[No bate-papo a seguir, a atriz Cibele Troyano fala do sonho que vem acalentado há anos, de mostrar a singular vida de Emma Goldman no teatro. “No último 10 de novembro, por ocasião da IV Feira Anarquista [de São Paulo], mais um passo foi dado. Apresentei o texto que estou escrevendo: “Emma Goldman, uma Vida Libertária”. A experiência foi muito rica e me estimulou a seguir trabalhando. Espero que em breve eu consiga estar com um espetáculo pronto!”, diz.]
Agência de Notícias Anarquistas > Pra começar, fale um pouco de você, de como o anarquismo te “tocou”…
Cibele Troyano < Conheci as ideias anarquistas quando cursava Ciências Sociais na PUC, isso lá pelos anos 1973-76. Tive o privilégio de ter sido aluna do Mauricio Tratenberg. Fiquei encantada com as propostas dos anarquistas e muito impressionada com a maneira pela qual eles criticavam o socialismo autoritário. Eu já sabia que a Revolução Russa não tinha favorecido ninguém além de seus dirigentes. Já tinha lido Trotski e me aproximado de alguns grupos trotskistas. Mas quando comecei a ler Proudhon, Kropotkin e Bakunin eu compreendi que o problema era muito anterior a Lênin e Stalin. O autoritarismo e o centralismo eram ideias de Marx! Quando li sobre as atrocidades de Trotski contra os trabalhadores quando ele estava no poder, compreendi o quanto meus amigos trotskistas estavam equivocados… Mas eu não conhecia nenhum grupo anarquista. Estávamos em plena ditadura militar e tudo era muito escondido… Em 1981 eu ingressei no mestrado da PUC e meu projeto era fazer uma dissertação sobre o anarquismo no Brasil. Eu já fazia teatro a algum tempo e sempre ficava dividida entre os palcos e a sociologia. Na época eu tinha 21 anos e optei pelos palcos. Acabei abandonando o mestrado. Em 1983-1984 o Jorge, que até hoje é meu marido e companheiro, realizou uma cooperativa de técnicos de teatro. A sede ficava no Brás. Então o Jaime Cuberos foi até lá conhecer essa cooperativa e convidou o Jorge para algumas reuniões. Elas aconteciam atrás de uma loja de sapatos que era dele e do seu irmão, o Chico. Assim começamos a frequentar o movimento.
ANA > E de que forma a arte, o teatro entrou na sua vida?
Cibele < Quanto ao teatro, comecei no colégio, me apaixonei. Diz a lenda que existe um bicho do teatro e, quando ele pica a gente, ficamos dependentes para sempre… Fui picada aos 15-16 anos… Acho que o Anarquismo também tem um bichinho assim…
ANA > E que história é essa que está acalentando o sonho de mostrar a vida de Emma Goldman no teatro? Por que Emma? Quais fontes você está utilizando para compor esta obra?
