[Argentina] “Multimilionários que fazem culto a pátria, a masculinidade, a família e seus pênis”

A 21 anos das jornadas de luta de 19 e 20 de dezembro de 2001, o povo argentino honra a sua seleção de futebol, o esporte e a sua pátria, como assim enfatiza o governo no seu decreto de feriado nacional dedicado às comemorações.

Não se trata de um povo “frágil” que se deixa contentar com circo face às migalhas, mas é justamente isso que é o povo: uma construção do Estado para impor os interesses da burguesia e sustentar a ordem dominante. O fervor mundialista não é uma simples “via de escape” contra o mal-estar, um entretenimento, é uma expressão clara da falta de perspectiva de classe e de transformação social. Não é que o mundial esconda a miséria, é a miséria que faz do mundial um acontecimento tão determinante na vida das pessoas.

A “alegria do povo” e o seu amor pela sua pátria surgem nos momentos mais oportunos como em 1982 quando se desencadeou a guerra das Malvinas, permitindo ao governo de fato desviar o insustentável descontentamento contra ele. Em 1978, os gritos dos torturados, muitos deles depois assassinados ou desaparecidos, eram silenciados pelo fervor nacionalista. Em 2022, mais um mundial infame, com milhares de trabalhadores semiescravidão mortos na construção dos estádios, acaba consagrando a seleção argentina.

Ironias da história, os “heróis do povo”, multimilionários que fazem culto a pátria, a masculinidade, a família e seus pênis, serão homenageados no mesmo dia que costumávamos recordar os 39 assassinados pelo Estado na explosão social de 2001.

Biblioteca Alberto Ghiraldo – Rosário

Terça-feira, 20 de dezembro de 2022

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