28 de outubro: os desfiles escolares em toda Grécia se convertem em manifestações contra o Regime

[Nos aniversários “nacionais”, o desfile de caráter e inspiração fascista é obrigatório para todos os alunos dos seis cursos das escolas secundárias do país, assim como para seus professores. Apesar disso, em 28 de outubro, em muitas cidades de toda Grécia, os desfiles foram cancelados e se converteram em manifestações, quando numerosos grupos de manifestantes e cidadãos vaiaram e insultaram os parasitas da representação, que estão tirando-nos a vida, dia após dia, em benefício do Estado e do capital.]

Em Atenas, o desfile escolar de caráter e inspiração fascista foi celebrado com muita pressa na Avenida Amalia, que passa em frente ao Parlamento, na presença da Ministra de Educação, Diamantopulu. Durante o desfile muita gente gritava lemas contra o governo e as medidas de austeridade; os alunos de várias escolas se negaram a saudar a Ministra e às demais autoridades, passando por sua tribuna (outro resquício do protocolo fascista). Outros, ao passar pela tribuna de autoridades, viraram a cabeça para o outro lado da avenida, enquanto alguns optaram por agitar lenços negros. Os músicos da Banda Filarmônica de Atenas colocaram fitas de cor preta em seus instrumentos musicais. Assim, de maneira coletiva, responderam às ameaças da prefeitura de Atenas, que havia advertido/ameaçado os músicos da banda municipal que demitiria aos que prosseguissem com este ato de protesto (vídeo mais abaixo).

Em Kalicea, bairro de Atenas, as pessoas expulsaram os políticos da tribuna de autoridades e ocuparam seus assentos. Na manifestação participou a comunidade “Não pago”:

Muitas reações semelhantes foram expressas em vários bairros de Atenas e de grandes cidades. Os protestos em um feriado “nacional” não tem precedentes na história moderna da Grécia. Até os meios de comunicação de desinformação ficaram perplexos e surpresos ante os protestos em toda a Grécia, e começaram a falar de “uns cidadãos que confundiram o dia nacional de festa com protestos”, em uma música tão triste como chata. Ninguém presta mais atenção neles.

Em Tessalônica, a repressão foi forte, depois do que aconteceu em 27 de outubro e o desapontamento que havia sido os políticos da cidade. Alguns dos mais de 500 manifestantes que estavam alinhados frente à tribuna das autoridades tentaram pendurar uma faixa na arquibancada. Os policiais não deixaram e então os demais manifestantes avançaram para outras grades da tribuna para derrubá-las. A avenida onde ia ser realizado o desfile foi evacuada pela polícia e furgões policiais se colocaram ao longo dela, fechando o acesso das pessoas à rua vazia, tal como nos dias da ditadura dos coronéis, de 1967 a 1974. Note que os manifestantes conseguiram ocupar a tribuna de autoridades e que mesmo o Presidente da República se viu forçado a abandonar o local, diante a ameaça de ser insultado por pessoas furiosas. Também houve conflitos entre os cidadãos e militares, como pode ser visto no seguinte vídeo:

Na cidade de Patras, terceira mais populosa da Grécia, muita gente vaiou o vice-ministro da Defesa, Spiliopulos, enquanto ele estava indo para a Catedral da cidade e, um pouco mais tarde, ao render homenagem ao chamado Monumento aos Caídos. O ministro recebeu uma chuva de ovos e outros objetos. Além disso, os manifestantes perseguiram e expulsaram jornalistas dos meios de desinformação. Pessoas ocuparam a avenida principal da cidade, onde seria realizado o desfile escolar:

Na ilha de Rhodes, o desfile realizado na capital foi interrompido quando muitas pessoas romperam o cordão policial que protegia os dirigentes locais. As pessoas iam até a tribuna de autoridades com intenções muito agressivas. Alguns deputados e o ministro do Desenvolvimento se refugiaram em um edifício do governo.

Na capital da ilha de Creta, Heraklion, as pessoas reunidas para vaiar os políticos jogaram vários objetos contra eles, exigindo que eles saíssem. Ao final, retiraram-se todos, menos o bispo local e um representante das autoridades portuárias da cidade.

Na cidade de São Nicolau, na mesma ilha, o representante do governo foi forçado a fugir diante as vaias fortíssimas dos cidadãos da capital da província. Note que Creta é (era) um dos “redutos” do partido no poder.

Na cidade de Volos, cerca de 1.000 aficionados da equipe de futebol local invadiram a área das celebrações e enfrentaram as forças antidistúrbios. Os policiais usaram granada de efeito moral. Outros grupos de cidadãos destruíram a tribuna de autoridades e os jogaram ao mar suas partes quebradas, assim como muitas cadeiras. Em seguida, membros do movimento “Não pago” e outros manifestantes fizeram o seu próprio “desfile” – marcharam pelas ruas do centro da cidade. As vaias haviam começado horas antes, após uma cerimônia religiosa em uma igreja da cidade.

Na capital da ilha de Corfú, muitas pessoas foram para a tribuna para vaiar as autoridades locais e, acima de tudo, o secretário-geral do Ministério do Comércio. O governador local das ilhas jônicas ordenou o cancelamento do desfile escolar, frente à ameaça de ser ultrajado, tanto ele como todos os demais representantes das autoridades. As pessoas rebeladas da ilha não se limitaram a gritar lemas contra o governo-gestor da política imposta pelo Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a União Européia. Ocuparam a tribuna de autoridades, desfraldaram bandeiras e jogaram nos dirigentes locais, que se viram forçados a evacuar pela polícia e sair correndo do centro da cidade.

