[Chile] Santiago: 105º Dia de Revolta Social

Sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

“As balas que vocês dispararam vão ser devolvidas”!

Canta-se repetidamente, quase como um exercício de autoconvencimento…

Na quinta e na sexta-feira, os protestos não dão trégua ao Poder, o impacto do assassinato do “Neco” não se dissipa e várias manifestações terminam em confrontos entre esbirros e encapuzadxs. Nas últimas horas ocorreram cinco mortes.

Na quinta-feira, após uma expropriação coletiva a um supermercado aconteceu um incêndio, entre os escombros encontram um homem morto e dois com ferimentos graves.

Na comuna de La Granja, outra expropriação coletiva de um supermercado termina com dois esbirros feridos por balas, depois que um sujeito detido apreendeu uma arma de serviço e atirou neles. Enquanto em Quilicura atropelaram um policial que tentou impedir que desconhecidos levassem mercadorias de uma cadeia de supermercados.

No centro de Santiago, um resultado trágico foi a recuperação de medicamentos em uma farmácia por uma multidão, um guarda da farmácia esfaqueou e matou uma pessoa que escapava do local. Por proteger a propriedade de terceiros, ele será processado e corre o risco de pegar 15 anos de prisão.

Em vários pontos da capital ônibus da rede de locomoção coletiva são incendiados, em La Pintana são três, em Maipu dois e em Pudahuel mais dois. Na sexta-feira, e de acordo com dados oficiais, 60.000 pessoas se reúnem na Praça da Dignidade. É notável a adesão ao chamado de todas as bravas barras [torcidas], um grande número de manifestantes chega com camisas e bandeiras de seus times de coração. Fogos de artifício, faixas, tambores e cânticos de futebol assumem a zona zero. Horas antes, torcedores do Coquimbo invadem o campo com faixas, quebrando câmeras do canal de futebol e gritando contra os assassinatos da polícia durante a Revolta. O árbitro suspende a partida e teme-se o cancelamento da rodada diante das ameaças dos torcedores.

De volta ao Centro, e a uma quadra do monumento a Baquedano, os confrontos entre “A Primeira Linha” e os esbirros são muito violentos. No monumento aos carabineiros, os blocos de concreto do “famoso muro” aumentam e são usados ​​para pintar slogans anticapitalistas, as cercas são reutilizadas como escadas pelos manifestantes para observar sobre o muro de três metros.

Um grande número de bombas incendiárias são lançadas contra os milicos, a polícia está cercada nas proximidades de sua igreja institucional. Encapuzadxs tiram as barras do parque San Borja e enfrentam um bando de militares. O bairro de San Borja e sua arquitetura labiríntica tornaram-se cenário de práticas de guerrilha urbana. Já existem quatro focos de confrontos em torno da Praça da Dignidade.

O punk rock é ouvido em som alto, “Flema” soa nos alto-falantes e, semanas atrás, pouco a pouco os sinais do vomitivo nacionalismo vão desaparecendo, e as bandeiras chilenas são cada vez menos.

Começam a se multiplicar exemplos de coleta de alimentos, remédios, dinheiro e livros para os presos e presas da Revolta Social. Toda sexta-feira há um espaço no GAM para receber as colaborações organizadas pelo coletivo antifascista Antonio Ramón Ramón.

Grupos de solidários e solidárias de bairros distribuem alimentos gratuitamente, acrescentando opções veganas, já que muitas pessoas encapuzadas perguntaram se eles tinham comida sem exploração animal. Conversas interessantes são elaboradas entre diferentes gerações sobre o assunto.

Nas paredes, há pôsteres afixados com um desenho de um homem encapuzado em memória do Punk Mauri e um quiosque pintado com o rosto do Angry em estêncil.

Mas nem tudo é bonito: em uma luta estúpida entre manifestantes no bairro Lastarria, dois acabam esfaqueados.

Na cidade portuária de San Antonio manifestantes queimam a prefeitura, em Melipilla incendeiam um pedágio, em Punta Arenas pessoas desconhecidas atearam fogo a uma loja de telefones e em Viña del Mar uma multidão atacou e destruiu um restaurante exclusivo. Um ataque explosivo / incendiário contra uma delegacia em construção em Longen termina com dois detidos.

Um vídeo que mostra o espancamento de nove policiais contra um garoto de 17 anos em Puente Alto se torna viral nas redes sociais e o ódio contra a polícia está mais latente do que nunca.

A REVOLTA SOCIAL NÃO SAIU DE FÉRIAS!

QUE A PROPAGANDA ANÁRQUICA SEJA VISTA NAS RUAS!

Severino di Giovanni e Paulino Scarfó, esta também vai para vocês.

Natalia Tapia

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