[Espanha] Atualização sobre casos registrados em 1º de maio de 2023

Durante a manifestação de 1º de Maio de 2023, quatro companheiros anarquistas foram detidos sob acusações de danos graves e desordem pública, com a agravante de disfarce. Nos meses seguintes, os Mossos d’Esquadra [polícia catalã] fez mais 8 prisões pelas mesmas acusações. Há um total de 19 denúncias de danos devido à destruição cometida contra bancos e outras entidades capitalistas durante a manifestação do Dia dos Trabalhadores. Os 12 companheiros estão atualmente em liberdade provisória aguardando julgamento.

Nas últimas semanas, o Ministério Público enviou a acusação e pede a condenação de cada um deles a até 8 anos de prisão, além de uma responsabilidade civil a pagar compartilhada de € 478.000 pelos danos causados ​​durante a manifestação. Os embargos de suas contas bancárias e propriedades já ocorreram. A promotoria também solicita ordens de expulsão do Estado espanhol muito detalhadas, a proibição de todos eles irem ao centro de Barcelona por 6 anos e uma multa de € 6.000 por pessoa.

Essa elevada pena é resultado do controle policial diário a que todos estamos submetidos, bem como da vontade do Poder de esmagar qualquer sinal de dissidência. Lutamos contra a autoridade e por vidas que valem a pena ser vividas. A repressão deles não nos inibe.

Solidariedade com os companheiros processados ​​pelo 1º de Maio de 2023!

egidadca.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

Caminho da serra
As marias-sem-vergonhas
Colorindo o vento.

Hazel de São Francisco

[Espanha] Madri: Imagens e vídeos das II Jornadas de Arte e Criatividade de Carabanchel 23, 24 e 25 maio 2025

Queria comentar uma pequena reflexão sobre estes dias.

Se um dia alguém lhe diga que não é ou que não podes, recorda estas jornadas. Talvez não sós, mas sem chefes que nos digam o que fazer ou o que pensar, desenvolvendo o que gostamos de fazer e colaborando entre todas, sorrindo e rindo, transbordando alegrias e olhares e, inclusive, enfrentando dificuldades e decisões difíceis, trabalhando para a comunidade generosamente. Sim, sim somos e sim podemos!

A anarquia funciona e o haveis demonstrado. Não desanimes porque seja em um lugar pequeno, em um tempo limitado… talvez, um dia, sejamos capazes de fazer a revolução, o bonito ideal que nos inspira e guia no Ateneu. Certamente que cometeremos erros, mas pior que o que está, lhes asseguro, que não o faremos!

Saúde e liberdade!

Miguel M.

>> Confira as fotos e vídeos aqui:

https://ateneolibertariocarabanchellatina.wordpress.com/2025/05/27/imagenes-y-videos-de-las-ii-jornadas-de-arte-y-creatividad-de-carabanchel-23-24-y-25-mayo-2025/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

lua de prata
desejos indecentes
corpos suados de luz

Manu Hawk

Lula 3: ANP e Marinha querem expandir mar territorial para explorar mais petróleo

O Brasil [Governo Lula 3] pleiteia junto à ONU a ampliação da plataforma continental referente à Margem Oriental, no litoral das regiões Nordeste, Sudeste e Sul.

No que depender da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da Marinha [e de Lula 3], o Brasil vai explorar petróleo “até a última gota”: a urgência para combater as mudanças climáticas, o que exige eliminar o quanto antes os combustíveis fósseis, que espere. Afinal, as duas instituições se uniram num projeto a ser enviado à ONU solicitando a ampliação da plataforma continental brasileira referente à Margem Oriental/Meridional, no litoral das regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Um dos objetivos é buscar mais reservatórios de petróleo e gás fóssil na região.

A mobilização é similar à que resultou, em março, no reconhecimento da ONU da ampliação da plataforma na Margem Equatorial. A região inclui a foz do Amazonas e outras quatro bacias – Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar, todas na costa das regiões Norte e Nordeste, informam eixos, Monitor Mercantil e Portos e Navios.

A ANP vai compartilhar dados técnicos, como informações sísmicas e de poços de exploração de petróleo e gás armazenados no Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP). Os registros ajudarão a comprovar que as formações geológicas são extensões naturais do território brasileiro, requisito para a aprovação pela ONU.

Se a solicitação for aprovada, o país terá direito de explorar os recursos naturais do assoalho e subfundo marinho da Margem Oriental/Meridional, a exemplo do que obteve da ONU na Margem Equatorial.

Segundo os tratados internacionais vigentes, cada país tem direito a uma área de cerca de 200 milhas náuticas (cerca de 370 quilômetros) a partir da costa.

Fonte: ClimaInfo

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agência de notícias anarquistas-ana

No canto do quarto,
quebra o silêncio da noite
o cri-cri de um grilo.

Alberto Murata

[França] Comunicado sobre sabotagem de instalações elétricas na Côte d’Azur

E… CORTA!

Aqui estão dois grupos de anarquistas. Assumimos a responsabilidade pelo ataque às instalações elétricas na Riviera Francesa. Na véspera da cerimônia de premiação e da noite de gala do Festival de Cinema de Cannes, sabotamos a principal subestação elétrica que abastece a área metropolitana de Cannes e cortamos a linha de 225 kV vinda de Nice.

Essa ação teve como objetivo não apenas interromper o festival, mas também cortar o fornecimento de energia aos centros de pesquisa e fábricas da Thales Alenia Space, suas dezenas de subcontratadas, às startups de tecnologia francesas que pensavam estar seguras, ao aeroporto e a todos os outros estabelecimentos industriais, militares e tecnológicos da área.

Um corte inesperado em um filme de terror ruim que se arrasta. O mesmo cenário é repetido e repetido até a exaustão. As cenas mudam, os efeitos especiais também, mas o cenário permanece o mesmo: um mundo que não vai parar de bombardear, explorar, extrair, acumular, estuprar, devastar, matar de fome, metralhar, poluir e exterminar até que tudo esteja sob seu controle.

Sabemos que não estamos em um set de filmagem, mas a expressão “CORTA!” parecia resumir muito bem o nosso desejo: desligar este sistema mortal.   

E… CORTA! Seu show serve como vitrine de uma República Francesa grandiloquente, defensora dos valores do Progresso no cenário internacional, mas acima de tudo a segunda maior exportadora de armas do mundo. A excelência francesa nessa área arma a OTAN e semeia a morte, do Iêmen a Gaza, da Ucrânia ao Sahel.

E… CORTA! Sua cerimônia obscena à beira de um mar transformado em cemitério de refugiados é o lixão industrial de uma sociedade que adora levar a revolta para a tela, mas que reprime e aprisiona qualquer um que se levante contra sua dominação do mundo.

E… CORTA! A promoção do mundo substituto que você cria, com suas séries e seus filmes, que quer nos fazer esquecer do planeta real, podre de fábricas, rodovias, concreto e minas.

E… CORTA! As provas são… Não? (Tentador!) Ok, mãos!… Nenhum?! A linguagem então!

Bem, em suma, silenciem todos aqueles que dizem que “Esses histéricos estão exagerando!” Para incapacitar esses opressores de mil máscaras que transformam corpos em objetos e que defendem a cultura do estupro popular na indústria cinematográfica, das telas aos locais de filmagem, mas igualmente disseminada em outros lugares…

E… CORTA! A corrente das suas indústrias tecnológico-militares. A Thales Alenia Aerospace, líder no setor de defesa, fabrica sistemas de mira de armas e orientação de mísseis, além de telecomunicações espaciais. É de longe o maior fabricante de satélites da Europa, especialmente aqueles para uso militar. Os laboratórios e oficinas em Cannes funcionam 24 horas por dia, 7 dias por semana. Vários milhares de engenheiros e técnicos trabalham lá diariamente para desenvolver esses satélites militares (observação, comunicação, orientação de mísseis e drones) e satélites civis (telecomunicações, vigilância).

E… CORTA! Seus discursos nauseantes que querem nos arrastar para seus preparativos de guerra. Seus anúncios de reindustrialização e renascimento da energia nuclear. Suas apresentações sobre a transição ecológica e a continuação da sociedade industrial. Seus discursos contra aqueles que lutam contra suas fábricas de cimento, suas rodovias, suas instalações nucleares, suas fábricas químicas, seus TGVs [trens de alta velocidade] e suas antenas de retransmissão. Seus apelos pela unidade nacional, pelo “rearmamento” do Estado-nação, pela defesa de seus valores e de sua visão de mundo.

