[México] Pela vida e a saúde de Mumia, pela vida e a saúde dos presos. Pelo fim do capitalismo e seus cárceres.

Completam-se 44 anos da injusta prisão de Mumia Abu-Jamal que hoje luta por sua saúde e sua liberdade. Na Filadélfia, acontece uma marcha de 13 dias para exigir atenção médica e liberdade para Mumia, parte de uma jornada de agitação para que cuidassem da perda de visão de Mumia. Já houve uma primeira intervenção que permitiu recuperar a vista de um olho, mas ainda falta para seu outro olho e sua saúde em geral. No México, preparam um ato por Mumia e em memória de Carolina Saldaña, a companheira militante que divulgou seu trabalho jornalístico e de tradução da obra de e sobre Mumia no México e em parte importante da América Latina. A seguir, compartilhamos um texto divulgado pelo site mumiafree.org, que está sendo distribuído nesta marcha pelos Estados Unidos exigindo a liberdade para Mumia.

MUMIA ABU-JAMAL, lutador pela liberdade, jornalista, avô, preso político estadunidense.

Mumia foi preso político na Pensilvânia durante 44 anos, 29 deles no corredor da morte.

Veterano dos Panteras Negras, rádio jornalista, avô, acadêmico, destacado pensador revolucionário e um afetuoso veterano do movimento, Mumia difunde lutas em todo o mundo com sua poderosa voz e seus escritos. Mumia é vítima do racismo e da violência policial, alvo da guerra do governo contra a população negra e os movimentos de liberação negra.

Capturado aos 27 anos, agora tem 71. Mumia foi baleado, incriminado e condenado injustamente pelo assassinato de um policial em 9 de dezembro de 1981. Violência policial, fiscal e judicial. O juiz Sabo, que presidia o julgamento, foi escutado por um taquígrafo judicial antes do julgamento de Mumia: “Vou ajudá-los a fritar o negro”. Sabo condenou Mumia a morte em 3 de julho de 1982. O movimento popular obrigou o estado a retirar Mumia do corredor da morte em 2011, mas agora ele enfrenta a pena de morte por encarceramento e um sistema penitenciário que tenta eliminá-lo mediante graves abusos e negligência médica.

Provas encontradas 36 anos depois do julgamento, ocultas na promotoria da Filadélfia, confirmam que o promotor subornou testemunhas para que declarassem falsamente; excluiu sistematicamente pessoas negras do jurado; e ocultou provas favoráveis a Mumia, de seu advogado e do jurado. Em 2022, quando Mumia solicitou um novo julgamento, a liberação ou inclusive uma simples audiência sobre as provas, os tribunais injustos e cruéis o negaram.

Aos 15 anos, Mumia escreveu para o jornal Black Panther e posteriormente se converteu em um premiado jornalista de rádio. Desde “as entranhas do barco negreiro moderno” (uma prisão estadunidense), Mumia analisa a atualidade, fala de história e música; compartilha humor e se solidariza com as pessoas oprimidas de todo o mundo.

Mumia é autor de 14 livros, entre eles “Ao vivo desde o corredor da morte”, “Advogados do cárcere”, “Queremos liberdade”, “A fé de nossos pais” e, mais recentemente, coautor de “Sob a montanha”, uma profunda coleção de escritos de pessoas inspiradoras que, ao longo dos anos, experimentaram o terrorismo de Estado e o cativeiro. 

Sindicatos, líderes políticos e religiosos, celebridades, grupos de direitos humanos e pessoas de todo o mundo (por exemplo, África do Sul, México, Alemanha, França, Inglaterra) apelaram aos juízes e governadores da Autoridade Palestina a liberar Mumia. Os estivadores fecharam portos e várias cidades da França o nomearam cidadão honorário. A Universidade de Brown alberga os arquivos penitenciários de Mumia, catalogados e disponíveis para o público.

Com a solidariedade internacional e o poder do povo, Mumia será liberado. Devemos seguir lutando! Como disse Mumia: “Com amor, não com tristeza”.

Abu-Jamal viu as falhas na atenção médica do sistema penitenciário faz uns anos quando lhe negaram o tratamento para a hepatite e desenvolveu cirrose hepática. “Só mediante campanha pública está vivo hoje”, disse o médico. E agora, é necessário outro esforço similar para garantir que Abu-Jamal receba um tratamento vital.

O médico disse que Abu-Jamal sofre complicações devido à retinopatia diabética, o glaucoma e a cirurgia de cataratas que podem provocar cegueira permanente. Necessita cirurgia, mas o Departamento Correcional nega tratamento imediato.

A marcha que se faz nos Estados Unidos tem como objetivo pressionar por atenção médica para Mumia.

Fonte: https://amigosdemumiamx.wordpress.com/2025/12/08/por-la-vida-y-la-salud-de-mumia-por-la-vida-y-la-salud-de-lxs-presxs-por-el-fin-del-capitalismo-y-sus-carceles/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Sobre a folha seca
as formigas atravessam
uma poça d’água

Eunice Arruda

[Grécia] Komotini: Marcha de 6 de dezembro | Alexis Grigoropoulos Presente.

17 anos após o assassinato estatal do estudante anarquista Alexis Grigoropoulos pelo policial Epaminondas Korkoneas, uma marcha de memória e raiva foi realizada em Komotini [cidade do nordeste da Grécia]. A marcha começou na antiga faculdade de direito e passou por todo o centro da cidade e pelo consulado turco, onde foram gritados slogans em apoio a Rojava. Na parada da marcha no prédio da polícia, foram lidos os nomes de algumas das centenas de vítimas de assassinatos estatais desde a pós-ditadura até hoje. A marcha terminou novamente na antiga faculdade de direito. Os policiais, assim como em 17 de novembro, eram muitos e caminhavam em fila de um lado, enquanto o corpo da marcha e especialmente o bloco anarquista tinham um ritmo forte e uma proteção decisiva, cortando imediatamente os comentários irônicos de alguns policiais.

Dezembro de 2008 nunca será esquecido.
Alexis Grigoropoulos Presente.

Utopia A.D.

agência de notícias anarquistas-ana

sol na varanda –
sombras ao entardecer
brincam de ciranda

Carlos Seabra

[Rio de Janeiro-RJ] 2ª Edição do Festival ACAB!

ACAB (All Cops Are Bastards), também representado como 1312, é um lema histórico de militantes que se posicionam radicalmente contra a polícia e as estruturas de violência do Estado.

O Festival ACAB chega à sua segunda edição como um encontro de celebração e luta. Um dia para fortalecer debates e movimentos que enfrentam a violência policial, o racismo, o sexismo e a LGBTQIAfobia.

Vai rolar shows, lançamentos de livros, roda de conversa, exibição de filme, expositores e DJs sets!

13.12, a partir das 16 horas

CCS Movimento

Avenida Mem de Sá 215 A, Lapa

>> Mais infos em: @ccsmovimento

agência de notícias anarquistas-ana

pardal sozinho –
primeira aventura
fora do ninho

Carlos Seabra

Vem aí a 3ª Feira Anarquista do Recife!

A cada edição, a Feira se fortalece como um espaço autogestionado e horizontal, comprometido em movimentar e difundir o pensamento e a cultura anarquista no Recife e para além de nossas fronteiras.

Este ano, a pauta é direta e urgente: “𝗠𝗮𝘁𝗲𝗿𝗻𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲, 𝗗𝗶𝗿𝗲𝗶𝘁𝗼𝘀 𝗥𝗲𝗽𝗿𝗼𝗱𝘂𝘁𝗶𝘃𝗼𝘀 𝗲 𝗔𝗻𝗮𝗿𝗾𝘂𝗶𝘀𝗺𝗼: 𝗲𝘀𝘁𝗿𝗮𝘁é𝗴𝗶𝗮𝘀 𝗱𝗲 𝗿𝗲𝘀𝗶𝘀𝘁ê𝗻𝗰𝗶𝗮 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗰𝗼𝗿𝗽𝗼𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝗴𝗲𝘀𝘁𝗮𝗺.” É um debate que impacta o presente e o futuro das nossas comunidades e que precisa ser assumido individual e coletivamente, entre nós anarquistas e na sociedade que aspiramos construir.

