[Chile] Relato do 1º de Maio em Santiago

E chegou o dia, saímos à rua como Bloco Ácrata na terça-feira, 1º de Maio, às 10 horas. Pouco a pouco começou a chegar gente na esquina da Alameda com Brasil, chegou a faixa e se foi lentamente formando este bloco que foi convocado pela “Red de Solidaridad Antiautoritaria (RSA)”, mas que em sua organização contou com diversas/os companheiras/os afins que se aproximaram com a motivação de formá-lo em conjunto e trabalhar ombro a ombro tornando real a solidariedade e o apoio mútuo que rompe com o sectarismo que arruína tantas jornadas. Aí estava o SOV (Sindicato de Ofícios Vários), as/os compas antiespecistas, várias individualidades, grupos autônomos, coletivos autogestionados, as/os compas do “Escuadrón Especial de Propaganda Ácrata” com suas máscaras “anbu” e nós, a RSA, entre outros.

O ambiente era ameno, se respirava o companheirismo, nos saudávamos entre caras conhecidas que coincidimos em várias atividades, como também as caras menos familiares, lhes sorríamos com a cumplicidade silenciosa de quem diz “agradecidas por vir”.

O Bloco foi avançando, com faixas erguidas, gritos reivindicativos e a indispensável entonação de “A las Barricadas” enquanto começavam as primeiras escaramuças com a polícia por parte dos que vinham mais atrás na coluna. Corriam os panfletos sobre a reivindicação dos Mártires de Chicago, sobre a necessidade do fim do trabalho assalariado, sobre a solidariedade contra a patronal e também os que falavam da autogestão, de não esquecer companheiras/os migrantes nem às companheiras invisibilizadas no trabalho doméstico. A marcha não durou demasiado, foi mais longa a espera que a marcha em si, pois aconteceu o de sempre: Carabineiros [polícia] atacando o que se movia, chuva do carro lança água com seus químicos e também a densa nuvem que deixavam os gases lacrimogênios.

Daí não restou mais que guardar as faixas, verificar que as/os companheiras/os estivessem bem e tentar que a polícia não continuasse com sua habitual violência desmedida. Mas, bom, se antes o governo de “esquerda” nos reprimia fortemente, não se podia esperar menos da volta deste governo de direita.

Para terminar – após conseguir sair do cerco policial estendido sobre o centro da capital -, uma jornada na Casa do Comunismo Libertário, organizada pelo Sindicato de Ofícios Vários, na qual se mostraram registros do velório pela morte de Joane Florvil (mulher haitiana morta por obra do Estado, da polícia e do racismo) que nos comoveu profundamente, também fazendo um mea-culpa sobre a escassa presença do anarquismo nas diversas questões urgentes presentes. Para finalizar com uma posterior conversa com luzes de esperança de que realmente o setor ácrata com um pouco mais de compromisso possa alcançar soluções, só falta fazer do discurso uma ação. O anarquismo novamente sai à rua, mas desta vez com um sabor geral de que não podemos ficar só nisso, que é hora de começar a construir em conjunto. Se foi o 1º de Maio mas a miséria persiste, enquanto Santiago do Chile volta a funcionar como se nada houvesse acontecido depois de um fim de semana longo.

Fonte: https://redsolidaridadantiautoritaria.wordpress.com/2018/05/04/1o-de-mayo-en-santiago/

Tradução > Sol de Abril

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