Então sim… Corte a energia daquilo que está nos destruindo!

A sabotagem é possível!

Desligue as telas

Corte as rodovias

Corte os postes

Desligue a luz artificial

Corte as linhas do TGV

Corte as telecomunicações

Corte os canos da escavadeira

Corte a energia da indústria militar

Corte a energia das fábricas

Corte oleodutos e gasodutos

Corte os mastros de medição das turbinas eólicas

Corte as linhas de abastecimento dos exércitos

Corte o abastecimento de água para a agricultura industrial e para as fábricas de eletrônicos

Corte os cabos das usinas fotovoltaicas

Corte as antenas

Corte as grades das celas da prisão (e vivam os ataques à cadeia!)

Corte discursos reformistas e autoritários

Acabar com o silenciamento e a minimização da violência patriarcal

Corte o pedestal de celebridades e outros homens poderosos que atacam e estupram nos bastidores e também no campo de batalha.

Corte logo aqueles que dizem para esperar

E… espere. Coragem.

E já que vocês adoram trazer rebelião para a tela… Devemos manter o senso de humor!

Aqui, inspirados nos últimos sucessos do cinema internacional, está uma autoprodução lançada especialmente para a edição de 2025 do Festival de Cinema de Cannes!

Sabotagem 2: Noite em Cannes 

Uma autoprodução anônima

Produção

Desconhecidos e determinados a permanecerem assim

Direção

Inspirado por convicções muito reais

Data de lançamento

Maio de 2025

Sinopse

Ambientado em um mundo à beira do apocalipse, o filme narra as aventuras de uma unidade de comando libertária encarregada de sabotar fábricas tecnológicas de grande importância militar.

Quando decidem atacar na época de um prestigioso evento cultural, uma corrida contra o tempo começa…

Se você gosta de mulheres que interrompem a produção de alumínio, crianças em idade escolar que incendeiam fábricas, Fremen que se rebelam contra o império intergaláctico ou comandos que atacam a indústria do petróleo, você não vai querer mais nada com esta última produção.

Os Incorruptíveis

Os efeitos especiais às vezes deixam a desejar, o que não é surpreendente, dados os recursos limitados disponíveis para esta produção, mas o roteiro e a astúcia estratégica mais do que compensam essa deficiência.

Manhã de Cannes

Uma história envolvente do bem contra o mal. Um favorito nestes tempos de confusão e desordem.

Alocinéma

É difícil desculpar a falta de nuance, a ausência de diálogo construtivo e o claro déficit democrático da mensagem radical transmitida pelos protagonistas, mas isso está no ar dos tempos.

O Phigareau

Um thriller idealista com consequências mais reais do que nunca.

Sentido hipercrítico

Um apelo vibrante ao rearmamento… do protesto radical.

O universo diplomático

Para ser colocado em prática absolutamente.

Greta Thunberg

Fonte: https://dijoncter.info/communique-du-sabotage-contre-des-installations-electriques-sur-la-cote-d-azur-6217

agência de notícias anarquistas-ana

Frio leve de outono —
Casaco sai da gaveta
logo de manhã…

Benedita Azevedo

[Grécia] NINGUÉM OKUPA O CÁRCERE! | Campanha para cobrir os custos judiciais da Comunidade Okupa de Koukaki (Atenas)

Foi em março de 2017 que abrimos pela primeira vez a porta do número 45 da rua Matrozou e começamos a reformar o prédio para que pudesse abrigar nossas lutas, desejos, necessidades e corpos. E, quando alguns meses depois tudo isso já não cabia em um único prédio, ocupamos mais duas casas abandonadas no bairro de Koukaki: o número 21 da rua Panaitoliou e a “Casa Azul” (número 3 da rua Arvali). Assim nasceu a Comunidade Okupa de Koukaki, no centro de Atenas.

Desde então, até 2020, essas três casas — e as pessoas que vivíamos nelas — formaram uma comunidade política que unia a luta anarquista à vida comunal. As portas de nossas casas sempre estiveram abertas a quem desejasse lutar contra a violência e a injustiça do Estado, precisasse de abrigo, quisesse usar as estruturas públicas ou buscasse uma forma de vida coletiva. Também foram espaços políticos e sociais abertos aos moradores de um dos bairros mais gentrificados de Atenas. A comunidade participou de lutas do movimento okupa e antifascista, da solidariedade com prisioneiros políticos, da luta contra a violência sexista, o patriarcado, o racismo, a exploração da natureza e contra a gentrificação do bairro e a privatização da colina Filopapo, localizada em nossa vizinhança. Além das assembleias e atividades políticas, funcionavam nas casas diversas estruturas comunitárias, como biblioteca com empréstimo de livros, banheiros e lavanderias públicas e um bazar de roupas gratuito.

Nossa posição e ação política foram a razão pela qual enfrentamos repetidos ataques incendiários de grupos fascistas, bem como repressão estatal. Esta última se concretizou em três ondas de despejos, em 2018, 2019 e 2020, quando a comunidade perdeu definitivamente os prédios que a abrigavam. Em todas essas ocasiões, resistimos de forma combativa aos ataques do Estado e tentamos reocupar os prédios. As forças repressivas responderam com balas de borracha, granadas de efeito moral, violência física e armas químicas — tanto nos edifícios como em todo o bairro. Moradores e companheiros que demonstraram solidariedade também foram vítimas da violência estatal. A maioria dos despejos resultou em processos judiciais com inúmeras acusações, com o claro objetivo de nos intimidar e nos esgotar psicologicamente e financeiramente.

Devemos destacar especialmente o último despejo do prédio da rua Matrozou, em 2020. Após nossa resistência, a polícia contratou advogados (inclusive um membro do governo) para apoiar as acusações no tribunal. A primeira instância condenou nossxs companheirxs a 6 anos e meio de prisão sem possibilidade de suspensão, com base em três acusações de delitos menores, impulsionada por uma grande campanha midiática — na qual até o presidente da república grega defendeu publicamente a prisão dxs detidxs. Atualmente, a sentença foi apelada e está sendo levada aos tribunais superiores. Até lá, nossxs companheirxs estão em liberdade. É a primeira vez na história da Grécia que okupas correm o risco de serem presos, e também a primeira vez que militantes políticos, em geral, correm o risco de prisão sem serem acusados de crimes graves. O tribunal de apelação ocorrerá em 2 de dezembro de 2025, e estamos convocando o movimento okupa e anarquista internacional para ações solidárias e de apoio político.

Essa manobra serve ao propósito do governo de eliminar o movimento okupa na Grécia, ao mesmo tempo em que inaugura uma “nova realidade” — vinculada ao Novo Código Penal de 2024 — na qual qualquer pessoa que resista à violência estatal pode ser presa por qualquer tipo de acusação.

Dos cinco processos judiciais que já enfrentamos, os custos pagos até agora ultrapassam 10 mil euros, cobertos por eventos solidários que organizamos, além das contribuições de outros coletivos e indivíduos. Dois desses cinco processos terminaram com absolvição, mas nos outros três houve condenações, que foram recorridas aos tribunais superiores.

Agora, precisamos cobrir os custos judiciais desses três casos restantes, estimados em 25 mil euros — incluindo taxas de tribunal, honorários advocatícios e despesas processuais em caso de condenação definitiva.

Por isso, criamos esta campanha para informar xs companheirxs e coletivos na Grécia e no exterior, pois todo tipo de contribuição e solidariedade são importantes. Estamos disponíveis para compartilhar mais detalhes sobre os custos e/ou o andamento dos processos. Também estamos abertos a apoiar e participar, mesmo à distância, de qualquer iniciativa para organizar eventos informativos sobre as okupas e a repressão estatal.

Aqui estamos, e continuaremos na luta.
A solidariedade é a nossa arma!

>> Apoie aquihttps://www.firefund.net/koukaki

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Um dia nublado
no beiral do mar sem fim:
tudo está grisalho

O Livreiro

A emergência devido ao vazamento de petróleo no Equador não terminou dois meses depois

Embora a mancha negra deixada pelos 25.117 barris de petróleo tenha se dissipado, a vida na província costeira de Esmeraldas está longe de voltar ao normal

Um líquido oleoso que escorria do camarão pomada surpreendeu Eduardo Rebolledo enquanto ele pescava no final de abril no setor de Las Piedras, na província de Esmeraldas. Dois meses após o vazamento ocorrido em 13 de março de 2025, considerado um dos maiores da história do Equador, os vestígios de petróleo na água ainda estão presentes e demonstram que a emergência não acabou. “São os resíduos do petróleo dispersos no mar”, explica o biólogo marinho da Universidade Católica do Equador, Sede Esmeraldas, sobre a substância que encontrou enquanto praticava pesca de arrasto a menos de cinco quilômetros da origem do vazamento. Duas semanas antes, ele já havia visto algo semelhante. Ao levantar a rede, o óleo prateado escorria de sua captura.

