[França] Não votamos, lutamos!

Na sexta 17 de maio, Emmanuel Macron, presidente da Repu-blica falou mais uma vez de nós. Como sempre, fala para nos calar.

Mas, desde 6 meses, existimos.

Saímos dos bosques, saímos da resignação.

Faz seis meses que o presidente quisesse que voltemos para nossas casas, que nos acalmássemos, que nos ponhamos em fila.

Mas, apesar das nossas divergências, apesar de nossa heterogeneidade (ou talvez graças a ela em certa medida?) ainda estamos aqui.

Declara ter “aportado as repostas às francesas e aos franceses no que tinha encaminhado esse movimento”.

Duas possibilidades, uma só resposta:

A – Macron é um idiota

B – Macron nos confundem com idiotas

Resposta B, obviamente. Macron não é estupido, é simplesmente ávido de poder e como qualquer chefe, como qualquer burguês, busca antes de tudo a proteção dos seus privilégios, os da classe poderosa. Porém, nossa principal reivindicação é clara desde o início: MACRON DEMISSÃO.

Macron diz ainda que para “as e os que seguem hoje [a se manifestar], não há saída política”. Chama ao “calmo”, incita a cada um/a a “reencontrar o curso da sua vida” e a “expressar suas divergências de opinião (…) nos tempos previstos pela democracia, os do voto”. Se não há “saídas políticas”, para que iríamos a votar? Hmmm?

O dizemos desde o início do movimento: não queremos mudança de políticos, não queremos trocar Macron por Le Pen (extrema direita) ou Mélenchon (extrema esquerda) ou por qualquer outro. Queremos outra coisa. Não precisamos de chefe, de liderança, não queremos representante, um boneco oportunista para fundar um novo partido. O dizemos desde o início: nosso movimento se encontra fora da política institucional, fora dos partidos, dos sindicatos, não queremos nos tornar “parceiros sociais” do poder que somente servem a confortar a imagem democrática do sistema e preservar a ordem estabelecida.

As listas etiquetadas “Coletes Amarelos” para as eleições de representantes no parlamento europeu são pura recuperação política. São tentativas de nos fazer entrar na fila, como os pressuposto/as representantes dos Coletes Amarelos que anunciam as manifestações na prefeitura. Tudo isso aponta a um retorno à normalidade passando por outro meio que o método policial: o que se busca é manter a ordem mudando simplesmente algumas cabeças.

Mas não queremos algumas migalhas soltadas com relutância pelo poder político, nós queremos uma revolução social. Uma mudança profunda que nos desborda tanto quanto Macron (ele gostaria que nos contentássemos de dialogar com seus ajudantes, que criássemos listas eleitorais, que perpetuássemos o sistema contra o qual lutamos…).

Explorado-as e dominado-as aqui e ao outro lado do mundo pelos mesmos político-as, os mesmos capitalistas, nossas perspectivas da mudança social não são “simples” porque há que dar volta a tudo, aqui como em outros lugares. Nossas soluções não entram nas caixas legais do sistema e entendemos muito bem que se o poder nos coloca entraves em cada iniciativa autônoma, em cada momento que sai do controle. Mas, não soltaremos o assunto: assembleias, ocupações de rotatórias, construção de cabanas, manifestações, ações de todo tipo, vivemos doravante através da luta contra esse sistema baseado sobre as desigualdades sociais, mas, vivemos também o apoio mútuo, a auto-organização, a experimentação social.

Somos o presente e o futuro.

No dia 26 de maio, não iremos a votar.

Temos coisas muito melhores que fazer.

Maio de 2019, Paris.

Coletivo Coletes Amarelos Rungis Île-de-France

Tradução > Enkapuzado Edições

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agência de notícias anarquistas-ana

No campo queimado
ainda uma leve fumaça
Tronco resistindo

Eunice Arruda