[Portugal] Acácio Tomás de Aquino (1899-1998): O testemunho anarquista da violência das prisões atlânticas do fascismo

Acácio Tomás de Aquino (Lisboa, Alcântara, 9 de Novembro de 1899 – Lisboa, 30 de Novembro de 1998), militou nas Juventudes Sindicalistas e depois na Confederação Geral do Trabalho, tendo colaborado também  no jornal “A Batalha” e participado na preparação do 18 de Janeiro de 1934. Preso e deportado primeiro para Angra do Heroísmo, esteve depois 13 anos no Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde.

Acácio Tomás de Aquino nasceu, em Lisboa, no bairro de Alcântara, a 9 de Novembro de 1899 e aí morreu a 30 de Novembro de 1998.  Exerceu várias profissões: operário da construção civil, trabalhador da Câmara Municipal de Lisboa, de 1918 a 1922, e ferroviário, de 1926 até à sua prisão, em 1933.

Foi militante anarco-sindicalista da Confederação-Geral do Trabalho, filiado nos Sindicatos dos Metalúrgicos, dos Trabalhadores do Município e da Construção Civil, entre 1919 e 1933.Foi, ainda, secretário da Federação dos Sindicatos da Construção Civil e da Confederação Geral do Trabalho.

Foi colaborador da imprensa operária e sindical, nos jornais A Batalha e O Construtor. Membro do comité da CGT organizador da greve geral de 18 de Janeiro de 1934, foi preso a 11 de Dezembro de 1933, sob acusação de ter entregue bombas a outro activista na Estação do Rossio, estando, por isso preso quando se deu a greve geral .

Foi condenado a 12 anos de degredo em prisão, pelo Tribunal Militar Especial, no dia 9 de Março de 1934. A 8 de Setembro desse ano seguiu primeiro para Angra do Heroísmo, sendo transferido para o Tarrafal, Cabo Verde, a 23 de Outubro de 1936. Teve um papel preponderante na Organização Libertária Prisional, que agrupava os presos libertários que se encontravam no Tarrafal. Regressou a Portugal a 10 de Novembro de 1949, mas só alcançou a liberdade total, a 22 de Novembro de 1952.

Depois do 25 de Abril de 1974, colaborou com diversas organizações e jornais libertários, sobretudo no jornal A Batalha, que ajudou a renascer, e publica um dos livros mais importantes sobre a vivência dos presos quer em Angra do Heroísmo, quer no Tarrafal, com inúmeros documentos daquela época “O Segredo das Prisões Atlânticas, em que relata também as divergências entre os anarquistas e os comunistas, transcrevendo correspondência entre a Organização Comunista Prisional e a Organização Libertária Prisional, em que critica os comunistas, nomeadamente, Bento Gonçalves, Secretário- geral do Partido Comunista Português, entre outros, acusando-os de colaboracionismo.

Pertenceu à cooperativa editora de A Batalha, ao Centro de Estudos Libertários, ao Grupo Fanal, federado na FARP, e também à URAP, a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, colaborando empenhadamente na trasladação para Portugal dos restos mortais dos antifascistas portugueses mortos no Tarrafal.

No 1º de Maio de 1974 desfilou com o seu companheiro, também ex-militante da CGT,  José Francisco, na Avenida Almirante Reis, na primeira grande manifestação após o 25 de Abril, erguendo a bandeira da Secção de Belém do Sindicato Único Metalúrgico, vermelha listada-a-preto, que tinha guardada e escondida durante todos aqueles anos. Aos dois companheiros, Acácio Tomás de Aquino e José Fransciiso, rapidamente se juntaram dezenas de companheiros nessa primeira e imponente manifestação do 1º de Maio,

Para além de ” O Segredo das Prisões Atlânticas, Lisboa, A Regra do Jogo, 1978″, colaborou também no livro colectivo “O 18 de Janeiro e Alguns Antecedentes, Lisboa, A Regra do Jogo, 1978”, repondo a verdade história sobre a greve geral contra a fascização dos sindicatos.

Ver: “Quatro Itinerários Anarquistas – Botelho, Quintal, Santana e Aquino -, de João Freire, edições A Batalha, 2019.

Fonte: https://memorialibertaria.blogs.sapo.pt/acacio-tomas-de-aquino-1899-1998-o-30046

agência de notícias anarquistas-ana

Cabelos tão brancos:
ancinho que raspa a terra,
colheita de anos.

Alckmar Luiz dos Santos