NOITE NEGRA DE NEGROS AUGÚRIOS
“A noite já avançou. Não faz tanto frio para toda as roupas que obscurecem nossa imagem, mas isso não importa, o vento refresca nosso rápido avanço. Estamos a tempo. Tudo até o momento vai bem.
Estamos sozinhxs, sozinhxs como nunca e como sempre. Pelas ruas sombrias e maltratadas, rodeamos a fábrica de carcereirxs. Nos aproximamos. A próxima parada está perto. Na minha mente reviso o plano acordado…”
– “Uma saudação de Liberdade” – (1)
Depois de um feriado que antecipava um longo final de semana para muitxs, a cidade de Santiago foi dormir na fria madrugada de 22 de maio de 2009. Uma zona da Avenida Matta permanecia quieta, longe das luzes e agitação dos locais comerciais. Apenas dois ciclistas avançam como silhuetas difusas para diferentes câmaras de segurança.
O avanço é interrompido quando as silhuetas se separam e uma delas desce da bicicleta para arrumar algo em sua mochila. Um grande explosão corta então a filmagem.
O barulho de uma explosão poderosa ecoa pelas ruas, a confusão desperta o lugar, lançando alertas policiais.
No meio da rua Ventura Lavalle, quase na esquina com Artemio Gutiérrez, um corpo sem vida está envolto em um rastro de pólvora, ao lado um revólver – com uma única bala no tambor – mais adiante uma bicicleta negra espera para continuar a viagem. Apenas a poucos metros se encontra a Escola de Gendarmería, lugar onde xs carcereirxs recebem doutrinação e especialização.
A polícia, a imprensa, bombeiros e vizinhxs vão chegando no lugar. Após a confusão inicial, as primeiras inspeções mostram o que aconteceu. Um homem havia sido morto pela detonação de um artefato explosivo que portava, o objetivo do ataque era o lugar dxs carcereirxs.
Fotógrafos da imprensa se aproximam do corpo e registram as primeiras imagens, difundidas sem filtro para aterrorizar, detalhes macabros e falsos espalhados pela mídia à medida que as horas passam.
Depois de cercar a área, a equipe criminalista dos carabineros vai recolhendo as evidências, fotografando e atribuindo um número a cada peça levantada. Como não havia nenhum documento de identificação, fazem o registro das impressões digitais para encontrar a identidade. A obtém no decorrer da manhã.
O homem morto é Mauricio Morales, de 27 anos, anarquista, que registra detenções e controles em manifestações anárquicas. Pela imprensa suas tatuagens são descritas com minuciosidade, é quase meio-dia de 22 de maio de 2009.
Os primeiros ataques à sua família de sangue começam. A caçada já está desencadeada.
CARNIÇA JORNALÍSTICA…
“Se a imprensa pudesse ter derramado sangue pela tela, teria feito, mas, ainda assim, esse sangue teria continuado sendo guerreiro, nunca submetido e esse orgulho no alto era o que mais xs incomodava”
– Macul con Grecia- (2)
As empresas de comunicação não pouparam adjetivos para descrever o lugar, inventando passagens escabrosas. A exposição do corpo e suas feridas atingiu níveis que só se entendem dentro da lógica do terrorismo de estado.
À 13:30 horas, nos noticiários do meio-dia difundiram a identidade de Mauri, com sua foto do documento, também indicando que pertencia a uma coletividade que okupava uma casa no centro de Santiago.
Durante meses, as investigações policiais pela série de atentados explosivos contra símbolos do poder e dependências bancárias, centraram suas atenções nas okupações, especialmente em algumas, de onde a propaganda e agitação anárquica eram constantes.
Então, quase simultaneamente com a entrega do nome de Mauri, duas incursões ocorrem no centro de Santiago. Os carabineros invadiram uma casa particular, que funcionava como centro social, e a polícia investigativa invade a okupação “La Idea”, de onde várixs detidxs foram levadxs.
Equipes jornalismo televisionam e cobrem as incursões, enquanto falam dos “avanços na investigação”. Entre declarações pomposas afirmam que o acompanhante de Mauri foge ferido, estaria identificado e sua captura era descrita como “iminente”.
