Aos anarquistas brasileiros contemporâneos

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Cair nessa falsa dicotomia ‘esquerda’ X ‘direita’ é um grande erro – histórico e atual – que anarquistas podem cometer e, por mais estranho que pareça, é fazer o jogo do sistema agora: afinal quem foram os ‘homens fortes’ das políticas econômicas dos governos do PT/CUT…? Todos representantes do mercado (principalmente, Henrique Meireles e Delfim Neto, como consultor).

O jogo do sistema agora é nos colocar nesta falsa dicotomia entre ‘defensores de pautas de minorias’ e defensores de pautas socialmente conservadoras, e eu digo que são falsas dicotomias porque, primeiro que mesmo as chamadas ‘pautas de minorias’ são do interesse do Capital, para criarem novos nichos de mercado (vide toda a linha de programação ‘progressista’ da Rede Globo de Televisão) e, depois, porque o fascismo e o reacionarismo também vestem vermelho ou, se não, como denominar as políticas repres soras de protestos e de militarização de favelas adotadas pelo governo do PT/CUT durante a Copa; como denominar as repressões com uso de técnicas de tortura adotadas pelo governo do PT/CUT contra grevistas e comunidades tradicionais na construção da Hidrelétrica de Belo Monte; como denominar a perseguição e tentativa de linchamento [foto] perpetrada pela ‘Frente Povo Sem Medo’ contra anarquistas e autonomistas em Fortaleza; etc…?!

Em suas ‘delações’, os Odebrechts disseram com todas as letras que pagavam propinas PARA A CUT, para que esta impedisse que as greves e protestos saíssem do controle.

O anarquismo NÃO É esquerda e nem direita, porque ambos são os dois lados da moeda da luta pelo poder do Estado, e a anarquia é exatamente o oposto disto: e todas as vezes que anarquistas ‘se esqueceram’ disto e caíram na esparrela de se aliarem à esquerda em lutas revolucionárias, sabemos (anarquistas honestos e estudiosos) muito bem o fim que foi dado aos anarquistas..

Se a situação dos ‘de baixo’ está cada vez pior, isto se dá cada vez mais na escala global do capitalismo – e na escala planetária, no que concerne ao problema climático -, e isto demonstra que, mais do que nunca, a questão não é trocar um governo qualquer por outro, mas suplantar este sistema.

Se isto parece muito difícil e longínquo agora, poderemos lembrar aqui o velho ditado chinês que diz que ‘um caminho de mil léguas começa com um primeiro passo’.

Porém, o importante é não nos deixarmos engabelar por falsos ‘atalhos’, cedendo na coerência das nossas proposições libertárias para ganharmos aparentes vitórias ‘pontuais’.

Como diz o anarquista italiano Errico Malatesta: é preferível perder cem batalhas, do que ganhar abrindo mão da nossa coerência.

A luta não é de hoje, e provavelmente não se encerrará nem em um médio ou longo prazo (isto se o planeta não aquecer além do suportável em menos de cem anos), por isto, é preciso ter uma visão de longo alcance, para não se deixar levar pelas jogadas enxadrísticas das falsas oposições momentâneas do sistema.

Tenhamos consciência de que algo está se movendo num sentido libertário, no mundo inteiro, com a chamada nova onda de protestos que eclodiu após o estouro da tal ‘crise’ econômica em 2008, o que vem gerando movimentos sociais com características mais libertárias (horizontais, avessos as instituições políticas formais/elitistas, avessos ao seguidismo de grandes líderes etc.), tais como o Occupy Wall Street nos USA, o 15M na Espanha, os protestos na Praça Tahir no Egito e as próprias ‘Jornadas de Junho de 2013 no Brasil’: esta é a ‘onda social’ que n&oacu te;s anarquistas poderíamos fortalecer, e não a que se propõe apenas a promover uma troca dos políticos ‘gerentes da coisa pública’ do Capital.

