[EUA] Em Solidariedade com Radicais Negros, a Raiva Indígena é Necessária: Contra a Falsa Solidariedade e os Policiais do Movimento

Por Bloco Anticolonial, Facção Kinłani

Kinłani ocupada – Ontem (01/06) à noite, mais de 400 pessoas convergiram para uma ação denominada “Todos contra a violência policial” em East Flagstaff. A manifestação foi convocada em resposta ao assassinato de George Floyd e à onda de revoltas que surgiram em Turtle Island. A ação foi coordenada pelas populações indígenas para mostrar solidariedade e conectar as questões de policiamento extremamente desproporcional que as comunidades BIPOC (“Black/Indigenous People of Colour”, Pessoas Negras/Indígenas Racializadas) enfrentam, a realidade de que os povos indígenas enfrentam a maior taxa de assassinatos per capita nas mãos da polícia e as invasões e deportações do ICE (“Immigrants and Customs Enforcement”, Serviço de Imigração e Controle Alfandegário) que continuam a aterrorizar e a separar as famílias.

A ação começou rapidamente com um número de apoio à prisão compartilhado à medida que ameaças e desinformação começaram a circular antes da ação pelos bastardos. Dezenas de veículos policiais e cerca de 50 da Guarda Nacional estavam estacionados nas proximidades. Alguns empresários locais foram avisados para estarem preparados para “saques” e “tumultos”. A isto dizemos que é ridículo pensar que temos intenções de saquear os nossos próprios vizinhos! Esta área e todo o continente foram e continuam a ser saqueados (desde Black Mesa à mina do Canyon, até Oak Flat e além) pelos colonizadores, enquanto os seus agentes da lei matam o nosso povo com impunidade. Organizadores e jovens indígenas lideraram a marcha através do “Sunnyside” empurrando um carrinho de compras cheio de água, máscaras extras, desinfetante para as mãos e outros materiais essenciais de apoio mútuo. A equipe carregava uma faixa com as palavras “Justiça nativa agora! Black Lives Matter! Sem Justiça Não Há Paz. Solidariedade.” Cantos ecoavam por todo o bairro dizendo “Saiam das vossas casas, para as ruas” e “Ruas de quem? As nossas ruas! Terra de quem? Terra Nativa!” assim como “Black Lives Matter!” e “No justice, no peace, fuck the police!” (“Sem justiça, não há paz, foda-se a polícia!”).

Os nossos vizinhos e vizinhas responderam com apoio juntando-se muitos e muitas delas à marcha.

As e os organizadores planejaram inicialmente ir até ao local onde Kyle Garcia foi assassinado por bastardos em 2006, mas por várias razões foi melhor não, pois ficou mais claro que muitos dos intrusos compareceram apenas para policiar a fúria das BIPOC. Carregando sinais de “silêncio branco é igual a violência”, uma multidão branca impediu agressivamente que um indígena colocasse sinais de trânsito na rua para diminuir o trânsito atrás deles (uma tática necessária para evitar situações tipo a de Charlottesville).

Outros “aliados” brancos denunciaram as proclamações de “foda-se a polícia”. Estes autonomeados policiais do movimento trabalharam para suprimir a raiva indígena como verdadeiros colonizadores mantendo a supremacia branca.

A marcha chegou à interseção da Fourth Street com a Seventh Avenue, com a maioria das pessoas “ajoelhando-se” lá num gesto performativo que foi começado noutras comunidades devido ao bastardo que matou George Floyd ajoelhado-se sobre o seu pescoço. O grupo seguiu em direção à subestação policial e parou lá para se reunir.

Foi aqui que a solidariedade atingiu o seu fim.