A polícia investigativa levou até um de seus quartéis xs companheirxs detidxs, onde tentaram interrogar várixs delxs. Lhes perguntavam pela pessoa que acompanhava Mauri. Lhes pediam um nome que ao menos elxs “imaginaram” que poderia ser, ao que se negaram de forma taxativa. Foram, assim, pressionadxs “se não cooperarem lhes mostraremos fotografias de como ficou o corpo”. Para a polícia, o corpo de Mauri se tornou um troféu, com o qual quiseram atingir todo o seu entorno.
Fizeram uma festa midiática com a morte de Mauri, indagando sobre sua vida, sua família, seu comportamento na universidade e até mesmo destacando que ele mantinha dívidas com uma casa comercial, buscando ridicularizá-lo a todo custo.
Equipes de um canal de televisão se aproximam dxs companheirxs e família que esperavam a entrega do corpo do lado de fora do Serviço Médico Legal, tentam conseguir uma entrevista com o mesmo velho e fundamentado argumento “queremos dar-lhes a oportunidade de defendê-lo, de explicar por que ele fez isso, estão dizendo coisas muito feias…” A pontapés e empurrões os fizeram retroceder.
Na mesma noite de 22 de maio, num canal de notícias mostrou uma grotesca entrevista com dois supostos companheiros de Mauri, que de costas, encapuzados e com a voz distorcida, contariam o “plano” do companheiro, com um roteiro absurdo e sem sentido. Este é talvez uma das passagens mais patéticas e lastimáveis, que serve como um barômetro do ódio que inspira a figura de qualquer um que atente, mesmo correndo o risco de sua vida, contra o domínio e sua ordem.
EM DEFESA DE UM COMPANHEIRO
“Companheirxs, estamos conscientes e sabemos bem o que vai acontecer agora, sabemos que dias e meses difíceis estão chegando. Mas também sabemos que a dor e a tristeza da partida de nosso irmão não pode nos paralisar. Recordamos insistentemente que ele morreu em combate, que a ofensiva tem variadas formas, que nenhuma vale mais que a outra. Apelamos então, que a formosa chama de seu coração anarquista propague o irredutível desejo de aniquilar esta realidade. Seu corpo encontra-se agora prisioneiro nas mãos da polícia e seus mercenários, mas a energia de sua vida permanece conosco, com xs companheirxs que junto a ele e de diversas formas enfrentaram e enfrentam aquelxs que querem nos transformar em escravxs”.
– “Um guerreiro morreu mas nosso fogo não se apaga” -(3)
As duas casas invadidas estavam a cerca de 15 quarteirões de distância, no meio de ambas se encontrava o Centro Social Okupado y Biblioteca Sacco y Vanzetti, lugar onde Mauri vivia e cujxs companheirxs decidiram fazer frente a possível incursão e agitar as águas da memória.
Encapuzadxs do telhado enfrentaram os primeiros carros policiais que chegaram ao local, em minutos a rua foi isolada, enquanto a imprensa se situava nos melhores lugares.
Mas assim como chegou a carniça, também foram chegando companheirxs, foi correndo a voz e de diferentes pontos, distintxs compas se fizeram presentes, muitxs não conheciam Mauri, mas movidxs por um genuíno impulso solidário chegaram decididxs a contribuir.
No meio da tarde foram registrados os primeiros choques com a imprensa, memorável é o ataque a uma equipe televisiva, que momentos atrás havia gerado a detenção de algumxs companheirxs. Com ousadia, a imprensa foi expulsa do lugar, aflorando cumplicidade, resistência e ofensiva.
Não se tratava de defender uma casa ou xs companheirxs que do telhado desafiavam o poder, se tratava de defender a memória de Mauri, cortando a quietude de 22 de maio. Um companheiro havia partido, um irmão, mas não eram lágrimas o que iam ser dadas à imprensa e à polícia, havia dor, mas não havia derrota.
Um sentimento urgente e coletivo de defesa do companheiro, foi a faísca que acendeu o pavio, Mauri involuntariamente operou como um catalisador para a sedição anárquica.
Talvez o formoso dessa longa jornada carregada de sentimentos caóticos, se encontra no caminho de fazer frente ao golpe da morte e os estilhaços da caçada policial.
Em vez de silêncio, submissão e dispersão, a resposta foi resistência e ofensiva, expulsando a imprensa das proximidades da okupação Sacco y Vanzetti, se agrupando a várixs compas para levantar barricadas e enfrentar a investida policial.
Essa é a beleza da confrontação. Justo nesses momentos onde os poderosos e seus múltiplos personagens ver a derrota expandida, a forma indômita de enfrentar esse momento foi a melhor propaganda de anarquia e companheirismo.
