Para anarquistas e anarcopunks que aderiram ao “voto útil”

por Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira | 21/10/2018

O primeiro passo necessário para construir qualquer coisa nova, é deslegitimar o velho: se vocês temem ditaduras “clássicas”, deveriam temer também esses candidatos supostos opositores do Bosta N’água, pois todos os que têm alguma chance nas urnas, defendem ditaduras apelidadas de “populares”.

Mas, mais do que isto: se vocês temem ditaduras, deveriam saber que, atualmente, os grupos mais espertos entre os “donos do mundo” estão desenvolvendo outra estratégia mais sofisticada de controle social, que é o que eu chamo de “democradura” (adoção de políticas de exceção no seio de Estados com ordenamentos jurídicos ditos “democráticos”, do tipo: militarização permanente das ruas, controle dos movimentos sociais por legislações “antiterrorista”, controle dos movimentos dos cidadãos na internet por legislações pretensamente de “proteção” aos usuários etc. – todas, medidas adotadas pelos governos ditos “progressistas” do PT, por exemplo), pois eles já aprenderam que, tanto para que o mercado funcione melhor, quanto para que os grupos ditos “progressistas” fiquem mais acomodados, é melhor que haja a flexibilidade institucional dos assim chamados “governos democráticos”, aliada à ilusão da “liberdade política pelo exercício do voto”.

O problema de muitos anarquistas hoje, é que não conseguem mais fazer “leituras políticas” sem a contaminação das interpretações de mundo da esquerda eleitoreira.

Que história é essa de chamar de “inércia” o estímulo à abstenção eleitoral?!

Mesmo que vocês nunca tivessem lido nenhum anarquista, até o genocida do Lênin tem uma frase que aponta o preconceito desse seu pensamento contra essa estratégia de luta ácrata, quando diz que “a palavra também é um ato”.

E quanto ao critério falacioso do “menos ruim”, o que leva os governos (quaisquer que sejam) a cometer ecogenocídios em nome do “desenvolvimento” – como fizeram os governos do PT com a construção da hidroelétrica de Belo Monte no Xingu, por exemplo -, não se trata de uma mera questão de “diferenças programáticas” entre as candidaturas e os partidos políticos, mas sim, de uma compulsoriedade intrínseca ao próprio modo de funcionamento da máquina produtivista/consumista do sistema globalizado.

O problema de vocês, adeptos do “voto útil” (como da esquerda eleitoreira em geral), é que ainda analisam as dinâmicas e estratégias do sistema usando lentes da época do capitalismo dividido em mercados nacionais, enquanto os “donos do mundo”, como excelentes enxadristas que são, já pensam num possível capitalismo pós humano.

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Calma de primavera –
O monge da montanha
Espia através da cerca.

Issa