[Grécia] Declaração de responsabilidade pelos ataques incendiários em memória do anarquista Kyriakos Xymitiris

Se eu não queimar,

se você não queimar,

se nós não queimarmos,

como a escuridão se tornará luz?

Nazim Hikmet

Há 365 dias, nosso companheiro Kyriakos Xymitiris iluminou a escuridão, mesmo que tenha sido com a luz de sua explosão final, no fim de um caminho em chamas.

Kyriakos era um militante anarquista engenhoso e ativo que participava em todo o espectro da luta. Desde marchas, intervenções, manifestações com microfones até confrontos com as forças de repressão. Ele estava presente em todas as frentes e áreas da luta. Ele participou de assembleias de solidariedade a ativistas presos, de coordenações antifascistas, de ações em favor de ocupações, em solidariedade aos imigrantes, contra a guerra e o imperialismo, em solidariedade às lutas dos palestinos, nas lutas contra a gentrificação e o patriarcado. E, claro, em ações revolucionárias diretas e na escolha armada.

Um combatente multifacetado que fez uso de todos os recursos com imaginação, onde as condições correspondiam a cada ação. Com humildade, paciência e um sorriso, Kyriakos estava presente para apoiar qualquer causa que escolhesse com os meios adequados. Até seu último e orgulhoso ataque ao céu.

A ação direta é o meio de manter viva e acesa a memória revolucionária. A cultura e a tradição insurgentes não são apenas um slogan, nem a solução para todos os problemas da luta. Mas é a faísca que traz para o aqui e agora a chama e o bastão daqueles que caíram no campo de batalha. É a maneira de honrar, lembrar e continuar o trabalho daqueles que deram suas vidas pela perspectiva revolucionária. Dessa forma, há uma continuação da tradição, destruímos o medo, tomamos a iniciativa dos movimentos e destacamos que nenhum inimigo é invulnerável, nenhum objetivo é inacessível.

Em uma era de discursos, Kyriakos Xymitiris escolheu agir.

Em uma época de inércia, Kyriakos escolheu dar um passo à frente.

Numa era de “deixa para amanhã”, Kyriakos optou por aproveitar o Agora.

Em homenagem ao nosso camarada, honrando sua memória e suas escolhas, decidimos atacar com fogo os seguintes alvos nos últimos dias:

• o escritório político do vice-ministro das Relações Exteriores e deputado da Nova Democracia, Ch. Theocharis, em Agios Dimitrios.

• o escritório de representação da montadora americana Ford na área de Polygono.

Solidariedade com todos os camaradas processados pelo caso Ampelokipi.

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1638253/  

Tradução: transanark / acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Escola sem muros:
o saber é rio que flui
para todo berço.

Liberto Herrera

[Alemanha] Ação Direta: Contra a Conferência de Guerra em Berlim

Na noite de 17 de novembro de 2025, ativistas antimilitaristas visitaram o hotel Vienna House Andel, em Berlim, na estação de trem Landsberger Allee, e protestaram contra a chamada “Conferência de Segurança de Berlim” que ocorreu nesse hotel nos dias 18 e 19 de novembro. Com tinta vermelha sangue na entrada, foi mostrado que a conferência é responsável por guerra, morte e destruição.

Empresas de armamento como Diehl Defence, Elbit Systems e Lockheed Martin estão entre os patrocinadores. Representantes da Bundeswehr e de outros países da OTAN, além de políticos como o ministro da Defesa alemão, Pistorius, usam a conferência para avançar com a militarização. Querem ainda mais rearmamento e alimentam guerras globais.

Com um jornal-mural colocado ao redor do hotel, os ativistas forneceram informações sobre o contexto da conferência, as causas das guerras e perspectivas para um mundo pacífico e solidário. Além disso, centenas de pequenos panfletos foram espalhados com slogans como “Dinheiro para o bairro, em vez de armas para a guerra”, “Sem conferência de guerra na nossa cidade” e “Contra a guerra dos ricos!”.

>> Texto do jornal-mural:

Guerra contra a guerra!

Nos dias 18 e 19 de novembro de 2025, uma das maiores conferências de guerra da Europa acontecerá no hotel Vienna House Andel’s, na estação Landsberger Allee. Champanhe e caviar reúnem todos aqueles que ganham muito dinheiro com eles: oficiais militares de alta patente, companhias de armas e representantes do governo.

A guerra é fomentada na conferência. Há uma conversa flagrante sobre os interesses econômicos no Indo-Pacífico, que precisam ser aplicados militarmente. Com relação à guerra na Ucrânia, a questão é quando será o momento do Artigo 5 do tratado da OTAN, ou seja, quando a guerra será oficialmente iniciada.

Ao contrário do nome, a chamada “Conferência de Segurança de Berlim” não é sobre nossa segurança, mas sobre a apropriação de matérias-primas e o acesso a rotas e mercados comerciais, para o lucro privado dos capitalistas. A competição entre eles está se intensificando, e precisamos nos destacar por eles!

Os ricos querem guerra. Os jovens têm um futuro!

Além de empresas de armamentos como Hensoldt, Airbus, Diehl e Lockheed Martin, a Elbit Systems também é uma das patrocinadoras. Grandes quantidades do equipamento de guerra produzido pela Elbit são usadas na guerra contra a Palestina. A empresa lucra com o genocídio em Gaza. A Elbit também trabalha com a Rheinmetall. A Rheinmetall é a maior empresa alemã de armamentos, que já obteve enormes lucros durante a Segunda Guerra Mundial. A partir do verão de 2026, a Rheinmetall planeja produzir munição em Humboldthain, em Wedding. Esta será a primeira fábrica de armas em Berlim desde 1945.

Então, precisamos trabalhar novamente em prol de tristeza e destruição, até que, depois de um tempo, as bombas voem sobre as nossas próprias cabeças. O que precisamos, em vez disso, é uma conversão da produção para as nossas necessidades. O que queremos é uma sociedade baseada na solidariedade!

O principal inimigo está no próprio país!

Enquanto bilhões ilimitados estão sendo disponibilizados para militarização e rearmamento, nós precisamos apertar o cinto. Um grande número de projetos sociais em Berlim teve que ser fechado, outros estão capengas porque só metade desses funcionários são remunerados. Três bilhões já foram cortados. Como se isso não bastasse, cortes massivos adicionais estão sendo feitos no orçamento que está por vir.

Para fazer isso acontecer, estamos sendo incitados uns contra os outros de forma racista e classista. Não somos culpados pelas crises capitalistas. Pelo contrário, elas são carregadas nas nossas costas.

Em vez de expandir a saúde para todos, os hospitais estão sendo convertidos para a guerra. O projeto para criar moradias nos terrenos do aeroporto em Tegel está sendo abandonado, para que a Bundeswehr possa praticar combates casa a casa. Como não havia pessoas suficientes para participar, os jovens logo foram obrigados a cumprir o serviço militar.

Temos muito mais em comum com as pessoas em quem devemos atirar do que com aquelas que nos mandam para as trincheiras!

Vamos nos unir contra a luta de classes vinda do céu! Vamos organizar greves nas escolas, nos portos ou nas fábricas. A nossa perspectiva é a solidariedade internacional. Juntos, podemos criar um futuro que valha a pena ser vivido para todos!

Fonte: https://de.indymedia.org/node/553238

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

nadam no vento
como carpas douradas
folhas de bambu

Akatonbo

[Espanha] Ameaças de morte e acusações: o professor que é alvo da extrema direita dos EUA

Mark Bray se tornou uma das pessoas mais em destaque que foi acusada nos esforços de Donald Trump de fazer a Antifa um alvo.

Por Ashifa Kassam | 18/11/2025

Com bagagem despachada e cartões de embarque em mãos, Mark Bray e família passaram pela segurança do aeroporto de Newark no início de outubro. O voo à Espanha transportaria a família de quatro pessoas a um lugar seguro após dias de ameaças crescentes; Em vez disso, enquanto esperavam no portão para embarcar, foram informados de que alguém havia cancelado a reserva.

“Parecia que eu estava sendo observado e ridicularizado”, disse Bray, professor da Universidade Rutgers que ministra um curso sobre a história do antifascismo e que, em 2017, escreveu um livro sobre Antifa. “Eu sabia que era algo motivado politicamente de um jeito ou de outro.”

O incidente catapultou Bray para as manchetes como uma das pessoas de maior destaque envolvidas nos esforços de Donald Trump de atacar a Antifa.

Por anos, Trump mirou a Antifa, buscando transformá-la em inimigo formal, apesar do fato de que o movimento descentralizado; que se opõe à extrema-direita, a fascistas e a racistas, não tem estrutura, hierarquia e nem líder.

A sua cruzada ganhou nova vida após o assassinato do ativista de extrema-direita Charlie Kirk. Dias após o assassinato, sem nenhuma evidência que comprovasse ligação entre o suspeito de assassino e a Antifa, o presidente assinou uma ordem executiva designando o movimento como “organização terrorista doméstica”.