A luta continua, mas neste campo de batalhas, é preciso sermos sábios para não nos deixarmos enganar por ‘lobos em peles de cordeiros’…

Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira

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Ricardo Silvestrin

8 responses to “Aos anarquistas brasileiros contemporâneos”

  1. Vantiê Oliveira

    Para os que tem um sentimento anarquista sincero, mas que ainda não estudaram os anarquismos a fundo; para os ignorantes em anarquismos (mais formados no marxismo e que se arvoram a discutir o pensamento libertário sem conhecimento de causa); para os marxistas maliciosos infiltrados em páginas anarquistas e que divulgam materiais de estudo sobre anarquismo com todas as distorções tradicionais dos marxismos sobre o campo libertário; e para os ditos ‘anarquistas’ que na verdade são do tipo ‘castanhola’ (negros por fora mas vermelhos por dentro):
    NENHUM AUTOR ANARQUISTA CLÁSSICO NUNCA CLASSIFICOU O ANARQUISMO COMO ‘ESQUERDA’!
    Esquerda e direita são denominações criadas na Revolução Francesa, para se referir aos dois lados da luta pelo poder do Estado – os dois lados das fileiras de assentos na Convenção -, e anarquismo é exatamente o oposto disto, pois é a luta PELA ABOLIÇÃO DO ESTADO, tanto que Proudhon, em um de seus famosos discursos, se posicionou claramente fora de qualquer destas faces da mesma moeda, se declarando um anarquista porque este era o termo utilizado pelos revolucionários franceses para se referirem àqueles – das classes mais populares – que segundo eles intentavam destruir o Estado.
    E esse papo de dizer que este posicionamento é coisa de quem quer ser ‘isentão’, além de ser uma demonstração de uma tremenda ignorância com relação à história doS socialismoS – pois os socialismos podem ser divididos basicamente em um campo autoritário, que propõem na verdade um capitalismo de Estado; e outro libertário, que NÃO PROPÕE NENHUM ESTADO, mas uma espécie de ‘colcha de retalhos’ (uma federação) de comunidades autogeridas; sendo que o campo autoritário sim, é ‘esquerda’, enquanto o segundo – o campo libertário – está completamente fora desta luta pela reprodução do poder hierárquico -; e também (este papo de dizer que isto é posicionamento de ‘isentão’) é uma reprodução clara do discurso conservador com relação aos anarquismos e que diz que, pelo fato dos anarquistas rejeitarem as eleições e não se filiarem a partidos, são ‘despolitizados’..
    Como já disse o célebre anarco sindicalista francês, Maurice Joyeux: “o esquerdismo ainda vai acabar com (desvirtuar completamente) o anarquismo!”

  2. Vantiê Oliveira

    P.S: Onde está escrito ‘os dois lados das fileiras de assentos na Convenção’, leia-se, ‘os dois lados das fileiras de assentos na Assembleia Nacional’.

  3. haly

    Não existe ”o contrário” de dois lados. A esquerda não se define em PT.
    Vocês seguem a mesma definição ANCAP de esquerda, não sabem que anarquismo é socialismo libertário.
    Parece que nunca estudaram anarquismo de verdade.

  4. Vantiê Oliveira

    As definições de direita e esquerda sugiram na revolução francesa e faziam referência aos lados das fileiras de assentos em que se sentavam os jacobinos e os girondinos na Assembleia Nacional, ou seja, fazem referência à disputa política pelo Estado!
    Não foi à toa que Proudhon, em um discurso, afirmou ser um anarquista, exatamente porque esse era o termo pejorativo utilizado tanto por Jacobinos quanto por Girondinos, para se referirem àqueles que, segundo eles, queriam destruir o Estado.
    O termo ‘socialismo’ é polissêmico – ou seja, suporta diversas concepções diferentes – e a ideia de ‘socialização da produção’ na tradição anarquista está para muito além da ideia de ‘socialização’ defendida por TODOS os outros ditos ‘socialistas’, pois, enquanto para estes ‘socializar’ significa colocar sob a égide do Estado, para os anarquistas socializar significa ‘comunitarizar’, ou seja, algo que não se restringe à ideia grosseira de nivelar tudo e todos pela medida do Estado Moderno e que resgata, inclusive, práticas de sociedades tradicionais, anteriores ao próprio evento da dita ‘Idade Moderna’ europeia, onde surgiram essas concepções de ‘direita e esquerda’ – conforme teoriza Kropotkin.
    Então, se fizermos uma abordagem lógica desta questão, aplicando aí o princípio da não contradição – o qual afirma que uma coisa não pode ser ela mesma e o seu contrario ao mesmo tempo -, só poderemos concluir que anarquismo não é esquerda, pois, se o conceito de esquerda incluir ao mesmo tempo tanto as propostas de nivelamento da vida social pelo Estado quanto as de pluralização desta mesma vida social através de uma ‘colcha de retalhos – federação – de comunidades autogeridas’; ao mesmo tempo em que o conceito de esquerda incluiria tanto visões políticas perpetuadoras do eurocentrismo das instituições ditas ‘modernas’, quanto visões políticas que comportam críticas capitais a instituições basilares desta mesma forma ‘civilizacional’, então, tal conceito, na melhor das hipóteses, não tem nenhum valor eurístico – ou seja, que permita uma compreensão clara do objeto a que se propõe definir – ou, na pior das hipóteses, trata-se nada mais, nada menos, do que um grande sofisma construído para mistificar os incautos (como pode confirmar a origem histórica da manipulação desta discussão por parte dos marxistas, de modo a forçar uma artificial incorporação dos anarquismos no campo conceitual da esquerda, com a sua falaciosa e pérfida proposição de uma ‘esquerda unida’).