Enquanto um agitador indígena queer de dois espíritos falava sobre a sua raiva e do poder deste momento, um homem negro gritou sobre eles para demonstrar a sua lealdade performativa ao “amor” à polícia. Este indivíduo de dois espíritos estava para nomear a violência que ocorre nas mãos manchadas de sangue da polícia. O agitador perguntou à multidão: “entendem o que está acontecendo aqui na área de Sunnyside?” Um homem branco gritou de volta: “pessoas usando muitas drogas”. O agitador, com toda a raiva necessária para defender os nossos membros da comunidade negra e indígena que residem em Sunnyside, disse: “Você precisa sair daqui já. Se não entende os problemas que impactam a vida das e dos negros e indígenas, precisa sair daqui.” Naquele momento, um Uncle Tom apareceu do nada e com uma mega dose de simpatia branca e policial disse: “não há lugar para a raiva aqui”. Necessariamente enfurecido, o agitador começou a falar a verdade sobre porquê a raiva é tão necessária para expressar dificuldades e dores. Depois pegou no megafone do indivíduo de dois espíritos e mais tarde entregou-o a um policial para que este pudesse dizer: “Black Lives Matter”. Pensem nisso por um momento.

Surgiu um debate com algumas pessoas na multidão, confrontando o espetáculo liberal de merda, condenando o silenciamento de vozes indígenas queer. Algumas estavam cantando “nós queremos paz”. A certo ponto, enquanto a política de identidade estava no seu auge, um forte ruído pontuou o momento. Alguém fartou-se da conversa e tomou o assunto por conta própria, quebrando a janela da subestação da polícia. Saudamos e apoiamos esse gesto. Os brancos policiais do movimento entraram em ação e tentaram agarrar quem eles pensavam ser o responsável. Um companheiro branco e algumas indígenas bloquearam a multidão de brancos policiais do movimento que claramente estavam prontos para entregar quem quer que pudessem à própria polícia contra quem supostamente estavam lá protestando. Esta é a falácia da solidariedade. Quando a raiva indígena é silenciada e atacada, é exposta a realidade da supremacia branca e dos Uncle Toms bajuladores. Mas não esperávamos muito aqui, já que os povos indígenas são brutalmente atacados pela polícia e enfrentam a maior taxa de prisão baseada na etnia em Flagstaff. Quando organizamos protestos, nenhum destes liberais estava lá conosco. Nenhum destes brancos policiais dos movimentos apareceu depois de Matt Dearing ter sido baleado no pescoço pela DPF e sobrevivido apenas para enfrentar a prisão. E temos certeza de que nenhum deles estará lá quando o próximo parente indígena for brutalizado ou morto por estes bastardos.

À medida que este mundo fascista se desmorona, não haverá espaço para os liberais que armam a política de identidade da negritude, ou qualquer identidade oprimida, para abafar a fúria necessária para abolir o estado policial. Estamos assistindo ao genocídio dos negros diretamente das mãos da polícia. Temos parentes sem documentos que morrem e são abusados em campos de concentração escondidos em todo o estado do Arizona. A supremacia branca está roubando e assassinando as nossas mulheres indígenas e as pessoas de dois espíritos e os bastardos estão envolvidos nessa violência. Seja criminalizando os nossos sem-abrigo e agredindo-os na prisão ou recusando-se a levar a sério os casos MMIWGT2S (Mulheres e Adolescentes, pessoas Trans e de Dois Espíritos Indígenas Desaparecidas e Assassinadas), como por exemplo, o silêncio ensurdecedor do assassinato de Ariel Bryant. Cada um destes casos de fascismo faz parte do legado contínuo de violência anti-negra e colonial sobre o qual este estado de colonos foi construído.

Deixamos claro que nos solidarizamos com os radicais negros e não toleramos gestos performativos destinados a contentar “todas as vidas”. Por favor leia: aljazeera.com/indepth/opinion/black-liberal-time-george-floyd-200601155933648.html

Assim como há uma forte história de violência policial em Kinłani, há uma resistência ainda mais forte a esta. Os apelos liberais para “amar a polícia, eles são nossos amigos” está começando a parecer trabalho sustentado. Tentativas intencionais de pacificar uma multidão e interromper um movimento terão forte resistência. Quando dizem que não devemos lutar contra nós mesmos, lembrem-se de que nem policiais nem apologistas da polícia fazem parte deste movimento, eles são aquilo contra o qual lutamos. Convocar protestos “pacíficos” é um ato de privilégio. Ignora a realidade de que estes momentos não são pacíficos para as pessoas queer, dois espíritos, indígenas, sem documentos, negras e antifascistas. Ser pacífico enquanto as brutais guerras contra os nossos corpos e terras estão sendo travadas sem piedade é escolher o lado daqueles que travam estas guerras contra nós. Policiar ações para a “pacificação” é violência contra as BIPOC. Vamos lutar com tudo o que temos.