Cibele < Em 1983 eu comprei um livro da Elisabeth Souza Lobo: “Emma, a Vida como Revolução”. Era um livrinho pequeno, da coleção Encanto Radical. Eu fiquei apaixonada! A Emma questionou a Democracia e o Socialismo. Defendeu a liberdade da mulher, o amor livre, os homossexuais e o anarquismo. Viveu nos EUA, na Rússia Soviética e participou da Revolução Espanhola. Teve uma vida pessoal repleta de aventuras e de amores. Parece mentira que uma pessoa possa ter vivido tantas experiências! E quando uma coisa parece mentira ela se torna um material excelente para a arte! Assim que terminei de ler o livrinho eu procurei o nome da autora na lista e consegui que ela me recebesse em sua casa. Expus o meu projeto e ela me deixou xerocar dois livros: Living my life e Emma Goldman, a epoppé dune anarchiste. Eu não leio em Inglês, leio mal em Francês e não sou dramaturga. Fiquei com esse material em casa por anos. Uma vez uma amiga dramaturga se interessou, nós entramos com um pedido de verba, mas foi negado. Acho que foi negado porque a Emma não é brasileira. Isso foi ainda nos anos 1980. O tempo foi passando e eu deixei o projeto arquivado na minha cabeça. Em 2006, eu abro o guia de teatro e vejo que estava em cartaz uma peça sobre a Emma. Fiquei chocada, frustrada, aborrecida, enciumada. Nem fui ver. Em 2007 o Edson Passetti, que sabia dessa minha paixão pela Emma me convidou para participar de uma aula-teatro sobre os 90 anos da Revolução Russa. A proposta é que eu fizesse uma leitura dramática de um texto que o Nu-Sol tinha escrito. Acabei retrabalhando o texto com eles e montamos um espetáculo: Emma Goldman na Revolução Russa, que foi apresentado 4 vezes no Tuca Arena [em São Paulo] e publicado na Revista Verve. Esse ano, antes que o tempo me devore com o meu projeto junto, eu decidi realizá-lo. Então eu mesma escrevi um texto e apresentei uma leitura na IV Feira Anarquista de SP. Agora eu o estou reformulando, pois senti que algumas coisas não funcionaram. No ano que vem pretendo montá-lo. Já tenho uma diretora interessada e estou à cata de recursos financeiros.
ANA > Seria uma peça com “vários” atores?
Cibele < Não. Escrevi um monólogo para eu poder ter completa autonomia para fazer em qualquer lugar, por qualquer cachê ou mesmo sem cachê.
ANA > Você está ligada a algum grupo de teatro?
Cibele < No momento não. Estou envolvida numa montagem que deverá rolar no ano que vem, um texto sobre o abolicionista Luis Gama: “Luis Gama ou o diabo Coxo”. Pretendo também formar um grupo ou procurar um grupo que queira montar um outro texto que escrevi: “O homem que corrompeu Hadleyburg”, baseado na novela de Mark Twain, que foi publicada pela Editora Imaginário.
ANA > Bakunin teve uma vida tão intensa, apaixonada e fascinante como a da própria Emma. Contudo, ao longo dos anos, tenho percebido que pelos cantos do mundo a vida da Emma é mais interpretada nos palcos. Como você interpreta este fato?
Cibele < Nos anos 1980 o Marco Ricca montou um monólogo sobre o Bakunin. Ficou um bom tempo em cartaz no Teatro do Bixiga (atual Ágora). Quanto à preferência por Emma, creio que é pelo fato dela ser mulher e de ter vivido uma vida carregada de dramaticidade. Grande parte das peças sobre elas são americanas. Os EUA têm um teatro muito ativo e eles costumam valorizar seus ícones em filmes e peças.
ANA > Para terminar, acredita que o teatro pode ajudar a mudar as pessoas? Ou, “se não puder ‘teatrar’ esta não é a minha revolução”?
Cibele < O teatro é nossa maneira concreta de filosofar. De todas as artes eu prefiro o teatro. Acho que ele contém todas as outras artes. Se ajuda ou não ajuda as pessoas é uma coisa difícil de responder, pois o bom teatro deve nos colocar em crise. “Teatrar” é a minha revolução!
Notícias relacionadas:
http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2012/05/03/eua-anarquia-musical/
http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2012/06/26/eua-o-que-faria-a-emma-goldman/
agência de notícias anarquistas-ana
Noite estrelada
O céu – brilhando – se abaixa
Silenciosamente
Eunice Arruda
Estão todos no Twitter,Instagram,nas plataformas corporativas,disputando clicks e likes. Estão por aí,seguindo a maré dominante. Só não tão na Luta,afinal,lutar…
Thank you for the support from nepal comrades ✊🏽
Ditadura foi perversa. Empatia as famílias.
foda!
nao existe comunidade anarquista em nenhum lugar do mundo, (no maxinmo sao experiencias limitadas em si mesmo com uma maquiagem…