime, o do coronel porfirista-huertista Esteban Cantú, foi o que criou toda a lenda negra sobre o movimento floresmagonista”, explicou Trujillo Muñoz.
Há que recordar, destacou o historiador mexicalense, que implicava o anarcossindicalismo a partir do Partido Liberal Mexicano.
“O movimento, encabeçado por Ricardo Flores Magón não só estava formado por exilados mexicanos nos Estados Unidos; havia também um vínculo muito importante com os trabalhadores membros da Industrial Workers of the World, principal sindicato de obreiros de seu tempo. Não importava que fossem italianos, irlandeses, chineses, alemães ou mexicanos.
“O partido anarcossindicalista mexicano não pretendia uma revolução reformista ao estilo Madero, mas uma revolução verdadeiramente radical, que derrubasse Díaz, sim, mas que também mudasse de raiz toda a estrutura do Estado.”
O Partido Liberal Mexicano, que tinha uma sede em Los Angeles, Califórnia, “abriu uma convocatória para ir lutar contra a opressão e a ditadura porfirista”. Movimento ao qual se somam afro-americanos, asiáticos, europeus, mexicanos e estadunidenses, que, como revolucionários, vem a oportunidade de demonstrar que pode haver uma mudança, não só na teoria, mas na prática. Um movimento que também faz um chamado aos indígenas nativos oprimidos da Baixa Califórnia.
“Toda essa humanidade é a que toma para si o movimento floresmagonista na zona fronteiriça, o que para os porfiristas e os poderes políticos e econômicos nacionais e estrangeiros foi todo um pesadelo”, expôs o investigador.
As características desse movimento revolucionário floresmagonista “é muito contemporâneo”, considerou Trujillo. “Hoje se parecem a movimentos como Anistia Internacional ou Greenpeace, ao serem movimentos internacionalistas”.
Na atualidade, comentou o historiador, “estudiosos mexico-estadunidenses ou chicanos, estão investigando e reavaliando o movimento floresmagonista como um movimento que amalgamou a diversos movimentos revolucionários de seu tempo, que não só propõe uma discussão teórica, mas que punha em prática uma verdadeira revolução ante a globalização e o capitalismo selvagem que vivemos agora.
“Muitos aspectos da teoria anarcossindicalista –concluiu Trujillo Muñoz– seguem funcionando perfeitamente para certos problemas que vivemos os mexicanos na atualidade, para uma sociedade que segue sendo classista e racista, incapaz, por exemplo, de ver o migrante como mais um ser humano.”
Tradução > Sol de Abril
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