“Os Heréticos”

O herético, como o bandido, sabe que a perda de sua liberdade o leva irremediavelmente ao cadafalso. Um tribunal aguarda-o para dar-lhe conta de suas ações. Um tribunal que exercerá seu poder e razão absoluta em nome de Deus, do Povo, do Reino ou do Estado. Poder e Razão são atos de sincretismo autoritário desenvolvidos ao longo dos séculos pelos donos da Terra, dos Mares e dos Céus.

Assim também o anarquista individualista – que é um herege e um bandido – está ciente de que sua convicção de possuir seu próprio poder e suas próprias razões o leva à fogueira. Como uma mariposa, busca luz e sucumbe. Como Ícaro voa para cima e o Sol derrete suas asas. Como Prometeu rouba o fogo dos Deuses para si e para os outros como ele e sofre o castigo eterno.

O drama do Anarquista é sua paixão pela liberdade, sua incansável busca de cúmplices que ele raramente encontra. Ele despreza o conformismo do rebanho, a covardia das multidões, o dogmatismo de qualquer fé.

Todo sacerdote – de qualquer “ismo” – o odeia, porque ele não o controla, não lhe obedece, não lhe dá ouvidos; e quando pode levanta a voz para minar qualquer indício de poder e autoridade. Às vezes, estes solitários vingativos lançam uma bomba ou clavam a adaga com a intenção de sempre semear o caos na ordem da razão rigorosamente estabelecida como lei ou verdade suprema. Outras vezes, eles se misturam em descontentamento com a intenção de desencadear insurreições. Mas a maior parte do tempo é gasto lendo, porque seu melhor amigo e passatempo é o conhecimento do que foi e do que é. Eles não abrigam ilusões ou esperanças, mas convicções.

Sabem que o conhecimento é sua força e lhes dá autodeterminação. Eles vivem todos os dias como se fosse o último. Em uma sociedade de escravos, a Liberdade é punida com a morte. Eles não se resignam, não se lamentam, blasfemam, atacam, expropriam. Não há muitos, mas mesmo estes são perturbadores para todo governo, precisamente porque são ingovernáveis; amantes da Liberdade total. O que quer que isso tenha sido. Eles se reinventam a cada passo, a cada golpe, a cada beijo. Eles não são estrategistas porque não têm um objetivo final e, portanto, suas ações aumentam a raiva dos próprios e outros. Eles não têm mais “partidários” do que aqueles que os conhecem e amam, isentando suas barbaridades iconoclastas. Muitas vezes, são caricaturados nos jornais porque, assim, acham que impedem as pessoas de se perguntarem: quem são esses loucos? O que querem? Como explicar aos cidadãos que não delegam suas vidas e pensamentos a outros, quem são os anarquistas?

Sim, eles são loucos e não querem nada mais que tudo. Tudo o que foi tirado deles e ninguém pode dar a eles, restituí-los. Lá vão eles! Eles não têm “argumentos”, o fogo e a pólvora falam por eles. Um quilo de dinamite e uma poesia. Um quilo de pólvora preta e uma nova heresia. Um “mãos para cima!” e se vão.

Artefatos que destroem seus Bancos, Tribunais e Delegacias; Quartéis, Igrejas e Sedes Políticas…

O que esses loucos estão procurando? Nada! O nada destrutivo que dá lugar à Natureza selvagem. As flores abrem caminho sob as ruínas de sua “civilização” pútrida.

Gabriel Pombo Da Silva,

Em 5 de junho de 2019.

De algum lugar no Velho Mundo.

Nota: Dedicado aos nossos caídos em combate; aos nossos prisioneiros da guerra anárquica; aos nossos fugitivos e a todos os co-conspiradores ácratas que iluminam a noite…

Tradução > Liberto

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Pelo gelo fino
minha sombra a deslizar
até que mergulha.

Mitsuhashi Takajo