𝘖 𝘢𝘵𝘢𝘲𝘶𝘦 𝘢𝘰𝘴 𝘥𝘪𝘳𝘦𝘪𝘵𝘰𝘴 𝘳𝘦𝘱𝘳𝘰𝘥𝘶𝘵𝘪𝘷𝘰𝘴 𝘪𝘯𝘵𝘦𝘨𝘳𝘢 𝘶𝘮 𝘱𝘳𝘰𝘫𝘦𝘵𝘰 𝘱𝘰𝘭í𝘵𝘪𝘤𝘰 𝘥𝘦 𝘤𝘰𝘯𝘵𝘳𝘰𝘭𝘦: 𝘢 𝘤𝘳𝘪𝘮𝘪𝘯𝘢𝘭𝘪𝘻𝘢çã𝘰 𝘥𝘰 𝘢𝘣𝘰𝘳𝘵𝘰, 𝘢 𝘱𝘳𝘦𝘤𝘢𝘳𝘪𝘻𝘢çã𝘰 𝘥𝘢 𝘮𝘢𝘵𝘦𝘳𝘯𝘪𝘥𝘢𝘥𝘦 𝘦 𝘢 𝘯𝘢𝘵𝘶𝘳𝘢𝘭𝘪𝘻𝘢çã𝘰 𝘥𝘢 𝘷𝘪𝘰𝘭ê𝘯𝘤𝘪𝘢 𝘰𝘣𝘴𝘵é𝘵𝘳𝘪𝘤𝘢 𝘯ã𝘰 𝘴ã𝘰 𝘢𝘤𝘪𝘥𝘦𝘯𝘵𝘦𝘴, 𝘮𝘢𝘴 𝘮𝘦𝘤𝘢𝘯𝘪𝘴𝘮𝘰𝘴 𝘥𝘦 𝘥𝘰𝘮𝘪𝘯𝘢çã𝘰 𝘴𝘰𝘣𝘳𝘦 𝘤𝘰𝘳𝘱𝘰𝘴 𝘨𝘦𝘴𝘵𝘢𝘯𝘵𝘦𝘴.

𝘚𝘦𝘨𝘶𝘪𝘮𝘰𝘴 𝘦𝘯𝘧𝘳𝘦𝘯𝘵𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘢 𝘢𝘭𝘪𝘢𝘯ç𝘢 𝘦𝘯𝘵𝘳𝘦 𝘱𝘢𝘵𝘳𝘪𝘢𝘳𝘤𝘢𝘥𝘰, 𝘯𝘦𝘰𝘭𝘪𝘣𝘦𝘳𝘢𝘭𝘪𝘴𝘮𝘰, 𝘤𝘢𝘱𝘪𝘵𝘢𝘭𝘪𝘴𝘮𝘰 𝘦 𝘌𝘴𝘵𝘢𝘥𝘰, 𝘦𝘴𝘵𝘳𝘶𝘵𝘶𝘳𝘢𝘴 𝘲𝘶𝘦 𝘳𝘦𝘵𝘪𝘳𝘢𝘮 𝘥𝘪𝘳𝘦𝘪𝘵𝘰𝘴, 𝘢𝘮𝘱𝘭𝘪𝘢𝘮 𝘥𝘦𝘴𝘪𝘨𝘶𝘢𝘭𝘥𝘢𝘥𝘦𝘴 𝘦 𝘢𝘧𝘦𝘵𝘢𝘮 𝘴𝘰𝘣𝘳𝘦𝘵𝘶𝘥𝘰 𝘮𝘶𝘭𝘩𝘦𝘳𝘦𝘴, 𝘤𝘳𝘪𝘢𝘯ç𝘢𝘴, 𝘱𝘦𝘴𝘴𝘰𝘢𝘴 𝘳𝘢𝘤𝘪𝘢𝘭𝘪𝘻𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘦 𝘥𝘪𝘴𝘴𝘪𝘥ê𝘯𝘤𝘪𝘢𝘴. 𝘌𝘯𝘲𝘶𝘢𝘯𝘵𝘰 𝘰𝘴 𝘥𝘪𝘳𝘦𝘪𝘵𝘰𝘴 𝘳𝘦𝘱𝘳𝘰𝘥𝘶𝘵𝘪𝘷𝘰𝘴 𝘧𝘰𝘳𝘦𝘮 𝘵𝘳𝘢𝘵𝘢𝘥𝘰𝘴 𝘤𝘰𝘮 𝘥𝘦𝘴𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝘴𝘦𝘨𝘶𝘪𝘮𝘰𝘴 𝘰𝘳𝘨𝘢𝘯𝘪𝘻𝘢𝘥𝘦𝘴, 𝘥𝘦𝘯𝘶𝘯𝘤𝘪𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘳𝘦𝘵𝘳𝘰𝘤𝘦𝘴𝘴𝘰𝘴 𝘦 𝘤𝘰𝘯𝘴𝘵𝘳𝘶𝘪𝘯𝘥𝘰 𝘢𝘭𝘵𝘦𝘳𝘯𝘢𝘵𝘪𝘷𝘢𝘴 𝘥𝘦 𝘳𝘦𝘴𝘪𝘴𝘵ê𝘯𝘤𝘪𝘢.

A Feira é um espaço de formação, diálogo e articulação. Um lugar para trocar experiências, acessar materiais libertários, fortalecer redes de apoio e pensar estratégias concretas de resistência.

Para responsáveis por crianças:

𝗧𝗲𝗿𝗲𝗺𝗼𝘀 𝗼 𝗘𝘀𝗽𝗮ç𝗼 𝗖𝘂𝗿𝘂𝗺𝗶𝗺. Incentivamos o olhar atento e o cuidado compartilhado para reduzir a sobrecarga e garantir que todes possam participar com dignidade.

𝗖𝘂𝗶𝗱𝗮𝗱𝗼 𝗰𝗼𝗹𝗲𝘁𝗶𝘃𝗼 + 𝗗𝗲𝗺𝗮𝗻𝗱𝗮𝘀 𝗰𝗼𝗺𝗽𝗮𝗿𝘁𝗶𝗹𝗵𝗮𝗱𝗮𝘀 = 𝗺𝗲𝗻𝗼𝘀 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲𝗰𝗮𝗿𝗴𝗮.

13 de dezembro de 2025

A partir das 13h

Quintal do Sossego – Rua do Sossego, 1344, Santo Amaro

Evento gratuito

𝘈𝘱𝘰𝘪𝘦 𝘢 3ª 𝘍𝘦𝘪𝘳𝘢 𝘈𝘯𝘢𝘳𝘲𝘶𝘪𝘴𝘵𝘢 𝘥𝘰 𝘙𝘦𝘤𝘪𝘧𝘦 𝘤𝘰𝘮𝘱𝘳𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘢 𝘳𝘪𝘧𝘢 𝘰𝘶 𝘤𝘰𝘮 𝘤𝘰𝘯𝘵𝘳𝘪𝘣𝘶𝘪çã𝘰 𝘴𝘰𝘭𝘪𝘥á𝘳𝘪𝘢. 𝘗𝘪𝘹: 𝘧𝘦𝘪𝘳𝘢𝘢𝘯𝘢𝘳𝘲𝘶𝘪𝘴𝘵𝘢𝘳𝘦𝘤𝘪𝘧𝘦@𝘨𝘮𝘢𝘪𝘭.𝘤𝘰𝘮

𝗣𝗿𝗼𝗽𝗮𝗴𝗮 𝗮 𝗶𝗱𝗲𝗶𝗮! (𝗔)

>> Mais infos em: instagram.com/feiraanarquistarecife/

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Rua perfumada —
pela Dama da Noite
Flor de primavera

Elnite

[EUA] Lançamento: Anarquismo de Massa

(Pound the Pavement #35)

Josh MacPhee (Autor)

A mais recente edição da série de publicações contínuas Pound the Pavement, de Josh MacPhee, Anarquismo de Massa traça o percurso do anarquismo nas décadas de 1960 e 1970 por meio de sua representação nos livros de bolso vendidos em larga escala. Uma leitura atenta de suas capas, com um olhar histórico e analítico sobre o visual, faz deste panfleto uma obra singular. Além disso, ele é impresso inteiramente em risografia colorida, incluindo dezessete reproduções em tamanho real de capas de livros e vinte e uma ilustrações adicionais.

Neste breve livreto, Josh MacPhee explora o ressurgimento do anarquismo como plataforma política popular nas décadas de 1960 e 1970, a partir de sua presença nos livros de bolso produzidos em massa. A publicação de dezenas desses títulos, vendidos não apenas em livrarias, mas também em farmácias, mercearias e bancas de jornal, revela o crescimento de um interesse amplo pela política anarquista. Ao mesmo tempo, suas capas expressam os desafios enfrentados pelas grandes editoras ao tentar representar visualmente uma ideologia que elas nem compreendiam, nem viam com simpatia.

Editora: Josh MacPhee

Formato: Panfleto

Encadernação: brochura

Páginas: 48

Lançamento: 19 de agosto de 2025

ISBN-13: sem ISBN

Preço: US$ 15,00

akpress.org

Tradução > Contrafatual

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vida repensada
noite de insônia –
manhã cansada

Zezé Pina

Um chamado à solidariedade internacional: NENHUM CAMARADA SERÁ DEIXADO SOZINHO NAS MÃOS DA REPRESSÃO!