Depois das 22 horas, quase cem companheirxs permaneciam reunidxs em frente à “Sacco”, de uma de suas janelas um alto-falante expandia a música que Mauri escutava, as canções que cantava e sua voz (e risos) acompanhavam a noite.
Enteiradxs do avanço dos carros policiais, xs companheirxs na rua decidem sair para procurar os piquetes, levantando barricadas em todo o bairro. Se iniciava assim um combate que durou horas, movendo-se por toda a região buscando as principais artérias. Foi uma noite de múltiplas labaredas.
Houve detidxs, companheirxs golpeadxs e diversas tentativas dos carabineros para entrar na okupação, mas mesmo quando lançaram água e gases, finalmente não conseguiram entrar. Do telhado os esperavam ansiosamente…
Nas primeiras luzes da manhã, as barricadas ainda fumegavam e cada parede do bairro recordava a Mauri. Se semeava assim a semente da memória negra.
ESTILHAÇOS E CAÇADA
“Hoje, o Estado, a polícia, os gestores econômicos e a intelectuais deste país mostram sua inépcia atacando casas, levantando grotescas declarações, repetindo as imagens da descarada perseguição política, democrática ou ditatorial, dá no mesmo”.
– “Uma saudação de Liberdade” – (4)
No funeral chegaram centenas de companheirxs de diferentes lugares, muitxs ainda sem declarar afinidade completa com as ideias e ações de Mauri, demostraram com sua única presença respeito, solidariedade e companheirismo.
Novamente nos momentos em que o “racional” ditava para se resguardar, o mais distante possível para não se ver afastadxs com a arremetida policial, o germe anárquico se reuniu para se despedir do corpo físico do companheiro.
Faixas, capuzes e vontade foram acompanhados pelo caixão que, de acordo com as ideias de Mauri, levava uma pixação onde se lia “Nem deus nem amo”. A família de sangue decidiu sair dos carros e acompanhar a pé o caminho até o cemitério, avançando junto com todxs xs companheirxs. Se tratava de evitar a todo custa que os carros policiais cortassem a marcha e isolassem o caixão.
Depois do funeral, levantaram algumas barricadas nas redondezas do cemitério, sem que houvesse detidxs no local. A imprensa vigiou à distância, conseguindo obter algumas imagens próximas apenas nos arredores da casa da família de sangue.
Os ecos dos enfrentamentos depois da morte de Mauri, foram superando qualquer distância, levando a notícia a diferentes territórios, de onde foram manifestando solidariedade, contribuindo para a expansão da memória.
A presença policial e jornalística em torno das okupações foi permanente, intensificando os controles que já existiam desde antes de 22 de maio. O poder, por meio do assédio, buscava provocar o fechamento dos espaços, porque entendia a contribuição que significavam para a propagação das ideias/ações antiautoritárias.
Carabineros e a polícia investigativa disputavam o protagonismo no caso, elaborando diferentes teorias, que finalmente implicaram a presença de ambas polícias no entorno de Mauri. Mesmo assim, nenhum caminho os levou a seu acompanhante.
O rompimento entre a família de sangue e xs companheirxs de Mauri, que a polícia não pode conseguir em um primeiro momento, foi obtido ao longo dos meses. Psicólogos policiais foram assessorando a família de sangue, aproveitando-se delxs, guiando e orientando sua dor para o caminho que atendesse à investigação.
Então, finalmente, de um familiar, a polícia obtém uma declaração com uma lista de pessoas que possivelmente acompanhavam Mauri, que também seriam “culpadxs” de sua decisão de atacar, de suas ideias e ações contra a autoridade.
Tudo isso seris conhecido apenas em 2010, quando no âmbito do tristemente famoso “Caso Bombas”, muitxs de seus companheirxs enfrentavam as acusações do poder.
Em uma tese distorcida e inventada da promotoria, havia uma organização ilícita terrorista, com um plano criminoso estudado para difundir o terror por meio de ações diretas. Nesta organização havia supostos líderes e uma estrutura definida, com papéis estabelecidos. E como a cereja no bolo, a promotoria argumentou que para realizar o “plano criminoso” xs imputadxs levantavam “fachadas” de okupações, chamadas no delírio fiscal como centros de poder.
