“Neste Congresso em Montevideo estiveram juntos militantes e acadêmicos”

Centenas de pessoas, vindas de diversos países, participaram do “2° Congresso Internacional de Investigadorxs sobre Anarquismo(s)”, que aconteceu em Montevideo, na Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación de la Republica Uruguay, no período de 11 a 13 julho de 2019. A ANA realizou uma micro-entrevista com um dos participantes, o anarquista Taiguara Lima. Confira a seguir.

Agência de Notícias Anarquistas > E aí, no geral, valeu participar do “2° Congresso Internacional de Investigadorxs sobre Anarquismo(s)”?

Taiguara Lima < Não estive no 1° Congresso Internacional de Investigadorxs sobre Anarquismo(s) então não estabeleço comparações e considero apenas o 2º Congresso.

A organização do evento foi excelente. A recepção profissional dos anfitriões nada deixou a desejar. A Facultad de Humanidades e Ciencias de la Educación da Universidade de la Republica Uruguay, onde ocorreu o evento, acolheu este grande evento com charme e disposição contando com uma equipe determinada e disponível para realização e bom andamento de todo o evento. Pessoalmente recebi um tratamento gentil, seja para questões técnicas ou pessoais.

Destaco: acolhimento dos trabalhos teatral, cinematográficos e musical na sua programação com o valor que estes merecem. Tão importante e necessário destacar é igualmente a decisão de recepção das investigações acadêmicas e autodidatas (não acadêmicas), que estiveram lado a lado reafirmando a anarquia, a educação anarquista e a pedagogia libertária no que tem de melhor: a livre produção e expressão do conhecimento nas suas diversas formas. Aspecto extra Congresso foi a boa recepção do povo uruguayo a nós brasileiros.

ANA > A participação do público foi grande?

Taiguara < O Congresso contou com 28 mesas, 16 apresentações/lançamentos de livros, 2 cursos, teatro, exibição de filmes, roda de debates… Imagino que estiveram inscritos e participando diretamente, com algum tipo de trabalho nas linhas citadas acima, algo mais que 100 pessoas. As ausências foram irrisórias e pouco sentidas.

Penso que o encontro deve ter contado com pelo menos 500 pessoas entre apresentadores e participantes como ouvintes/espectadores ao longo dos 3 dias do evento.

O público foi bastante variado, jovens e adultos na sua maioria. Entretanto, referências mais antigas do movimento anarquista e acadêmicos do anarquismo foram sentidas. Não tenho como precisar a composição do público.

ANA > Muitos brasileiros e brasileiras estiveram presentes no Congresso?

Taiguara < Sim, haviam muitos. Esta “delegação”, depois do próprio Uruguay, era a mais numerosa. Ao que parece todos estiveram com apresentações, cursos, lançamentos de livros.

Neste caso brasileiro, todos eram estudantes ou trabalhadores na educação. Contudo, vários investigadores autodidatas e acadêmicos da América Latina e Europa participaram: México, Chile, Argentina, Itália, França, Espanha.

ANA > E a sua participação, como foi?

Taiguara < Apresentei resultados preliminares de uma investigação sobre o papel dos anarquistas no período de fim da ditadura, transição e concretização da redemocratização no Brasil relacionado-o com o mesmo processo na Península Ibérica. Também me inscrevi como ouvinte e acompanhei muitas das apresentações, exibição de filme, e ainda teatro e música dentro do evento.

ANA > Em suas andanças, percebe um interesse crescente pelas ideias e práticas anarquistas?

Taiguara < Na universidade ou fora dela existe tanto interesse (minoritário) quanto repulsa (expressivo e originado sobretudo dos agrupamentos de esquerda, direita e extrema direita) e ainda desconhecimento (maioria) pelas ideias, pela cultura, pela prática anarquistas. Contudo, não creio que seja crescente nenhuma destas. Ocorre, talvez, que no momento em que alguns anarquistas estão em universidades, então conseguimos com nosso trabalho realizar eventos como este e outros como ocorridos no Brasil anualmente. Assim, se consegue alguma visibilidade. Outros momentos ocorreram com características semelhantes nos anos 80 e 90. Sempre realizados de forma individual e desarticulada. Como segue sendo.

Então agora existe novamente um momento positivo academicamente. Entretanto, há um distância entre a teoria e a prática, universidades e organizações anarquistas, que alimenta uma falsa dicotomia entre ambas. Estes dois ao meu ver são elementos distintos e potentes individualmente, mas carecem um do outro, ao mesmo tempo que se amplificam quando se somam com suas experiências, práticas e renovam seus planos. Não se trata de unificar e sim de dialogar e realizar projetos em comum quando possível. Muitas vezes inviabilizado pela intransigência em acolher ou pela sobreposição do interesse individual ao social…

ANA > Algum toque final? Valeu!

Taiguara < Neste Congresso em Montevideo estiveram juntos militantes e acadêmicos, as artes foram acolhidas com a dignidade da estatura de sua importância e contribuição para o anarquismo. Neste caso o 3º Congresso necessita apenas ampliar e diversificar esta participação artística.

Experiências, práticas, resultados preliminares de investigadores, anunciação de projetos em curso, publicação de livros por universitários e/ou coletivos, apresentação de revistas acadêmicas e de coletivos, de periódicos que oxigenam a vida e a cultura anarquista trazendo contrainformação contundente e libertária.

Ao meu ver, no próximo Congresso se deve manter aberta a participação de militantes e autodidatas que tenham algo a contribuir, seja pela experiência ou prática. Também penso ser necessário uma ou duas mesas, ou rodas de conversas sobre questões macro, ou gerais que proporcionem abordar assuntos urgentes do cotidiano.

Deixo felicitações e agradecimento aos organizadores do Congresso Internacional de Investigadorxs sobre Anarquismo(s).

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No olho das ruínas
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Alexei Bueno