[Equador] “A violência policial não respeitou sequer hospitais”

Quito, 10 de outubro de 2019.

 por Mengana Kolectiva

Na terça-feira, 1º de outubro, o governo de Lenín Moreno anunciou medidas econômicas e trabalhistas como parte dos ajustes estruturais que pede o Fundo Monetário Internacional (FMI). As novas medidas neoliberais afetarão as partes mais vulneráveis da população: pequenos produtores, camponeses, trabalhadores precários e a classe trabalhadora em geral.

Pessoas que em sua grande maioria vivem com menos de um salário mínimo ($394 por mês) em um contexto social já altamente precarizado e com uma prepotente privatização de serviços básicos como saúde e educação. Em particular, há duas medidas mais prejudiciais:

• As reformas trabalhistas, que representam um retrocesso de pelo menos 20 anos em termos de direitos e garantias, mas também em termos de poder aquisitivo e afetarão principalmente os trabalhadores já precários e os empregados públicos: os contratos ocasionais se renovarão, mas com um salário inferior a 20%, os trabalhadores das entidades públicas deverão contribuir mensalmente com um dia de trabalho e terão reduzidas suas férias pela metade: 15 dias ao ano, em comparação com os 30 reconhecidos até agora.

• O cancelamento do subsídio ao combustível, que está conduzindo a um aumento de 120% do preço do diesel, o que leva a um aumento de todos os produtos de primeira necessidade, como alimentos, transporte e medicamentos.

As manifestações contra as medidas tomadas começaram na quarta-feira, 2 de outubro e na quinta-feira, dia 3, se anunciou “Paro Nacional”, divulgado pelos meios de comunicação só como greve de transportes. Os meios oficiais de comunicação não estão cobrindo a informação da greve e, ao contrário, minimizam e distorcem os fatos. Em um primeiro momento, tentaram convencer a população que não estava acontecendo nada; em um segundo, comunicaram que a greve havia terminado com a suspensão da greve dos transportes na noite de sexta-feira, dia 4, depois que a direção sindical havia chegado a um acordo com o governo.

No entanto, a greve continuou com a mobilização nacional de populações indígenas e camponesas, estudantes, feministas, trabalhadores temporários e trabalhadores de transportes de base que se recusaram a suspender a greve. O protesto social abarcou diversos territórios nas cidades, Amazônia, Serra e Litoral.

Desde o primeiro dia de greve, Lenín Moreno declarou Estado de Exceção, permitindo a revogação da normal tutela de direitos dos manifestantes e um uso descontrolado da repressão policial. Isto implicou numa escalada de violência, tanto policial como do exército, e também uma militarização de zonas chaves para a greve nacional e para o transito da população indígena, em sua marcha até Quito e Guayaquil. Desde o primeiro momento, a polícia e o exército usaram munições reais, bombas lacrimogêneas e perdigões. Arremeteram contra os manifestantes ‒ incluídos crianças e anciãos ‒ com cavalos, motos e blindados.

No domingo 6 de outubro milhares de pessoas das comunidades indígenas entraram na cidade de Quito para marchar pacificamente até o Palácio do Governo e pedir a revogação do “pacotaço”, como se chama ao conjunto destas últimas medidas neoliberais.

A resposta do governo foi transladar sua sede para a cidade de Guayaquil e incrementar ainda mais o nível de violência, enquanto os meios oficiais de comunicação mistificavam os fatos, apresentando a marcha indígena como uma marcha de vândalos e saqueadores. A violência policial não respeitou sequer hospitais, centros de refúgios e universidades. No momento há centenas de detenções extrajudiciais, muitos desaparecidos, centenas de feridos em condições críticas e dezenas de mortos. Na confusão da luta, e entre a desinformação e o cerco midiático, ainda não se conhecem os números exatos.

Na terça-feira, dia 8 de outubro foi instaurado, também, um toque de recolher desde as horas 8 da manhã até as 5 da tarde, nos arredores de todo edifício público. Na quarta-feira, dia 9, puseram bloqueadores de sinal de telefone em internet no centro da cidade, para evitar a difusão de notícias e comunicações. Ademais, atacaram os refúgios e os centros de ajuda humanitária que se formaram como zona de paz. Médicos residentes do hospital Eugenio Espejo comunicaram hoje a tarde que faleceram por asfixia de gás lacrimogêneo duas criança e duas pessoas da terceira idade.

Vídeos gravados por manifestantes e/ou moradores, atestam a brutalidade da repressão e as comunidades indígenas pedem a ajuda da comunidade internacional contra os que são, sem sombra de dúvidas, crimes de lesa humanidade.

Tradução > Sol de Abril

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