Nos últimos dias, a administração foi além, acusando quatro entidades europeias de serem “grupos violentos Antifa” e anunciando planos para designá-las como organizações terroristas estrangeiras.

Os esforços para estabelecer uma ligação entre a morte de Kirk e Antifa, por mais frágeis que fossem, abalaram a vida de Bray. Desde a publicação do seu livro, em 2017, Antifa: The Anti-Fascist Handbook, o professor tem sido amplamente considerado como um especialista no movimento.

A distinção sempre foi clara. “Sou antifascista na medida em que não gosto do fascismo e gostaria muito que nos organizássemos contra o fascismo”, disse ele. “Mas é só isso. Nunca fiz parte de nenhum grupo.”

No final de setembro, enquanto as tensões continuavam a aumentar em torno do assassinato de Kirk, influenciadores de extrema-direita e a mídia de direita intensificaram esforços para borrar essa distinção. Um proeminente influenciador de direita o descreveu como “professor de terrorismo doméstico”, acusação rapidamente adotada por outros, enquanto um grupo estudantil afiliado à organização fundada por Kirk o acusou de ser “líder proeminente do movimento Antifa no campus” e pediu a sua demissão.

Logo se seguiram algumas ameaças de morte. Quando o livro sobre Antifa foi publicado, em 2017, Bray ignorou as ameaças que chegaram. Porém, agora, pai de dois filhos pequenos, era difícil ignorar o email ameaçando matá-lo na frente dos alunos ou o fato de alguém ter postado o seu endereço residencial nas redes sociais.

“Eu ficava lutando contra a ideia de que você está jogando nas mãos deles ao ficar com medo disso”, disse ele. “Mas a diferença entre essa e a anterior, entre outras coisas, era ter filhos pequenos e, se havia tipo 0,001% de chance de alguém passar pela nossa casa e pulverizar uma arma automática naquela casa, eu não posso correr esse risco.”

Com o apoio de Rutgers, ele e a esposa, que também é professora, decidiram se mudar para a Espanha, pelo menos até o final do ano letivo, e lecionar remotamente, na esperança de que a situação eventualmente se acalmasse. Com as ameaças pairando sobre eles, arrumaram o que precisavam em dias, deixando as cortinas fechadas e os filhos sem saber sobre o motivo da mudança repentina.

Quando a primeira tentativa de embarque falhou, ficou claro como o contexto havia mudado. Anos antes, quando Bray ficou conhecido por suas pesquisas sobre Antifa, sentiu como se a raiva contra ele tivesse surgido de algumas pessoas ressentidas que então buscavam mobilizar outros para atacá-lo.

“Desta vez, porém, não foi uma bolha. Era de cima para baixo”, disse ele. “Do jeito que vejo, a Casa Branca decidiu que a Antifa está na mira.”

Horas antes do voo de Bray ser cancelado, Trump e seus principais funcionários realizaram uma reunião na Casa Branca, prometendo usar toda a força do governo para esmagar a Antifa, que eles comparavam a algumas das gangues e cartéis de drogas mais violentos do mundo.

“No dia em que eu estava saindo do país, os influenciadores de extrema-direita que me miraram estavam na reunião da Casa Branca com Trump sobre a Antifa e em contato direto com ele”, disse Bray.

No dia seguinte, enquanto a mídia, advogados e um senador democrata acompanhavam o progresso da família, eles conseguiram embarcar no voo para a Espanha. Antes do embarque, porém, foram retidos por cerca de uma hora por agentes da alfândega e da patrulha de fronteira, que bombardearam Bray e a esposa com perguntas, pediram para ver o celular e espiaram na bagagem de mão da família.

As perguntas deles para Bray logo se tornaram mais incisivas, sugerindo que Bray havia doado metade dos lucros do livro de 2017 para o Fundo Internacional de Defesa Antifascista, que apoia os custos legais e médicos de pessoas ao redor do mundo acusadas de crimes relacionados a ações antifascistas. “Não é um grupo Antifa”, disse Bray, observando que os agentes recuaram quando ele disse que precisaria do advogado presente para responder a essas perguntas.

Algumas semanas depois, tomando café em uma rede espanhola conhecida, Bray conversou com o Guardian. Do ponto de vista de mais de 5600 quilômetros de distância, descreveu o sofrimento da família como parte de uma estratégia mais ampla da administração Trump para usar a Antifa, movimento ainda pouco compreendido por muitos, para promover os seus próprios objetivos.

“O manual fascista autoritário é bem documentado e prospera com crises e emergências”, disse ele. “Está bem documentado que figuras como essa querem sufocar a resistência da oposição e geralmente tentam criar uma categoria de bicho-papão genérico para isso.”

A Antifa estava sendo usado dessa forma, apesar da falta de estrutura a tornar mais parecida com o socialismo do que com qualquer organização formal. “Eu realmente acho que Maga é um movimento fascista, acredito que a intenção da administração é destruir a oposição e os protestos e criar um sistema autoritário”, disse ele.

À medida que o governo Trump iniciava esse processo, a vida que ele e sua esposa construíram nos EUA, ao menos temporariamente, tornou-se um dano colateral. “Não era realmente sobre mim, propriamente dito, mas sim sobre usar um bicho-papão para tentar atacar qualquer um que a administração não goste. É assim que vejo”, disse, apontando para o ecossistema midiático de extrema-direita que amplificou essas alegações, deixando-o repelindo ameaças de morte. “Foi irritante que alguém pudesse simplesmente mandar um email e mudar a minha vida.”

Fonte: https://www.theguardian.com/us-news/2025/nov/18/death-threats-and-accusations-the-professor-targeted-by-the-us-far-right

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

para medir o calor
do dia, olhe o comprimento
do gato que dorme

James W. Hackett

[EUA] Podcast: Aumenta o volume Nova Iorque!

A crítica anarquista à eleição de Zohran Mamdani na corrida para a prefeitura de Nova Iorque nos lembra que “rostinhos socialistas” em altos cargos não trazem mudanças fundamentais, e Gotham já viu prefeitos eleitos com programas populistas que acabaram cedendo a um governo dominado pelo setor imobiliário assim que assumiram o cargo.

No entanto, a reação negativa do movimento MAGA à ascensão de Mamdani pode ajudá-lo a manter-se fiel ao seu programa populista, pois serão os trabalhadores de Nova Iorque que o apoiarão quando Trump fizer sua retaliação contra a cidade e não os barões do setor imobiliário.

Esta crise pode fomentar o ímpeto para a ruptura necessária entre localidades administradas por progressistas e um aparato federal controlado pelo regime ilegítimo de Trump, justificando as teorias de Murray Bookchin sobre municipalismo radical.

No episódio 302 do podcast CounterVortex, Bill Weinberg explica tudo em detalhes.

Produção de Chris Rywalt.

Pedimos aos ouvintes que se tornem nossos apoiadores através do Patreon: Torne-se um Apoiador Básico por apenas 1 dólar semanal (5 dólares por mês), ou um Apoiador Especial por 2 dólares semanais (10 dólares por mês), ou um Grande Apoiador por 5 dólares semanais (25 dólares por mês). No momento temos 62 apoiadores e se você aprecia o nosso trabalho, torne-se o número 63!

>> Ouça o programa aquihttps://soundcloud.com/user-752167240/nyc-turns-up-the-volume

Tradução > Orlando/Acervo Trans-Anarquista

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/11/10/eua-sem-deuses-sem-prefeitos/

agência de notícias anarquistas-ana

manhã
me ilumino
de imensidão

Giuseppe Ungaretti

[Espanha] Crônica: Animalia Libertaria III: Um viveiro de esperança animalista

O crescimento do movimento animalista em Madrid tem encontros que já são tradição. Neste domingo, a terceira edição de Animalia Libertaria confirmou sua consolidação como um desses encontros imprescindíveis onde a comunidade antiespecista não só arrecada fundos, mas fortalece seus laços. Com dez associações beneficiárias, a feira demonstrou como a solidariedade se traduz em ação concreta.

A manhã começou com a agitação característica dos voluntários montando postos, mas com uma novidade significativa: a maior diversidade de associações participantes. Protetoras de cães, santuários de animais de granja e coletivos de colônias felinas compartilhavam espaço, criando um ecossistema completo de cuidado animal. No posto de “Sou Positivo“, dedicado a gatos leucêmicos e imunes resgatados, uma voluntária explicava: “Cada euro significa uma ajuda para comprar ração a cada mês”.

Um dos momentos mais impactantes chegou com a performance de Madrid Animal Save. Puseram suas telas com um vídeo de dois minutos dos animais sacrificados no matadouro, e se o assistisse, te recompensavam com um bônus de 2 € de desconto na comida ou bebida do evento. A ação, breve, mas intensa, conseguiu captar a atenção inclusive dos que já estamos a tempos difundindo o antiespecismo.