Vamos deixar uma coisa clara: quem acredita que mais pessoas ouviriam se protestássemos ou disséssemos as coisas “pacificamente”, a sua chamada solidariedade é performativa. A vossa dita solidariedade é silenciamento racial. A sua chamada paz é violenta e opressiva.

Apareçam para a libertação coletiva ou vão embora. Já agora podem estar também do lado dos policiais abraçando-os e à violência do estado que eles representam, como o prefeito vendido Coral Evans fez na noite anterior (sem máscara, é claro).

Os nossos parentes indígenas armados com espingardas de assalto carregados e uma faixa dizendo “Minorias armadas são mais difíceis de oprimir” levaram as coisas a sério. Eles e elas foram justapostos com empresários armados que eram mais perigosos, munidos com desinformação fornecida pelo Estado.

Quando falamos de “Não há justiça em Terras Roubadas” falamos a sério. Não compartilhamos espaço com BIPOC colaboradores com o colonialismo e com policiais racistas. Isto não é anti-negritude, é anti-colaboradores do estado, é anti-supremacia branca e anti-colonial, e é extremamente necessário.

A noite passada foi um momento de tristeza e raiva coletiva. Foi quase cooptada por bajuladores liberais, mas não deixamos isso acontecer.

No nosso relatório crítico, também comemoramos a tensão e o sucesso desta noite poderosa:

• Que centenas de nós marcharam pelas ruas diante de ameaças de extrema violência policial.

• Embora os liberais policias do movimento e os Uncle Toms tenham perturbado a nossa perturbação, muitos e muitas mais jovens estão radicalizados e talvez encontrem maneiras mais significativas de agir com raiva BIPOC, e não contra ela.

• Que uma força otimista incorporou a nossa raiva e aliviou algumas das nossas frustrações ao quebrar algumas janelas (não temos lágrimas por janelas quebradas sobre a vida do nosso povo) e, embora tenha sido assediada depois, foi posteriormente bem recebida de volta à manifestação durante o resto da noite.

• Que outra manifestação ocorreu na cidade com números igualmente grandes (embora com muito mais brancos hostis à fúria dos BIPOC).

• Embora muitos bastardos, fascistas e a Guarda Nacional estivessem à espera para intervir, desafiamos coletivamente o toque de recolher e demoramos todo o tempo que precisávamos.

• Que ninguém foi preso durante esta pandemia.

No geral, queremos deixar isto claro para todos aqueles que valorizam a propriedade acima da vida e que buscam reformas para “diminuir o financiamento” e mostrar amor à polícia, vão se fuder vocês também. Procuramos abolir o Estado e o ICE por um mundo livre de polícia e policiamento.

Apareçam para a libertação coletiva e aceitem a diversidade de táticas. Não podemos proclamar solidariedade de nenhuma maneira significativa com aqueles que procuram colaborar com a violência colonial.

Para aqueles e aquelas que compartilham as nossas frustrações e raiva, nos veremos nas ruas onde estaremos ao vosso lado lutando contra a polícia e contra os controladores do movimento e apeladores da paz, se necessário. É isto que defesa mútua significa. Nós te protegemos.

Fonte: https://flagstaffrentstrike.noblogs.org/post/2020/06/03/in-solidarity-with-black-radicals-indigenous-rage-is-necessary-against-false-solidarity-and-movement-police/

Tradução > Ananás

agência de notícias anarquistas-ana

lerdamente,
a água empurra a água
e o rio flui

Alaor Chaves