Pesquisadores dessa filosofia política alertam sobre o perigo de se fazer uma leitura anacrônica das práticas de um século atrás.
por Nicolás G. Recoaro | 18/11/2018
“‘Nem Deus, nem patrão nem Estado’. Este slogan colocava em causa a ordem instituída pelo poder. Assim tem sido historicamente perseguido o anarquismo”, explica Mabel Bellucci. A ativista e ensaísta queer reflete sobre o passado, mas, ao mesmo tempo, lança luz sobre um presente sombrio.
Foi uma semana negra para o anarquismo local. Dois eventos – o ataque à bomba que falhou no mausoléu do repressor coronel Ramón Falcón na Recoleta e um episódio semelhante na casa do juiz Bonadio -, três arrombamentos, uma dúzia de detidos e uma palavra, “anarquia”, que estourou como o maior mal da segurança nacional nos verborrágicos discursos oficiais e na cobertura sensacionalista da mídia.
O anarquismo se tornou nesse novo inimigo público que se encaixa como uma luva na mão dura que impulsiona o Cambiemos [partido argentino]. Violentos, bárbaros, antissistema, terroristas. “Todos os anarquistas”, disse a ministra Bullrich ante os microfones. Mas, o que é ser um anarquista no século XXI?
Em seu livro Cabezas de Tormenta (2004), o sociólogo Christian Ferrer explica que a palavra “‘anarquista’ agora parece menos terrível do que estranha, como um animal que não tenha sido avistado em décadas, e em outras vezes fora caçado em abundância e sujeito a contínuas batidas policiais”.
O escritor e jornalista Osvaldo Baigorria explica ao jornal Tiempo que “na história existiram muitas maneiras de ser um anarquista. Pacifistas, expropriadores, partidários da propaganda por ação direta e defensores da não-violência, individualistas que só querem viver livres da sujeição de toda organização social, cooperativas e comunitaristas que defendem a pequena propriedade artesanal e agrária em forma associativa, ambientalistas que procuram leis de proteção ao meio ambiente, ativistas que defendem as liberdades civis e acreditam em um liberalização progressiva do poder político. O espectro é amplo. Em algum momento, até que Borges se definiu como um anarquista”.
Bellucci resgata uma outra ideia de Ferrer: “Ele diz que em cada canto do mundo, não importa quão pequeno, você sempre vai encontrar um anarquista. Foram poucos, para a revolução cultural, política e das ideias que produziram Por exemplo, os anarquistas do início do século XX anteciparam o grande slogan dos feminismos dos anos 60, ‘o pessoal é político’, questionando o mundo do privado, dos afetos e da sexualidade”.
“A figura do anarquista do século XIX e início do século XX ‘lança-bombas’ é claramente um anacronismo. E perigoso. Se o que se quer é lutar contra o Estado, acaba-se favorecendo e reforçando o aumento da repressão e do controle do Estado”, explica Baigorria. “As correntes que seguem a tradição anarquista da abolição ou a destruição do Estado hoje foram completamente ultrapassadas ao manter uma ideia de como era o Estado no século XIX, quando hoje vemos que o Estado é ou poderia e deveria ser o garantia da educação, saúde pública e um bem-estar social ameaçado em todo o mundo por um poder financeiro e corporativo internacional. Ou seja, há algo mais poderoso do que o antigo Estado monárquico e absolutista do passado”.
Às vésperas do G20 portenho e observando as experiências em outros países onde se realizou o chamado Black Bloc à margem das marchas, Baigorria acredita que alguns destes grupos são facilmente infiltráveis e manipuláveis para executar atos violentos que justifiquem a repressão, o controle e o aumento do medo nas populações. “Ao jogar coquetéis molotov, pedras ou sair para quebrar tudo nas manifestações – e não somente são os anarquistas aqueles que fazem isso -, acabam provocando a reação da polícia que dissolve as concentrações, aumenta o medo de participar e destrói qualquer possibilidade de protesto pacífico”.
Pedagogia libertária e educação popular
Depois de um primeiro ataque em uma mansão em San Cristobal, esquadrões especiais da polícia invadiram o Ateneo Anarquista de Constitución, na Rua Brasil 1551. Se foram com as mãos vazias. Eles não pegaram um único livro da generosa biblioteca. Muito menos do arquivo de publicações libertárias mais importantes do país. Esse mesmo local sediou a histórica Federação Libertária Argentina (FLA). Em 2011, a FLA teve que se mudar para outro local pela força. Divide espaço com a Escola Livre de Constitución, um bacharelado de educação popular autogerido em que alunos e professores discutem o programa em conjunto. O “Bachi” recupera os princípios da pedagogia libertária. Tem 25 alunos e cerca de 20 professores. Não recebe subsídio: o empreendimento se autofinancia e os professores optam por não ganhar um salário.
Fonte: https://www.tiempoar.com.ar/nota/anarquismo-un-viejo-chivo-expiatorio-para-justificar-la-mano-dura?
Tradução > Liberto
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mas vejo que me enganei.
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tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
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