A zona de comida vegana se converteu em um ponto de encontro movimentado e festivo. A oferta gastronômica evoluiu notavelmente desde as primeiras edições, com diferentes opções caseiras de 7 associações diferentes junto a bebidas de provedores ecológicos e veganos. É um prazer ver as pessoas desfrutarem sem que nenhum animal pague com sua vida.

O mais valioso desta edição foi talvez sua capacidade para mostrar as diferentes facetas do movimento. Não só se falava de adoção, mas também de justiça climática, consumo responsável e políticas municipais. Havia fanzines de diversos temas com os quais aprofundar em diversas temáticas interseccionais que nos afetam em nosso dia a dia.

Ao finalizar a jornada, com as caixas cheias de doações e os telefones com novos contatos, os organizadores viam satisfeitos o resultado. Mais que uma feira, Animalia Libertaria se converteu nesse espaço onde os que lutam pelos animais carregam suas energias, encontram cumplicidade e recordam que não estão sós nesta batalha. A quarta edição já se torna necessária.

Fonte: https://madrid.cntait.org/cronica-animalia-libertaria-iii-un-semillero-de-esperanza-animalista/  

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Sente-se, por favor
no banquinho do jardim,
Primavera-San…

Teruo Hamada

[EUA] Convergência Anarquista Sonorense

De Saguaros & Sabotage – Contra-informação para o Vale do Sol

Quando/Onde: Das 13h às 18h, sábado, 29 de novembro. Wasted Ink Zine Distro, na McDowell com a 5ª Avenida, em Phoenix.

O Sudoeste permanece tanto um caldeirão quanto uma vítima do império, uma fronteira incendiada onde colonialismo de povoamento, extração capitalista e “progresso” tecnológico convergem em uma violência ritual contra a terra e contra a vida. De data centers “ecológicos” a minas de urânio e cobre que contaminam terras indígenas, a região reflete a violência contínua da qual o império depende para sobreviver.

Este encontro é uma invocação. Um espaço para traçar as linhas de poder e extração e imaginar ecologias insurgentes para além da maquinaria da civilização.

Este encontro é uma oportunidade para aprender uns com os outros através de fronteiras estatais e de linhas de frente, compartilhar histórias de resistências passadas e presentes, construir conexões entre nossos diversos movimentos e explorar maneiras de defender a terra, a água e a comunidade contra as forças que buscam nos dividir e explorar.

Junte-se a nós em 29 de novembro, na Wasted Ink Zine Distro, das 13h às 18h.

Envie propostas de oficinas ou perguntas para SonoranAnarCon@proton.me

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Vendinha de bairro.
Ressona feliz gatinho
no saco de estopa.

Fanny Dupré

Extrativismo: repensar o capitalismo de exploração de recursos naturais

Hoje temos a alegria de propor a vocês uma leitura fundamental para entender as relações que unem o capitalismo mais moderno com as atividades mais sujas e destruidoras dos ambientes e das comunidades da América Latina e outros lugares do mundo.

O livro Extrativismo, traduzido por compas do CCLA apresenta um leque de informações, situações e dados que lembram a que ponto as nossas lutas são interligadas e que as nossas resistências devem também diversificar-se ao mesmo que se unem para rejeitar as promessas de um “desenvolvimento” que sempre nos deixa migalhas em troca de sacrifícios ambientais e culturais.

Portanto, é com prazer que apresentamos essa obra fundamental, em chave de formação ao pensamento libertário e que vai permitir compreender o posicionamento anarquista em relação a essa temática.

Vocês podem baixar o livro na Biblioteca digital do CCLA, aqui: https://cclamazonia.noblogs.org/files/2025/11/EXTRATIVISMO-DEF.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

no despenhadeiro
a sombra da pedra
cai primeiro

Carlos Seabra

[Grécia] A esquerda que carrega o Estado dentro dela

O assalto maoista aos anarquistas atenienses expuseram a cultura política hierárquica moldada por hábitos patriarcais.

Blade Runner ~

Milhares tomaram as ruas por toda a Grécia em 17 de novembro, em memória dos mortos durante a revolta do Politécnico de 1973, quando estudantes foram assassinados a tiros ao se revoltarem contra a ditadura colonial. Em Atenas, mais de 6.000 policiais de choque foram destacados para a manifestação e comício em frente à Embaixada dos EUA, com veículos blindados isolando o trajeto da marcha numa tentativa de desencorajar a participação em massa. 43 pessoas foram presas em operações policiais antes da manifestação.

Mais cedo, na manhã de 15 de novembro, cerca de 150 membros do grupo maoísta ARAS desceram ao campus do Politécnico em Exarchia durante os preparativos para as comemorações anuais da revolta de 1973. Eles cercaram um pequeno grupo de estudantes anarquistas e antiautoritários, lançaram um ataque coordenado e sustentado, e deixaram mais de uma dúzia hospitalizados com concussões, ossos quebrados e graves ferimentos na cabeça, incluindo pessoas espancadas enquanto inconscientes. Os atacantes atuavam atrás de um cordão apertado, os portões do campus estavam trancados e centenas de outras organizações de esquerda presentes não puderam intervir. O evento foi publicamente condenado pela maioria das organizações de esquerda e anarquistas na Grécia.

Longe de ser apenas mais um confronto intraesquerda, o ataque foi uma tentativa estratégica de demarcar território. Quem detém o espaço físico do Politécnico não gerencia somente um campus; reivindicam o significado de sua história e, com ela, o horizonte futuro da luta social. A ARAS passou anos impondo a sua dominância dentro de setores do movimento estudantil universitário, reproduzindo uma postura autoritária análoga à postura hegemônica do Partido Comunista Grego (KKE) no campo sociopolítico mais amplo: a insistência no controle organizacional, a fiscalização da dissidência e a fala de décadas, adotada tanto pelo KKE quanto pelos liberais, de que os manifestantes são ‘destruidores de unidade’ ou agentes policiais disfarçados.

O ataque pertence a um ciclo mais longo de desilusão, repressão e decadência política. Uma geração amadureceu após a revolta juvenil de 2008, momento que aterrorizou a classe política, apenas para assistir à longa desilusão dos anos do SYRIZA se desenrolar: esperança evaporando, energia do movimento traída e o ‘governo de esquerda’ encolhendo para uma gestão tecnocrática. O que se seguiu foi o retorno triunfante da direita, armada com uma TINA (‘não há alternativa’) e uma postura de contrainsurgente direcionada diretamente aos movimentos que abalaram o país, em 2008, e durante os anos do memorando. Nos últimos anos, as autoridades policiais têm atacado cada vez mais as ocupações políticas, inclusive dentro de campi universitários com a cooperação das administrações acadêmicas.

Nesse clima, padrões autoritários e patriarcais se reafirmaram não apenas de cima, mas também dentro do campo político, com remanescentes da esquerda atuando como amortecedores e contrainsurgência interna, absorvendo a raiva e bloqueando o surgimento de alternativas sociais genuinamente autônomas. O ataque da ARAS foi uma reencenação dessa tendência mais ampla: a internalização da lógica estatal por uma formação de esquerda desesperada por reconhecimento e poder. A tentativa de garantir relevância e sobrevivência organizacional em um cenário remodelado pela lenta asfixia dos movimentos culminou em uma ruptura grotesca com o espírito do Politécnico, um espetáculo autoritário que imitava as próprias forças que o aniversário deveria desafiar. Os movimentos têm muito a temer quando os atores legitimam essas formações em nome da ‘unidade’ e, assim, os ajudam a garantir cobertura moral.

Além disso, a brutalidade do ataque revelou mais do que uma emboscada sectária e autoritária; expôs uma cultura política hierárquica moldada por hábitos patriarcais de comando, que se espalhava por partes da esquerda grega (e pelo espectro político de modo mais amplo), e agora encorajada sob um governo que fetichiza disciplina, punição e obediência.

Por décadas, o Politécnico foi mantido aberto por aqueles que rejeitam essas narrativas de ordem e inevitabilidade. Pouquíssimas das correntes políticas presentes foram ‘não violentas’ no sentido moralista promovido por governos e liberais. Eles defenderam ocupações, confrontaram a polícia, bloquearam minas e construíram infraestruturas de cuidados sob fogo. A militância deles é coletiva e baseada na proteção mútua. A violência da ARAS era o oposto: dominação autoritária disfarçada de disciplina, um teatro de controle com influência patriarcal que se disfarçava de luta social.

Essa distinção é essencial. Formações políticas que reproduzem estruturas de comando hierárquicas e patriarcais não apenas ecoam a violência do Estado, elas a legitimam. Quando uma seita liderada por homens invade o Politécnico como um esquadrão de choque privado, isso funciona como uma extensão não oficial da repressão que o governo vem escalando há anos, sufocando os espaços de movimento e expandindo os poderes policiais sob a bandeira da inevitabilidade. Nesse contexto, o ataque da ARAS parece menos loucura sectária e mais uma versão amadora grotesca da própria narrativa do Estado: ‘a ordem deve ser restaurada; As alternativas precisam ser esmagadas.’ Um eco violento da TINA que eles afirmam se opor.