  5. Vantiê Oliveira

    “Os homens que vemos atualmente ainda carregar a bandeira dos partidos, solicitar e galvanizar o poder, cabo de direita e esquerda da Revolução, não estão vivos: eles estão mortos. Nem eles governam, nem fazem oposição ao governo: eles celebram, com uma dança de gestos, seu próprio funeral.”

    Pierre-Joseph Proudhon, in, Confissões de um Revolucionário

  6. Joel Peralez

    Can you give us a practical analysis of what kind of radical action the workers are engaging in? Or are they just primarily striking and demanding typical progressive reforms? Give us an analysis.

    1. fernando

      Joel, here is very strong power of the state syndicate. But workers in general do not trust these organizations. These current strikes occur amid the general alienation of the class. The only proposal put forward is to negotiate the reforms for something less.

    2. R. B. Westphalen

      The strike was a huge one compared to the last 20 years or so. The bus syndicates stopped all over the country, the state’s metro stations did too. The protests weren’t that big, but the actual economic damage was. Workers are fighting against a series of propositions that are being approved in a never-seen-before speed, which is part of this non-elected government project that intend to destroy the public machine.
      The main projects in process of approval are: The Work Reform and The Social Welfare Reform. But now there’s a Rural Work Reform also.

      The Work Reform says basically that whats agreed between the worker and the employer has priority over whats in the CLT (which is the worker’s rights, here)
      Besides being completely unfair, since the worker will have no voice against the employer – because the syndicate wont interfere -, the worker might have his 13th salary taken away, and vacations split in 3 small periods, also these reform takes away the obligatory tax pay for the class syndicate – that actually made the syndicates pissed off.
      Since many workers here are frustrated bourgeois wannabes, they will not pay the syndicates the very irrelevant tax of 1 day of work in a year and they don’t really care for politics, unfortunately – so many think, as media says, that the possibility of a 12 daily work hours are a “modernization of the CLT”.
      The Social Welfare Reform, on the other hand, media is supporting the government affirmation that there is a big crash in the States reserve for retirement payments – when economists all over the universities (except the ones in television) affirm that the states numbers are wrong for they are not considering a few taxes in the math formula they are using to express the annual debt. These missing taxes makes the retirement funds actually have an annual surplus, so, it’s working great, please don’t touch it hehe.
      Although, the government lie is actually well taken, and many think they should change the actual social welfare – the new welfare they proposed is absurd, that is: 49 years of INSS contribution and at least 65 years for both men and women. In some states we don’t even consider to have workers in a formal work in the rural areas and also these states have a lower life expectancy than the minimal age for retirement!
      Of course this was just a heavy hit for to scare the public. Soon they “agreed” to diminish these numbers to 40 years of contribution and 62 years for women and 65 for men to retire.
      Which, well, is still an absurd since there’s no debt at all.
      These government is rushing to approve these things before the election, and no one doubts that there might happen dirty moves to delay 2018’s election.
      These Reforms are only there for to benefit the highest class of entrepreneurs and companies, obviously.

      Now the biggest pain:
      The Rural Work Reform is going to allow – besides many other absurdities – to pay the rural worker with something else besides money, like… well, a house and food. Does that sound like slavery to you?

      The modernization of the worker’s right is a time travel back more than 100 years. At the same time, there’s the biggest corruption scandal going on, with a gigantic net of national and international companies and politicians involved. (Oh, the biggest scandal, not the biggest network of corruption we ever had. This land is being robbed since 1500, lest we forget it.)