Sobre a ‘paralisação’ da última sexta-feira, dia 28 de abril

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Terminado o ‘dia de catarse’ – qualquer semelhança com o ritual dos ‘dois minutos de ódio’, do livro ‘1984’ [de George Orwell], não será mera coincidência -, que foi esta paralisação de final de semana prolongado em feriadão e apelidada de ‘greve geral’, agora os burocratas dirigentes das centrais sindicais vão correndo receberem suas gratificações pelo espetáculo realizado, enquanto os trabalhadores serão deixados à dispersão pela ‘festa do dia do trabalho’, na segunda-feira.

Para quem, levado pela manipulação das centrais sindicais, acredita que isto é uma ‘greve geral’, sugiro a leitura sobre a primeira greve geral do Brasil, ocorrida no ano de 1917, em São Paulo, e organizada pelos primeiros movimentos sindicais da história do Brasil, os sindicatos revolucionários anarquistas.

Para início de conversa, a greve geral de 1917, compreendida como um processo que se iniciou como uma série de greves localizadas e se generalizou posteriormente, a partir do agravamento dos eventos repressores perpetrados pelas forças da ‘ordem’, compreendeu um período de tempo –inicialmente indeterminado– que se arrastou durante meses, até que as autoridades e os patrões cederam, e não um período de apenas vinte e quatro horas, com hora certa para acabar.

As autoridades agiram de forma arbitrária contra os grevistas (atacando seus direitos de associação e expressão e submetendo-os a uma repressão violenta) e fizeram uma campanha publicitária mentirosa, argumentando que eram os anarquistas que estavam incitando à violência – como costumam fazer até hoje, para variar -, mas mesmo assim os anarquistas não abriram mão da sua autodefesa e nem fizeram o jogo das autoridades de recuarem até uma postura de ‘grevistas bem comportados’.

Já quanto à presença de elementos ‘socialistas’ na coordenaçãoo grevista do Comitê de Defesa Proletária, é preciso lembrar que estes eram minoria ínfima naquele momento e que, logo depois disto, quando o sindicalismo anarquista foi esmagado pelas autoridades do Brasil e o Partido Comunista foi criado, levando à hegemonia ‘socialista’/marxista no meio operário, uma das primeiras medidas que os marxistas tomaram foi organizar uma reunião com os líderes anarcossindicalistas ainda remanescentes e atentarem contra suas vidas dentro do próprio local da reuni&ati lde;o.

Diferentemente do que alegam alguns autores sobre o tema, os anarcossindicalistas não buscavam apenas uma sociedade ‘mais justa e mais igual’, eles não eram meros reformistas (pois, afinal, esse é o discurso – da busca pela improvável ‘humanização’ do sistema capitalista – dos partidos reformistas de esquerda), pois os anarcossindicalistas eram de fato revolucionários e, a comissão de jornalistas que mediou as discussões ao final do processo se fez necessária devido aos atos de intransigência contra os grevistas, que foram deflagrados pelas próprias autoridades e pela maioria do patronato.

Não foi à toa que os grupos dominantes, após terem desarticulado o sindicalismo anarquista pelo emprego da violência mais atroz (inclusive com a criação de campos de concentração para onde enviaram os líderes anarcossindicalistas), colocaram em seu lugar este sindicalismo completamente submetido ao ‘disciplinamento’ jurídico e ‘amansado’ pelas benesses concedidas aos agora aristocratas dirigentes das burocracias sindicais licenciadas do trabalho especialmente para fazerem ‘política sindical’ e recebendo salários especiais para isto (garantidos pelos impo stos sindicais e chegando a valores que ultrapassam em até dez vezes mais os salários que ganhavam enquanto trabalhadores no exercício da sua profissão).

Mas o sindicalismo anarquista não ‘morreu’, conforme quer e afirma o status quo (inclusive em seus materiais oficiais de ensino de história): ele está sendo reconstruído por vários grupos espalhados pelo Brasil e o mundo (no Brasil, destaca-se o trabalho de reconstrução da Confederação Operária Brasileira – a COB), e este antigo ‘fantasma’ que assombra os grupos dominantes poderá se tornar novamente uma verdadeira ameaça real ao sistema.

Porém, para isto, é preciso antes fazer ao sindicalismo amarelo pelego aquilo mesmo que ele se prestou a fazer contra o sindicalismo anarquista – na verdadeira campanha de guerra que foi empreendida para assegurar o triunfo do capital na luta entre dominantes/exploradores e dominados/explorados -: ajudar a enterrá-lo!

Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira

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