Se os movimentos quiserem sobreviver a essa fase autoritária, a criminalização da dissidência, o teatro do ‘bom manifestante ou mau manifestante’, a fiscalização da política juvenil, precisam enfrentar o que possibilitou esse ataque. Não por vingança ou purgas, que apenas reciclam o mesmo circuito autoritário, mas recusando-nos a tolerar dentro de nossos próprios espaços as hierarquias, masculinidades e hábitos de comando que tornam tal violência possível. A justiça transformadora não é uma alternativa suave à militância; É a única forma de a militância permanecer enraizada na libertação, em vez de deslizar para a lógica da dominação.

A revolta do Politécnico permanece poderoso porque rejeitou a hierarquia, o comando patriarcal e a lógica da inevitabilidade. Era bagunçada, plural e contraditória e, portanto, genuinamente insurgente. O que aconteceu este ano foi uma profanação dessa memória por pessoas que reproduzem fielmente a lógica do Estado mais do que a sua polícia. Nossa tarefa agora não é só defender nossos espaços da repressão externa, mas também defender nossas culturas políticas da podridão interna. Nenhum movimento que não consiga erradicar o autoritarismo, seja pelo Estado ou por seus imitadores, pode construir o mundo pelo qual diz lutar.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/18/a-left-that-carries-the-state-inside-it/

Tradução > CF Puig

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/11/17/grecia-sobre-o-ataque-paramilitar-assassino-da-aras-nas-instalacoes-da-universidade-politecnica/

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Gatinha meiga
ao passar da mão
seu corpo se ajeita

Eugénia Tabosa

[França] Lançamento: “Maldita seja a guerra” de Pierre Douillard-Lefèvre

O “rearmamento” está em todos os discursos, a economia de guerra é imposta com austeridade, os impérios estão se militarizando, a França é o segundo maior traficante de armas do planeta, a aniquilação de Gaza continua, o ar é cáqui e os acentos marciais contaminam o espaço da mídia. No passado, as lutas sociais se levantaram contra o nacionalismo conquistador e a guerra, contra os uniformes e a obediência aos líderes, contra a união sagrada e a militarização do trabalho. “Guerra aos palácios, paz às cabanas de palha!”: façamos nossa esta palavra de ordem revolucionária. Este manual antimilitarista baseia-se na experiência daqueles que resistem às guerras de ontem e de hoje, para rearmar a resistência.

O autor

Mutilado pela polícia em 2007, quando era estudante do ensino médio, Pierre Douillard-Lefèvre realiza pesquisas sobre a militarização da aplicação da lei, a ascensão do autoritarismo e está envolvido em movimentos de pessoas feridas pela polícia ou contra a indústria de armas. Autor dos livros L’arme à l’oeil (Grevis, 2016) e Nous sommes en guerre (Grevis, 2021) sobre repressão, depois Dissoudre (Grevis, 2024) sobre processos liberticidas, é também pesquisador em ciências sociais, autor de obras sobre sociologia urbana, cartunista e jornalista em mídia independente e associativa.

Maldita seja a guerra de Pierre Douillard-Lefèvre

Paru le 171025

160 páginas

ISBN:

9791097088941

16 Euros

editionsdivergences.com

agência de notícias anarquistas-ana

No dedão vermelho
Lateja meu coração —
Ferrão de abelha

Neiva Pavesi

Do cativeiro à liberdade

Entrevista com o militante anarquista bielorrusso, Mikola Dziadok. Entrevistadores: Claudia Bettiol e Francesco Brusa.

Mikola Dziadok (1988) é bielorrusso, escritor, ativista, anarquista e ex-preso político cujo nome se tornou sinônimo de resiliência e do alto custo da oposição na Bielorrússia atual. Além de ser um sobrevivente, ele também é uma testemunha-chave do funcionamento interno do poder autoritário bielorrusso. Sua história, duplamente como prisioneiro, já foi escrita atrás das grades, documentando a brutal realidade do sistema penal bielorrusso. O seu livro de memórias, The Colours of the Parallel World (publicado após o primeiro período de detenção), baseado em anotações secretas na prisão, oferece um relato cru e sem precedentes do tormento psicológico e físico projetado para quebrar o espírito humano.

Após ser preso, há 5 anos, foi libertado em 11 de setembro, com mais 51 prisioneiros (a maioria presos políticos e alguns cidadãos estrangeiros) como parte de um “acordo” mais amplo entre a Bielorrússia e os Estados Unidos, com Washington suspendendo algumas sanções contra o Estado governado por Lukashenko [atual presidente da Bielorrússia]. Todas as pessoas foram “deportadas” para a embaixada americana em Vilnius, Lituânia, exceto o líder de uma das forças políticas de oposição, Mikola Statkevich, que parou na fronteira e voltou para a Bielorrússia, em uma decisão arriscada (e nenhuma notícia dele foi ouvida desde então).

Dziadok é uma fonte primária com testemunhos em primeira mão sobre o uso sistemático da tortura e da repressão política na Bielorrússia. Aqui, as suas perspectivas críticas sobre a maquinaria de um regime que se tornou um aliado-chave da guerra da Rússia na Ucrânia e um desafio persistente à segurança europeia.

CLAUDIA BETTIOL E FRANCESCO BRUSA: Algumas semanas atrás, na primeira coletiva de imprensa em Vilnius, logo após a sua libertação, você falou sobre as condições das prisões na Bielorrússia. Disse que ficou chocado com a escala da repressão tanto nas prisões quanto em toda a Bielorrússia. Pode nos contar mais um pouco sobre a sua experiência pessoal?

MIKOLA DZIADOK: Vamos começar do início. Fui preso em 11 de novembro de 2020, depois de ficar foragido por 5 meses. Fui revistado pelo GUBOPiK, o departamento da polícia bielorrussa que lida com os chamados “extremistas” e, durante a prisão e várias horas depois, fui intensamente torturado.

No começo, a situação foi bem intensa, com espancamentos prolongados, spray de pimenta, ameaças de estupro, algemamento e sufocamento. Passei por 6 horas porque eles queriam que eu desse as senhas das minhas contas e dispositivos, e que fizesse uma confissão em câmera.

Enquanto eu aguentei, eu me abstive disso, mas depois me rendi e disse o que eles queriam. Depois, fui transferido, amarrado e meio coberto, mas o centro de detenção inicialmente não me aceitou e fui levado de volta ao lugar onde tudo começou. Fiquei lá mais 6 dias para que as evidências de espancamentos ficassem menos visíveis, e minhas condições melhoraram um pouco.

Nos 5 anos de detenção, as condições variaram, de extremamente ruins a mais ou menos normais. Em geral, desde o início, a administração prisional empregou várias estratégias, incluindo a exploração de outros detentos e subculturas informais prisionais para oprimir não só a mim, mas a todos os presos políticos. Colocaram líderes criminosos e detentos comuns contra nós, nos submetendo a uma série de táticas, incluindo tortura moral, agressão física e intimidação.

Além disso, usavam esse mecanismo chamado “baixo status social”, que é uma característica específica dos gulags e prisões pós-gulag em sistemas penitenciários pós-soviéticos. Basicamente, dentro desse sistema, os detentos são divididos em várias castas, que não permitem qualquer melhoria de status. Nesse sistema, você só pode descer, não subir na hierarquia. O status mais baixo, ou a casta mais baixa, geralmente associada a pessoas homossexuais, é periodicamente assediada moral e fisicamente e tratada como excluída. Não podem se sentar à mesa com outros detentos e são sistematicamente abusados, assediados e maltratados tanto por outros detentos quanto pela administração prisional. Dei uma descrição detalhada do fenômeno social da “casta mais baixa” nas prisões pós-soviéticas.

Estar nessa casta é um desafio difícil e muitas pessoas cometem suicídio. A administração prisional é instruída por autoridades superiores como a KGB e a GUBOPiK, que estavam se esforçando para atribuir esse status de casta inferior aos presos políticos, incluindo eu.

Outra experiência comum são as células de isolamento, onde você dorme em uma mesa que se encolhe da parede em determinados horários, de modo que durante o dia você não consegue dormir. Mas à noite também é difícil dormir porque está muito frio. Você precisa acordar três ou quatro vezes à noite para fazer agachamentos ou flexões para aquecer.

De acordo com a lei, você não pode ficar nessa cela por mais de 15 dias, mas na verdade acontece que eles fazem você ficar por meses, e presos políticos são sistematicamente colocados lá por períodos muito longos. O período mais longo que fiquei foi de 4 meses, mas somando, no total, passei um ano inteiro em uma dessas celas.

Claro, também existem outras formas de pressão que exercem sobre você, por exemplo, no nível legal: impedem que mantenha contato com parentes, muitas vezes privam do direito de enviar cartas para a família ou qualquer outra pessoa.

Podemos dizer legitimamente que, nas prisões bielorrussas, os presos políticos representam uma categoria especial, chegam até a ser rotulados com placas amarelas nos casacos e são sistematicamente assediados e maltratados.

