O escritor, cuja morte foi há 125 anos, nesta data, defendeu a individualidade criativa livre contra todas as formas de tirania social
~ Maurice Schuhmann ~
Em 30 de novembro de 1900, o irlandês, escritor, poeta e autor de peças teatrais, Oscar Wilde (n. 1854) morre no exílio, em Paris, França. A sua sepultura, que fica no prestigioso cemitério Père Lachaise Cemetery, onde o anarquista ucraniano Nestor Makhno, bem como o genro de Karl Marx, Paul Lafargue e a sua esposa, Laura, também descansam, se tornou, do mesmo modo que a lápide do vocalista do The Doors, Jim Morrison, local de uma espécie de peregrinação de fãs.
Wilde foi forçado ao exílio, em 1897, logo após a sua soltura da prisão de Reading. As razões para isso eram sociais, legais e pessoais, tornando a vida na Inglaterra praticamente impossível. Morreu completamente empobrecido, em um hotel barato no 6º distrito de Paris. Antes disso, tinha sido sentenciado a dois anos de trabalhos forçados, a punição máxima, na época, para a homossexualidade, “o amor que não ousa dizer o seu nome”. Ele processou o seu tempo na prisão em duas obras: De Profundis e A balada de Reading Gaol. Enquanto o primeiro texto é bem pessoal, um texto essencialmente apolítico, o último contém a dimensão política. A sua balada é a condenação crítica social e poética do sistema penal e uma expressão de solidariedade humana, o que a torna relevante para as críticas anarquistas ao encarceramento.
A frase “o amor que não ousa dizer o seu nome” (the love that dare not speak its name), que ele usou no seu famoso discurso da sala do tribunal, que não serviu para exonerá-lo, e que logo foi retomado pelo anarquista alemão-escocês John Henry Mackay. Usando pseudônimo Sagitta, Mackay publicou o seu Livros do Amor Sem Nome (Books of the Nameless Love), iniciando uma tradição de literatura homoerótica na Alemanha (da perspectiva contemporânea, os trabalhos de Mackay precisam ser avaliados criticamente, já que incluem, entre outros conteúdos, passagens de pedofilia).
Oscar Wilde era, no fundo, anarquista, por defender o indivíduo livre e criativo contra todas as formas de tirania da sociedade. É essencialmente o que Emma Goldman afirma, no seu ensaio “O significado social do drama moderno” (The Social Significance of the Modern Drama). Ela se refere ao seu texto A alma do Homem sob o Socialismo (The Soul of Men under Socialism), vendo, nele, uma defesa consistente do anarquismo individualista. É, portanto, pouco surpreendente que Goldman, fortemente influenciada, à época, por Friedrich Nietzsche e Max Stirner, traduziu esse texto ao alemão, usando vocabulário stirneriano e nietzscheano. Essa tradução continua a ser editada no mundo de fala alemã de hoje, modelando a interpretação referenciada por Emma Goldman.
Em A Alma do Homem sob o Socialismo, Wilde argumenta que a verdadeira liberdade individual somente é possível em uma sociedade que priorize a criatividade, a autorrealização e a cooperação voluntária, no lugar da propriedade e da coerção. Critica tanto o capitalismo e a filantropia caridosa, pois ambas perpetuam, em vez de eliminar, a pobreza. Para ele, o Estado parece ser a força central de opressão, impedindo o indivíduo de realizar o seu potencial artístico e moral. Wilde, portanto, não concebe o socialismo como controle estatal, mas como um sistema que provê para todas as pessoas, com lazer e liberdade de interação criativa. Tal libertação das limitações da pobreza e da própria pobreza, na sua visão, levaria à maior individualidade, felicidade aumentada e uma sociedade verdadeiramente humana.
As palavras que introduzem a obra, “Não vale nem à pena olhar para um mapa do mundo que não inclua a Utopia.” (A map of the world that does not include Utopia is not worth even glancing at.), provavelmente o trecho mais citado de toda a obra de Wilde, e que continua a encantar não só aos anarquistas. O aniversário da sua morte é, mais uma vez, boa ocasião para revisitar a sua obra literária de uma perspectiva anarquista, e não só “O retrato de Dorian Gray”.
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/30/anarchist-echoes-of-oscar-wilde/
Tradução > CF Puig
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agência de notícias anarquistas-ana
a luz do poente
escala a alta montanha;
no cume será a noite.
Alaor Chaves
Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!
Não entendi uma coisa: hoje ele tá preso?