[Irã] “Nem o rei nem a direção, abaixo o sistema autoritário”

O levante dos oprimidos no Irã é um levante, dividi-lo em grupos étnicos é uma ação contrarrevolucionária!

Para evitar que o levante dos oprimidos no Irã se converta em uma guerra de milícias religiosas e étnicas, como o levante dos oprimidos na Síria (2012), devemos extrair lições da história e a experiência do passado. Conflitos de classe.

Agora que passaram dez anos desde o ressurgimento dos Oprimidos na Síria, a história demonstrou que converter o levante social e de massas em uma guerra de milícias e em um circo político para os partidos políticos criará as condições para o reforço da contrarrevolução. Converterá o levante em um jogo político para as agências de inteligência de várias superpotências e companhias multinacionais para criar um banho de sangue através da guerra de milícias com o apoio dos estados títeres regionais.

Desafortunadamente, a contrarrevolução conseguiu converter os levantes dos oprimidos desde Tunez até a Síria e Iêmen, em ferramentas para implementar os planos das superpotências e as empresas multinacionais. O exemplo vivo desta realidade são os conflitos internos na Síria e no Iêmen que criou um mercado para o comércio de armas.

Ainda que o Irã se componha de várias regiões étnicas e religiosas diferentes, as manifestações e protestos anteriores se dividiram de alguma maneira entre estas entidades políticas e culturais, mas desta vez, diferente de antes, mas como o levante de 1979, os oprimidos do Irã se levantaram como um corpo.

Este é o ponto de inflexão mais positivo e alentador do ressurgimento da luta dos oprimidos iranianos. É um sinal aprender lições das lutas passadas e o aumento da autoconsciência dos oprimidos iranianos.

Mas apesar de toda a alegria a este nível de autoconsciência dos oprimidos, não devemos esquecer nem um segundo o perigo das manobras contrarrevolucionárias (do governo aos monárquicos, nacionalistas e suníes salafistas). Se olharmos de perto as reações e atitudes dentro e fora do Irã, lamentavelmente há movimentos contrarrevolucionárias aqui e ali, ainda que são preliminares, mas tudo tem um começo. Converter o levante na Síria em um banho de sangue durante dez anos de guerras de milícias começou com um só disparo e um incidente banal, que foi um tiroteio durante uma manifestação pacífica depois das orações da sexta-feira.

Nas últimas semanas, os monárquicos fora do Irã sob a bandeira do estado tentaram constantemente mudar a natureza dos protestos, enquanto que em casa o governo atacou as bases armadas da oposição fora do Irã (na região do Curdistão/Iraque) e levou a cabo dois níveis de repressão em Baluchistão e Curdistão com bastante dureza em comparação com as regiões de fala persa para criar confusão, suspeita e divisões entre os manifestantes.

O estado também tentou arrasar as milícias do partido armado curdo a uma resposta armada e criar suspeitas e divisão entre os levantes em Baluchistão, Curdistão e Azerbaijão com o centro de fala persa. Claro, junto com os esforços do governo iraniano, os governos de Paquistão, Turquia e o Golfo estiveram envolvidos nas últimas décadas em uma flagrante discriminação religiosa e étnica nessas regiões e agora estão tratando de provocar divisões. Mais efetivos e piores que todos estes são dos fenômenos que surgiram nos últimos dias: Primeiro, os tiroteios e a armação do levante, especialmente nas regiões fora do centro. Em segundo lugar, a etinização das manifestações de solidariedade fora do Irã, especialmente na Europa, que só são solidárias com o levante de uma região, o que é o começo da fragmentação e criação de divisões ao estimular o nacionalismo e o salafismo religioso.

Nos opomos e condenamos essas tentativas e tratamos de prevenir qualquer tentativa, opinião e declaração contrarrevolucionária. De acordo com nossa experiência da história dos levantes, especialmente o levante dos oprimidos no Irã de 1979 e o levante dos oprimidos no Iraque de 1991, apresentamos nossos pontos de vista, sugestões e apoio a nossos amigos e camaradas em todas as regiões do Irã. Nosso único objetivo é impedir os esforços daqueles grupos e partidos que estão tratando de converter este levante unido dos oprimidos do Irã em nacionalista fragmentado e em uma guerra de milícias.

Afortunadamente, até onde sabemos, as atividades dentro das cidades e regiões iranianas, o nível de consciência dos insurgentes está ao nível de sua responsabilidade histórica revolucionária e os riscos de divisões foram menos dominantes até agora. No entanto, nós (como partidários de nossos companheiros insurgentes no Irã) não devemos ficar de braços cruzados e ignorar os movimentos e esforços dos movimentos autoritários e as milícias (desde nacionalistas, salafistas, shakhaístas até esquerdistas) para controlar e enganar em todos os protestos ou levantes. A antirrevolução sempre foi capaz de vencer e derrotar as ondas da revolução social aproveitando o otimismo dos oprimidos inconscientes através dos movimentos, partidos e grupos armados autoritários.

Frente a estes esforços contrarrevolucionários, o apoio dos lutadores pela liberdade e os movimentos antiautoritários a nível mundial e em todas as regiões do mundo para o levante dos oprimidos no Irã pode fortalecer o equilíbrio de poderes em benefício do polo revolucionário contra os capitalistas, que já preparam seu cenário para controlar a sociedade iraniana após a queda do atual governo.

Não ao estado e ao governo, não às milícias, não ao partidismo, não ao nacionalismo, não ao salafismo

Sim à solidariedade global, sim ao levante social, sim à autogestão social local de todas as regiões iranianas, sim ao federalismo não estatal

Foro anarquista de fala curda

14 de outubro de 2022

Fonte: Anarkistan –https://linktr.ee/anarkistan

Tradução > Sol de Abril

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