Você descreveu o sistema prisional bielorrusso no seu livro, The Colours of the Parallel World, escrito entre 2010 e 2015, na primeira prisão, e publicado em 2016. Você diria que piorou em relação àquele período, e que os protestos de 2020 forçaram Lukashenko e o sistema de poder a tornarem as coisas ainda mais duras?

Com certeza, as condições ficaram muito mais duras do que descrevi no meu livro. Quando eu escrevia, a maioria de nós, presos políticos, éramos apenas dissidentes e ativistas locais, e não representávamos uma ameaça imediata e mortal ao regime. Em 2020, houve uma situação revolucionária absolutamente evidente que levou o Estado a impor medidas muito duras aos prisioneiros, presos políticos, para intimidá-los o máximo possível. Hoje sabemos os números: pelo menos 8 presos políticos morreram desde 2020.

Devo dizer que provavelmente só a minoria morreu por violência direta. A maioria por não ter recebido ajuda médica a tempo. Morreram de doenças curáveis.

Este ano marcou o 5º aniversário desde os protestos de 2020 contra o regime de Lukashenko e, obviamente, algo mudou desde então. Após a sua libertação, como a sua percepção sobre a luta política mudou? Como vê a situação dos presos políticos hoje?

Preciso dizer que a minha percepção da luta política não mudou muita coisa. Quer dizer, continuo anarquista. Continuo acreditando numa sociedade sem exploração, sem violência, uma sociedade sem autoridade de seres humanos sobre seres humanos. Ao mesmo tempo, vejo as condições reais. Vejo que todos nós somos imigrantes agora. Não podemos influenciar diretamente tanto quanto queremos a situação política na Bielorrússia. Somos mesmo muito dependentes dos nossos aliados ocidentais dos países que nos aceitaram.

Nessas condições, acho que devemos fazer tudo o que pudermos, antes de tudo, para manter a unidade, tentar pressionar com questões bielorrussas, na comunidade internacional, em organizações internacionais, no ambiente diplomático, entre os ministérios de relações exteriores, e tentar levantar questões bielorrussas, questões de direitos humanos e da nossa luta.

Talvez, em comparação com minhas visões políticas anteriores, eu não acredite tanto na revolução ou na luta violenta como na principal forma de mudar a sociedade. Não acredito tanto em mudar instituições políticas, mas, sim, em mudar a mentalidade das pessoas. Em termos filosóficos, finalmente cheguei à posição de idealista, sabe, nessa eterna discussão entre idealistas e materialistas. Sou completamente idealista agora porque acredito que toda mudança política, as mudanças nas instituições políticas, nascem primeiro no coração e na mente das pessoas, e a luta de cada pessoa para se melhorar não é menos importante do que a luta por mudar as instituições políticas.

Quero me concentrar em fazer trabalho cultural, em manter e desenvolver valores morais progressistas, valores humanistas, valores do mundo livre em contradição aos valores bárbaros, autoritários e fascistas que nos são continuamente impostos do Oriente.

Com o conflito em andamento entre Rússia e Ucrânia, e a Bielorrússia servindo como base para operações russas, como você abordaria a busca por uma “revolução cultural” nesse contexto? Como percebe as condições difíceis para uma luta pela liberdade no contexto em que a Bielorrússia está ainda mais ligada e subjugada pelo Kremlin?

Todas as guerras hoje são guerras híbridas, muito antes da invasão russa na Ucrânia começar. Foi uma invasão cultural de longa duração, uma invasão colonial, a lavagem cerebral das forças imperialistas russas, dos canais de TV russos e dos chamados proxies do mundo russo através dos canais de informação, sabe? É isso que vemos agora na Bielorrússia. O povo bielorrusso é submetido a uma campanha contínua de doutrinação que combina elementos da propaganda mundial russa com um estilo distinto bielorrusso. Essa campanha é caracterizada por uma mistura de retórica imperialista russa e uma abordagem localizada.

Mesmo em tempos de guerra, a disseminação de informações continua crucial, assim como o apoio de indivíduos que defendem valores adequados. Essa importância é amplificada em tempos de conflito.

Hoje, vemos que o regime de Lukashenko investiu muito em propaganda após 2020. Naquele ano, conquistamos completamente o campo da informação deles, ele levou um mês para alcançar uma vitória parcial no campo da informação, e nesse mês, prendeu jornalistas, destruiu infraestrutura e recorreu à tortura e espancamentos.

A minha missão é continuar a falar a verdade, investir em valores humanistas e produzir análises políticas que promovam visões adequadas sobre questões geopolíticas e locais, bem como a descolonização. Estou comprometido com a descolonização do campo da informação bielorrussa e com a mentalidade dos bielorrussos.

Sabemos que o regime está mirando em presos políticos, especialmente jornalistas, blogueiros e defensores dos direitos humanos, fabricando casos criminais sem fundamento, especialmente após a invasão da Ucrânia. Quais violações de direitos humanos você considera mais graves e sistemáticas no sistema bielorrusso?

Na minha opinião, as violações de direitos humanos mais graves e importantes na Bielorrússia são a tortura e o isolamento.

Desde 2020, nas prisões bielorrussas, as agressões tornaram-se uma espécie de procedimento obrigatório para certa categoria de detentos. Segundo as minhas observações, se você é anarquista, torcedor de futebol, alguém de alguma forma associada à Ucrânia, de direita ou neonazista, ou alguém associado a protestos violentos, certamente será espancado e forçado a confessar tudo e fazer pedidos de desculpas diante das câmeras.

No momento, há cerca de 1300 presos políticos na Bielorrússia, o que já é um grande número para um país de nove milhões de pessoas, mas precisamos lembrar que o número certamente é maior e há muitas pessoas na prisão que têm medo de se identificarem como militantes políticos porque a KGB e a GUBOPiK (esta é nova) deixaram claro que, se você passar certas informações para seus parentes e depois seus parentes entram em contato com alguma associação de direitos humanos, aí eles vão prender os seus parentes. Isso é algo que eles realmente fazem.

É por isso que ainda não sabemos o número exato de presos políticos. Além disso, alguns presos políticos podem não ter parentes ou seus parentes não terem coragem de sustentá-los.

O que a comunidade internacional pode fazer a respeito?

A comunidade internacional deve se esforçar para fazer tudo ao seu alcance, mas não tenho certeza se existe algo viável na situação em questão. É evidente que o escopo é limitado. No entanto, ainda há algumas possibilidades: primeiro, falar sobre o tema e levantá-lo em negociações diplomáticas; em segundo lugar, que os jornalistas levantem a questão sempre que possível, e não somente quando os presos políticos forem libertados, caso contrário, eles serão esquecidos muito em breve.

Voltando à sua libertação. Na sua opinião, por que Lukashenko concordou em libertar 52 presos políticos, qual é sua interpretação dessa medida e houve consenso geral entre as pessoas que foram libertadas?

Pelos mesmos motivos que se aplicavam a situações anteriores. O mecanismo com presos políticos é um padrão recorrente na Bielorrússia: a cada 5 anos há relatos de repressão durante as eleições presidenciais, o Ocidente impõe sanções e o governo mantém prisioneiros como moeda de troca por um período. No entanto, há uma necessidade constante por parte das esferas diplomática, econômica e política de suspender as sanções. Em algum momento, Lukashenko será obrigado a recorrer aos países europeus e negociar.

Isso já aconteceu na história moderna bielorrussa em três ou quatro ocasiões, e é evidente que isso se deve às sanções. Lukashenko quer impulsionar o crescimento econômico, talvez também ser um pouco mais independente de Putin. O presidente Trump talvez tenha sido o primeiro a querer esse acordo e ele teve os seus ganhos com a troca, queria mudar as relações americano-bielorrussas e assim o esquema usual funcionou novamente.

A última pergunta é sobre anarquismo. Você acha que ainda há espaço para o anarquismo, e talvez outros movimentos alternativos, como força política na Bielorrússia e na Europa Oriental? Acha que o movimento anarquista tem um papel específico que o distingue de outras forças de oposição? Quais lições outros movimentos políticos podem aprender com a experiência bielorrussa?

Do meu ponto de vista, a situação do anarquismo na Bielorrússia é bastante específica porque não tínhamos uma tradição anarquista como em outros países europeus. De fato, o movimento anarquista foi destruído nos tempos totalitários soviéticos e, assim, o anarquismo na Bielorrússia iniciou o seu renascimento nos anos 1990. Hoje, faz 35 anos, podemos dizer.

Quase não tivemos nenhum extra-parlamentar nesses 35 anos, foi uma só ditadura. O movimento anarquista começou a ganhar força entre 2008 e 2010, separou-se das suas características subculturais e tornou-se mais sociopolítico do que subcultural. Naquele momento, todas as ações revolucionárias que tentamos, a repressão subsequente que enfrentamos e os esforços para estabelecer a nossa própria plataforma de mídia, seguidos do engajamento com outras forças políticas democráticas bielorrussas, serviram para estabelecer nossa participação legítima na resistência civil e no movimento democrático.

