[Guiné-Bissau] Os Comandos e os seus crimes

Por Nguyen

Divisões étnicas e o seu papel na guerra de libertação da Guiné

A Divergente fez uma reportagem para dar voz aos comandos negros que lutaram pelo Estado Novo durante a guerra de libertação da Guiné-Bissau. Sendo um tema pouco explorado e com interesse histórico, é aberrante que tenham seguido pela via de apresentar uma força militar criminosa de guerra, como os desgraçadinhos abandonados. Replicando, em certa medida, o discurso que a extrema direita tem vindo a propagar.

Na reportagem não mencionam, por desconhecimento ou falta de vontade, a composição étnica das forças. Coisa que o regime do Estado Novo conhecia bem e usou em sua vantagem, recrutando forças africanas com base em tensões étnicas entre grupos, etnias e setores revoltosos. Daí ter recrutado mais Manjacos, Fulas e Felupes na Guiné Bissau do que de outras etnias. O uso de tensões étnicas e das forças especiais de tipo Comandos é comum nas três guerras de libertação, Angola, Moçambique e Guiné Bissau. A participação de tropas negras vai aumentando com o desenrolar das guerras. Estas são incluídas em milícias, grupos armados de proteção a aldeias, nas forças armadas no geral e nas tropas especiais.

Criação dos Comandos

Com o início da guerra em Angola, as forças portuguesas são apanhadas desprevenidas e é necessário recrutar e mobilizar tropas. Essas forças são formadas e criadas para lutar numa guerra de contrainsurgência e, como tal, é preciso inovar, pois as forças existentes foram criadas e treinadas para lutar no contexto da OTAN – num possível confronto com o Pacto de Varsóvia. De grosso modo a estratégia portuguesa divide-se entre a defesa e/ou criação de pontos fortes, picadas (ações de busca e destruição de minas e outros explosivos) e ataques às bases das forças das guerrilhas.

É neste contexto que os Comandos são criados em 1961, tornando-se operacionais em 1962 em Angola. São formadas também forças similares nas forças armadas como os Grupos Especiais e Grupos Especiais Paraquedistas (em Moçambique) e os Flechas (que pertencem às estruturas da PIDE/DGS). De notar ainda a utilização, em Angola, de tropas exiladas e/ou mercenárias de regimes próximos ao Estado Novo – como os Leais Zambianos e os Fiéis Catangueses.

O Fascista italiano que participou na criação dos Comandos

Os Comandos são criados por militares portugueses e uma figura obscura, um tal de Dante Vacchi. Segundo a  versão “de cara lavada” do jornalismo português, tratava-se de um jornalista e “aventureiro italiano”, com participação na Legião Estrangeira francesa e com experiência de combate. Por uma sucessão de “acasos”, viaja de Portugal a Angola e começa a dar instrução durante a criação de uma tropa de elite, aberta apenas a voluntários.

A realidade é bem mais obscura e tenebrosa do que esta sequência de acasos. Dante Vacchi terá lutado ao lado das tropas nazis que invadiram a Itália, com o intuito de repor Mussolini no poder e tomar conta do norte do país. No pós-guerra junta-se à Legião Estrangeira e luta na Argélia e Indochina. Terá entrado em contacto ou com os membros da OAS (Organisation Armée Secret, um grupo de militares apoiantes do regime colaboracionista de Vichy, racistas e pró-colonialistas), ou com a rede criada por Otto Skorzeny (ex-comandante das Waffen SS, que lutou em Itália) que atua na Península Ibérica e irá formar a Aginter Press.

Esta é formada por Yves Guerin-Serac, com sede em Lisboa, em 1963. Oficialmente funcionava como um grupo de imprensa, mas na realidade era uma rede de mercenários fascistas e nazis que forneciam serviços de espionagem, informação, treino e contrainsurgência, emitindo passes de jornalistas para moverem os seus agentes mais facilmente.

O papel dos comandos será de ataque às aldeias suspeitas de albergar guerrilheiros, às bases identificadas dos movimentos de libertação, recolha de informações e prisioneiros e tentativa de assassinato de elementos chave das forças de libertação.

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https://guilhotina.info/2021/11/05/guine-comandos-crimes/

agência de notícias anarquistas-ana

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de cerejeiras em flor

Allen Ginsberg