Na cidade de Kalamata, no sul da Grécia, os alunos usavam durante o desfile braçadeiras de luto, de cor negra, e, ao passar pela tribuna de autoridades, viraram a cabeça para o lado oposto. Um pouco antes do final do desfile, muita gente atirou tomates, ovos e vários outros objetos nos ministros, prefeitos e outros burocratas e parasitas que estavam acomodados em sua tribuna. O desfile foi interrompido por 15 minutos. A tensão continuou no final do desfile, quando o povo exigiu que saíssem todos. Muitos manifestantes conseguiram alcançar e insultar o deputado local Vuduris, apesar de estar escoltado por mais de 30 policiais e agentes de segurança. Ao final, saíram todos os políticos, exceto o prefeito, que foi a única pessoa que estava nesta tribuna de vergonha durante o desfile de outras associações da cidade, após o desfile escolar acidentado. No entanto, o prefeito foi perseguido por senhoras da limpeza do município, que estão alguns meses sem remuneração e algumas desempregadas. Saiu fugido da praça principal e se refugiou na cafeteria de um de seus capangas.

Na cidade de Trípoli, no Peloponeso, muitos habitantes gritaram lemas contra os deputados locais, o governo e todas as autoridades durante todo o desfile, cobrindo com suas vozes as marchas que soavam pelos alto-falantes. A presença dos manifestantes foi massiva e muito combativa, com gritos, lemas e bandeiras durante todo o desfile. Os alunos, que foram forçados a desfilar ao passar pela tribuna, como em toda a Grécia, viraram a cabeça para o lado oposto a ela. Ao final deste show chamado desfile escolar, o ministro da Justiça, Papaioanou, teve de ser retirado por seguranças e policiais, entre gritos e vaias.

Na cidade vizinha de Pyrgos, as pessoas vaiaram todos os representantes do poder, especialmente o governador da região a que pertence à cidade. O povo exigiu que saíssem todos esses parasitas. O desfile começou quando se viram forçados a deixar o local, sem assistir ao evento que melhor reflete sua ideologia. No final do desfile escolar as pessoas ocuparam a avenida principal da cidade, não permitindo a continuação do desfile por outras associações da cidade.

Na cidade de Náuplia, também no Peloponeso, o ministro do Meio Ambiente foi forçado a retirar-se e fugir para um endereço desconhecido, sendo fortemente vaiado por muitos manifestantes. Da tarefa de sua fuga se encarregaram as forças policiais locais – ou seja, os de costume – cães leais aos seus donos.

Na cidade e Trikala, Tessália, centro da Grécia, a polícia tentou impedir as pessoas que se manifestavam, quando muitos dos reunidos romperam o cordão policial e atingiram deputado do partido governista Pasok (partido socialista grego), Magufis. Um dos manifestantes foi detido, fato que causou algumas reações ainda mais combativas e agressivas pelos manifestantes e pessoas em geral. Os reunidos pararam o carro da polícia no qual estava o detido, exigindo sua libertação imediata. O furgão não tinha conseguido ir a 15 metros quando foi parado pelas pessoas rebeladas. O detido foi liberado poucos minutos depois, sendo aplaudido pelo povo. Os representantes das autoridades locais, humilhados, se viram obrigados a evacuar a área do desfile. O desfile se tornou uma massiva manifestação. O acontecido é mostrado no vídeo a seguir:

Também, no seguinte vídeo se vê a intervenção dos manifestantes, permitindo desfilar apenas os membros da banda de música local, interrompendo o resto do desfile.

Na cidade de Lamia, as forças policiais não deixaram os manifestantes se aproximarem da tribuna de autoridades. Os incidentes são vistos no seguinte vídeo:

Na cidade de Flórina, noroeste da Grécia, alguns manifestantes marcharam segurando um caixão (seguinte vídeo), celebrando um funeral.

Na ilha de Syros, as pessoas se dirigiram aos parasitas das autoridades e realizaram uma espécie de desfile-manifestação, com muitos eventos improvisados. Entre os que marcharam com suas bandeiras, destacaram-se os estudantes da Escola de Formação Secundária, que está ocupada faz uma semana.

Na cidade de Xanthi, em Trácia, nordeste da Grécia, muitos alunos saíram das fileiras do desfile e começaram a marchar com suas bandeiras e lemas. Foi uma conversão muito clara do desfile da escola em protesto e um ato de desobediência. São muito interessantes as cenas do seguinte vídeo:

Na cidade de Véria, o desfile foi cancelado e se transformou em uma manifestação. Pessoas ocuparam a rua principal da cidade e centenas de manifestantes realizaram uma passeata pelas ruas do centro. Quando surgiu o bloco do chamado Partido Comunista, recebeu fortes vaias por outros manifestantes, não esquecendo seu papel na manifestação de 20 de outubro.

Na cidade de Serres, norte da Grécia, os manifestantes vaiaram as autoridades e atiraram ovos, garrafas e outros objetos antes e durante o desfile. As pessoas fizeram com que todos os políticos e outros parasitas da democracia representativa se fossem e lutaram com grande coragem contra os policiais.

agência de notícias anarquistas-ana

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