Nesse caso, a situação é bem única. Não existe outro país na Europa, e talvez no mundo, onde o movimento anarquista seja tão legitimado pela sociedade civil e onde o rótulo anarquista não traga consigo uma conotação tão negativa quanto na Bielorrússia. Anarquistas estão integrados às estruturas da sociedade civil, atuam como defensores dos direitos humanos, jornalistas, ativistas, voluntários, administradores sem esconder os seus valores políticos e falando alto sobre as suas afiliações ideológicas.

Claro, o tipo de anarquismo do início do século XX, que tinha raízes em levantes operários, tomada do poder em 3 dias e desmantelamento do Estado para fundar uma comuna, não é mais sensato, não é algo que tentamos alcançar, mas ainda preservamos nossos valores, que são valores de não exploração, comunicação não violenta, solidariedade e ajuda-mútua, e respeito e inclusão mútuas. Eu diria que esses valores se espalharam amplamente entre a sociedade civil bielorrussa e entre a parte mais progressista dos bielorrussos.

Isso é principalmente uma conquista nossa. O movimento anarquista na Bielorrússia nunca foi massivo, sempre foram várias dezenas de ativistas que estavam apenas se saindo bem por serem extremamente ativos. Se você pesquisar em bielorrusso ou russo “anarquistas na Bielorrússia”, verá que 80% das notícias são sobre anarquistas sendo espancados, presos, torturados e assim por diante. Graças a isso, ganhamos uma reputação bastante boa entre a sociedade civil e os bielorrussos de orientação democrática.

Por causa disso, eu diria que nós, os anarquistas, teremos um futuro brilhante na Bielorrússia e poderemos continuar a espalhar os nossos valores, a trabalhar diretamente com as pessoas por meio de instituições sociais ou talvez de instituições políticas. Continuaremos a espalhar a nossa agenda e a falar por meio da mídia sobre nossos valores e nossa visão para uma sociedade melhor.

Acho que o caso bielorrusso pode ensinar uma lição aos países democráticos sobre a importância de evitar qualquer tipo de populismo, populismo de direita ou de esquerda. Lukashenko é um típico populista de esquerda, mas, na Europa, os populismos de direita provavelmente são mais conhecidos porque representam o caminho mais curto para a ditadura.

Quando o Estado ou qualquer estrutura começa a privar o povo de qualquer liberdade, isso precisa soar familiar e você precisa agir o mais rápido possível.

É importante não ser cego: na Bielorrússia, por muito tempo, tivemos um amplo cerco de pessoas, a classe média urbana, que tinha boa renda, viajava pela Europa e vivia seu privilégio como pequenos burgueses, principalmente trabalhando como especialistas em TI ou pequenos empresários, que só fechavam os olhos quando Lukashenko reprimia anarquistas, defensores dos direitos humanos ou alguns ativistas “marginais” da oposição. Em 2020, abriram os olhos e protestaram. Só que foi um pouco tarde demais. Por isso, é importante estar atento e vigiar.

Além disso, é extremamente importante apoiar os presos políticos, mesmo com gestos simples como escrever cartas para eles. Enquanto estava preso, não esperava ser libertado tão cedo, e realmente achava que podia passar metade da minha vida lá… É muito fácil perder a esperança. Agora, saber que lá fora tem alguém que pensa em você e luta por justiça, incluindo justiça para o seu caso, foi fundamental para sobreviver e passar por tudo isso.

Este artigo foi originalmente publicado em italiano no site Meridiano 13 e nos canais de mídia social.

Mikola Dziadok é bielorrusso, jornalista, militante, anarquista, blogueiro e ex-preso político. Ele foi libertado em 2015 e se envolveu nos protestos bielorrussos de 2020. Foi preso novamente pelas autoridades e condenado a 5 anos em uma colônia penal de segurança geral em 10 de novembro de 2021. Dziadok foi libertado da prisão e deportado de vez para a Lituânia em setembro de 2025.

Claudia Bettiol é tradutora e jornalista italiana. Mora na Ucrânia desde 2017 e é correspondente em Kiev do Osservatorio Balcani e Caucaso desde 2019.

Ela também é cofundadora do projeto de mídia Meridiano 13 e colabora com outros veículos italianos. Em 2022, traduziu do ucraniano para o italiano a reportagem “Nossos outros” de Olesja Jaremčuk, publicada pela Bottega Errante.

Francesco Brusa é jornalista freelancer e crítico de teatro. Colabora com várias revistas e diversos sites online, principalmente tratando de desenvolvimentos políticos e sociais na região do Leste Europeu e da Anatólia.

Fonte: https://neweasterneurope.eu/2025/10/21/from-captivity-to-freedom/

Tradução > CF Puig

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/09/16/prisioneiro-anarquista-libertado-da-bielorrussia/

agência de notícias anarquistas-ana

quarto escuro
silhuetas se amam
pecado puro

Carlos Seabra

[Reino Unido] Carta ao movimento climático

Na última década, tanto na Europa quanto no exterior, uma nova geração de ativistas colocou o movimento climático na linha de frente. Grupos como Extinction Rebellion, Fridays for Future e Ende Gelände conseguiram emergir da marginalidade, convencendo milhões de pessoas a se comprometerem com a defesa do planeta. Não faz muito tempo, poucos estavam cientes da possibilidade de uma catástrofe climática; hoje, ocorre o oposto.

Não pretendo minimizar essas conquistas. No entanto, gostaria de destacar que o ativismo climático contribuiu pouco ou nada para algo muito importante, a única coisa que realmente importa: reduzir a quantidade de carbono emitida pelos humanos em todo o planeta. Tais emissões continuam aumentando a cada ano, assim como as temperaturas médias globais, os desastres climáticos e a taxa de extinção de espécies. Obter reconhecimento social não foi suficiente. Em todos os seus principais objetivos, o movimento climático continua sofrendo uma derrota contundente.

Tenho uma ideia do porquê disso. Porque o movimento climático se manteve ancorado na premissa de que é preciso convencer aqueles que detêm o poder a fazer as mudanças necessárias por nós. Apesar de recorrer a uma estética de ação direta, a maior parte do ativismo climático tem se concentrado em captar a atenção da mídia (incluindo as redes sociais tradicionais, que são uma extensão do poder capitalista tanto quanto a televisão ou os jornais) para obter reconhecimento social e, em última análise, pressionar os políticos. No entanto, a elite política nunca poderá resolver esta crise, porque o sistema que lhes concede poder é também o sistema que, literalmente, prospera devastando o planeta. O que chamamos de “a economia” é uma megamáquina descontrolada que considera qualquer coisa que não seja uma expansão ilimitada (um processo que implica devastação ecológica) um desastre.

Independentemente de sua afiliação ou das promessas que façam, todos os políticos e corporações juram lealdade à logística por trás desse monstro devorador do mundo. Alguns argumentariam que alguns elementos do movimento climático são imunes a esse mal-estar. Diferente do Extinction Rebellion ou do Fridays for Future, grupos anticapitalistas como o Ende Gelände não apresentam demandas explícitas aos políticos, mas se concentram na interrupção direta de infraestruturas críticas. No entanto, não se pode assumir que ocupar pacificamente uma mina de carvão (ou suas artérias) por algumas horas seja uma forma realista de fechá-la definitivamente; é simplesmente outra forma de atrair a atenção da mídia. Tais ações carecem de sentido, a menos que se espere, consciente ou inconscientemente, que possam ser usadas para convencer os políticos a intervir e reformar a economia por nós. Outras organizações de massa (por exemplo, Soulevements de la Terre) podem parecer um avanço, dado que promovem a sabotagem de infraestruturas ecocidas e, nesse sentido, fomentam algo parecido com a ação direta (embora liderada por uma vanguarda secreta). No entanto, mais uma vez, isso só seria uma forma mais sedutora de atrair a atenção da mídia, já que tais ataques seriam muito mais eficazes se fossem realizados por grupos pequenos e autônomos que atacassem na escuridão, especialmente onde as autoridades menos os esperam.

Em resumo, a maior parte do ativismo climático se concentra em pedir ajuda a um sistema inerentemente incapaz de responder. Desse modo, propaga uma imagem de desempoderamento e infantilização, insinuando que as pessoas comuns são incapazes de abordar a crise climática sozinhas. Mas, na realidade, é exatamente o oposto. Todos seremos reduzidos a cinzas antes que os governos façam o necessário. Cabe a rebeldes dedicados e não especializados começar a resolver a crise diretamente. Como seria isso? A adoção imediata de mudanças necessárias que aqueles que detêm o poder nunca considerarão seriamente. Com isso, me refiro ao fechamento de usinas elétricas, aeroportos, estradas e fábricas, enquanto se organizam meios de subsistência descentralizados (e, portanto, respeitosos com o meio ambiente) sem eles. Esta proposta, sem dúvida, implica uma escalada massiva da estratégia. No entanto, dada a gravidade da situação, somada ao fato de que os métodos atuais se mostraram inadequados, creio que é hora de considerar uma revisão radical de nossa abordagem.