Alfredo Cospito é um companheiro anarquista preso desde 2012, inicialmente detido e condenado (juntamente com outro camarada) por ter atacado o CEO da Ansaldo Nucleare. Ele cumpriu sua pena por esse crime (o outro companheiro já está livre), mas atualmente cumpre uma pena de 23 anos decretada no julgamento “Scripta Manent”. Esta foi uma operação repressiva contra 20 anos de ações da FAI/FRI. A camarada Anna Beniamino também está cumprindo uma pena de 17 anos por esta operação repressiva.

Em maio de 2022, ele foi colocado no 41bis, um regime prisional severo criado na década de 1990 para aniquilar psicologicamente os “chefes” da máfia e forçá-los a cooperar. Atualmente, esse regime é aplicado a mais de 700 prisioneiros, incluindo membros de grupos revolucionários como o BR-PCC. Em outubro de 2022, Alfredo iniciou uma greve de fome de seis meses contra o regime 41bis e as penas perpétuas sem liberdade condicional, que provavelmente será o seu destino de acordo com as acusações de terrorismo e massacre político (e com o pedido do Ministério Público), o que equivale essencialmente a uma pena de morte em vida. Ele escolheu arriscar a sua vida porque valia a pena lutar até ao último suspiro, em vez de ser condenado ao “túmulo dos vivos”, que é precisamente o 41bis.

Uma enorme mobilização apoiou sua luta e ganhou uma ressonância incrível, especialmente graças a ações internacionais generalizadas. Pela primeira vez na Itália, essa ferramenta “intocável” contra a máfia foi questionada publicamente. Sua greve de fome terminou em abril de 2023 sem que a maioria de suas reivindicações fossem atendidas. No entanto, ele finalmente conseguiu escapar da prisão perpétua depois que seu caso foi levado ao Tribunal Constitucional.

Agora, três anos depois, o 41bis tem se tornado progressivamente um modelo de repressão na UE e no exterior. Tanto o Chile quanto, mais recentemente, os Países Baixos estão adotando essa ferramenta de tortura em seus sistemas prisionais. Como Alfredo afirmou em seu último comunicado no tribunal durante um julgamento em janeiro de 2025:

Se a guerra imperialista do Ocidente se alastrar para além das fronteiras da Ucrânia e chegar às nossas portas, se os conflitos sociais ultrapassarem o limite sustentável de um sistema frágil, ou se uma transição gradual para outro regime não for viável, o 41bis, com sua aparência de legalidade, será a ferramenta perfeita para anestesiar a sociedade à força. Será uma espécie de óleo de rícino para subjugar os elementos recalcitrantes — um golpe de estado gradual, em conformidade com a lei. Isso explicaria por que é necessário um regime de emergência na ausência de uma emergência real.

O tempo de quatro anos da pena 41bis de Alfredo expirará em maio de 2026. Antes de assinar a renovação prevista de dois anos, o Ministro da Justiça ouvirá as opiniões dos departamentos Antimáfia e Antiterrorismo.

Vale ressaltar que o ministro Carlo Nordio desempenhou recentemente um papel fundamental na rápida e repentina libertação e repatriação de Al-Masri, que foi preso na Itália por ordem do Tribunal Penal Internacional. Essa medida pode ser interpretada como um sinal de gratidão por seu excelente trabalho em nome do governo italiano nos campos de tortura para migrantes na Líbia.

Não temos nada a pedir nem a esperar do estado. Na verdade, somos seus inimigos, e ele nos trata como tal. Nos últimos anos, vários julgamentos foram iniciados contra companheires acusades de participar da mobilização de várias maneiras. Isso demonstra mais uma vez que um dos principais objetivos da repressão é atacar a solidariedade. Isso não deve nos fazer recuar, mas sim nos dar uma oportunidade para um novo começo.

Queremos continuar a luta com Alfredo contra o regime prisional que o mantém preso, para que ele saiba, apesar de seu total isolamento, que seus companheiros estão lá e não o deixarão sozinho.

No entanto, também queremos isso para nós mesmos. Consideramos a solidariedade ativa e combativa às pessoas presas como parte integrante das perspectivas e projetos que desenvolvemos em direção à anarquia e contra a sociedade prisional em que todos vivemos.

A solidariedade não reconhece fronteiras nem nações.

Vamos empunhar a arma da solidariedade!

Tradução > transanark/acervo trans-anarquista

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Rebelião íntima:
quem domina o próprio medo
derruba impérios

Liberto Herrera

Indústria de defesa brasileira cresce 114% em dois anos

A indústria de defesa brasileira registrou novo recorde de exportações, com US$ 3,1 bilhões em autorizações de vendas externas em 2025. O resultado representa avanço de 74% em relação a 2024 e mais que o dobro do volume de 2023, acumulando crescimento de 114% no período, segundo dados do Ministério da Defesa.

A expansão reflete o desempenho de uma Base Industrial de Defesa composta por cerca de 80 empresas exportadoras, que atuam em 140 países. O portfólio inclui aeronaves, embarcações, blindados, munições, soluções cibernéticas, radares e sistemas de comunicação seguros.

Entre os principais clientes estão Alemanha, Bulgária, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos e Portugal. Aeronaves como o KC-390 Millennium seguem entre os destaques da pauta de exportação.

Atuação coordenada para ampliar vendas externas

De acordo com o Ministério da Defesa, a expansão resulta de ações que buscam dar competitividade ao setor e apoiar a entrada de empresas brasileiras em novos mercados. “O trabalho com a indústria de defesa permite produzir equipamentos competitivos para atender às Forças Armadas e ampliar as vendas ao exterior”, afirmou o secretário de Produtos de Defesa, Heraldo Luiz Rodrigues.

A estrutura do Ministério conta com quatro áreas principais voltadas a fortalecer a Base Industrial de Defesa (BID): promoção comercial, regulação, financiamentos e inovação.

Promoção comercial e diplomacia industrial

O Departamento de Promoção Comercial (Depcom) atua na abertura de mercados e na participação em feiras internacionais. Em 2025, organizou diálogos bilaterais com Turquia e Jordânia, além de participar da LAAD Defence & Security, no Rio de Janeiro. Também promoveu o evento Brazilian Defense Day, reunindo representantes de cerca de 50 países.

Regulação e certificação

O Departamento de Produtos de Defesa (Deprod) responde pelo credenciamento de empresas e pela classificação de produtos. Em 2025, 417 novos produtos foram classificados e 62 empresas foram credenciadas, elevando o total para 307 empresas e 2.219 produtos homologados. A pasta também acompanha programas de compensação tecnológica e comercial (offset).

Financiamento e parcerias

O Departamento de Financiamentos e Economia de Defesa (Depfin) busca linhas de crédito, garantias e investimentos para empresas do setor. Entre os avanços de 2025, está o acordo com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), voltado a aumentar a participação de bens de defesa na pauta de exportação e ampliar a nacionalização de produtos.

Inovação e desenvolvimento tecnológico

Responsável por transformar pesquisa em capacidade industrial, o Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação (Decti) já incorporou cerca de 140 projetos de PD&I à carteira de inovação do Ministério nos últimos cinco anos, somando R$ 700 milhões em investimentos. Outras 34 iniciativas receberam R$ 1,1 bilhão em apoio de agências como Finep e CNPq.

Em 2025, dois seminários nacionais reuniram governo, indústria e academia para discutir integração tecnológica, aceleração de projetos e fortalecimento da competitividade brasileira no setor.

Fonte: agências de notícias

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O sol da manhã
e o canto do sabiá
entram pela casa.

Benedita Azevedo

Marxismo, a linha auxiliar do burguesismo

É curioso perceber como o mito da vanguarda marxista ainda seduz tanta gente, como se houvesse escondido no interior do partido, um motor inevitável de luta revolucionária. Mas a história insiste em lembrar que a prioridade real nunca foi a revolução: foi o próprio partido. E isso não é bravata retórica, é literalmente o que Robert Michels descreveu em A Sociologia dos Partidos Políticos (1911), quando formula a famosa “lei de ferro da oligarquia”: qualquer organização centralizada tende a se conservar antes de cumprir sua finalidade declarada. O partido vira fim em si mesmo, preserva quadros, carreiras, jornais, estruturas, e cria mecanismos para impedir que a base altere essa estabilidade. Rosa Luxemburgo, apesar de marxista, já denunciava essa tendência em Greve de Massas, Partido e Sindicatos (1906), mostrando como a direção teme a espontaneidade porque ela rompe a “paz organizativa”. O partido passa a viver de controlar o imprevisto, e a revolução vira uma bandeira que justifica aumentar seu aparato.

A máquina precisa agradecer por existir, e para isso ela precisa sobreviver. O cinismo está justamente no fato de que a autopreservação vira o argumento moral da própria existência: “sem o partido, não há revolução”, quando na verdade é o partido que impede que qualquer revolta floresça sem sua tutela. Então não há contradição aqui. O partido não se trai quando protege sua burocracia; ele cumpre a lógica de sua forma. A revolução é apenas aquilo que se promete enquanto se constrói a jaula que irá contê-la. No fundo, a autopreservação partidária nunca foi um desvio. Sempre foi o objetivo.