Mauri e outrxs 14 companheirxs, foram apontados como parte integrante desta organização ilícita terrorista. Durante as intermináveis audiências é onde a declaração de parte de la família de sangue vem à tona. Foi um momento duro e amargo, porque além de todo o carnaval mediático e policial após sua morte, finalmente, parte de sua família nuclear não só pisou a sua vida e valores ácratas, negava também sua força individual e colaborava com os eternos inimigos de Mauri: os defensores da autoridade.
Ao longo dos anos, o curso dos acontecimentos pode parecer tragicômico, com suas voltas e delírios investigativos, mas o certo é que assim conseguiram desarticular entornos, com o medo e desgaste, e também desalojaram a okupação Sacco y Vanzetti, detiveram mais de 10 companheirxs por vários meses, estenderam o julgamento por mais de um ano e durante o processo expuseram -mais uma vez- fotografias do corpo morto de Mauri, detalhando cada ferida. É sem dúvida lamentável que este último fato não tenha encontrado resistência, por mínima que fosse.
Finalmente, o julgamento terminou com a absolução de todxs xs acusadxs. Assim terminava -naquele momento- a tentativa de judicializar um amplo entorno anárquico e resolver, pelo menos policialmente, a morte de Mauri.
A MEMÓRIA NEGRA
“Quando a morte de repente nos surpreende, são xs vivxs que se perguntam sobre o “sentido” e “significado” desta morte… Xs mortxs não podem nos responder; apenas suas vidas e ações podem nos dar pistas sobre o que motivou nossxs irmãxs a serem como eram…”
-Gabriel Pombo da Silva- (5)
Pouco mais de três meses de sua morte, seus companheirxs de okupação editam um material escrito, onde se compila grande parte de seus escritos, canções, contos e poemas. A intenção é compartilhar coletivamente suas reflexões e ideias, para que possam se propagar para outrxs companheirxs e não deixaria Mauri preso em seu círculo íntimo.
No meio da caçada, num gesto generoso, diferentes companheirxs contribuíram com canções, escritos, entrevistas ou cartas que haviam deixado. Mauri não era um tesouro que devia ser guardado para si mesmx, escondendo-o dos olhares do resto, nem era o herói martirizado cuja figura se elevava acima dxs outrxs. Pelo contrário, sempre foi reivindicado como mais um companheiro.
Depois do embate jornalístico, com suas múltiplas difamações, entre declarações policiais pomposas que tentaram descrevê-lo, era importante fazer um resgate do companheiro. Evitar as reinterpretações e possibilitar que o próprio Mauri, em primeira pessoa através de seus múltiplos escritos, fosse se aproximando de outrxs companheirxs e entornos.
Há companheirxs cujas mortes que são explicadas pela vida que decidiram viver. O gesto de editar um livro com seus escritos, enquadra-se precisamente em possibilitar aquelxs não foram próximxs ao companheiro, conheceram o trânsito de seu caminho, os diferentes caminhos que o levaram a ser quem foi, as decisões de vida que finalmente o aproximam da morte.
Assim, Punki Mauri foi se expandindo entre companheirxs, viajando milhares de quilômetros, falando diferentes idiomas mas com uma língua negra comum. Suas experiências, valores e ideias voaram, derrubando as fronteiras do tempo e da geografia. Houve decisão e persistência em que a chama de sua vida não se apagará.
A memória negra foi adquirindo amplas e variadas formas para se propagar e contagiar novxs compas. Nesse trânsito, todo gesto foi e é um aporte. Sem líderes nem dirigentes, estamos todxs chamadxs a buscar incansavelmente como contribuir para essa propagação, da forma que criamos mais certeira. Não há uma memória oficial, mas múltiplos gestos para seguir prokurando que viva a Anarquia.
O PASSO DOS ANOS
“Quatro anos? Me parece uma infinidade, mas também não foi nada quando Culmine me enviou a notícia daquele 22 de maio, junto com um recorte de jornal com sua foto. Apenas um pedaço de papel, uma imagem já marcada pelo tempo, destinada a se decompor rapidamente? Sim, mas também muito mais! É o símbolo de uma memória indelével, é uma imagem íntima e querida, uma das verdadeiramente poucas até agora, permanece sempre pregada na parede da cela. É um símbolo de uma relação com o guerreiro Mauri e com sua tribo guerreira, impressa com fogo sempre quieta e segura em meu coração e na minha mente. Além de qualquer fronteira, distância, repressão, e morte!”
