A vida mudou para Luis Tipantuña, de 29 anos, um dos manifestantes que perdeu seu olho durante os protestos. Eram 19h30 da quinta-feira, 3 de outubro de 2019, quando foi impactado por uma bomba de gás lacrimogêneo na cara. Isso aconteceu na intersecção da avenida Pichincha e Montúfar, frente à Praça de San Blas, no Centro Histórico de Quito.
Ele assegura que foi o primeiro ferido com gravidade desde que começaram as manifestações contra a eliminação do subsídio aos combustíveis, imposta pelo governo. “Nesse momento já queríamos ir com uns amigos, mas uniformizados [policiais] dispararam a queima roupa. Tratamos de nos cobrir e aguentar a repressão”.
Tipantuña cursa o oitavo nível de advocacia e trabalhava em um táxi informal para financiar seus estudos. Devido às lesões, Tipantuña perdeu este semestre. “Agora necessito outro emprego para continuar com minha preparação acadêmica. Psicologicamente, minha família se encontra devastada, mas ao mal tempo é preciso mostrar uma boa cara e estou aqui com vida para seguir com minhas metas pessoais”.
Espera que os delegados da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que chegaram ao país atuem com transparência dentro do processo. “Tive que esperar por volta de 20 dias para que me fizessem o reconhecimento médico legal”, afirmou. Agora, o jovem sempre utiliza óculos para proteger seu olho direito e espera colocar uma prótese.
Decidiu unir-se ao coletivo Heridos Paro Nacional (Feridos da Greve Nacional) que oferece apoio a cerca de 50 vítimas que ficaram afetadas com diferentes lesões nos protestos. Nesse grupo se encontra Lorena S., a adolescente de 16 anos que perdeu seu olho esquerdo durante as mobilizações registradas na paróquia de Píntag.
O representante dessa agrupação, Julio Toroche, também perdeu seu olho. Ocorreu enquanto colaborava nas brigadas médicas no setor do parque El Arbolito. “Na CIDH nos disseram que as testemunhas são reais, as provas foram totalmente aceitas, tudo é real, não há nenhuma montagem”.
Por outro lado se coordena com uma trabalhadora social que monitora o que ocorre nos centros assistenciais porque há alguns feridos que continuam hospitalizados e se busca saber o que aconteceu com eles. “Há companheiros que receberam impactos de bombas na cabeça e sua situação é crítica. A um operaram a perna, outro perdeu seu olho. Vão saindo testemunhos aos poucos”, anotou o dirigente.
Segundo dados recolhidos pelo coletivo Heridos Paro Nacional, existem por volta de 50 pacientes que se encontram sob diagnóstico reservado. Toroche pediu às unidades médicas que entreguem toda a informação correspondente aos feridos e para assim dar seguimento aos casos de forma detalhada.
Outro afetado é Luis Ulcuango. Ele assegura que o feriram no domingo 13 de outubro em Píntag. Durante os protestos nesse setor, conta, um senhor caiu pelo efeito do gás lacrimogêneo que o afetaram e, ao tratar de ajudá-lo, Luis foi impactado com uma bomba de gás lacrimogêneo na perna esquerda. Após cuidado médico soube que lhe “quebraram a tíbia em dois pedaços”. E isso só lhe contam após passarem mais de duas semanas do impacto.
Miguel Loyo foi golpeado na cabeça. Colocaram-lhe placas de platina. Também o feriram no peito. “Não posso fazer força porque meu braço está dolorido”. Ambos se uniram ao coletivo para pedir justiça e que lhes reparem os danos físicos.
Diego Bravo
Tradução > Sol de Abril
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