“Apenas agora começaremos a observar os danos desse desastre ambiental”, diz ele, enquanto analisa com sua lupa digital outras amostras de zooplâncton coletadas nos rios afetados. Rebolledo, de origem chilena, foi um dos primeiros a chegar ao “epicentro” em março para estudar os impactos do vazamento de mais de 25.117 barris de petróleo que se espalharam por 82 quilômetros, desde o quilômetro 438 do Sistema de Oleoduto Transequatoriano (SOTE) até a foz do Rio Esmeraldas.

Desde então, ele tem monitorado constantemente a saúde dos ecossistemas. Embora não possa revelar os resultados, adianta que a comunidade planctônica é uma das mais afetadas. Em algumas áreas, há escassez, enquanto em outras, os espécimes estão mortos ou em decomposição. “Uma queda no zooplâncton, que está terrivelmente reduzido e escasso, implica uma queda na produtividade em geral”, destaca Rebolledo, que se estabeleceu no Equador em 2006 para estudar as ameaças aos ecossistemas marinhos. As observações do plâncton estão relacionadas a outro de seus resultados: uma redução de 75% a 90% na pesca.

Além dos dados e observações científicas, os impactos são evidentes nas margens negras dos rios, nas pequenas manchas que se deslocam pela água quando chove e nos relatos dos habitantes dessa província fronteiriça com a Colômbia. Nessa nova fase do desastre, coletivos e fundações se mobilizaram para continuar ajudando as pessoas e os ecossistemas afetados. Os esforços agora estão concentrados em reparar, remediar e decifrar até onde chegaram os estragos dessa emergência.

Rios mortos e pouca pesca

Os rios Esmeraldas, Achote, Caple e Viche sentiram a chegada do petróleo vazado. Os dois últimos “morreram” após o evento. Rebolledo usa o termo “rios mortos”, embora esclareça que o correto é “azoicos”, uma palavra usada para se referir a corpos d’água desprovidos de formas de vida aquática. Nas primeiras amostras coletadas após o vazamento, apenas peixes muito pequenos foram encontrados. As amostras do rio Esmeraldas “foram patéticas”, lembra. Eles realizaram quatro lançamentos de rede durante duas horas e capturaram apenas cinco peixes. Dois meses depois, as capturas não voltaram ao normal.

“Os efeitos podem durar décadas”, alerta Blanca Ríos, professora de ecologia da Universidade das Américas (UDLA). A pesquisadora ressalta que o petróleo, devido ao seu peso, pode se depositar em áreas remotas do rio e, a cada enchente, ser mobilizado novamente. O petróleo pode conter vários compostos, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são tóxicos para a saúde. Para evitar que sejam mobilizados no futuro, ela recomenda que as ações se concentrem em identificar as áreas onde esse material se depositou para sua limpeza e extração.

Mas ainda há esperança para os rios mortos. “Não há uma fórmula, mas quando a água começar a se renovar, formas de vida aparecerão. É uma das coisas que precisam ser monitoradas uma ou duas vezes por ano”, diz o biólogo chileno, que recomenda focar na limpeza das margens do local do vazamento até o rio Esmeraldas. Cortar o que foi afetado, remover a terra contaminada e reflorestar com espécies nativas, especialmente ao longo do trajeto do oleoduto. Os monocultivos atualmente presentes na região, explica, enfraquecem a cobertura vegetal, o que, somado a eventos climáticos extremos, pode causar novos problemas com o duto.

Segundo respostas da estatal PetroEcuador a um pedido enviado pela América Futura, a área de restauração ambiental da empresa está realizando um diagnóstico para determinar quanto tempo levará para limpar esses corpos d’água. Eles também estão coletando petróleo manual e mecanicamente, recuperando vegetação e lixo contaminado das margens dos rios afetados e das praias, além de realizar monitoramento biótico e avaliação para o resgate da fauna.

Manchas que não desaparecem

“É preocupante que as pessoas nos digam que o rio ainda não está limpo. Todos repetem isso”, diz Alexandra Almeida, bioquímica e porta-voz da organização Acción Ecológica para questões petrolíferas. Os relatos coletados em um informe da organização um mês após o vazamento em dez pontos afetados coincidiam em afirmar que ainda havia manchas de petróleo na superfície da água e nas margens. Também destacavam que não havia peixes e que ainda eram registrados casos de alergias, coceira na pele e mal-estar geral. A agricultura era outra das principais atividades afetadas. As plantações de banana, cacau e abacate foram danificadas.

“É uma afetação multidimensional. Não é apenas a água”, ressalta Almeida. A especialista está preocupada com a possibilidade de a contaminação entrar na cadeia alimentar, pois pode causar problemas no sistema nervoso central das pessoas ou favorecer a reprodução de células malignas e malformações que se tornarão evidentes no futuro. Por isso, ela explica que é necessário aplicar uma reparação integral, conforme estabelece a Constituição equatoriana.

Outro tema que a preocupa é a contaminação no mar. “A mancha negra não está mais visível porque foi fragmentada em milhões de partículas, mas ainda está lá”, afirma a especialista sobre os métodos de dispersão usados no oceano. Segundo Cristian Mora, superintendente do Terminal Petrolero de Balao (Suinba), foram usados 78 tanques de 55 galões de dispersante biodegradável para evitar que a mancha se espalhasse. O petróleo foi reduzido a pequenas partes “que evaporam com o sol ou são consumidas e dissolvidas pelo plâncton” sem causar impactos negativos, afirma. No entanto, especialistas consideram que a pesca deveria ter sido proibida nessas áreas até que os efeitos do petróleo disperso fossem analisados.

Ainda é necessária ajuda

Diante dos impactos do vazamento, diversos grupos se mobilizaram para coletar amostras, levar doações e apoiar os habitantes afetados. A organização Jóvenes Protectores del Planeta levou água, comida e atendimento médico a mais de 300 pessoas. “Como não há mais divulgação, pensam que tudo acabou, mas há pessoas com doenças de pele”, alerta seu presidente, Jefferson Esmeralda. Os primeiros kits incluíam arroz, atum, alimentos não perecíveis, remédios e produtos de higiene pessoal. Agora, também estão focando em kits menstruais para adolescentes e adultas.

Além dos impactos do vazamento, somaram-se os estragos do terremoto de 6,1 graus que atingiu a província em 25 de abril e das inundações. Aylin Torres, de 22 anos e membro do clube de Biologia da Universidade Estatal Amazônica (UEA), chegou à área afetada logo após o vazamento para coletar amostras e levantar informações socioeconômicas. Sua avaliação revela que a apicultura é uma das principais fontes de renda da região. No entanto, após o vazamento, a maioria das abelhas fugiu devido à contaminação do ar, e outras morreram. Por isso, os jovens estão elaborando planos para ajudar as comunidades a retomar essa atividade e buscar outras fontes de renda. Por enquanto, criaram um sistema para que os habitantes da região transplantem os produtos que cultivavam às margens do rio para locais mais seguros.

Enquanto isso, Rebolledo espera que as chuvas também ajudem a limpar o leito do rio, mas insiste que é necessário tomar medidas urgentes de reparação e remediação se quisermos que os rios mortos voltem a ter vida.

Fonte: https://elpais.com/america-futura/2025-05-13/la-emergencia-por-el-derrame-de-petroleo-en-ecuador-no-ha-terminado-dos-meses-despues.html

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Eu afogo as distâncias
constantes abismos
montanha ou labirintos.

Anfrangil

[França] Vida e morte de um anarquista russo comprometido com a Ucrânia: seu pai conta sua história

Sexta-feira, 30 de maio | 19h | La Dar CSA | Apresentação de livro e cantina vegan de apoio

O Coletivo Feminista em Apoio à Resistência Ucraniana tem o prazer de convidá-lo para um encontro especial com Dmitry Pavlovitch PETROV – escritor e pesquisador – que apresentará sua obra autobiográfica: Dia dos Pais.

Nesse livro, o autor relembra o desaparecimento de seu filho – um voluntário anarquista nascido na Rússia e comprometido com a Ucrânia, chamado de Dmitry Petrov e também conhecido como Ilya Leshy- e explora os temas da guerra, da família e de um amor que se recusa a desaparecer.

