[Espanha] Se consolida o êxito da greve geral feminista

Hoje (09/03) na CNT ainda saboreamos a energia, o calor, o grito unânime de todas as pessoas que ontem (08/03) inundaram as ruas de Madrid. A alma de mulher que se respirava por todas as partes. O rosto feminista, os olhares postos em fazer caminho.

Pelo segundo ano consecutivo, as imagens aéreas que mostravam as televisões não davam uma boa conta do estrondo que enchia o ar, nem a alegria transbordante que se contagiava desde que alguém subia ao trem das proximidades ou ao metrô, para tentar chegar a qualquer dos pontos onde os diversos coletivos haviam ficado para reunir-se. Desde a primeira hora da tarde, já não cabia um alfinete nas ruas, apesar de que as convocatórias para a manifestação foram horas depois.

Atrás ficava o intenso trabalho das companheiras da CNT, participando de mil assembleias e coletivos de bairros, reunidas com grupos de mulheres, organizando oficinas de formação interna, dando palestras em centros de trabalho, em mil lugares, sem parar a meses e meses.

Organizadas nos comitês de Greve, legalizando documentação ou negociando os serviços mínimos com empresas e administrações. E de seu fruto extraordinário, complexo, árduo e difícil para um sindicato que não tem nem liberadas, nem subvenções, nem grandes estruturas, de repente a magia da revolução, da Greve, do apoio mútuo, a conquista dos sonhos comuns.

Por um dia, como o princípio do que há de ser o porvir, todas e todos fomos companheiras na rua. Ao lado das Comissões 8M, das companheiras da PAH (Plataforma de Afetados pela Hipoteca), junto às lutadoras mulheres de “Território Doméstico”, as comunidades ciganas, dando a voz a todas as mulheres de outros lugares, de outros mundos. Juntas. irrefreáveis.

A jornada havia começado na quinta-feira, dia 7, à meia-noite. Por todo o território espanhol se organizavam os sindicatos, os piquetes de greve, os grupos de comunicação, os espaços de cuidados. Os companheiros haviam colocado o avental e arregaçado as mangas com decisão para deixar a rua e a palavra às mulheres. Em todos os sindicatos se organizavam em nossos locais cafés da manhã, almoços e lugares onde crianças e anciãos podiam descansar, a cargo de nossos companheiros.

Anotados e denunciados ficam as tentativas de boicote à greve por parte das instituições do Estado. Vimos como a prefeitura de Madrid impediu a passagem do equipamento de som do “Bloco de Classe e Combativo” segundo uma nova ordem, como o de Valladolid não permitiu a entrada às companheiras do comitê de greve a suas instalações, como a polícia de Barcelona encurralou às companheiras defendendo o castelo capitalista de El Corte Inglés. E outros muitos exemplos de como a política enche a boca com intenções feministas e logo utiliza suas armas contra nós.

Hoje, o dia depois de outro histórico 8 de Março, não vamos ficar paradas. Vamos  levantar desse chão pegajoso que costuma nos engolir, e assentaremos as bases para desmantelar este depredador sistema capitalista. Amamos a Mãe Terra que pisamos. Sabemos o que significa cooperação e apoio mútuo. Não nos interessa o êxito, nem a ambição. Não queremos participar em nenhuma forma de poder ou dominação. Não nos interessa reproduzir as estruturas hierarquizadas do sistema patriarcal.

O Estado não poderá nunca garantir a igualdade. Horizontalidade, solidariedade, elevar o olhar mais além de nosso território. Humanidade, no feminino, essa será nossa estratégia na hora de terminar com todas as relações de dominação.

Já não há volta atrás. Nos queremos vivas. Livres. Lindas. Loucas. E não vamos  parar até que nossa voz dê a volta ao mundo de extremo a extremo do planeta. Ontem sentimos que tínhamos força. Que juntas e organizadas vamos mudar o mundo. Não temos pressa. Não pararemos até consegui-lo. E nessa viagem até o horizonte, aprenderemos a desaprender e a construir esse mundo novo que levamos em nossos corações. O amanhã é nosso, companheiras.

nosotras.cnt.es

Tradução > Sol de Abril

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