[Chile] Comunicado: Prisioneirxs da guerra social de ontem e de hoje pela destruição da sociedade prisional

– A todxs aqueles que lutam contra este mundo de opressão e miséria

“A realidade dos prisioneiros em guerra nas prisões chilenas não pode ser falsificada. No dia a dia há luta, há silêncio e ainda menos esquecimento. Diferentes gerações de subversivos que se encontram com visões semelhantes neste presente de luta”. – (Chamado dxs prisioneirxs em guerra, abril de 2015)

“A prisão é outra etapa de luta no caminho do confronto, o confronto antiautoritário para mim ainda não acabou, apenas mudou de forma”. – Mónica Caballero Sepúlveda.

1.- Desde sempre pela Revolta permanente.

“As experiências das derrotas passadas permanecem vivas… palpitantes e crescerão de tal forma que conseguiremos cercar por todos os lados aqueles que em uma batalha passada nos derrotaram”. – Pablo Bahamondes Ortiz.

A revolta que começou em 18 de outubro de 2019 foi, entre outras coisas, a cristalização das lutas multiforme e antiautoritárias que ocorreram neste território durante as últimas décadas, em parte, um sinal inegável da continuidade de um caminho antagônico e subversivo.

A ausência de uma petição comum e de uma liderança centralizada mostra claramente o sentido antiautoritário da revolta que em sua multiplicidade e autonomia encontrou sua principal força, quebrando a ordem estabelecida, o poder e toda a institucionalidade.

Reconhecemos a capacidade criativa da revolta, da violência e da fertilidade das múltiplas ações subversivas que foram desencadeadas e expandidas nestes meses, por todo o território, mas desconsideramos a noção de “Explosão Social” como ponto culminante, uma metáfora da panela de pressão, de um instante, caracterizando a revolta como um fenômeno volátil, cuja duração é prolongada tanto quanto o ruído de uma explosão ou a luz de seu clarão. A revolta enfatiza as individualidades e gera rupturas; no fazer coletivo move a margem fictícia do que antes pensávamos impossível, quantos sonhos e rumores conspiratórios escaparam de sua prisão obsessiva para se materializarem em belas imagens de liberdade, quantas individualidades deram aqueles passos decisivos dos quais não há retorno, aqueles que nos constroem e nos posicionam no antagonismo com este mundo e sua ordem. Durante meses a máxima anarquista tomou vida ao fazer, afinal, que a paixão destrutiva é também uma paixão criativa.

Mas a política do momento procurou canalizar essas energias para os caminhos institucionais com um novo plebiscito, que busca apenas salvar seu próprio sistema, sua própria ordem.

Nossa melhor ferramenta será sempre a reflexão, a análise, nosso próprio olhar consciente que é um reflexo do que somos, onde estamos e do que esperamos. A batida contínua de confronto direto, tortura, prisão, morte e vida é o presente ativo onde nos unimos ao interior das prisões em uma transversal de oxigênio libertário contra o Estado, sua violência militar, policial, política e econômica.

“Valeu a pena? Impossível responder com um simples “sim”, às vezes tão seco, vazio e autocomplacente, há muito mais coisas para se colocar em equilíbrio. Mas é inegável que toda experiência em busca da liberdade vale a pena; tomar conta da existência com todas as suas vitórias, suas derrotas, suas alegrias e suas tristezas, são aquelas experiências inestimáveis que o submisso nunca poderá conhecer”. – Joaquín García Chanks.

Nem esquerda nem direita, como ontem, nem votos nem botas; somente a luta!

Fazemos parte da necessidade urgente de lutar, rompendo com a normalidade, desmascarando os líderes que assumem que suas intenções são de encasular em eleições a raiva, a rebelião e a energia da revolta, com seus candidatos ou organizações.