Quando olhamos para o Brasil da Primeira República, a diferença entre “revolução” e “partido” fica ainda mais gritante. Os anarquistas eram majoritários no movimento operário, e suas práticas autônomas – assembleias horizontais, greves sem direção central, mutirões de resistência – eram tratadas pelo Estado como ameaça direta.

Mas a parte que a narrativa marxista tenta esconder é que os partidos que surgiram depois herdaram esse mesmo medo. Edilene Toledo, em Anarquismo e Sindicalismo Revolucionário (2003), mostra como já nos anos 1920 o nascente PCB denunciava lideranças anarquistas à polícia, classificando-as como “agitadores sem disciplina” e defendendo a centralização para “evitar o caos”. As greves de 1917, analisadas por João Décio Passos e por Alexandre Samis em Clevelândia (2004), revelam que quando o movimento operário se auto-organizava, o partido tratava isso como “desvio pequeno-burguês”. A ironia é evidente: a autonomia anarquista amedronta porque ela prova que o partido não é necessário.

E essa verdade é insuportável para qualquer vanguarda. Quando as massas se movem sozinhas, o partido perde função, perde aura, perde poder. Não é por acaso que o PCB sempre tentou enquadrar a história das greves como resultado de sua suposta orientação, mesmo quando sequer existia. O pânico diante da autonomia vem de longe. Castoriadis, em Socialisme ou Barbarie, mostra que partidos marxistas tratam a auto-organização como ameaça à ordem interna, porque o surgimento espontâneo de inteligência coletiva desautoriza a casta dirigente. No Brasil, essa tendência foi ampliada pelo autoritarismo estatal: anarquistas foram deportados (a famosa “Lei Adolfo Gordo”), presos, torturados e silenciados. O partido, por sua vez, aprendeu rápido: onde não pode destruir, tenta controlar. Onde não pode controlar, tenta apagar da memória. A autonomia anarquista sempre foi tratada como heresia, porque ela expõe a mentira fundadora do partido: a de que o povo precisa de tutela para lutar.

A tática é antiga, e sua sofisticação é quase cômica: quando não se consegue destruir a autonomia, tenta-se comprá-la. Literalmente. A cooptação de lideranças anarquistas e sindicalistas autônomas pelo partido marxista é documentada ao longo de todo o século XX, tanto na Europa quanto na América Latina. Na Rússia pós-1917, analisada por Paul Avrich em The Russian Anarchists (1967), o marxismo oferecia cargos administrativos para anarquistas influentes, prometendo “influência real”, quando na verdade queria apenas neutralizar figuras que poderiam organizar resistência.

Na Espanha de 1936, como mostra Vernon Richards em Lessons of the Spanish Revolution, ministros da CNT que aceitaram integrar o governo republicano acabaram justificando medidas contra as próprias milícias autogeridas. No Brasil, Jacob Gorender em Combate nas Trevas (1987) descreve vários episódios nos anos 1950-60 em que quadros do PCB procuravam lideranças não alinhadas oferecendo cargos sindicais, assentos em comissões, verbas de “formação política” e até indicações para secretarias municipais – sempre com a mesma proposta: “vocês têm força, mas precisam de direção”. Essa cooptação não é erro, é método. É a forma mais eficiente de matar um movimento sem derramar sangue. Incorporar o dissidente transforma o conflito político em carreirismo. Castoriadis diz que partidos centralizados transformam opositores em funcionários. É a realização plena da oligarquia: absorver o que ameaça, domesticar o que resiste.

O mais perverso é que muitos aceitam acreditando que “poderão transformar por dentro”, quando o que acontece é o contrário: a máquina os transforma. O partido não oferece cargos por generosidade, mas por medo. Ele compra lideranças para esvaziar a revolta e proteger seu monopólio simbólico. E o resultado é sempre o mesmo: o movimento perde radicalidade, o partido ganha controle, o Estado respira aliviado.

Há um padrão quase teatral no comportamento dos partidos marxistas diante de revoltas autônomas: primeiro ignoram, depois atacam, e quando percebem que não conseguem controlar, tentam reescrever a origem. O que era espontâneo vira “expressão da linha justa”, o que era autônomo vira “reflexo da consciência amadurecida pela vanguarda”. Luxemburgo já descrevia essa mania em 1906: o partido odeia a espontaneidade porque ela quebra a hierarquia. Castoriadis reforça: partidos marxistas precisam monopolizar a explicação da história para manter autoridade. No Brasil, isso aparece de forma cristalina nos relatórios internos do PCB analisados por Gorender, onde eles afirmam que “a maturidade das massas em 1953” era fruto de sua orientação – apesar de terem sido pegos de surpresa pelas greves. Edilene Toledo mostra que, nas greves de 1917, o partido sequer existia, mas décadas depois quadros comunistas tentavam narrar aquele movimento como “proto-consciência proletária” causada pela futura vanguarda.

É quase uma paródia historiográfica. E o pior é que funciona, porque quem controla o jornal controla a memória. Michels explica isso de forma brutal: a direção partidária precisa controlar também o discurso para justificar por que deve permanecer no comando. A revolta, quando não pode ser destruída, vira troféu.

Não existe limite ético nessa apropriação simbólica: o partido reescreve a história para parecer indispensável. O que nasce fora dele é enxertado como se fosse filho legítimo. E assim, pouco a pouco, a imaginação popular se estreita. O povo luta, o partido leva o crédito. O partido recebe ministérios, o povo recebe repressão. É a velha alquimia burocrática: transformar energia social em capital político. Quando olhamos para esse padrão, fica evidente que não há aqui “erro tático”, mas a expressão natural da forma-partido. Ele vive de capturar aquilo que não criou.

Depois de toda a retórica revolucionária, o destino final do partido marxista sempre foi o mesmo: ocupar o Estado. Moshe Lewin em The Soviet Century mostra que, já em 1919, o partido marxista-bolchevique tinha como objetivo fundamental consolidar sua administração, não expandir a autogestão dos sovietes. Sheila Fitzpatrick, em Everyday Stalinism, revela como mobilizações autônomas eram tratadas como “desvios perigosos” que ameaçavam a ordem administrativa. Edward Hallett Carr, mesmo simpático à revolução, reconhece que o partido dissolveu sovietes independentes para garantir seu monopólio.

No Brasil, o padrão se repete: o PCdoB assume ministérios e secretarias em governos de conciliação (neoliberalismo progressista); o PCB, quando legalizado, atua como força moderadora; e quadros marxistas-leninistas se tornam gestores de políticas estatais. Nada disso é acidente. O partido precisa do Estado como plataforma de poder. E é por isso que tenta controlar revoltas, cooptar lideranças e reescrever a história: a revolução só interessa se produzir um Estado administrável por ele.

A autonomia, por outro lado, é indomesticável. E o Estado, seja burguês ou “popular”, não tolera indomesticáveis. No fim, a função do partido marxista é pacificar a revolta, não expandi-la. A revolução que nasce do povo é perigosa porque não tem dono; a revolução que nasce do partido é segura porque já vem com lugar definido no organograma. O ciclo se fecha aqui: autopreservação, medo da autonomia, cooptação, apropriação simbólica e, finalmente, estatização. O partido se torna aquilo que dizia combater. E quando isso acontece, a revolução – a verdadeira, aquela que emerge da vida comum – é a primeira vítima.

…………

Marighella foi importante, claro, mas nunca representou o marxismo-leninista brasileiro enquanto força histórica coerente. Ele representou sua exceção. E quando um movimento só consegue apresentar exceções como prova de sua vitalidade, isso já diz muito sobre a própria falência estrutural.

Marighella rompeu com o PCB justamente porque o partido era covarde, burocrático e submisso ao legalismo burguês. Ele denunciou o colaboracionismo, rompeu com a linha soviética, rejeitou a passividade frente ao golpe e escolheu a via da ação direta armada. Ou seja: tudo o que ele fez foi recusar o marxismo-leninismo realmente existente no Brasil. Carlos Marighella não é um produto do PCB. Ele é o resultado de sua falência. O PCB chamou sua postura de “aventurismo pequeno-burguês”, a mesma expressão que usavam contra anarquistas desde 1920. Quando alguém usa Marighella como trunfo do ML, está usando o exemplo de um dissidente que foi rejeitado, perseguido e expulso pelos próprios marxistas-leninistas. É quase irônico.

