Combatendo católicos, fascismo e católicos fascistas – Uma entrevista com a Federação Anarquista da Polônia

Nessa edição da nossa série ‘Planos para um futuro anarquista’, tivemos o prazer de conversar com a Federação Anarquista (FA) polonesa, que está fazendo um trabalho incrível federando várias agrupações anarquistas na chamada Polônia. Nessa entrevista, eles nos contaram o que têm organizado, as atividades locais, e como é lutar contra fascistas e católicos que tentam atrasar o direito das pessoas no país. Você pode encontrá-los no twitter (twitter.com/PolishAnarchy), e no seu website (federacja-anarchistyczna.pl/).

Que papel pretendem cumprir no movimento anarquista?

Estamos sediados localmente na cidade de Wroclaw, mas procuramos contatos e fazemos propaganda em cidades menores à nossa volta.

Queremos contribuir em nível local e global com nossas experiências e ideias para todas as batalhas que estamos passando atualmente.

Como estamos trabalhando dentro da nossa comunidade, estamos tentando radicalizar a esquerda lda nossa cidade em direção a ideias e práticas anarquistas e ajudar outros grupos libertários da cidade, posto que alguns deles podem não ter tanta experiência. Em razão disso, criamos o KWW (Confederação Livre de Wroclaw) a fim de criar um sistema de colaboração mútua.

Outro ponto que estamos trabalhando é referente à troca de ideias com outros grupos dentro do território Polonês e fora dele.

Como funciona? Estão organizados horizontalmente? Quem toma as decisões?

Trabalhamos de forma horizontal em reuniões semanais. Temos algumas funções que são sempre revisadas coletivamente e modificadas ao decorrer do tempo.

Como federação, como os seus variados grupos se federam e como vocês encorajam a autonomia e autogestão de cada um?

Como somos duas federações, temos duas formas de lidar com isso que são mais ou menos parecidas.

Na KWW (Confederação Livre de Wroclaw), cada grupo é autônomo, e nós ficamos na cidade e arredores. Cada grupo envia um agente com mandato apenas para pôr em comum as decisões do grupo e confirmar os acordos.

Na Federação Anarquista (FA), cada grupo tem duas ações diárias, como somos autônomos e a realidade em cada cidade é muito diferente, então as frentes de cada grupo podem variar.

Na verdade, temos duas reuniões por ano em que cada grupo envia um de seus membros. Como cada membro traz consigo os pontos levantados em debate de seu coletivo, não podem dizer suas opiniões pessoais nas grandes reuniões, que é onde põem em comum a opinião dos grupos e confirmam os acordos feitos anteriormente.

Temos diferentes grupos e contatos, mas infelizmente como os contatos são uma ou duas pessoas, eles não têm lugar de “voto” nas decisões como ainda não participam de grupos. Mas eles podem expressar suas opiniões para o resto da federação.

Eles também têm que criar com outras federações um “Gabinete”, que é um grupo de comunicadores, um de cada grupo.

Agora estamos trabalhando na criação da Zielona Fala, que são grupos da Federação Anarquista mais concentrados na frente ecológica.

Como vocês abordam a colaboração com outros grupos anarquistas dentro e fora da Polônia?

De dentro, como mencionamos, tentamos ter bom contato com o resto dos grupos, mas infelizmente fora do território denominado Polônia não temos tantos contatos com outros grupos – o que é algo que com certeza gostaríamos de mudar.

Como vocês interagem com as comunidades locais?

Agora via KWW, muitos dos nossos militantes estão em frentes diferentes. Por exemplo, temos um grupo de ‘Comida Sim, Bombas Não’ onde tentamos ajudar todos que estão precisando de comida ou roupas.

No grupo Akcja Lokatorska, estamos nos organizando contra despejos. Com a união do ZSP [organização anarcossindicalista] também fazemos propaganda e luta em nossos espaços de trabalho.

Como FA agora estamos mais concentrados nos atos Pró-Aborto, já que o governo nacional católico na chamada Polônia baniu o aborto.

Estamos produzindo propaganda, organizando atos e bloqueios, e espalhando conteúdo pela internet.

Que problemas vocês enfrentam na Polônia, e como têm lidado com esses problemas?

Nazis. Temos que nos defender então temos que aprender artes marciais e cuidar uns dos outros a todo o momento. Podem ocorrer ataques, como já ocorreu nas últimas manifestações.

Como a sociedade polonesa é mais para a direita, as pessoas estão começando a perder o objetivo das últimas manifestações e protestando somente contra o partido que está no poder, então estamos tentando lembrar a todos o objetivo maior pelo qual estamos lutando.

A Igreja Católica é um inimigo muito maior, pois não só estão governando o país como estão financiando organizações fascistas, então estamos direcionando a propaganda para esse lado também.

O que vocês diriam que é a sua maior vitória como organização?

Fomos convidados a algumas plataformas para falar sobre gentrificação e urbanização em decorrência da nossa luta contra o aumento da especulação imobiliária e o processo de gentrificação.

Fomos também os primeiros a propor e movimentar a confederação em nossa cidade e agora somos doze grupos trabalhando em conjunto, lutando em várias frentes e em apoio mútuo.

Nos últimos anos em decorrência da propaganda da Federação muitas pessoas começaram a militar no nosso grupo. Isso também abriu novos grupos que conduziram à abertura de duas frentes na nossa cidade depois de muito tempo sem uma e a um desenvolvimento progressivo do nosso movimento na cidade.

Como tem sido a luta contra o governo local e o Estado nacional?

Temos uma campanha para tornar o transporte público gratuito, uma vez que há muitas cidades na Polônia onde ele é gratuito, e aqui a tarifa só está aumentando mais e mais. Essa é uma frente interessante em longo prazo. Recentemente as autoridades responderam a uma carta que enviamos.

Também viemos tendo momentos turbulentos com o nosso presidente da câmara-youtuber, depois de ele ter enviado um grupo de bandidos despejar um de nossos espaços [okupação].

Quão importante é a cultura da segurança para vocês e como ajudam a fomentar isso?

É essencial para nós, como você pode compreender, sobretudo por conta dos fascistas.

Se tivessem algum conselho para dar para alguém que quisesse criar uma organização como a de vocês, qual seria?

Apenas comece, é o mais importante. Se você tem pessoas ou grupos ao seu redor peça por ajuda para fazer propaganda e assim em diante… Mas começar é o mais importante.

Também não concentre sua propaganda em um só lugar. A internet é um lugar bastante interessante para disseminar propaganda, mas a propaganda nas ruas é muito mais importante. Se eduque porque as ideias são essenciais para um movimento.

Arrisque à medida que situações inesperadas ocorrem na nossa sociedade, e temos que estar mais ou menos preparados para manter nossa vantagem nessa luta contra o sistema.

Tem mais alguma coisa que gostariam de dizer?

Sim, se alguém ou algum grupo quiser nos contatar, por favor se sinta livre para fazê-lo. Estaremos mais do que felizes em falar com vocês. Realmente pensamos que temos falta de contato de fora e existe a necessidade de trazer para cá alguns debates que talvez não estejamos tendo agora mas podem ser importantes no futuro.

E, finalmente, gostaríamos de agradecer muito a entrevista e a todos que fizeram os outros grupos como são, pois são muito interessantes. Agradecemos também o trabalho que fazem aqui.

Fonte: https://www.thecommoner.org.uk/fighting-catholics-fash-and-catholic-fash-an-interview-with-the-polish-anarchist-federation/

Tradução > Mari

agência de notícias anarquistas-ana

Engoli migalhas
jogadas ao vento,
deixadas pelas gaivotas.

Rogério Viana