A ascensão da extrema direita não é casual, nem deveria nos surpreender. É onde nos leva o Estado burguês. São as bestas que o regime capitalista põe para passear quando o Sistema cambaleia, para poder estar em ambos os lados do baralho. Por um lado, para que as [pessoas] cansadas, as queimadas, apoiem uma opção “radical”, sem que isto suponha um perigo para os interesses dos poderosos, mas muito pelo contrário, e por outro lado, jogar o clássico “cuidado que lá vem o lobo” e “se estavas cansado deste regime, não é o momento de derrubá-lo ou sair fora, mas de abraçá-lo, porque olha o que vem por aí, é ainda pior”.
Também é o resultado do bom trabalho dos meios de comunicação fazendo uma campanha massiva a um partido que antes das eleições era um partido minoritário e praticamente inexistente, agora, depois de tê-los na mídia manhã, tarde e noite, sem uma justificativa lógica além de querer erguê-los, assim como o conseguiram, se colocam com 12 assentos [deputados] na Andaluzia, uma das principais regiões onde mais se ataca o capitalismo, e de repente se põem a votar em seus próprios verdugos. Estranho, não? O povo vota e opina, o que o regime lhe diz. O boom do Podemos [partido de esquerda] foi obra dos meios de comunicação, para controlar uma situação social que transbordava para um caminho que não interessava aos poderosos (mas sim ao povo). O boom do Vox [partido de extrema direita] ninguém pode negar que, entre outras coisas, é obra dos meios de comunicação.
Não podemos esquecer a responsabilidade desta esquerda que está já alguns anos dando lições teóricas de tudo, com uma suposta supremacia moral que joga para trás, mas na prática, o único que fez foi dobrar-se, ajoelhar-se para a socialdemocracia, aos corruptos e ser a mula de medidas e leis opressivas contra, valha a redundância, os oprimidos, e a favor dos opressores. Na teoria digo uma coisa (e as vezes não chego nem a isso), e na prática faço outra. Mas pelo caminho vou jogando migalhas ao povo, não vão se perder de seus elevados salvadores intelectualoides.
E claro, um povo cansado da corrupção, da repressão, do abandono, de medidas antissociais, de mentiras, de traições, onde os que dizem estar com o povo na hora da verdade só servem de muleta para salvar um regime em decadência, e onde os poderosos e opressores com seus meios [mídia] vendem que a alternativa é o fascismo, e o vendem a uma sociedade que tampouco é casualidade que esteja absolutamente desmotivada e queimada, pois dá estes resultados.
Este é o resultado lógico e esperado da folha de rota marcada pelo regime capitalista, e de todos os seus cúmplices, da desmobilização social em muitos setores (não em todos, cuidado), de uma direita cada vez mais à direita, e defendendo seus interesses que é o que lhe cabe fazer ao fim e ao cabo, e de umas formações progressistas, socialdemocratas, de “esquerdas”, ou como queiramos chamá-los, defendendo os interesses do regime capitalista e portanto, contra as oprimidas, enquanto na teoria seguem enganando, mentindo, traindo, para logo na prática fazer o que fazem, e isso sim, zero autocrítica, “isto é culpa dos que não votam, ou dos que votam em outras opções que não somos nós”. Não senhoras e senhores. Isto é o resultado do apoio a um sistema que já sabemos onde nos leva, dos que o apoiam, dos que o mantém, de seus cúmplices, e dos que seguem enganando o povo, com tal de levar um pedacinho de bolo. Se votas ou apoias o capitalismo, não te surpreenda que os resultados venham do capitalismo.
Ouvir Pablo Iglesias [líder do Podemos] falar de uma frente antifascista soa ofensivo para a inteligência. Porque ele sabe muito bem que o fascismo é uma ferramenta do capitalismo, e portanto, sem combater o capitalismo (de verdade), não se pode combater o fascismo. A luta antifascista é inseparável da luta anticapitalista, e desde que seu partido apareceu, em suas práticas, não combateu o capitalismo precisamente. Este que começa a dar seus filhos. E que agora chamam aos antifascistas a unir-nos a suas histórias, sob seu guarda-chuva, se considera, como não. Mais que jogar bolas fora, culpar a outros, e falar de irreais frentes antifascistas, responsabilidades senhor Iglesias. Frente antifascista sim, claro. Mas só é possível se for anticapitalista. E o que esta gente demanda é precisamente um bloco capitalista, não antifascista. A frente antifascista se busca na rua, com as pessoas. Buscá-la em um parlamento burguês é querer insultar a inteligência do povo.
Obviamente os resultados das eleições andaluzas não se podem interpretar fora do contexto do crescimento do fascismo a nível internacional. Que não é outro que o contexto histórico, o de sempre: Os poderosos tirando o fascismo para salvar seus interesses, enquanto aqueles que dizem representar o povo a única coisa que fazem é vendê-lo e traí-lo, com os consequentes resultados. Nada novo sob o sol, desgraçadamente. Mas a lição da história deveria ensinar-nos a não tropeçar sempre na mesma pedra, que já está bem.
Agora acontece que nos pedem que abracemos o regime capitalista para salvar-nos do fascismo. Curiosamente o mesmo regime que engendrou o fascismo. Tanto faz. Agora cabe aos cúmplices do regime pedir que abandonemos nossas lutas, que rebaixemos ou demos as costas a nossas ideias e reivindicações, para abraçar o mesmo regime que nos condena. E se possível, encabeçados por eles, claro. Mas que previsíveis que são. Algum dia, o povo, as oprimidas, cansadas de seus cantos de sereia, de suas falsidades e traições, de um capitalismo que só traz mais fascismo, e de um fascismo que só traz mais capitalismo, mais poder aos poderosos e mais miséria para as de baixo, para as oprimidas, desperte, se dê conta de sua potência, e que só em nossas mãos está dar as costas a todos estes oportunistas, jogá-los no poço do esquecimento, e tomar as rédeas de nossas vidas e nosso futuro. Pouco a pouco. Passo a passo. Mas de maneira incessante. E é possível que esse dia esteja chegando.
Só o povo salvará o povo. Construamos o futuro entre todas.
Birria
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!