A inspiração já está aí. Por exemplo, a campanha “Switch off!” (iniciada na Alemanha em 2023 e que se espalhou para além da Europa desde então) abandonou a reforma do capitalismo, focando-se em paralisar diretamente a infraestrutura responsável pela devastação do planeta. Esses exemplos de sabotagem estão se espalhando, estejam ou não associados a esse rótulo, a outro ou nem mesmo sejam reivindicados. Para mencionar apenas algumas ações relevantes: em setembro de 2023, a rede ferroviária nos arredores de Hamburgo foi sabotada em vários pontos, causando grandes interrupções em um dos maiores portos da Europa; em março de 2024, um incêndio criminoso na rede elétrica perto de Berlim paralisou a gigantesca gigafábrica da Tesla por vários dias; em maio de 2025, um duplo ataque a uma usina elétrica e a uma torre de alta tensão causou um apagão em grande parte da França, deixando sem energia um aeroporto, várias fábricas e o Festival de Cinema de Cannes. Vale lembrar também que o aeroporto de Londres-Gatwick ficou fechado por vários dias em 2018, supostamente (e por razões desconhecidas) porque um drone portátil sobrevoou as pistas. Apesar dos enormes esforços policiais, aqueles que realizaram esta ação facilmente replicável nunca foram encontrados; as demais ações mencionadas aqui também não levaram a prisões. Em contraste, as táticas convencionais do ativismo climático (por exemplo, o uso de bloqueios como encadeamentos, tripés, supercola) dão como certa a prisão, sacrificando assim nossos camaradas aos tribunais, à prisão e à vigilância constante. Este é um preço alto a pagar por ações que, além de fomentar uma atitude servil em relação às autoridades, têm pouco ou nenhum impacto no funcionamento das indústrias destruidoras do clima.

No entanto, para começar a abordar o problema na escala da mudança climática, os ataques à infraestrutura ecocida devem ser ainda mais ambiciosos. Isso pode ser enquadrado em termos de ir além de focar em indústrias específicas e mirar a civilização industrial como um todo. Devem ser atacados os centros relevantes de produção, extração e pesquisa, assim como a rede elétrica que os une, ou seja, a mesma rede que alimenta (em ambos os sentidos da palavra) o sistema de destruição. Uma visão tão ousada parece fora de lugar para muitos. Mas com demasiada frequência esquece-se que a mudança climática e a civilização industrial são, de fato, o mesmo problema. A degradação humana do clima não é algo antigo; é tão antiga quanto a própria industrialização. Nos últimos 150 anos, aproximadamente, a vida humana tem se centrado cada vez mais no uso de máquinas que convertem combustíveis fósseis em energia, emitindo dióxido de carbono no processo. Em outras palavras, a cultura humana foi forçada a uma relação de dependência de uma infraestrutura em constante expansão que não pode funcionar sem poluir o clima. A Revolução Industrial começou há apenas algumas gerações, e suas consequências já levaram muitos a questionar a viabilidade da própria vida além deste século. Não poderia haver uma crítica mais contundente a essa mudança tecnológica relativamente recente.

Alguns, é claro, responderão que a civilização industrial não é intrinsecamente devastadora para a Terra e que já está em processo de reforma. Trata-se da chamada “Transição Verde”, anunciada em todo o espectro político como a solução para a crise climática. No entanto, é um erro comum acreditar que a energia eólica, solar ou hidrelétrica representam alternativas genuínas aos métodos convencionais; na realidade, elas dependem de combustíveis fósseis, que são queimados em quantidades nunca antes vistas. Pensar que a economia capitalista algum dia consentiria em deixar reservas inexploradas de carvão, gás ou petróleo no subsolo é desconhecer a lógica fundamental de um sistema baseado no crescimento ilimitado. Portanto, a consequência do investimento recorde em tecnologia verde apenas catapultou o consumo energético mundial a níveis sem precedentes.

Além disso, além de não ter iniciado uma transição, a reestruturação econômica atual está longe de ser ecológica. Em primeiro lugar, os combustíveis fósseis são fontes de energia de alta densidade, que nem a energia solar, eólica nem hidrelétrica podem igualar. Disso se conclui que as energias renováveis, por mais que se espere que mantenham os níveis atuais de absorção, devem consumir extensões de terra muito maiores do que as já dedicadas à produção energética. Em segundo lugar, as tecnologias-chave para tal reestruturação dependem fortemente da extração de minerais, particularmente por meio da mineração. Por exemplo, o níquel e os minerais de terras raras são necessários para construir painéis solares e turbinas eólicas; o lítio e o cobalto são componentes-chave de suas baterias, assim como as de carros elétricos, bicicletas elétricas e smartphones. Por isso, e em nome da “ecologia verde”, a economia capitalista está saqueando cada canto do planeta em busca de recursos lucrativos, provocando devastação ecológica, trabalho forçado e conflitos geopolíticos. Até as profundezas inexploradas dos oceanos estão prestes a ser saqueadas; depois, serão os asteroides e outros planetas. Em resumo, o que foi promovido como a solução tecnológica para a catástrofe climática não passa de uma grande mentira que camufla a contínua expansão da megamáquina.

No discurso de quase todos que conhecemos hoje está omnipresente a compreensão de que os humanos estão devastando a biosfera e, ao mesmo tempo, cometendo suicídio. No entanto, muitos menos estão dispostos a considerar a crise pelo que ela realmente é: o resultado de uma precipitada corrida pelo desenvolvimento tecnológico. Este não é um problema que possa ser abordado votando, fazendo petições, protestando, boicotando ou investindo. A única resposta realista à crise climática é um ataque à civilização industrial. Não espero que esta proposta ganhe popularidade generalizada; afinal, ela garante a desestabilização do único mundo que quase todos nós conhecemos. No entanto, talvez devêssemos considerar que muitos, ou a maioria dos humanos, sempre insistirão em manter seus carros, geladeiras e smartphones funcionando, mesmo ao custo de abrir mão do ar que respiramos. Portanto, cabe àqueles que têm outras prioridades tomar medidas corajosas e inflexíveis.

Fonte: https://actforfree.noblogs.org/2025/08/15/message-to-the-climate-movemen/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Rosto no vidro
uma criança eterna
olha o vazio

Alphonse Piché

[Reino Unido] Antifascistas humilham os “Patriotas de Bristol”

O policiamento foi fortemente político, voltado quase totalmente para conter a oposição à extrema-direita

Scott Harris ~

No sábado dia 15 de novembro de 2025, o grupo de extrema-direita “Patriotas de Bristol” foi humilhado mais uma vez, diante de uma esmagadora oposição antifascista.

A manifestação do grupo aconteceria no hotel Mercure na região de Redcliffe, que abriga solicitantes de asilo e foi alvo de tentativas de ataque durante os protestos anti-imigração de agosto de 2024. Apesar de terem convidado vários outros grupos, apostando que conseguiriam aumentar os seus números, incluindo o Nick Tenconi do partido UKIP, os Patriotas de Bristol conseguiram apenas entre 40 e 75 apoiadores, e foram confrontados por aproximadamente 400 antifascistas cheios de energia.

A polícia se esforçou para conter grupos de antifascistas que circulavam buscando debater francamente com os variados fascistas, conspiracionistas, e “cidadãos preocupados” alegadamente apolíticos, enquanto outros permaneciam de pé, cantando e tocando música nas portas do hotel, em solidariedade às pessoas que moravam nele. Em um momento muito emocionante, uma das pessoas mais novas que moravam lá segurou um cartaz de sua janela, que dizia: “Obrigado por nos proteger, nós amamos vocês”.

A polícia reportou que um policial foi ao hospital por ferimentos leves por conta de um tumulto, mas não mencionou várias lesões significativas – incluindo lesões na cabeça – contra antifascistas, pelos golpes de bastão dados pelos policiais. Inevitavelmente, o policiamento foi fortemente político, voltado quase totalmente para conter a oposição à extrema-direita, e acabou prendendo várias pessoas. Enquanto isso, os Patriotas de Bristol disparavam sinalizadores, e vários influenciadores de extrema-direita puderam corajosamente gritar xingamentos contra os antifas, detrás da proteção das linhas de polícia.

Bristol se tornou recentemente um alvo para atividade política da extrema-direita, com repetidos esforços de avançar sobre o “território inimigo”. Isso tem sido agravado por um caso recente em que vários homens de origem sul-asiática em Bristol foram presos sob acusações de exploração sexual infantil. Muitas bandeiras do Reino Unido e da Cruz de São Jorge foram colocadas em postes de iluminação em bairros de classe trabalhadora, de maioria branca, como Withywood, Hartcliffe e Lawrence Weston. Essas áreas estão sendo feitas de alvo após décadas de negligência do poder público e estigmatização terem deixado os moradores revoltados, com razão, por um status quo que só trabalha para os ricos e poderosos.