E os anarquistas? Morreram antes. Literalmente. Basta abrir a hemeroteca da Biblioteca Nacional e revisar os jornais entre 1906 e 1935: prisões, espancamentos, deportações em massa, destruição de sindicatos, censura à imprensa libertária, fechamento de escolas racionalistas. O movimento anarquista foi esmagado ainda na Primeira República, quando era majoritário no sindicalismo brasileiro. A repressão começou cinquenta anos antes de Marighella nascer para a luta política. A Coluna Prestes marchou em 1925; as Ligas de Resistência anarquistas já eram perseguidas desde 1909. O Estado tratou o anarquismo como inimigo interno muito antes da esquerda estatista sequer sonhar em existir. Marighella pôde pegar em armas na década de 1960 porque havia uma estrutura urbana, industrial e política que ainda permitia clandestinidade. Os anarquistas de 1910 enfrentaram o Exército no meio da rua, sem sigilo, sem apoio internacional, sem Cuba para treinar guerrilha, sem URSS para financiar.

Dizer “e os anarquistas?” como se eles “não tivessem lutado” é desconhecer completamente a história da Primeira República, das greves de 1917, da Insurreição Anarquista de 1918, das campanhas contra o trabalho infantil, das greves gerais em São Paulo, Rio e Rio Grande do Sul. Eles lutaram tanto que foram destruídos. A diferença é simples: enquanto o anarquismo foi exterminado por representar ameaça real ao Estado e ao capital, o marxismo-leninismo brasileiro foi gradualmente absorvido pela própria máquina estatal que dizia combater. É por isso que existe PCB legalizado, PCdoB governista e quadros ML ocupando ministérios. É por isso que você não encontra hoje uma “Organização Marighellista” viva, você encontra um partido adaptado.

A existência de Marighella honra a luta; a trajetória histórica dos MLs explica por que ele precisou romper com eles para lutar de verdade.

A.n.a.r.q.u.i.s.t.a.s.

agência de notícias anarquistas-ana

Canção sem letra:
assobio nos becos
desafia hinos de Estado.

Liberto Herrera

[EUA] 10 Filmes Para Anarquistas (E Para Pessoas Anarco-Curiosas)

Por Tate Williams | 03 de novembro de 2025

Alguns filmes têm mais chance de vir à mente quando o assunto é cinema anarquista. A maioria deles é meio óbvia, você poderia dizer. Eles aparecem regularmente em listas online que destacam clássicos mais explicitamente políticos, como O Sal Da Terra (1954) e A Batalha De Argel (1966).

Nada contra esses filmes, que são dignos de serem estudados e muitos dos quais são muito bons. Mas, honestamente, se você prestar atenção, vai ver que tem filmes anarquistas em todo lugar, prosperando fora da academia e do cinema de arte. Eles abrangem muitos cenários e gêneros, são estrangeiros e nacionais, são independentes e de Hollywood. São mais eruditos e mais populares. Alguns deles são para crianças. E muitos deles são fantásticos.

Pra destacar algumas dessas joias pouco divulgadas, a lista a seguir tem alguns clássicos, mas busca uma visão mais aberta do que podemos considerar um filme anarquista. Uma visão que pode não usar a terminologia exata ou se aprofundar em política num sentido literal, mas que de qualquer forma representa o que queremos dizer quando falamos de anarquismo – libertação coletiva, organização não-hierárquica, resistência a todas as formas de dominação, ajuda mútua, e bastante revolta.

As pessoas que forem ler a lista com certeza terão ressalvas com algumas escolhas, considerando-as forçadas ou questionando sua visão de política. Não tem problema nisso. No fim das contas, entre anarquistas e cinéfilos, é difícil dizer quem é mais propenso a discutir. Mas, pra manter nossa visão mais ampla, chamaremos esses filmes de Filmes Para Anarquistas (E Para Pessoas Anarco-Curiosas).

Os filmes não estão numa ordem específica; vamos lá.

Flow – À Deriva (2024)

Pra mim, o melhor filme que você pode encontrar sobre ajuda mútua é essa coprodução entre Letônia, França e Bélgica, uma animação distópica e sem diálogos de fantasia e ficção científica.  Ele mostra um pequeno gato preto que encontra consolo em um mundo sendo inundado, primeiro pelo isolamento, e depois por um crescente grupo de outros animais num pequeno barco em busca de terra firme. Nosso herói é capaz de sobreviver, fugir da solidão, e encontrar solidariedade com uma matilha de cães famintos, um bando ganancioso de macacos, e até mesmo um monstro do mar próximo da morte. Cada animal encontra um jeito de colaborar enquanto navega suas naturezas conflituosas para poderem sobreviver à inundação.

Cena icônica: Um golden retriever famindo resiste ao impulso de caçar um coelho, e, ao invés disso, ajuda o grupo a salvar uma capivara do perigo.

Frase icônica: [vocalizações animais]

Uma Mulher Em Guerra (2018)

Um filme divertido e incomum sobre uma professora de coral de meia idade que começa a praticar sabotagem pra bloquear a construção de uma fábrica de alumínio da Rio Tinto na Islândia rural. Enquanto Halla reavalia seu sonho por uma adoção em andamento que ela almejou por anos, ela intensifica sua guerra contra a fábrica, primeiro disparando cabos de metal com um arco composto para gerar curtos-circuitos nas linhas de energia, e, em certo momento, simplesmente explodindo tudo. Durante tudo isso, a polícia e os funcionários do governo trabalham com a empresa pra intensificarem sua perseguição, enquanto Halla usa sua conexão profunda com as pessoas e a paisagem da Islândia para fugir deles. No final, tem uma reviravolta engraçada.

Cena icônica: Halla atira contra um drone de vigilância com seu arco e o esmaga com um martelo enquanto usa uma máscara de papel do rosto do Nelson Mandela.

Frase icônica: “Agora a tua jornada é a minha jornada”.

Fuga Das Galinhas (2000)

Pode parecer forçação de barra dizer que esta animação pra crianças é uma representação perfeita de conflitos de interesse dentro de coletivos, mas, saca só. É uma ideia brilhante, em que uma granjeira decide que ela vai conseguir ganhar mais dinheiro com uma máquina que transforma galinhas em tortas. Depois de Ginger, a galinha radical, fracassar nas suas tentativas de fuga e de sabotagem, um galo estadunidense chamado Rocky, interpretado por ninguém mais ninguém menos que o racista Mel Gibson, convence as galinhas de que ele consegue ensiná-las a escapar da fazenda voando (ele não consegue). Rocky é um exemplo perfeito de narcisista arrogante (“Precisamos trabalhar como um time, o que significa que vocês farão tudo que eu mandar”) cujo ego atrapalha a organização do grupo, até que as galinhas eventualmente se mobilizam pra construir uma galinha voadora gigante que elas impulsionam juntas.

Cena icônica: Inicialmente, o Rocky se recusa a ajudar o grupo, dizendo que a coisa mais importante pra ele é a sua liberdade. Ginger diz que ela quer a mesma coisa, felicidade – mas para todas as galinhas.

Frase icônica: A granjeira observando as galinhas: “Elas estão organizadas. Eu sei disso”.

Tudo Vai Bem (1972)

Um filme pras pessoas nerds. “Tudo Vai Bem” é o ápice do período revolucionário do cineasta Jean-Luc Godard, uma série de filmes não-muito-acessíveis inspirados pela revolta de Maio de ’68. O que me chama a atenção nesse filme é a forma com que ele confronta as pálidas consequências da revolução. Jane Fonda interpreta uma jornalista que se vê presa com seu marido diretor de comerciais de televisão, estrelado por Yves Montand, em meio a uma greve numa fábrica de salsicha em Paris. Os atores se dirigem aos telespectadores periodicamente. O Montand chega a substituir Godard, enquanto luta com o mal-estar pós-ativismo e expressa suas dúvidas sobre se um cineasta pode realmente ser um revolucionário.

Cena icônica: Uma longa cena de roubo que acaba em protesto num supermercado corta pra Fonda e Montand discutindo preguiçosamente sobre o futuro do seu casamento.

Frase icônica: “Fora da fábrica, ainda parece uma fábrica”.

As Criaturas Atrás Das Paredes (1991)

Esse filme é uma joia de meio de carreira do Wes Craven, que dirigiu A Hora Do Pesadelo. Nesse filme totalmente maluco, o diretor usa a sátira total pra ironizar a gentrificação, retratando os proprietários como assassinos e sequestradores incestuosos. Pense nesse filme como um Esqueceram De Mim invertido, em que uma criança pobre de uma vizinhança negra invade uma mansão e destrói o sossego dos proprietários de cortiços que moram lá. Uma das várias reviravoltas é que os proprietários estão roubando crianças das famílias ao redor e prendendo elas nas paredes da casa. Pra deixar tudo mais tenso, a cobertura da CNN sobre a Guerra do Iraque toca no fundo periodicamente.

Cena icônica: Depois de uma longa perseguição de gato e rato de filme de terror entre a criança e os assassinos, a vizinhança inteira aparece na porta da frente da mansão para salvar o dia.