Por meio de diálogos, lembranças e reflexões, Petrov pinta um retrato pungente de uma cidade destruída e de um pai que tenta manter o vínculo com seu filho em meio ao caos. Ele questiona o dever, a responsabilidade pessoal, a dor e o poder da memória, ao mesmo tempo em que captura a rotina brutal da guerra e o poder da convicção.

Site em memória de Dmitri Petrov (filho): https://leshy.info/en/

Última mensagem deixada por Dmitri Petrov.

“Meu nome é Dmitry Petrov e, se você está lendo estas linhas, provavelmente morri lutando contra a invasão de Putin na Ucrânia.
 
Sou membro da Organização de Combate dos Anarco-Comunistas (BOAK) e continuarei assim após minha morte. O BOAK é uma criação nossa, nascida de nossa crença em uma luta organizada. Conseguimos carregá-lo em diferentes lados das fronteiras do estado.
 
Dei o meu melhor para contribuir para a vitória sobre a ditadura e para aproximar a revolução social. E estou orgulhoso de meus camaradas que lutaram e lutam na Rússia e além.
 
Como anarquista, revolucionário e russo, achei necessário participar da resistência armada do povo ucraniano contra os ocupantes de Putin. Fiz isso pela justiça, pela defesa da sociedade ucraniana e pela libertação do meu país, a Rússia, da opressão. Pelo bem de todas as pessoas que são privadas de sua dignidade e da oportunidade de respirar livremente pelo vil sistema totalitário criado na Rússia e na Bielorrússia.
 
Outro sentido importante para participar desta guerra é aprovar o internacionalismo pelo exemplo. Nos dias em que o imperialismo mortal desperta, como resposta, uma onda de nacionalismo e desprezo pelos russos, defendo por palavras e atos: não existem “povos maus”. Todos os povos têm a mesma dor – governantes gananciosos e sedentos de poder.
 
Não foi apenas minha decisão e passo individual. Foi uma continuação de nossa estratégia coletiva voltada para a criação de estruturas sustentáveis e combate de guerrilha no confronto com os regimes tirânicos de nossa região.
 
Meus queridos amigos, camaradas e parentes, peço desculpas a todos aqueles que magoei com minha partida. Eu aprecio muito o seu calor. No entanto, acredito firmemente que a luta pela justiça, contra a opressão e a injustiça é um dos significados mais valiosos com que o ser humano pode preencher sua vida. E esta luta requer sacrifícios, até o completo auto-sacrifício.
 
O melhor memorial para mim é se você continuar lutando ativamente, superando ambições pessoais e conflitos prejudiciais desnecessários. Se continuar a lutar ativamente para alcançar uma sociedade livre, baseada na igualdade e na solidariedade. Para você e para mim e para todos os nossos companheiros. Risco, privação e sacrifício neste caminho são nossos companheiros constantes. Mas tenha certeza – eles não são em vão.
 
Eu abraço todos vocês.
 
Seu Ilya Leshy, “Seva”, “Lev”, Fil Kuznetsov,
 
Dmitry Petrov”

Fonte: https://mars-infos.org/vie-et-mort-d-un-anarchiste-russe-8022

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agência de notícias anarquistas-ana

grama nos trilhos
composições mudas
sem estribilhos

Carlos Seabra

Registro do ato contra a resolução nº2.427/2025 do CFM no Rio de Janeiro

No dia 24/04/2025, ocorreram atos em vários territórios no brasil pela revogação da resolução nº 2.427/2025 do conselho federal de medicina, que determina impedimentos ao atendimento médico oferecido a pessoas trans. os atos ocorreram em espaços públicos, na maioria em frente às subsedes dos conselhos regionais de medicina.

Essa resolução:

1. Proíbe a administração de bloqueadores hormonais e realização de hormonização cruzada para pessoas trans menores de 18 anos;

2. Obriga pessoas trans adultas a se submeterem a 1 ano de acompanhamento psiquiátrico para poderem iniciar terapia hormonal.

3. Proíbe que pessoas trans com menos de 21 anos realizem cirurgias de afirmação de gênero.

Nossa autodeterminação não é negociável! Por saúde trans autônoma!

transanarquismo.noblogs.org

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No outono as folhas
Caem e o caminho
Tapete se transforma

Dalva Sanae Baba

[Espanha] Consuelo Zabalza, a desconhecida vida de uma importante ateneísta durante a guerra entre Lavapiés e a Ventilla

Foi uma das figuras mais importante do ateneismo libertário durante a guerra. A publicação recente de dois trabalhos recupera parte de seu vestígio junto com o de outros militantes anônimos de vida incrível que também precisam de uma urgente valorização histórica

Por Luis de la Cruz | Madrid — 6 de abril de 2025

A história deste país é tecida por uma lista infindável de biografias notáveis que quase ninguém conhece. Avôs e avós que nos deixaram sem receber suas merecidas homenagens nem, o que é pior, a escuta atenta que a sociedade necessitava. É o caso de Consuelo Zabalza Martínez (1920-2004), uma mulher que, sendo quase uma menina, foi pioneira no campo político e da cultura obreira.

Em 2024 saíram dois livros que, ao menos parcialmente, recuperam os vestígios de Consuelo Zabalza. Sua figura está presente em “La voz de los vencidos: doce entrevistas con anarquistas que vivieron la Guerra Civil en Espanha”, de Lily Litvak, e “Los ateneos libertários de Madrid. Desde sus orígenes hasta 1939″, de Francisco Javier Antón Burgos.

No primeiro capítulo da monografia de Litvak acessamos as vivências de Zabalza através de suas próprias palavras e as de seu parceiro, o destacado militante da CNT Ángel Urzaiz. Consuelo nasceu na Rua Tribulete em 1920 em uma família humilde. Seu pai, Francisco Zabalza, trabalhava no Mercado Central de Frutas e Verduras, um dos principais centros laborais do sul de Madrid, onde era conhecido por suas veleidades sindicalistas. Foi comunista – durante a ditadura de Primo de Rivera foi encarcerado por sua militância–, ainda que logo ingressasse no Sindicato Único da construção da CNT.

Consuelo foi pega pelo golpe de Estado franquista com apenas dezesseis anos e foi para a rua e para a cena política obreira. Devia viver na ocasião no norte de Madrid, pois contava que se alistou nas Juventudes Libertárias de Chamartín de la Rosa (chegou a ser sua secretária geral) e ingressou no Ateneu Libertário de la Ventilla, onde também foi secretária.

“Procurando uma figura ateneísta feminina notável, essa seria a da reconhecida anarquista Consuelo Zabala Martínez”, explica Antón Burgos em seu estudo sobre os ateneus madrilenhos, onde detalha como Zabalza se empenhou em conseguir da municipalidade um local amplo para as escolas do ateneu da Rua Cedros, que então se chamava de Fermín Galán.

O autor faz referência a outras mulheres destacadas no trabalho ateísta durante os anos trinta em toda a geografia madrilenha, todas trabalhadoras. Algumas delas ocuparam também cargos, como Cristina Martín, que foi secretária do vizinho Ateneu Libertário do bairro de La Viña.

Ao terminar a guerra, se viu junto com outros jovens em uma delegacia da Rua Jorge Juan. Ali, a desnudaram, a raparam e golpearam. Os policiais diziam “estas mulheres livres são umas zorras”, recordava na entrevista de Litvak.

Foi julgada por Auxilio à rebelião por sua militância e por haver falado em três ocasiões na seção semanal reservada aos ateneus na Rádio Madrid. Se viu com o juiz militar quase ao mesmo tempo em que as famosas Treze Rosas e, sendo menor de idade, esteve seis meses na prisão das Ventas.

Estando presa, uma companheira lhe sugeriu que começasse a escrever para um companheiro que estava cumprindo pena de prisão nesse momento, Ángel Urzaiz Simón, militante de Guindalera e Prosperidad, a quem nesse momento ainda não tinham comutado a pena de morte à qual havia sido condenado.

Quando sai do cárcere, Zabaleta continua colaborando com a organização na clandestinidade, ajudando os presos políticos. Reúne-se com Ángel, que será seu companheiro de toda a vida e com quem teve dois filhos. Ele será detido de novo em 1947 (permanecerá confinado até 1959) e transladado a um cárcere valenciano, o que fará com que se translade para viver ali, onde trabalha em um restaurante enquanto continua com seus trabalhos políticos. Em sua casa, por exemplo, se refugiou o anarquista Cipriano Mera a caminho do exílio francês.

