As Terceiras Jornadas de Primavera Libertária em Havana [Cuba] foram celebradas nos dias 7, 8, 10 e 11 de maio de 2016. Combinamos levar uma mensagem de saudação às mesmas vindas da Federação Anarquista Ibérica [FAI], assim como uma contribuição solidária, que se soma a algumas outras, recolhida pelo Grupo Anarquista Albatros-FAI através de um crowdfunding ao longo dos últimos meses. A quantia entregue tem como finalidade a compra de um local que será gerido pelo Ateliê Libertário Alfredo López. Seria o primeiro local anarquista em Cuba desde o triunfo dos castristas em 1959 e, se as ajudas continuarem a este ritmo, acreditamos que neste ano mesmo ou no próximo será uma realidade.
As Jornadas
Com um programa talvez demasiado denso para o tempo que tinha [as jornadas] se cumpriram relativamente bem. [Ocorreram] alguns desajustes de horários e pequenas trocas, sobretudo nas apresentações de projetos internacionais, que aumentaram consideravelmente, e a suspensão da penúltima mesa de debate devido a problemas para participar do conferenciante.
O Ateliê Libertário Alfredo López está dentro de outro projeto mais amplo, que tem servido de “guarda-chuva protetor” e projeção de seus contatos e redes, chamado Observatório Crítico. Lá, eles mesmos são a parte mais dinâmica com projetos como: Arco Iris, que trabalha com as questões LGTB; El Guardabosque, que trabalha com questões sobre meio ambiente a partir de uma perspectiva ecologista radical (áreas protegidas, fraking, transgênicos, energias renováveis, resíduos, etc…) ou uma revista cultural. Fizeram uma viagem pela pequena história do ateliê, desde seu começo, assim como uma boa revisão dos passos por onde Cuba caminha em direção a um modelo de capitalismo com controle do Partido Comunista (estilo China ou Vietnã). Também sobre a Cuba de hoje, quase “na moda” com a visita do Papa, de Obama ou dos Rolling Stones, filmagens de filmes de grande orçamento, desfiles de alta costura… Seguem com seus sindicatos verticais, nomenklatura e precariado com salários insuficientes para viver, o desenvolvimento assimétrico que está legitimando a desigualdade e a “moralidade” vinculada ao dinheiro.
Especial protagonismo tiveram os companheiros assistentes da República Dominicana (Kiskeya Libertária) ao ser parte, com os organizadores, da Federação Anarquista da América Central e Caribe, assim como uma companheira australiana, atualmente no México, que também havia participado na constituição dessa Federação quando residia em uma ilha caribenha. Ademais, houve apresentações do Local Anarquista de Magdalena, Grupo Albatroz-FAI e Fundação Aurora Intermitente, de Madri, falando de nossa história, tarefas e projetos nos quais estamos envolvidos; de um pequeno bairro semiocupado (Errekaleor) na periferia de Vitoria, da Federação Anarquista Gaúcha (sul do Brasil); de Cibao Libertário (Santiago de los Caballeros, República Dominicana), recordando, entre outras coisas, o congresso celebrado em sua cidade que deu vida à Federação que compartilham com os cubanos e salvadorenhos; da Biblioteca e BOESG, de Lisboa, que fizeram uma revisão histórica do anarquismo em Portugal… inclusive houve um par de outsiders de uma Rede Anticapitalista de Cuba (que soava bastante trotskista) e de um membro de um partidinho estadunidense que nos aborreceu com a ideia de que o movimento alternativo havia sido absorvido por Sanders [senador socialista] para ser apoiado nas primárias dos EUA.
A organização foi boa, o atendimento excelente e o interesse do programa nos debates foi fora de dúvida. É claro que estão praticamente começando. Na parte que mais nos interessa, falamos de organização e anarquismo com os compas de Portugal, da República Dominicana e da Inglaterra (uma companheira de SolFed em Brighton)… Também falamos das possibilidades, que parecem nulas (a curto prazo), de iniciar tarefas militantes no movimento operário e sindical, tanto em Cuba quanto na República Dominicana. Neste último país, nos mostram os sindicatos oficiais como autênticas máfias armadas onde parece um suicídio a tentativa de organizar algo à margem deles.
No último dia, mudou-se o programa por dificuldades com o orador, [num] ato que seria realizado em um bairro periférico de Havana, e [em substituição] se centrou um debate sobre solidariedade, em um belo parque ao lado do rio. O companheiro do Ateliê Libertário que fez a introdução comentou que nesse mesmo parque foram feitas as primeiras reuniões de anarquistas cubanos quando tiveram que ser mais “invisíveis” para a repressão.
Em resumo, foram umas Jornadas muito interessantes, com uma boa organização e uma convivência solidária e de irmandade em todo momento, que nos orgulha como companheiros nas ideias.
Pascual González
Fonte: www.nodo50.org/tierraylibertad
Tradução > PF
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