Repudiamos toda a política funcional e mercenária, em todo o seu alcance com o rançoso folclore panfletário, cujo fim apodrecido é cooptar e controlar vidas. Isto não é mudança por mudança, não são novas formas, não é o progressivismo cidadão, não é uma nova constituição, nem reformas ao capital. É a possibilidade palpável de ser livre: mulheres, homens, dissidentes; crianças e avós com um amanhecer onde a podridão fedorenta do Estado, o poder, suas castas e seus luxos caem em pedaços.

A decisão ainda é se levantar, se rebelar e parar de dançar ao som da submissão, dar peso à ternura do amor na guerra, enfrentar com chumbo, pólvora e fogo autônomo e subversivo a violência do Estado. Devemos nos tornar fortes, aprendendo a resistir à ofensiva, cada um com suas próprias habilidades.

Trata-se de dar a oportunidade definitiva de enfrentar o mundo do poder, seus apoiadores e falsos críticos.

Esperamos muito tempo, e este momento único de profundo descrédito da fantasia democrática do capital exige esse fluxo incontrolado de liberdade que parece revitalizado a partir de diferentes espaços da realidade através das infinitas formas de organização para a luta pela libertação total.

Assim como no final dos anos 80 não tivemos nada a ver com o show eleitoral, plebiscitos e rearranjos burgueses para a manutenção da ordem existente, nossa única escolha continua sendo alimentar o fogo rebelde da Revolta.

“Toda lei faz parte do domínio, mas não cale minha voz, o que penso, o que digo. Seus cárceres, seus colégios, seus trabalhos existem para sustentar seus privilégios. Seu dinheiro e sua mercadoria, seu poder e sua família alimentam minha convicção de lutar pela Anarquia”. – Marcelo Villarroel Sepulveda.

O prolongamento da perseguição, repressão e prisão como razão de Estado.

Nesta jornada, tivemos que caminhar e enfrentar a prisão, entre outras realidades, como uma parte inalienável, assumida, mas não desejada, da luta subversiva.

Prisão nas mãos de um Estado e de sua democracia para proteger sua paz social que sustenta sua violenta opulência.

Desta forma, vivemos na prisão desde o final dos anos 80, conhecendo em primeira pessoa todas as modificações da rede jurídico-político-político-prisional: Temos sido menores sob o controle do Sename, processados por promotores militares e ministros em visita, conhecemos a tortura da polícia, desaparecidos em seu quartel nauseante, fomos condenados em julgamentos atormentados por irregularidades sob suas leis antiterroristas e suas reformas processuais penais. Temos visto a cumplicidade servil entre jornalistas, policiais e promotores como apoiadores de julgamentos fraudulentos, bem como a vingança burocrática e prática dos gendarmes e seu isolamento em sistemas de encarceramento de alta e máxima segurança, aos quais estamos destinados há décadas.

Nem vitimização, nem assistência, nem protagonismo autoafirmativo vazio habitam nossas práticas de vida.

Estamos destinados a uma incerteza jurídica afirmada na macabra razão de Estado que tem neste momento o ponto máximo de ilegalidade dentro de sua própria legalidade na situação de nosso camarada Marcelo Villarroel Sepulveda que é mantido prisioneiro alterando seu tempo de cumprimento com o objetivo de mantê-lo purgando 40 anos de confinamento efetivo protegido em uma conhecida modificação recente chamada decreto 321, relativo às liberdades condicionais.

Fazemos um chamado urgente para divulgar sua situação e para revelar a vingança do Estado.

Ele já está há mais de 25 anos na prisão que não pode ser prolongada e nós unimos forças na luta para que Marcelo e todos os prisioneiros da guerra social retornem às ruas o mais rápido possível.

“Na geração de cumplicidades, na conspiração e na ação que estamos removendo elos de nossas cadeias, estamos vivenciando, mesmo que sejam passageiras, pequenos momentos de liberdade. A decisão de destruir tudo o que foi imposto é tomada na primeira pessoa, ou seja, é uma decisão individual tomada livremente com todos os riscos que ela implica”. – Francisco Solar Domínguez.