Depois da morte de Franco, o casal contribuiu para a reconstrução de sua organização e participou do encontro intergeracional que permitiu romper a censura histórica provocada pelo sinistro poço do franquismo. Em 1996, fez o prólogo do livro “La mujer en la prensa anarquista.” Espanha (1900-1939), de María A. García-Maroto. Ángel Urzaiz havia falecido em 1988 e ela nos deixou em 2004 na cidade de Madrid. Consuelo Zabalza merece um trabalho monográfico que ponha seu nome no lugar que merece. Muitas, muitos, também esperam o resgate de sua memória e os ensinamentos que, sem fazer-se notar demasiado, nos deixaram de herança.

Fonte: https://www.eldiario.es/madrid/somos/tetuan/consuelo-zabalza-desconocida-vida-importante-ateneista-durante-guerra-lavapies-ventilla_1_12164507.html

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Na carroceria
sobre as sacas de algodão
cochila o carona.

Alberto Murata

[Nova Zelândia] Capitalismo pintado de verde: os limites do orçamento de 2025 do partido verde

O Partido Verde de Aotearoa (Nova Zelândia) lançou recentemente seu orçamento alternativo para 2025, um documento saudado por muitos setores da esquerda liberal como ousado, transformador e progressista. Com propostas que incluem imposto sobre grandes fortunas, imposto sobre heranças, faixas de isenção fiscal para rendas mais baixas e investimentos significativos em saúde, educação e infraestrutura climática, os Verdes se posicionam como o partido da redistribuição, sustentabilidade e bem-estar social.

Mas, para os anarcocomunistas, que não buscam reformar o capitalismo, mas aboli-lo, o orçamento verde levanta questões fundamentais sobre os limites da política parlamentar, a persistência da lógica capitalista sob um verniz ecológico e a contínua domesticação do potencial político radical pelos partidos eleitorais.

1. Tributar os ricos… para salvar o sistema?

No centro do orçamento verde está um novo conjunto de tributos sobre os ricos: um imposto anual de 2,5% sobre ativos líquidos superiores a NZ$ 2 milhões (ou $4 milhões para casais), um imposto de 33% sobre heranças e doações acima de NZ$ 1 milhão ao longo da vida, e o aumento das alíquotas do imposto de renda e de empresas. O objetivo? Arrecadar NZ$ 88,8 bilhões em quatro anos para financiar uma ampla expansão do estado de bem-estar social.

Na superfície, essas são políticas populares. A ideia de que os ultrarricos devem pagar mais em um país onde a desigualdade disparou é atraente, especialmente diante do aumento da pobreza, da crise habitacional e do colapso dos serviços públicos. Mas o problema mais profundo é que esses impostos ainda operam dentro de um sistema em que a propriedade privada é sagrada, o trabalho assalariado é a norma, e a riqueza continua sendo a medida do valor humano.

Devemos perguntar: o que significa tributar a riqueza sem tocar na estrutura de classes que a gera? Um imposto de 2,5% pode redistribuir uma pequena fração do que foi expropriado dos trabalhadores, mas não questiona a legitimidade da acumulação de riqueza em si. Tampouco desafia o papel do Estado capitalista na proteção dos interesses materiais do capital. Na melhor das hipóteses, é uma política de redistribuição sem expropriação, reforma sem ruptura.

O orçamento verde também evita confrontar o papel dos proprietários de imóveis, especuladores e bancos na extração cotidiana de valor das pessoas que trabalham. Esses setores, centrais na economia financeirizada da Nova Zelândia, permanecem amplamente intocados. Na verdade, ao depender do crescimento econômico contínuo para financiar os gastos sociais, os Verdes reafirmam a contradição central do capitalismo: a necessidade de acumulação infinita em um planeta finito.

2. Médicos e creches gratuitos: bem-estar ou pacificação?

Não há dúvida de que os investimentos do orçamento em saúde, educação e segurança social melhorariam materialmente a vida das pessoas. Consultas médicas gratuitas, retorno da gratuidade dos medicamentos, 20 horas de educação infantil a partir dos seis meses de idade e uma garantia de renda de NZ$ 395 por semana para pessoas fora do trabalho ou estudo são avanços reais em direção a uma sociedade mais habitável e humana.

Mas essas reformas não são revolucionárias, são o mínimo que uma colônia de povoamento rica como Aotearoa deveria oferecer. Na verdade, muitas dessas propostas buscam apenas restaurar as proteções sociais-democratas desmanteladas nos últimos 40 anos de neoliberalismo. Seu retorno é bem-vindo, mas tratá-las como “ousadas” ou “transformadoras” reforça o padrão extremamente baixo das expectativas políticas contemporâneas.

Anarquistas devem permanecer críticos quanto ao modo como os estados de bem-estar sempre funcionaram, não apenas para aliviar a pobreza, mas para regulá-la. O bem-estar social muitas vezes serviu como ferramenta de disciplina dos pobres, de apaziguamento do dissenso e de reprodução da força de trabalho. No capitalismo, os serviços sociais não são direitos universais, mas privilégios condicionais atrelados à vigilância estatal, à elegibilidade burocrática e a métricas de produtividade. A menos que sejam radicalmente democratizados e desmercantilizados, as expansões do bem-estar prometidas no Orçamento Verde correm o risco de se tornarem mecanismos de pacificação, e não de libertação.

3. Capitalismo climático e a ilusão do crescimento verde

A agenda ambiental dos Verdes inclui reinvestimento em trens regionais, metrôs leves nas grandes cidades, restauração do programa “Trabalhos pela Natureza” e modificação do Esquema de Comércio de Emissões (ETS) para excluir o reflorestamento e incluir a agropecuária. Essas políticas refletem um desejo sincero de enfrentar a crise climática, mas permanecem amarradas à ideologia do capitalismo verde.

Em nenhum momento o Orçamento Verde questiona a causa estrutural da catástrofe climática: a exigência capitalista por crescimento infinito e maximização do lucro. Ao enquadrar as soluções climáticas em termos de mecanismos de mercado, incentivos ao investimento e expansão da infraestrutura, os Verdes reforçam uma lógica que trata a Terra não como um bem comum a ser cuidado coletivamente, mas como um recurso a ser gerenciado para garantir estabilidade econômica de longo prazo.

Do ponto de vista anarcocomunista, a crise ecológica não é uma falha de políticas públicas, mas uma inevitabilidade estrutural da produção capitalista. A verdadeira justiça climática exige não ajustes tecnocráticos ou investimentos eco-keynesianos, mas a abolição do capitalismo fóssil, o fim da propriedade privada e a restauração da autonomia coletiva sobre a terra, a água e os sistemas alimentares.

4. Eleitoralismo e a política de contenção

O orçamento de 2025 dos Verdes deve ser entendido não apenas como plano fiscal, mas como performance política. Serve para posicionar os Verdes como a consciência moral do Parlamento, mais compassivos que o Labour, mais competentes que o Te Pāti Māori, e mais visionários que a coalizão reacionária entre National, ACT e NZ First. Mas esse papel não ameaça o sistema; ele é seu flanco esquerdo.

Anarquistas há muito criticam a armadilha do eleitoralismo: a ideia de que mudanças significativas podem ser alcançadas por meio da participação na democracia parlamentar burguesa. A história da social-democracia ao redor do mundo mostra como a energia radical frequentemente é capturada, neutralizada e institucionalizada por partidos que prometem transformação, mas entregam apenas gestão.

O orçamento verde é um exemplo clássico. Ao se apresentar como uma alternativa “realista” e “totalmente calculada”, os Verdes tranquilizam o capital de que são administradores responsáveis do sistema. Propõem ajustes, não rupturas; equidade, não liberdade. E, embora suas políticas sejam frequentemente atacadas pela direita como “marxistas” ou “radicais”, não são nada disso. Nenhuma fábrica será coletivizada. Nenhuma terra será devolvida. Nenhum patrão será expropriado. A ordem social permanece intacta.

5. O que seria uma transformação real?

Se o orçamento verde representa o teto do que a política parlamentar pode oferecer, os anarcocomunistas devem olhar para o horizonte. Como seria uma reorganização verdadeiramente radical da sociedade em Aotearoa?

– Abolir o capitalismo: Acabar com o sistema de trabalho assalariado, desmontar o controle corporativo e coletivizar os meios de produção sob controle democrático dos trabalhadores.

– Descolonizar agora: Devolver as terras ao tangata whenua, honrar o tino rangatiratanga e desmontar as estruturas do colonialismo de povoamento incrustadas no Estado, no sistema jurídico e na economia.