Frase icônica: “Meu nome é Ruby Williams e eu represento a associação de pessoas que foram injustamente despejadas, exploradas e que, no geral, se foderam”.

Bisbee ’17 (2018)

A pequena cidade mineradora de Bisbee, Arizona, é palco de um conflito trabalhista histórico, em que uma empresa mineradora conspirou com o governo local para, em nome do esforço de guerra, esmagar uma rebelião de trabalhadores. No fim das contas, o xerife de Bisbee capturou e deportou 1.300 mineradores, quase todos mexicanos e imigrantes, abandonando-os no deserto do Novo México. A ação foi basicamente uma limpeza étnica da cidade. Isso é um exemplo poderoso de como a indústria e o Estado colaboram pra aterrorizar os trabalhadores em território nacional e promover a guerra no exterior. Mas o que é realmente fascinante sobre este documentário é que ele conta essa história por meio de uma encenação feita pelos moradores atuais de Bisbee. Uns têm orgulho da política de seus antepassados, outros têm vergonha. É uma visão caricata e brilhante do sentimento moderno anti-imigrante e anti-trabalhador, exposta por um capítulo pouco conhecido da história trabalhista do sudoeste dos EUA.

Cena icônica: Uma interação perturbadora entre moradores atuais de Bisbee – um homem branco rico que trabalha pra prisões privadas, e um jovem descendente de mexicanos que teve sua mãe deportada.

Frase icônica: “Cidades que são assombradas… parecem ficar entre o passado e o presente, como se duas versões da mesma cidade fossem colocadas uma em cima da outra”.

Freaky Tales (2024)

Se você quiser ver uma versão ficcional do Sleepy Floyd, uma lenda do time de basquete Golden State Warriors, retalhando supremacistas brancos com uma espada katana, pois então eu tenho um filme pra você. Esse filme independente que lembra Pulp Fiction é uma carta de amor a Oakland, Califórnia, aos oprimidos, e aos punks esquisitos multirraciais da East Bay dos anos 80. Esse filme inteiro é sensacional, incluindo um dos melhores dublês que me lembro da história recente do cinema, mas os leitores aqui vão se interessar especialmente pela primeira história, um reconto de um caso muito real, em que a cena punk se juntou para arregaçar nazistas que estavam aterrorizando a lendária casa de shows The Gilman.

Cena icônica: A explosão telecinética de um policial racista.

Frase icônica: “Pra quem é isso?” / “Pros nazistas”. / “Mira no pescoço”.

O Fantasma Que Sentava À Porta (1973)

Se você nunca ouviu falar desse filme aqui, pode ser porque ele foi tirado dos cinemas depois de apenas 3 semanas, por causa de uma pressão feita pelo FBI, de acordo com o cineasta. O Fantasma Que Sentava À Porta permaneceu como um filme pirata até ele ser finalmente relançado e receber seu devido lugar no cânone 30 anos depois. O filme foi dirigido por Ivan Dixon (de Hogan’s Heroes) e baseado num livro escrito por Sam Greenlee; no filme, o cineasta usou a popularidade do Blaxploitation na época para contrabandear uma forte parábola da revolução negra para os cinemas.  O enredo envolve um Senador branco em Chicago que, usando a ausência de agentes negros na CIA como cortina de fumaça, convence a agência a contratar Dan Freeman como ato meramente simbólico. Lá, Freeman aprende sobre mudança de regime político via guerrilha, o que vai permiti-lo aplicar essas táticas contra o governo dos Estados Unidos.

Cena icônica: Uma sequência épica de treinamento.

Frase icônica: “Vocês acabaram de viver o sonho americano… agora, vamos transformá-lo num pesadelo”.

O Salário Do Medo (1953) e O Comboio Do Medo (1977)

Vamos fazer uma dobradinha. Entre a versão original de Henri-Georges Clouzot e a adaptação de William Friedkin do mesmo romance, eu diria que a versão dos anos 70 é a mais acessível e divertida, que estrela um Roy Schneider excelente e que é compactada pra uma audiência moderna. Mas com certeza ambos valem a pena assistir. O enredo envolve um grupo de pessoas socialmente excluídas presas numa vila da América Central que, por desespero, se voluntariam para dirigir dois caminhões cheios de nitroglicerina por um caminho montanhoso pra uma petrolífera estadunidense que está tentando apagar um incêndio em um de seus poços. Os dois filmes são tensos e sombrios, mostrando o terror que é a vida no capitalismo global, em que um só erro pode te explodir. Ao mesmo tempo que fez sucesso na França, os distribuidores americanos censuraram O Salário Do Medo, cortando 20 minutos considerados “anti-americanos” ou excessivamente homossexuais.

Cena icônica: A travessia de uma ponte frágil em O Comboio Do Medo é uma das sequências mais angustiantes da história do cinema.

Frase icônica: “Aqueles mendigos não têm sindicato, nem família. E se eles explodirem, ninguém vai vir me encher o saco pedindo indenização”.

Prestes A Explodir (2022)

Embora os enredos sejam bem diferentes, esse filme similarmente tenso por Daniel Goldhaber parece um sucessor do Comboio Do Medo no estilo e no tema, repleto de música de sintetizador que lembra a partitura de “1977” do Tangerine Dream – a trilha sonora de Comboio Do Medo. Uma interpretação fictícia do livro de mesmo nome, pelo autor e ativista climático Andreas Malm, o filme debate a ética da sabotagem climática por meio de uma história imaginada de oito jovens que decidem, bem, explodir um oleoduto no oeste do Texas. Os membros da equipe vêm de várias origens diferentes, todas diretamente impactadas pela crise climática, e os conflitos ideológicos entre eles serão familiares pra qualquer organizador político. Quando o filme foi lançado nos EUA, 23 entidades federais e estaduais lançaram 35 alertas sobre o filme, e agências reguladoras de energia e de aplicação da lei intensificaram medidas de segurança e vigilância. Quer você considere ou não o filme tal ameaça à segurança dos EUA, ele é um empolgante filme de assalto, com uma reviravolta final que pode te fazer sentir um pouco de esperança.

Cena icônica: Uma sequência particularmente angustiante de fabricação de bomba.

Frase icônica: “Eles vão nos difamar e afirmar que isso foi violência ou vandalismo, mas isso foi um ato justificado. Foi um ato de auto-defesa”.

Fonte: https://anarchiststudies.org/10-movies-for-anarchists/

Tradução > Caio Forne

agência de notícias anarquistas-ana

Ameixeiras brancas.
Assim a alva rompe as trevas
deste dia em diante.

Yosa Buson

Programação da XV Feira Anarquista de São Paulo

No próximo sábado, dia 6 de dezembro, vai ocorrer a XV Feira Anarquista de São Paulo. O evento tem início às 10h e, este ano, vai ocorrer na Arco Escola-Cooperativa, no Butantã. A programação, como de costume, está intensa! 

PROGRAMAÇÃO XV FEIRA ANARQUISTA DE SÃO PAULO

10h Abertura Feira Anarquista

10h (Espaço Adelino de Pinho)
Abertura Espaço Adelino de Pinho

10h (Pátio: Pedro Catallo)
Oficina: 
Yoga para todes

10h30 (Espaço Adelino de Pinho)
Mediação de leitura com os livros do LEA

11h (Espaço Adelino de Pinho)
Oficina de gravura e impressão botânica

11h (Sala 2: Isabel Cerruti)
Debate:
 Anarquismo e educação na primeira infância, com LEA (Laboratório de Educação Anarquista)

12h (Sala 1: Angelina Soares)
Debate:
 Gênero, Anarquismo e Controle de Corpos com Instituto Diversas e Bianca

12h30 (Sala 2: Isabel Cerruti)
Debate: 
Luta por terra e território, urbana, indígena e campesina com Silvia Adoue, Casé Angatu, Aiuni

13h (Sala 3: Armando Gomes)
Lançamento de livros:
– IEL: As bolsas de trabalho e a CGT, de Paul Delessalle; Revolução, crime político e loucuras, de Bruno Benevides;
– 1000 contra + NigraKoro: Bakunin e Netchayev, de Paul Avrich;

13h30 (Espaço Adelino de Pinho)
Mediação de leitura
 com os livros do LEA

14h (Espaço Adelino de Pinho)
Atividade: Procurando Monstro

14h (Sala 1: Angelina Soares)
Debate:
 Massacres estatais com Timo (Coletivo Roça! – Maré/RJ), Amparar, Carol Rosmaninho

14h (Sala 3: Armando Gomes)
Lançamento de livros:
– Barricada de Livros: Feminismo Bastardo, de María Galindo
– CCS: Revista Tema: Anarquismo e Liberdade
– Pulsão de escrita: Práticas libertárias na educação contemporânea, de Bruno Martins

15h (Pátio: Pedro Catallo)
Apresentação teatral: 
Lona Preta

15h (Sala 3: Armando Gomes)
Leitura dramática seguido de lançamento de livro de Pedro Catallo.

