Lançamento | Educação Anarquista: Explorações contemporâneas

Organizadores: Sílvio Gallo | Rodrigo de Almeida Ferreira

Apresentação

No imaginário social a anarquia remete à desordem, à insegurança, à instabilidade. Decorrência compreensiva do viés etimológico da palavra, quando se propõe pensar a anarquia como ideia política o desconforto é potencializado por traços que sugerem o caos no qual as pessoas viveriam sem governo, sem controle, sem autoridades hierárquicas, sem regras coercitivas. Mas, também, há cores menos carregadas com que se costuma considerar uma sociedade anarquista, não obstante os tons pasteis manterem o quadro estigmatizado. Estas pinceladas mais suaves sugerem uma nuance benevolente, próxima à tolerância, que simplifica o pensamento anarquista, articulando-o à inocência política devido aos valores universais nos quais se baseia para a reconstrução da sociedade, como liberdade e justiça. Portanto, as representações sociais tendem a inscrever a pretensão da sociedade ácrata ou num matiz escuro de caos, medo e violência, ou numa paleta onírica, distante da realidade, irrealizável, utópica.

Acompanhando a interpretação de Bronislaw Baczko (1985) de que os imaginários sociais impactam o cotidiano, entende-se que as representações políticas decorrem de construções e de disputas históricas. As representações relativas à anarquia e aos anarquistas são iniciadas a partir de meados do século XIX, quando as críticas à reorganização do Estado como base para a economia capitalista e a exploração do trabalho assentadas no liberalismo econômico estimularam a defesa de outras formas de organização social. Em 1840 Pierre-Joseph Proudhon entrou para a memória da cultura política como a primeira pessoa a se autoidentificar como anarquista, feito registrado no livro O que é a propriedade?, no qual colocava o dedo na ferida sobre as causas dos graves problemas sociais e da exploração socioeconômica, respondendo de modo direto à pergunta-título: “A propriedade é um roubo!” (Proudhon, 1975, p.11). Por suposto, ao atentar contra o mais sagrado dos valores dos capitalistas, além de outros pilares da sociedade contemporânea como a Igreja, o Estado e o militarismo, os anarquistas foram prontamente considerados como perigosos inimigos – não apenas pelos liberais capitalistas, mas também por amplos segmentos sociais de base moral cristã, bem como os defensores de um Estado forte e centralizado, inclusive aqueles cujas linhas políticas se aproximam das causas sociais e dos direitos dos trabalhadores, como o socialismo de Estado do século XX.

Com tantas trincheiras abertas em campos de batalhas contra forças poderosas, compreende-se os extremos com os quais o anarquismo é atacado por seus detratores, ora simplificando-o como utopia, ora estimulando o pânico contra suas propostas consideradas radicais. Observa-se que, nessas narrativas, o caos e o temor de um mundo anárquico têm lugar de destaque, haja vista o potencial mobilizador que o medo exerce a favor do conservadorismo. O historiador do anarquismo George Woodcock observa que:

Há uma grande confusão em torno da palavra anarquismo. Muitas vezes a anarquia é considerada como um equivalente do caos e o anarquista é tido, na melhor das hipóteses, como um niilista, um homem que abandonou todos os princípios e, às vezes, até confundido com um terrorista inconsequente. Muitos anarquistas foram homens com princípios desenvolvidos; uma restrita minoria realizou atos de violência que, em termos de destruição, nunca chegou a competir com os líderes militares do passado ou com os cientistas nucleares de hoje. (…) anarquismo é a doutrina que prega que o Estado é a fonte da maior parte dos nossos problemas sociais, e que existem formas alternativas viáveis de organização voluntária. E, por definição, o anarquista é o indivíduo que se propõe a criar uma sociedade sem Estado. (Woodcock, 1986, p.13)

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agência de notícias anarquistas-ana

No ninho do sabiá
há quatro bocas
que não param de piar

Eugénia Tabosa