– Destruir o estado: Substituir as burocracias centralizadas por assembleias descentralizadas, federadas e diretamente democráticas enraizadas nas comunidades, locais de trabalho e marae.

– Cuidado como comum: Desmercantilizar saúde, educação e moradia, não como serviços estatais, mas como bens comuns geridos coletivamente por quem os utiliza.

– Reparação ecológica: Acabar com a extração de combustíveis fósseis, a monocultura industrial e a dependência de automóveis. Reflorestar terras, apoiar os saberes ecológicos indígenas e construir comunidades resilientes, de baixo carbono, baseadas em cuidado, reciprocidade e suficiência.

Esses não são pontos de orçamento ou propostas de política pública. São transformações revolucionárias que só podem ser conquistadas por meio de ação coletiva de massa, democracia direta e desmantelamento do estado e do capital.

Conclusão: O orçamento não é o suficiente

O orçamento de 2025 do Partido Verde espelha as contradições do nosso tempo. Oferece melhorias reais para quem sofre sob o regime atual e identifica corretamente a obscena concentração de riqueza em Aotearoa. Mas não pode, e não pretende, desafiar os fundamentos desse regime. É um programa para gerir a desigualdade, não para aboli-la; para pintar o capitalismo de verde, não para encerrá-lo.

Anarcocomunistas devem resistir à tentação de ver esse orçamento como um trampolim rumo à revolução. A história nos ensina que a reforma não é uma escada para a libertação, mas um beco sem saída que drena energia e neutraliza a dissidência. A tarefa diante de nós não é votar melhor ou fazer lobby com mais afinco: é construir poder popular, organizar-se nos locais de trabalho e nas comunidades, e desmantelar os sistemas de dominação que nenhum orçamento será capaz de consertar.

O futuro de que precisamos não pode ser orçado. Ele deve ser conquistado.

Fonte: https://awsm4u.noblogs.org/post/2025/05/15/greenwashed-capitalism-the-limits-of-the-green-partys-2025-budget/ 

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

As cores da noite
recamadas de silêncio
preparam o dia.

 Eolo Yberê Libera

[Itália] Turim: ato antifascista em resposta às cruzes célticas na lápide de Ilio Baroni

No domingo, 25 de maio, foi realizado em Turim um ato em frente à lápide do partigiano anarquista Ilio Baroni, localizada na esquina entre o corso Giulio Cesare e o corso Novara. A lápide havia sido recentemente vandalizada com símbolos de cruzes célticas.

“Na tarde de hoje, voltamos em frente à lápide do partigiano anarquista Ilio Baroni para dar uma resposta clara e inequívoca contra mais uma provocação fascista que atingiu o bairro”, escreveram nas redes sociais a Federação Anarquista de Turim e a Assembleia Antimilitarista de Turim. Durante o ato, ocorreram falas que relembraram a história da Barriera di Milano (bairro popular) como bastião antifascista e de resistência, entrelaçando a memória histórica com as múltiplas lutas atuais nas quais os antifascistas seguem engajados. Foram colocadas flores em homenagem ao companheiro caído. Os símbolos fascistas deram lugar a uma bandeira estilizada: a da anarquia, pela qual Ilio lutou até seu último dia de vida.

COMUNICADO

Um mês após a grande participação na comemoração de 25 de abril, fascistas desconhecidos insultaram a memória da Resistência ao profanar com seus símbolos de morte a lápide do partigiano anarquista Ilio Baroni.

Os representantes da extrema-direita xenófoba e racista são o braço armado dos patrões — seus fiéis servos, sua mão de obra favorita.

Os autores dessa vil provocação são os mesmos que, dia após dia, incitam a guerra entre pobres italianos e pobres imigrantes. Tentam nos colocar uns contra os outros porque sabem que, divididos, somos mais fracos e exploráveis. Acenam para as políticas repressivas do governo Meloni — herdeiros diretos da ditadura fascista — que aprova leis especiais como o mais recente decreto de segurança, promovendo uma virada cada vez mais autoritária e inimiga das liberdades no país. Aplaudem a militarização crescente dos territórios, as batidas policiais e os controles étnicos contra pessoas sem documentos, as reclusões nos CPR (Centros de Permanência para Repatriação), as deportações forçadas e as milhares de mortes no Mar Mediterrâneo.

Estão nos empurrando diretamente para a guerra, apoiando a corrida armamentista e agitando o tricolor [bandeira] que pode se tornar nossa ruína e nossa tumba.

Mas o povo da Barriera di Milano, nascidos aqui ou em qualquer outro lugar, vive os mesmos problemas, a mesma condição de exploração e opressão, a mesma de quem pegou em armas para combater o fascismo porque queria uma sociedade sem Estado e sem patrões.

A Barriera sofre com o aumento dos aluguéis e das contas. Sofre com empregos precários e perigosos, salários miseráveis e ritmos de trabalho insustentáveis. Sofre com ameaças constantes de despejo. Sofre com os cortes e as privatizações nos serviços sociais essenciais (saúde, educação, transporte, etc.). Não há dinheiro para moradia, educação, prevenção ou cuidado. Mas sobra dinheiro para patrulhas de polícia e militares nas ruas das periferias.

Hoje como ontem, só um amplo front de luta contra o inimigo comum pode nos levar a um mundo de liberdade e igualdade.

Um punhado de fanáticos pode até sujar um pedaço da história da luta de libertação do nazifascismo, mas não pode apagá-la. A história de Ilio, a história dos Arditi del Popolo, a história dos revolucionários da Barriera ainda ressoa nas lutas de cada um de nós — e continuará ressoando por muito tempo!

Por isso, queremos ir às ruas — e queremos ir em muitos. Queremos nos encontrar e nos reconhecer mutuamente, expressar toda a nossa raiva contra mais esse ataque ao coração do bairro, contra quem o vive e o atravessa todos os dias.

Queremos restaurar a lápide e manter viva a memória, fazendo dela uma arma para transformar radicalmente o que existe.

 “Os únicos estrangeiros são os fascistas nos bairros!”

Federação Anarquista de Turim
Assembleia Antimilitarista – Turim

Fonte: Radio Onda d’Urto

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

olhos cheios de sol
tarde por um triz
por hoje estou feliz

Camila Jabur

[Espanha] Iniciativa Pela Liberdade De Antonio Arevalillo Sanz

Antonio Arevalillo Sanz (Segóvia, 1958) desde os 9 anos cresceu no bairro bilbaíno de Zorroza e nos anos 70, como outros muitos jovens de origem humilde, se dedicou ao assalto de bancos, joalherias e supermercados. Desde sua primeira detenção grave, no ano de 1974, foi detido dezenas de vezes, fugiu três ou quatro vezes, participou na luta da COPEL (Coordenação de presos em luta) e no ano de 1983 foi um dos protagonistas de uma revolta na prisão de Basauri. No total permaneceu preso mais de 42 anos, 15 deles em regime de isolamento (Regime Especial FIES e art.10).

Faz uns anos lhe detectaram um tumor nasal que requereu cinco complexas operações cirúrgicas. No ano de 2016 Antonio completou as ¾ partes de sua condenação pelo que cumpre as condições para acessar a liberdade condicional.

Amigos próximos de Antonio, junto à associação basca GGEBE-ADDSI (Associação para a Defesa dos Direitos Sociais e Individuais), iniciamos uma campanha para exigir a liberdade imediata de Antonio.

Para apoiar as gestões que estamos realizando pedimos que enviem cartas e e-mails ao Tribunal Central de Vigilância Penitenciária, o JVP nº5 de Madrid (responsável de Estremera), a SGIP e a Junta de Tratamento do cárcere de Estremera. (Anexamos modelos de escritos com os endereços aos quais enviar).

Os agradeceríamos informação sobre as iniciativas solidárias assim como o apoio público a esta iniciativa. Também os animamos a enviar cartas, postais, telegramas, etc ao próprio Antonio:

Antonio Arevalilo Sanz

Centro Penitenciario Madrid VII

Ctra M-241, km 5.750

28595 Estremera (Madrid)

GGEBE-ADDSI  (ggebe-addsi@protonmail.com)

Gizabanakoen eta Gizarte Eskubideen Babeserako Elkartea/Asociación para

la Defensa de los Derechos Sociales e Individuales

Modelo de escrito e endereços para enviá-lo: http://tokata.info/wp-content/uploads/2025/05/MODELO-ESCRITO-ANTONIO-AREVALILLO.odt

Fonte: https://tokata.info/iniciativa-por-la-libertad-de-antonio-arevalillo-sanz/?