Um ano após a revolta que sacudiu outubro, nós nos rebelamos contra todo começo e fim, nós rejeitamos a ideia de uma data comemorativa dissolvida nas águas da história e da qual fazer uso periodicamente, como um troféu que é retirado para lembrar e viver, sempre no passado, a suposta pontualidade da subversão e a segmentação de um antagonismo real. Longe das opções de poder e de seu caminho institucional para recuperar a legitimidade, a única coisa que resta, o inestimável e não quantificável, é a experiência de projetar-se e projetar-se por caminhos de negação antagônica a um mundo de falsidades, dominação, miséria e leis.

O chamado é para aguçar e intensificar o confronto que resultará na qualificação da ofensiva, na multiplicação dos grupos de ação e em sua coordenação.

Coordenação que permite a geração de diálogos que ampliam visões e fortalecem posições, que possibilitam trocas de todos os tipos e que visam provocar e aprofundar a desestabilização do que foi estabelecido por meio de golpes fortes e constantes contra o poder.

“Que a cumplicidade se multiplique fortalecendo o combate urbano, pois a guerrilha irrompe em cada esquina contra o estado policial militar e toda a sua fauna política cidadã”. – Juan Aliste Vega.

Saudamos a digna resistência de Mauricio Hernández Norambuena, que luta com integridade há mais de 18 anos diante da vil vingança do poder que o mantém em um insano regime de punição. Abraçamos a resistência indomada pela libertação dos mapuches, seus Weichafes presos e suas comunidades em luta, e todos os prisioneiros anarquistas, antiautoritários e guerreiros pela libertação total dos centros de distribuição nas prisões do mundo.

Abraçamos nossos amores, companheirxs e cumplicidade incondicional que nos enchem de novidade para continuar a luta diária contra o confinamento.

Caminhamos juntos com Andrés Soto Pantoja, Norma Vergara Cáceres, Pablo, Eduardo e Rafael Vergara Toledo, Pablo Muñoz Moya, Alejandro Sosa Durán, Ariel Antonioletti, Claudia López , Sole y Baleno, Sergio Terenzi, Alex lemún, Julio Huentekura, Matías Catrileo, Jhony Cariqueo, Mauricio Morales, Zoé Aveilla, Lambros Foundas, Herminia Concha, Javier Recabarren, Sebastián Oversluij, Daniel Vielma e todxs os irmãxs, combatentes e guerreirxs de todo o planeta que nos acompanham de algum lugar do universo e das estrelas nesta luta pela vida, pela preservação da terra, contra o Estado, a prisão e a capital.

Nós abraçamos xs torturadxs, mutiladxs, perseguidxs, presxs e caídxs na Revolta de outubro, pensamos em você!

A todos xs camaradas de diferentes territórios que falam a mesma língua de guerra, nós os abraçamos no internacionalismo ativo, na fraternidade subversiva, autônoma e fraterna negra.

Juventude combatente: insurreição permanente!

Caminhando com dignidade rebelde e olhar subversivo, dentro e fora da prisão: Em direção à libertação total!

Enquanto houver miséria, haverá rebelião!

Que a revolta destrua as prisões!

Afie o conflito, intensifique a ofensiva!

Pela extensão da solidariedade com xs prisioneiros da guerra social, da Revolta e da libertação mapuche!

Memória, resistência e subversão!

– Mónica Caballero Sepúlveda

Prisão feminina de San Miguel.

– Pablo Bahamondes Ortiz

C.D.P. Santiago 1.

– Francisco Solar Domínguez

Seção de segurança máxima – casas.

– Marcelo Villarroel Sepúlveda

– Juan Aliste Vega

– Joaquin Garcia Chanks

Prisão de alta segurança.

Santiago do Chile.

Domingo, 18 de outubro de 2020.

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

tatalou e caiu
com onda espiralada
fragor de entrudo

Guimarães Rosa