De acordo com os participantes, os antifascistas podem ter vencido a batalha em Redcliffe e, até então, em todas as manifestações recentes, mas uma guerra muito maior deve ser travada pelos corações e mentes pela cidade, para garantir que a extrema-direita não se torne, na prática, a voz anti-establishment em alguns bairros.


Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/17/antifascists-humiliate-bristol-patriots/

Tradução > Caio Forne

agência de notícias anarquistas-ana

Com jeito voyeur
da soleira da janela
um pombo me espia.

Anibal Beça

[Espanha] Comedor Popular Vegano em Apoio ao Refúgio de Tea

Domingo, 23 de novembro · 14h

Ateneu Libertário Lucía Sánchez Saornil · La Cabrera (Madri)

O Ateneu Libertário Lucía Sánchez Saornil organiza um comedor popular 100% vegano com um objetivo muito especial: arrecadar fundos para o Refúgio de Tea, um projeto localizado em El Berrueco que dedica todos os seus esforços ao resgate, cuidado e proteção de animais que sofreram abandono, maus-tratos ou situações de risco. Seu trabalho diário é um exemplo de compromisso, sensibilidade e defesa da vida, e queremos contribuir para que possam continuar seguindo em frente.

Este encontro solidário também é uma oportunidade para desfrutar de uma refeição feita com consciência, em um espaço onde o apoio mútuo e a autogestão fazem parte da vida cotidiana. O comedor popular é, além disso, uma forma de nos encontrarmos, compartilhar tempo e fortalecer os laços comunitários que sustentam nossos projetos.

O que você encontrará?

• Um menu totalmente vegano, caseiro e acessível.

• Um ambiente acolhedor e aberto a todas as pessoas.

• Informações sobre o trabalho do Refúgio de Tea e como continuar apoiando.

• Um espaço para conversar, aprender e participar das iniciativas do Ateneu.

Detalhes do evento

• Contribuição solidária: 10 €

• Data e hora: Domingo, 23 de novembro, às 14h.

• Local: Ateneu Libertário Lucía Sánchez Saornil. Rua Luis Fernández Urosa, 7 – La Cabrera (Madri)

• Mais informações sobre o refúgio: elrefugiodetea.org

sierranorte.cnt.es

agência de notícias anarquistas-ana

Pássaro migrante –
seu passaporte é o canto,
sua fronteira, o vento.

Liberto Herrera

[Grécia] Anarquistas condenados pela primeira vez por protesto no Túmulo do Soldado Desconhecido

Um tribunal grego condenou 23 membros do grupo anarquista Rouvikonas por serem os primeiros a infringir uma nova lei que proíbe protestos no local do Túmulo do Soldado Desconhecido, em frente à sede do Parlamento, na Praça Sintagma, em Atenas.

O grupo é conhecido por suas ações diretas ousadas e perseguir símbolos da autoridade. Neste caso, os membros foram considerados culpados de infringir a lei contra atos não autorizados e protestos no monumento nacional. Não foram divulgados nomes.

Eles foram presos por contravenção após uma breve ação de protesto no monumento na sexta-feira (14/11) e receberam penas de nove meses de prisão suspensa, mas foram absolvidos das acusações de violência contra funcionários públicos e recusa em fornecer impressões digitais.

Os juízes também reconheceram circunstâncias atenuantes. Os réus argumentaram que sua ação foi um protesto breve e simbólico, sem intenção de causar danos, mas o tribunal declarou o contrário.

agência de notícias anarquistas-ana

De que vinhas
vinham aquelas engarrafadas
paixões que me aniquilam?

Rogério Viana

A Contra-COP Anárquica em Belém (PA)

Por Radio Onda Rossa (Itália) | 20/11/2025

O movimento anarquista da Amazônia organizou uma Contra-COP autônoma e sem figura institucional, a diferença para a Cúpula dos Povos, que terminou domingo, bem próxima ao governo Lula.

Entrevistamos dois camaradas do CCLA (Centro de Cultura Libertária da Amazônia) para quem a COP30 está configurada como um grande palco para o Estado burguês e as multinacionais, marcada pela forte presença de lobistas dos setores de petróleo e mineração. Reflete uma disputa interna dentro da burguesia global: por um lado, quem quer manter a economia dos combustíveis fósseis, por outro, quem promove a transição energética baseada na extração de terras raras e na financeirização da natureza, como o mercado de carbono. Ambas as frentes visam transformar a Amazônia em um laboratório de capitalismo verde. Além disso, a presença de ministros como Marina Silva (Ministra do Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Ministra dos Povos Indígenas), Guilherme Boulos (Ministro da Secretaria Geral) e André Corrêa do Lago (Presidente da COP30) durante a Cúpula dos Povos teria neutralizado os impulsos mais radicais.

A Contra-COP anarquista propôs debates, assembleias e iniciativas internacionalistas inspiradas na ecologia social de Murray Bookchin, argumentando que não há sustentabilidade sem romper com o capitalismo, o patriarcado e o racismo estrutural. 

Ao mesmo tempo, outras lutas territoriais são destacadas, como a Marcha da Periferia, que denuncia o genocídio do povo preto, o avanço das milícias fascistas e a gentrificação acelerada pelo trabalho para a COP. Na região do Baixo Tapajós, também colaboram nos processos de autodemarcação das terras indígenas, consideradas ferramentas essenciais para a autodefesa comunitária.

Para os militantes, o anarquismo permanece uma tradição viva na luta social contemporânea e representa uma proposta concreta para um futuro baseado em autonomia, mutualismo e vida com qualidade.

Para mais informaçõeshttps://cclamazonia.noblogs.org/

Para ouvir (36:24s) a entrevista em italiano-portuguêshttps://www.ondarossa.info/newsredazione/2025/11/contro-cop-anarchica-belem 

agência de notícias anarquistas-ana

saúda o dia
no horizonte a chuva
bons ventos em flor

Rita Schultz

[Espanha] 20N: Manifesto MEMÓRIA LIBERTÁRIA CGT

Consciência de classe, consciência antifascista: A chama Libertária em luta permanente para extirpar o franquismo.

Companheiras, companheiros, novembro de 2025, chega o 20N e com ele, as recordações do passado, umas tristes e agridoces, mas de respeito e amor fraterno. Outras de raiva e de dor contra quem tanto mal fez, o maldito genocida ditador. Recordações, memória e esperança.

Era 20 de novembro de 1936, e na frente de Madrid, caía Buenaventura. A frente da coluna com seu nome. Durruti nos deixava. Passaram 89 anos, sua recordação e a de milhares de pessoas que lutaram por nossas Liberdades, sobrevive: segue viva em nós. Atualizamos para nossos dias, seus projetos, ideias e ações, adaptando-os a este tempo novo, tecnológico e individualista. Muitos seguem vigentes e ainda não resolvidas como a luta pela Igualdade real, as lutas para erradicar as injustiças e as pobrezas neste mundo ou a Paz Mundial… Por tudo isto, neste 20N, honramos e nos sentimos orgulhosos deste legado Libertário. Nos sentimos vivos.

Também há um 20N da ignomínia, da dor coletiva e da raiva, o de 20 de novembro de 1975, em que o genocida ditador morreu, matando e fuzilando até os últimos dias, com os cárceres cheios e um exílio permanente que vinha desde 1936. Chorávamos de alegria por sua morte e se abria um período de esperança com sua desejada morte, mas as avós, as mães as esposas e filhas da repressão franquista ou as irmãs seguiam com medo e silêncio: o Holocausto espanhol havia durado muitos anos.

Haviam caído nas ruas e montes tantos e tantas lutadoras anti-franquistas que tinham nos roubado também a recordação dessa luta. Havia que reconstruir tudo, começar do zero e os reacionários do Regime queriam aquilo do “amarrado e bem amarrado” e se mantiveram em todos os espaços de poder público, privado e social, até mesmo hoje:  temos que nos libertar daquele maldito legado, é necessário para construir e transformar.

Para as pessoas do Movimento Libertário e da CGT, “a militância e ação Antifascista e Antifranquista, NÃO é uma opção, é uma obrigação.”, mais ainda nos tempos atuais, em que crescem e se expandem as mensagens racistas, homofóbicas e fascistas de formações herdeiras do regime ditatorial e autoritário que estão chegando a nossa juventude, que em alguns casos os acolhe como necessários para salvar a essa Pátria, a essa sociedade que querem criar com aquele ideário de discriminação, exclusão e repressão ao diferente. Querem chegar à pluralidade social e ao proletariado de baixo para fomentar mais ainda a miséria, a pobreza e a desigualdade social.

Nossa inação, nosso silêncio, nos faz cúmplices do crescimento fascista.

Nem um passo atrás companheiras!!!

Fonte: https://memorialibertaria.org/20nmanifiesto-memoria-libertaria-cgt/ 

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Frases compostas
no sol que passeia
sob minha caneta.

Jocelyne Villeneuve