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

O velho salgueiro
Inclinado sobre o lago
Resmunga baixinho.

Mary Leiko Fukai Terada

Livro disponível para venda: “Arte e militância de Pedro Catallo”

Está disponível para aquisição na sede do Centro de Cultura Social (CCS) o livro “Arte e militância de Pedro Catallo, Volume 1 “Politica”. Em breve será feito o lançamento. No 2º semestre será publicado o Volume 2 sobre “Arte e cultura”. Essa nova publicação é parte do esforço para resgatar a história de militantes do CCS e do movimento anarquista, bem como contribuir financeiramente para a manutenção do espaço e suas atividades. Em breve estará disponível pelo site da livraria.

“(…) Não compreendemos porque os modernos escribas que se abalançam a escrever as “histórias sociais do Brasil” possam omitir, de caso pensado, páginas imorredouras e brilhantes com a essas que pertencem ao proletariado paulista, de muito antes de aparecer no Brasil o sindicalismo amarelo do Ministério do Trabalho. Um dia, a verdadeira história do movimento social do Brasil aparecerá na plenitude límpida, clara e verdadeira.”  Pedro Catallo

[…]Anarquista, poeta e sapateiro nascido em 1901, teve seu primeiro contato com o anarquismo em 1921 quando ingressou na União dos Artífices em Calçados e Classes Anexas de São Paulo. Participou ativamente de diversas greves, da campanha pró-Sacco e Vanzetti e das agitações antifascistas. Em 1928, com outros companheiros sapateiros, fundou o Grupo Teatral da União dos Artífices em Calçados e encenou diversas peças libertárias. Escreveu, traduziu e dirigiu diversas peças teatrais, ganhando até prêmios como o do Festival de Teatro promovido pela Federação Paulista de Teatro Amador. Fundou os jornais O Libertário e Dealbar. Morreu em 1969, deixando uma extensa obra teatral. Catallo também escreveu diversos hinos e canções, assim como produziu versões em português de músicas estrangeiras, sempre pregando o ideal anarquista e denunciando os males sociais que afligiam os trabalhadores.

A vida e a importância da obra desse incansável militante anarquista ainda estão por serem escritas, e com elas, sem dúvida, surgirá boa parte da história do teatro e da música anarquista no Brasil[…] Rodrigo Rosa da Silva

“Novas e velhas vozes libertárias: apontamentos sobre a história da música anarquista no Brasil”. História Social. Campinas-SP, n.11 173-192, 2005

Centro de Cultura Social (CCS)

Rua General Jardim, 253 Sala 22 – Vila Buarque – São Paulo – SP – Próximo ao metrô Republica

Site: https://ccssp.com.br/portal/

E-mail: ccssp@ccssp.com.br   

agência de notícias anarquistas-ana

quantos pirilampos
posso contar esta noite?
caminho enluarado

José Marins

[França] Congresso da Confederação Camponesa: Consolidar bases e questionar limites

De 15 a 17 de abril de 2025, a cidade de Langres, em Haute-Marne, sediou o 28º congresso da Confederação Camponesa. Realizado poucos meses após as eleições para as Câmaras de Agricultura em janeiro de 2025, o congresso ocorreu em um momento de grandes reajustes sindicais, marcado por uma abstenção recorde e pelo avanço da Coordination Rurale (CR) frente ao bloco majoritário formado pela Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA) e Jovens Agricultores (JA).

Em janeiro de 2025, cerca de 400 mil chefes de exploração agrícola ativos, que compõem o primeiro de cinco colégios eleitorais, foram convocados para eleger seus representantes nas Câmaras de Agricultura departamentais [1]. Essas instâncias estratégicas são ao mesmo tempo órgãos de representação profissional e instrumentos de implementação de políticas agrícolas. As eleições ocorreram em um contexto explosivo: manifestações camponesas em 2024, assinatura do acordo de livre-comércio com o Mercosul, crise do modelo produtivista dominante em meio a desastres ambientais, entre outros fatores que acirraram a polarização entre os sindicatos, oscilando entre o conservadorismo e a vontade de transformação profunda.

Eleições sob pressão

Após as eleições, o bloco FNSEA/JA sofreu um retrocesso histórico, perdendo a maioria em 22 departamentos. Esse resultado questiona diretamente o modelo de cogestão agrícola herdado do pós-guerra, no qual a FNSEA se consolidou como intermediária das políticas públicas e parceira privilegiada do Estado. Essa crise afeta também os interesses consolidados do complexo agroindustrial, liderado por Arnaud Rousseau, presidente da FNSEA e dirigente do grupo Avril. Embora sua dominação comece a ser abalada, seus interesses continuarão a ser defendidos enquanto os mecanismos institucionais permanecerem inalterados.

O resultado mais surpreendente foi o avanço fulminante da CR, que passou de 3 para 14 departamentos em uma única eleição. Fruto de uma cisão com a FNSEA em 1991, esse sindicato se posiciona como oposição de fachada, criticando o sistema vigente enquanto reproduz grande parte de sua lógica. Não oferece ruptura real nem alternativas concretas, e suas ligações comprovadas com a Reunião Nacional o tornam um alvo a ser combatido [2]. A CR se estabeleceu em departamentos do Oeste, onde a agricultura enfrenta crises sucessivas: problemas sanitários na pecuária, substituição da pecuária por monoculturas de cereais em solos pouco produtivos e início de uma crise vitivinícola.

Nesse cenário polarizado, a Confederação Camponesa manteve sua base, com 20,49% dos votos válidos, e conquistou a presidência em quatro Câmaras: Ardèche, Guiana, Córsega e Mayotte (onde as eleições foram adiadas devido ao ciclone Chido). Pela primeira vez, a Conf’ obteve maioria em tantos departamentos. Apesar do resultado positivo diante das adversidades, o sindicato precisa enfrentar questões essenciais para se consolidar como a única alternativa real à FNSEA.

Por um sindicalismo transformador

Transformar a agricultura camponesa em um projeto unificador tornou-se mais complexo em um contexto de lutas de classes no campo cada vez mais intensas. É preciso abandonar a ideia — ainda difundida pela mídia e pelo sindicato majoritário — de uma classe camponesa homogênea e naturalmente solidária. Essa visão ignora a diversidade de práticas, situações sociais e trajetórias profissionais: um jovem que cultiva hortaliças orgânicas em menos de um hectare de terra alugada não vive a mesma realidade que um latifundiário com centenas de hectares e empregados. Acesso à terra, tributação, autonomia, renda, relação com o meio ambiente e com o coletivo — quase tudo os separa. Falar em nome de realidades tão distintas é uma simplificação política, quando não uma fraude.

Para fortalecer sua atuação, a Conf’ apresentou propostas estruturantes, como a criação de uma escola política camponesa popular. Concebida como ferramenta de emancipação, a escola usará métodos de educação popular para formar militantes, politizar debates no campo e difundir os princípios da agricultura camponesa além do círculo sindical. Trata-se de um projeto de autonomização política, que visa capacitar camponeses e camponesas a refletir sobre sua condição e construir alternativas.

Outro destaque foi a moção de solidariedade com as agriculturas dos territórios ultramarinos, denunciando a lógica neocolonial de exploração que ainda as marca. Terras ultramarinas são frequentemente tratadas como meros reservatórios para exportação, ignorando necessidades locais. A moção alerta para a apropriação de terras e o extrativismo agrícola, reforçando a solidariedade sindical com esses camponeses. Na área ecológica, o congresso aprovou por unanimidade uma moção contra a linha de alta velocidade Lyon-Turin, um projeto “inútil, imposto e destrutivo”, símbolo da fuga tecnocrática para frente.

Lugar às camponesas!

Um dos avanços mais significativos do congresso foi a moção proposta pela comissão de Mulheres da Conf’, apoiada por várias seções departamentais. Embora as mulheres representem um terço da força de trabalho agrícola, sua presença em instâncias sindicais e decisórias ainda é marginal. A moção aprovada prevê um plano de combate às violências sexistas e sexuais (VSS): formações sistemáticas para mandatárias, protocolo claro para lidar com casos de VSS, orçamento dedicado à prevenção e criação de uma rede de apoio. O apoio à comissão de Mulheres reflete uma conscientização coletiva e o compromisso do sindicato com a igualdade real, tanto internamente quanto em suas reivindicações.