16h (Espaço Adelino de Pinho)
Oficina de Stickers (willie)

16h (Pátio: Pedro Catallo)
Apresentação teatral:
 Coletivo Pedra Rubra

16h (Sala 1: Angelina Soares)
Debate: 
Educação, revolta e liberdade com Escola Arco, Rodrigo Rosa, Samanta Colhado, Alicia Esteves e Seixas

16h30 (Sala 3: Armando Gomes)
Lançamento de livros:
– NELCA: Anarquismo e Sindicalismo em Santos, de Marcolino Jeremias; Revolta proletária em Santos, de Florentino de Carvalho;
– Entremares: “A formação do anarquismo em São Paulo”, de Clayton Godoy

16h30 (Sala 2: Isabel Cerruti)
Debate: 
A farsa COP 30 e a questão ambiental com Sandra Papacapim, Brune, Mario Rui Pinto

17h (Pátio: Pedro Catallo)
Contação de história: 
Anônimas

18h (Pátio: Pedro Catallo)
Apresentação: 
Ktarse e Tom Camelo

Data: 6 de dezembro de 2025, das 10h às 19h

Local: Arco Escola-Cooperativa

R. Corinto, 652 – Vila Indiana, São Paulo

Organização: Biblioteca Terra Livre | Centro de Cultura Social | Nelca

ENTRADA GRATUITA

agência de notícias anarquistas-ana

os fantasmas de cogumelos
viraram tinta:
pés nus no frio

Rod Willmot

[Grécia] Nós diremos a última palavra.

O Estado ataca. Ocupa o espaço público com policiais e câmeras. Impõe silêncio e disciplina com leis e punições pesadas. Assassina imigrantes nas fronteiras, desmantela estruturas sociais, deixando as pessoas lutarem por sua sobrevivência. Participa em guerras e corridas armamentistas. Ataca ocupações e iniciativas de auto-organização e luta em todos os campos sociais.

E do outro lado estamos todos nós. Onde insistimos em coletivizar nossas resistências à sua violência. Onde encontramos coragem um no outro para enfrentá-lo mais uma vez. Onde escolhemos não esquecer o assassinato de Alexis Grigoropoulos em 6 de dezembro de 2008 pelo policial Korkoneas e que, 17 anos depois, continuamos a não perdoar. Nós, que nos inspiramos em tudo o que foi tentado nas chamas da rebelião naquela época, que nos lembramos de tudo o que se perdeu desde então. E onde vamos reivindicá-los novamente.

Nós diremos a última palavra.

athens.indymedia.org

agência de notícias anarquistas-ana

quantos pirilampos
posso contar esta noite?
caminho enluarado

José Marins

[Itália] Gabriella Bergamaschini. Militante nas sombras.

Em 5 de novembro último, em Gattinara, faleceu a companheira Gabriella Bergamaschini, nascida em Crema em 13 de agosto de 1950.

Gabriella participava do círculo libertário “L.A. Scribante” de Gattinara e era editora do mimeografado “L’Agitatore”, que publicou de 1979 a 1989. Os seus companheiros foram Giuseppe Ruzza (nascido em Adria em 6 de maio de 1923 e falecido em Gattinara em 2 de janeiro de 2003) e Delfina Stefanuto (nascida em 1929 e falecida em Gattinara em 15 de abril de 2002), ambos militantes.

Na manhã de 17 de setembro de 1983 houve um tiroteio em Milão com os ocupantes de um carro. O motorista foi morto, um companheiro conseguiu escapar e depois foi preso, e uma mulher conseguiu escapar. Os investigadores, depois, afirmaram que essa mulher era Gabriella e a procuraram por toda parte, sem sucesso.

Às 16h do mesmo dia, os Carabinieri invadiram as casas de Delfina e Giuseppe, devastando os apartamentos em busca de armas, explosivos e elementos para provar a suposta ligação com alguma organização armada clandestina. Foram presos por participar de um grupo armado chamado COLP (Comunistas Organizados para a Libertação Proletária). Para Gabriella, a acusação era a de organizar uma gangue armada.

Depois de sair da floresta, enviou aos seus companheiros da Cruz Negra em Milão uma carta ao mundo (ver abaixo).

Em 1986, foi presa na França por portar documentos falsos. Libertada após alguns meses, ela viveu alguns anos em Paris e voltou à Itália assim que a sentença prescreveu.

Continuou a manter relações com os companheiros que haviam sobrevivido à vida e escapado das doenças.

Lembramos do seu compromisso com as lutas, a sua teimosia e determinação, solidariedade e apoio incondicional aos prisioneiros e ódio a todas as injustiças.

Tchau, Gabriella, você vai como sempre viveu, nas sombras, mas não para nós.

Companheiros(as) de Biella e Milão

> Ao Mundo, 24 de dezembro de 1983 <

É hora de terminar com os poderes estabelecidos e seus algozes! Só eles se permitem construir algo para silenciar os camaradas, que têm a única culpa (para eles) de serem anarquistas e, portanto, portadores de verdade e solidariedade, como no caso de Gattinara.

TODOS sabiam muito bem o papel do Círculo Libertário Scribante e o que fazia! Sempre tentaram silenciá-lo, sem sucesso; agora, pelo caso que aconteceu em Milão em 17 de setembro de 1983, e sendo Fiorina e Sava de Biella (nota do editor, ela se refere ao tiroteio que ocorreu em Milão, na via S. Gemignano, onde Gaetano Sava foi morto e Francesco Fiorina foi preso), aproveitaram o fato para criar conexões (nada menos que fantásticas) com o círculo libertário.

Não podemos permitir que esta e todas as outras manobras precisas e DELIBERADAS continuem! A tarefa é bombardear a verdade aos proletários, revelar o verdadeiro aspecto do poder e, em seguida, derrubá-lo!

Todos nós já lemos o que jornalistas e policiais escreveram sobre os dois camaradas. Entrevistas nunca feitas, materiais definidos como “interessantes” que então eram cartas da prisão JÁ “censuradas” e notas para a composição de “O Agitador” e, por último, mas não menos importante, “alistamentos” (isso mesmo! onde por “alistamentos” certamente se referem e querem dizer que o círculo libertário era frequentado por perigosos “terroristas”, já que certamente, na sua imaginação distorcida, não podiam ser amigos comuns) e então é isso:  Esses são os elementos que levaram à nossa Inquisição!

A verdade está toda aqui: queriam fechar o clube, o jornal, para sempre, e se livrar de nós que demos vida a ele.

A acusação é “participação em grupo armado” para Giuseppe e Delfina e “organização de grupo armado” para mim!

Seria risível, se não fosse pela condição de prisão em que Delfina e Giuseppe se encontram. O meu estado atual de clandestinidade é a realidade; clandestinidade SOMENTE pelo fato de que, agora, graças a LorSignori, me vejo longe dos meus companheiros para não ser presa também!

Quero enfatizar que o meu “desaparecimento” forçado certamente não pretende confirmar parte do meu envolvimento, passado ou presente, em sabe-se lá que grupo armado: é só o meu desejo de não acabar amordaçada apodrecendo na prisão esperando preventivamente pelo julgamento encenado, dada a óbvia desconfiança que deposito na não justiça do poder. Certamente é isso que “eles” querem: forçar os companheiros a se esconderem! Ao nos isolarmos, nos distanciam para demonstrar uma realidade pré-embalada para uso e consumo deles, o que então permite que nos destruam com maior aprovação e consenso. Mas não vamos permitir tudo isso! Não podemos permitir isso! Esse é o principal propósito desta minha carta pública.

Sempre e cada vez mais contra as prisões, contra o Estado e toda a sua violência.

LIBERDADE PARA DELFINA E GIUSEPPE E TODOS OS PROLETÁRIOS.

VIVA L’ANARCHIA!!! VIVA A ANARQUIA!

Um abraço muito grande para todos, todas e todes, especialmente aos prisioneiros, com a esperança de poder fazer isso diretamente muito em breve!

Muitos beijos

Gabriella Bergamaschini

Carta publicada em DOSSIER GATTINARA – Storie di follia giudiziaria in provincia – Coordinamento Nazionale Anarchico contro la Repressione (a cura) – Edizioni Anarchismo marzo 1984

Fonte: https://umanitanova.org/gabriella-bergamaschini-una-militante-nellombra/

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

no tanque verdoso
uma libélula rasga
o azul do céu

Rogério Martins

[Argentina] Cultura: Ideias anarquistas

Micelio N° 3: apresentação e diálogo sobre estudos libertários na Casa del Pueblo

A nova edição da revista será lançada no sábado, 6 de dezembro, com um painel de luxo que explorará as experiências de difusão do anarquismo, seguido de música e um bufê.