– Marco Camenisch- (6)
Já são 10 anos da morte de Mauri, é quase inevitável fazer uma retrospectiva, analisar como foram acontecendo e se enfrentando diferentes fatos.
Fazer um resgate da beleza de certos momentos de confrontação, destacando a permanente presença da solidariedade, a agitação e a propagação da memória.
Não foram 10 anos de quietude ou de recordação em silêncio, foi um tempo onde de diferentes territórios se levantaram gestos de memória coletiva, como ideia/ação que tende a propagar a vida que Mauri foi forjando, sua decisão de confrontar o estabelecido, sua negação ativa a qualquer autoridade, ao mesmo tempo que de forma inseparável segue propagando a Anarquia e o Kaos como força vital.
A partida de Mauri tornou-se o ponto de encontro entre muitxs outrxs companheirxs. Um ponto de encontro para realizar novos desafios, é aí que reside a vitalidade da memória, não é a fotografia estática de um momento de confrontação, é o presente que vamos construindo, nutridxs tanto das experiências de outrxs companheirxs como de nossos próprios interesses e anseios. Assim vamos projetando o caminho.
Depois da passagem da morte e da caçada policial, nos afirmamos na orgulhosa decisão de não retroceder, alimentando o sorriso com a certeza de que o poder não pôde impor nem o silêncio, nem a submissão. Não pôde deter a dimensão ofensiva de nossa memória negra, que combate a resignação e o medo, apenas funcionais para a autoridade.
Punki Mauri tem estado presente nas ruas todo esse tempo, porque quem se lembra dele não está longe dos caminhos de luta, não se levanta uma memória da janela da comodidade, mas do terreno próprio do combate à dominação.
Não houve vitimismo, nem qualquer tentativa de apagar sua memória. Mauri não é o inocente que cai em uma montagem, era um ser anárquico que se atreveu a desafiar o imposto. Morreu como escolheu viver. Não é um herói ou um mártir idealizado, é apenas mais um companheiro, com defeitos e virtudes, com acertos e erros, cujas decisões de vida foram propagando o fogo nos corações anárquicos.
Nestes anos tem havido vários movimentos repressivos, muitxs companheirxs foram presxs, algumxs conseguiram sair das jaulas, outrxs receberam longas condenações. Algumxs companheirxs se foram, se cansaram, outrxs vão chegando e com sua raiva alegre trazem novas energias.
Muitxs daquelxs que hoje se lembram ativamente de Mauri o conheceram depois de sua morte, sentindo-se próximos e companheirxs através do que em vida foi forjando. Houve uma transferência geracional da memória, como uma fibra negra que nos conecta e une. Na rua hoje continua rindo em outras risadas, com total vitalidade. Suas ideias ainda são ferramentas para resistir e atacar aquele que tenta nos dominar.
10 anos de sua morte, Mauri segue entre nós, se impregnando em novxs cúmplices. Segue presente no combate, gerando o desprezo da polícia e da imprensa, o vemos em suas grotescas campanhas de exposição e desprestígio.
Os anos passam, mas nossxs mortxs em guerra seguem nos acompanhando.
Boa Viagem Mauri
Nada terminou, tudo continua
“Algo sempre permanece. Dizem que as ideias são indeléveis. Aqui e ali e em todos lugares. Não apenas vocês, não apenas nós, todxs. Todxs e para sempre. Ainda temos um caminho à frente.” (7)
>> Notas:
(1) Comunicado escrito por três grupos de ação em 23 de maio de 2009, saudando o companheiro Mauricio Morales.
(2) Extraído do livro “Macul con Grecia. Fuego en las manos contra la Autoridad”.
(3) Comunicado escrito pelo Centro Social Okupado Sacco y Vanzetti no dia 22 de maio de 2009.
(4) Comunicado escrito por três grupos de ação em 23 de maio de 2009, saudando o companheiro Mauricio Morales.
(5) Texto publicado em 2013.
(6) Texto publicado em 2013.
(7) Escrito dos companheiros Yanis Skuludis, Sokratis Tzifkas (Prisão de menores de Avlona), Mpampis Tsilianidis, Dimitris Dimtsiadis (Prisão de Koridallos). 22 de Maio 2011.
(Texto extraído da publicação anárquica “Madre Tierra”, Número 3. Maio 2019)
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publicacionmadretierra@riseup.net
Tradução > keka
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