Uma data de homenagem

O encerramento do congresso em 17 de abril não foi por acaso. A data marca o Dia Internacional das Lutas Camponesas, em memória do massacre de 19 sem-terra no Brasil em 1996. A Conf’ também reafirmou sua solidariedade com o povo palestino, especialmente seus camponeses, último bastião contra a fome sistêmica imposta pelo Estado genocida israelense.

O dia 17 foi ainda um momento de memória e emoção, um mês após o assassinato de Pierre Alessandri, camponês e secretário-geral da Via Campagnola, sindicato corso aliado da Conf’. Laurence Marandola, porta-voz nacional, prestou uma homenagem emocionada a esse militante incansável, defensor da agricultura camponesa, da terra e da dignidade dos povos. Ela denunciou o silêncio cúmplice de políticos e representantes do Estado e reafirmou que a Conf’ permanecerá vigilante ao lado da Via Campagnola até que a justiça seja feita [3].

Por um campo vivo

Diante de megaprojetos inúteis, desmonte social, grilagem de terras e avanço fascista, é preciso estar ao lado de quem trabalha a terra para alimentar a população com dignidade. A UCL, como todo nosso campo social, tem a responsabilidade de apoiar firmemente os camponeses em luta, seja nas manifestações ou nas campanhas. Porque o que está em jogo é nosso futuro comum: um campo vivo, uma relação emancipada com a terra e um mundo livre da exploração.

Lysandre (UCL Vosges)

Notas:

[1] Les résultats des élections 2025 aux Chambres d’agriculture par département et par collège sont consultables sur Chambres-agriculture.fr.

[2] «La Coordination rurale, un syndicat à l’extrême droite du monde agricole», 4 février 2025, Street press.

[3] «Assassinat de Pierre Alessandri: La violence au service de l’agro-industrie», Alternative libertaire n° 359, avril 2025.

Fonte: https://unioncommunistelibertaire.org/?Congres-de-la-Confederation-paysanne-Consolider-ses-bases-interroger-ses

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

pássaro pousado
no espantalho
aposentado

Millôr Fernandes

[Itália] Nápoles rejeita a guerra e o rearmamento: NÃO ao encontro da OTAN de 26 de maio

No dia 26 de maio será realizado em Nápoles um encontro da OTAN sobre o tema da “Segurança no Mediterrâneo”. Em resposta, os movimentos sociais da cidade convocaram um contra-encontro para reafirmar a rejeição à guerra, a oposição ao rearmamento e ao genocídio na Palestina.

A seguir, republicamos o texto do chamado divulgado pelo Laboratorio Politico Iskra, que destaca os temas da mobilização:

A convocação de um encontro “pela segurança do Mediterrâneo”, com a participação de delegações de países como Líbia e Israel, é simplesmente um oxímoro. Perguntamo-nos: que tipo de segurança os massacres de Israel em Gaza e na Cisjordânia garantem aos cidadãos do Mediterrâneo? E as bombas lançadas no Oriente Médio? A situação se torna ainda mais grotesca se considerarmos que, poucos dias atrás, o governo israelense anunciou o plano de invasão e ocupação militar de Gaza. E que segurança é oferecida pelos senhores dos campos de detenção líbios, aos quais o governo italiano e a União Europeia — atual e anteriores — terceirizam a gestão da imigração?

Hoje, “segurança” é o termo guarda-chuva sob o qual se escondem as piores distorções autoritárias do nosso tempo: genocídio, guerra e militarização no exterior, e repressão de qualquer voz dissonante no interior, com a recente aprovação de um pacote de segurança — o antigo projeto de lei 1660, convertido em decreto e em vigor há um mês — que ataca as liberdades e é digno de um Estado policial. Uma manobra que coloca em risco o direito de greve e de protesto dos trabalhadores, num país onde as desigualdades sociais aumentam, a marginalização é cada vez mais difundida, e a impossibilidade de ter um futuro digno nos isola, forçando-nos a vidas cada vez mais precárias. A riqueza de poucos se sustenta sobre a miséria de muitos. Os que nos governam já decidiram qual é a “solução” para enfrentar a crise: gastar dinheiro público com armamentos para enriquecer a indústria bélica, aumentar os gastos militares para 3,5% ou até 5% do PIB, como exigem os EUA, e apostar numa reconversão militar do setor automotivo. Bilhões de euros serão entregues às empresas armamentistas, que sempre lucraram economicamente com os conflitos ao redor do mundo.

Essas mesmas empresas financiam Israel, lucrando com o genocídio do povo palestino e com a limpeza étnica daqueles territórios, direcionam a pesquisa pública para fins militares, lucram com a guerra e com a exploração extrativista dos territórios colonizados. Nesse contexto, somos simples engrenagens de um mecanismo que não é capaz de nos oferecer um futuro digno, de autodeterminação, bem-estar, mais tempo livre, paz e equilíbrio com os povos e com a natureza. Enquanto os senhores da guerra se reúnem no isolamento luxuoso de suas salas douradas, do lado de fora haverá uma cidade sitiada, fechada para seus próprios cidadãos e cidadãs. Que imagem mais simbólica da nossa sociedade: de um lado, os que planejam as guerras futuras; do outro, os trabalhadores e trabalhadoras sobre cujos ombros recairá a miséria que virá.

Diante disso, é necessário se opor com firmeza ao rearmamento da União Europeia e combater a narrativa belicista promovida em rede nacional.

Rejeitamos qualquer tipo de argumento que tente justificar os hipócritas “gastos com segurança” como uma necessidade inadiável. Como sempre, o preço dessa loucura belicista é pago pelos povos, não apenas com sangue, mas também com contínuas privações econômicas. Não há nada de inevitável nesse presente de pobreza nem no futuro de sofrimento que nos oferecem. Não caiamos na propaganda vazia de um sistema que nos esmaga. A guerra não é uma fatalidade. A guerra é a “solução” cruel para as contradições insolúveis de um sistema econômico desumano.

Fonte: https://radioblackout.org/2025/05/napoli-rifiuta-la-guerra-e-il-riarmo-no-al-summit-nato-del-26-maggio/

Tradução > Liberto

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agência de notícias anarquistas-ana

o céu resfria
a lua vestiu
uma charpa de bruma

Rogério Martins

Lula pacifista. Será?

Lula se diz “humanista”, “pacifista”, “paz e amor”, mas assistiu desfile militar na Rússia que envolveu milhares de militares, tanques, veículos para transporte de tropas, blindados, mísseis, sistemas de artilharia, jatos da força aérea russa etc.


E, ridículo, em sua recente viagem oficial à Rússia e à China, o “pacifista” ainda falou de fazer parcerias de “defesa e segurança” com ambos países.

Será que o “pacifista’ esqueceu que foi ele que inaugurou em maio de 2023 a linha de produção do caça Gripen, na fábrica da Embraer, na cidade de Gavião Peixoto, interior de São Paulo? Aliás, aviões (caças) comprados da empresa sueca Saab por mais de… 20 bilhões!!!

Será que o “pacifista” esqueceu que seu governo (Ministério da Defesa) comprou um lote de foguetes Skyfire 70 para o Exército? Isso sem falar de outros armamentos bélicos.

Será que o “pacifista” tem ciência que seu governo patrocina, apoia e participa de inúmeras feiras de “defesa e segurança” no Brasil, América Latina e em outras regiões do mundo? Leia-se feiras do “mercado da morte”.

Será que o “pacifista” sabe que suas Forças Armadas realizam regularmente exercícios de guerra em terra, mar e ar, e que tais simulações de combate contribuem significativamente para a poluição e as mudanças climáticas?

Será que o “pacifista” tem conhecimento que o Brasil lidera os gastos militares na América Latina?

Será que o “pacifista” sabe que todos os homens brasileiros, que completam 18 anos de idade, são obrigados a se alistar no serviço militar (as mulheres podem prestar o serviço militar por opção)?

Será que o “pacifista” também ignora que, enquanto prega diálogo e desarmamento em fóruns internacionais, seu governo negocia a exportação de tecnologia militar brasileira para regimes autoritários, incluindo aqueles acusados de crimes contra a humanidade? Não bastasse a hipocrisia de condenar guerras alheias, o Brasil, sob sua liderança, lucra com a venda de equipamentos que podem alimentar conflitos sangrentos em outras partes do globo. Uma contradição tão gritante quanto conveniente, onde o discurso de “paz” serve de cortina de fumaça para negócios que prosperam à sombra da morte.

E o tragicômico, o “pacifista” ainda sonha de ser laureado com o Prêmio Nobel… da Paz!!!

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agência de notícias anarquistas-ana

A abelha tristonha
— fauna e flora devastadas —
produz mel amargo.

Leila Míccolis