03/12/2025

No próximo sábado, 6 de dezembro, às 19:00 horas, acontecerá no Centro Cultural Casa del Pueblo (Emilio Lamarca 2502, CABA) a apresentação de Micelio N°3, revista de estudos libertários. O evento não só marca o lançamento da nova edição, mas que também será um espaço de reflexão e diálogo sobre a vigência e difusão das ideias anarquistas.

A terceira entrega de Micelio se apresenta sob o lema: «De cada um segundo suas forças. Sai quando pode», uma declaração de princípios que enfatiza a autogestão e o espírito ácrata da revista.

O ponto central da jornada será uma palestra que abordará as «Experiências de difusão das ideias anarquistas». O painel estará formado por Christian Ferrer, sociólogo e ensaista, com uma vasta obra em torno do pensamento crítico e libertário; Pat Pietrafesa, integrante de Ed. Alcohol y Fotocopias, um projeto chave na edição independente e na difusão de textos libertários; e Juan Felipe Salguero, em representação de Café Kyoto, um espaço cultural que funciona como ponto de encontro e difusão de práticas e pensamento livre.

Após o debate, a noite continuará em um ambiente relaxante com um bufê e a intervenção musical de Laurin.

A organização da apresentação recai na Biblioteca Popular Casa del Pueblo, um espaço com uma forte tradição na promoção da cultura crítica e o debate social. Convida-se a comunidade a participar deste encontro que promete ser um aporte significativo ao debate intelectual e à práxis libertária na cidade.

Saúde e anarquia!

Detalhes do evento

Data e hora: sábado, 6 de dezembro, 19:00 h.

Lugar: Centro Cultural Casa del Pueblo (Emilio Lamarca 2502, CABA).

Atividades: Palestra, bufê e música.

Fonte: https://www.tiempoar.com.ar/ta_article/micelio-n3-presentacion-y-dialogo-sobre-estudios-libertarios-en-casa-del-pueblo/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

criança traquina
saltita atrás dos pássaros
natureza em flor.

Helena Monteiro

[Itália] Quem devasta é o Estado, quem saqueia é o capital

Na madrugada de quinta-feira, 20 de novembro, foi deflagrada a operação Ipogeu orquestrada pela Procuradoria de Catania, com buscas em Catania, Palermo, Messina, Siracusa e Bari. Para três das dezesseis companheirxs investigadxs foi decretada a detenção na prisão como medida cautelar. Os fatos contestados referem-se ao que aconteceu durante o cortejo de Catania do último 17 de maio contra o Decreto de Segurança.

Interrupção de serviço público, pichação, lesão corporal, roubo e devastação e saque, estas são as principais acusações que a Procuradoria move contra os dezesseis companheirxs. O resgate do crime de devastação e saque, introduzido no ventênio fascista com o Código Rocco e recuperado e legitimado a partir do G8 de Gênova, é totalmente estratégico. Sua extrema ambiguidade permite sua aplicação nos contextos mais diversos, tornando-o um perfeito elemento de dissuasão para cortejos e manifestações que não pretendem se limitar aos cercados da concertação, que não se contentam com meras caminhadas e, pelo contrário, expressam nas ruas um firme antagonismo político. Além disso, a severidade das penas (de oito a quinze anos) que este crime prevê o torna um instrumento ideal para aterrorizar e reprimir o conflito.

A contribuir para tornar o quadro ainda mais sombrio está o uso generalizado do dispositivo do concurso em crime, também amplamente atribuído a boa parte das companheirxs investigadxs na Operação Ipogeu. Trata-se de um artigo do Código Penal que atinge quem se considera concorrer material ou moralmente para o crime contestado, prevendo a mesma pena deste. Para a Polícia e para a imprensa foi mais uma oportunidade para regurgitar à opinião pública a usual retórica dos bons e dos maus. Repetem-nos que quem coloca em prática ações que excedem o limite da legalidade é um infiltrado que polui as lutas justas, aquelas bem delimitadas dos sinceros democratas, e deve, portanto, ser isolado.

O cortejo no centro da operação, que atravessou Catania passando sob a prisão da Piazza Lanza, opunha-se ao Decreto de Segurança, o mais recente instrumento com o qual o Estado e os patrões se armam na guerra interna contra oprimidos e explorados. O chamado Decreto de Segurança, tornado lei em junho, com seu conjunto nauseabundo de novos crimes e agravantes prevê cada vez mais prisão para os excluídos e para quem se rebelar contra o estado atual das coisas. Contra estas medidas as companheirxs presxs e investigadxs se opuseram e por isso foram atingidxs pela repressão. É fundamental agora não deixá-lxs sozinhxs, mostrando proximidade, apoio e solidariedade.

Onde o nível do confronto se abaixa, a repressão tem campo livre. Diante do aperto repressivo, a única maneira que temos de resistir é não nos curvar às regras da contraparte, mas dar força e alimentar nossas práticas, reagindo ao isolamento. Até mesmo as recentes manifestações em solidariedade à resistência do povo palestino demonstraram isto: não aceitar as limitações impostas pelo novo Decreto de Segurança torna mais difícil para o Estado e para seus gendarmes aplicarem seu conteúdo.

O ÚNICO INFILTRADO É O ESTADO!

AGORA E SEMPRE SOLIDARIEDADE!

BAK, LUIGI E ALE LIBERTXS!

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Fonte: https://brughiere.noblogs.org/post/2025/12/03/chi-devasta-e-lo-stato-chi-saccheggia-e-il-capitale/

Tradução > Liberto

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Lá na cerca
coruja imóvel e atenta
só mexe os olhos.

Maria Fernanda dos Santos Rebouças

[Argentina] Buenos Aires: Feira do Livro Anarquista – 5, 6 e 7 de dezembro

Com mais de 30 estandes de editoras, gráficas e propaganda anarquista, e mais de 10 apresentações, palestras e debates. Este evento busca potencializar a projeção anarquista, autônoma, fraterna e horizontal, fora das lógicas acadêmicas e reformistas. A feira do livro anarquista é um espaço de encontro, debate e aprofundamento das ideias anarquistas em Buenos Aires.

Este tipo de feiras, historicamente datadas há várias décadas em diferentes cantos do mundo, são espaços dinâmicos, que a cada ano renovam o foco e a tensão em torno de ideias e práticas antiautoritárias, entendendo que, embora façamos parte de uma linha histórica, nossa memória é ativa e está direcionada, não apenas para a efeméride ideológica, mas acima de tudo para o conflito.

>> Mais infos eminstagram.com/feriadellibroanarquistabsas

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Na calma do lago
um bufo entre a canarana:
peixe-boi respira.

Anibal Beça

O Brasil desenvolveu a terceira maior bomba termobárica do mundo

Com 9 toneladas de explosivo e um raio de destruição de 1 km, a bomba termobárica Trocano é a mais potente da América Latina, sendo comparada à MOAB dos EUA e à FOAB da Rússia.

O Brasil desenvolveu uma das bombas mais poderosas do mundo, a Trocano, um artefato termobárico projetado pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e financiado pelo Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER) e pela Diretoria de Material Aeronáutico e Bélico (DIRMAB). Inspirada na MOAB (Massive Ordnance Air Blast) dos Estados Unidos e na FOAB (Father of All Bombs) da Rússia, a Trocano se destaca como a maior bomba da América Latina.

O projeto teve início em 2004 [durante o primeiro mandato de Lula (PT)] e foi conduzido de forma sigilosa pelas autoridades brasileiras. A Trocano é uma arma destinada à interdição de grandes áreas e pode ser usada para limpar zonas densas de vegetação, permitindo pousos de aeronaves de asa rotativa. O armamento foi projetado para ser lançado a partir de um avião Lockheed C-130 Hércules, utilizando um sistema de paraquedas que separa a bomba de seu palete antes da queda. Em 2011, a Força Aérea Brasileira confirmou o desenvolvimento do armamento e sua certificação para uso em aeronaves militares.

A Trocano é a terceira maior bomba termobárica do mundo e supera a versão americana
Composta por 9.000 kg de tritonal, um explosivo menos potente que o H6 utilizado na MOAB americana, a Trocano ainda assim supera sua contraparte dos EUA em poder destrutivo. Seu impacto é devastador, produzindo um raio de destruição total de aproximadamente 1 km. No entanto, ela fica atrás da FOAB russa, que utiliza 11.000 kg de explosivo e é considerada a maior bomba termobárica já desenvolvida.

Apesar de seu potencial destrutivo, a Trocano foi pouco divulgada pelo governo brasileiro, o que levanta questionamentos sobre a estratégia de sigilo militar adotada pelo país.

Fonte: agências de notícias

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Lua de primavera.
O teu brilho não permite
que eu aperte o passo.

Neide Portugal