A cena heavy metal decidiu debater racismo e machismo. Aqui estão os motivos

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No metal, a contestação a ordem social estabelecida e a necessidade de chocar acabam esbarrando no discurso de ódio

Em fevereiro de 2016, o músico Phil Anselmo, vocalista de heavy metal e ex-líder da banda Pantera, causou controvérsia. Durante um show, ele fez a saudação nazista e gritou “White power!” (“Poder branco!”).

Anselmo disse que se tratava de uma piada e, sem seguida, pediu desculpas. Não foi a primeira atitude racista do cantor, que em episódios anteriores já havia homenageado movimentos de supremacia branca.

O episódio levantou – de maneira abrangente – o debate sobre o racismo no heavy metal e necessidade de combater esse e outros tipos de preconceito, como o machismo, por parte de fãs e músicos da cena.

No metal, o preconceito entra como ideologia

Muitos são os gêneros musicais acusados de machismo, racismo ou xenofobia. O funk e o sertanejo universitário brasileiros, por exemplo, recebem a pecha machista com certa frequência. Uma grande parcela da música pop americana também exibe momentos machistas e racistas.

Mas há uma diferença. Se na indústria pop os episódios de racismo ou machismo ocorrem porque alguns artistas acabam reproduzindo preconceitos velados presentes na sociedade, no metal trata-se de uma questão ideológica.

Os metaleiros não querem falar com o grande público – muitas bandas até buscam o estranhamento das massas. E ao se apegarem ao que é tabu, acabam esbarrando nos discursos extremistas. Esse extremismo aparece ao lado de outros temas, que também trazem em si o desprezo à ordem social estabelecida. A intenção, geralmente, é gerar catarse, confrontar horrores e chocar.

No caso do black metal, vertente do heavy metal que une tons dissonantes a vocais “rasgados” ou guturais e a guitarras altamente distorcidas, as letras geralmente giram em torno de temas como satanismo, anti-cristianismo e paganismo.

O death metal, outra vertente do heavy metal, no geral, trata desses temas e de outros, como religião, misticismo, mitologia, terror e violência explícita, incluindo mutilações, dissecações, estupro, canibalismo e necrofilia.

Metal, crime e estudos

Uma das figuras mais emblemáticas do black metal, o músico Varg Vikernes, da banda norueguesa de um homem só, chamada Burzum, foi condenado a 21 anos de prisão pelo assassinato confesso do membro de outra banda norueguesa de black metal e por queimar pelo menos três igrejas na Noruega.

Libertado em 2009, Vikernes é conhecido por defender abertamente o nacionalismo branco na Noruega, o conceito de pureza da “raça nórdica” e o conservadorismo social.

Em 2015, um estudo da Universidade de Leeds-Beckett, no Reino Unido, investigou as origens do racismo e do sexismo no folk metal, vertente do metal que mistura metal e música pagã europeia.

O folk metal é frequentemente alvo de piada entre os metaleiros, especialmente pelos temas fantasiosos e pela estética do gênero, na qual os músicos frequentemente se vestem como cavaleiros medievais ou vikings.

De acordo com o autor do estudo, no entanto, o folk metal não tem nada de inofensivo. Trata-se de uma ferramenta cultural contemporânea para replicar valores como masculinidade e racismo, presentes na cultura pagã europeia.

“[O folk metal] é uma maneira de esconder em plena vista uma cultura dominante, hegemonicamente branca e masculina, que abrange narrativas e mitos de individualismo e nacionalismo neoliberais”, escreveu o pesquisador Karl Spracklen.

Uma reação entre os músicos

Enquanto muitas bandas usam ideais extremistas como parte integrante de seus princípios, muitos músicos se posicionam contra o nazismo e o fascismo, especialmente no thrash metal, vertente do metal que herda algumas linhas de contestação política do Hardcore.

“[O metal] tradicionalmente é música para os forasteiros, as ovelhas negras e os oprimidos. Rejeita a política como um jogo de espelhos feito para nos distrair do que o sistema está tramando pelas nossas costas. O metal deve mirar no que está acima, o status quo, não no que está abaixo, os menos privilegiados”, Dom Lawson. músico de metal e jornalista, em artigo no “The Guardian”.

O episódio de Phil Anselmo despertou manifestos de outros músicos da cena, que pediram para que o vocalista parasse de ser ‘perdoado’ pelas ofensas racistas que faz com frequência e que disseram que os valores tradicionais do metal, que exaltam a força na união e o triunfo dos mais fracos, “são instintivamente contrários aos anti-valores intelectualmente pobres dos racistas”.

Corey Taylor, vocalista da banda Slipknot, veio a público falar sobre a necessidade de combater o racismo no metal. Em uma entrevista ao jornal inglês “The Guardian”, Taylor admitiu que “há um problema de racismo no metal”, mas que ele não deve ser difícil de combater porque o público do metal em si é bastante diverso.

“Nós queremos receber os deslocados – somos a ilha para os deslocados, e sempre vamos ser. Não vai ser muito difícil erradicar o racismo do metal porque a maioria dos fãs não é racista”, disse ele.

Fonte: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/05/31/A-cena-heavy-metal-decidiu-debater-racismo-e-machismo.-Aqui-est%C3%A3o-os-motivos

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Rodrigo de Almeida Siqueira