A 19 de Julho de 2012, a autonomia foi declarada na cidade de Kobane, uma data histórica para o processo revolucionário de transformação no nordeste da Síria. Esta década de resistência e de construção de autonomia oferece-nos experiências valiosas, das quais podemos aprender lições importantes. E, sobretudo, deixa também profundas mudanças e transformações pessoais naqueles que, de entre nós, decidiram fazer parte da revolução.
Celebrar uma década de revolução não é algo que acontece frequentemente, e as revoluções que se podem continuar a chamar assim ao fim de 10 anos são ainda menos. A história deixou-nos inúmeros exemplos de lutas armadas e mobilizações sociais em massa que acabaram por ser corrompidas ou cooptadas por forças externas ao fim de poucos anos. Mas Rojava está a conseguir não só sobreviver, mas também aprofundar a construção da autonomia democrática, com as suas dificuldades, mas também com autocrítica, a fim de avaliar e continuar a melhorar. Existem, sem dúvida, contradições e deficiências, onde os que querem denegrir este difícil processo de transformação social encontrarão razões úteis para o fazer. Para mim, o que vi e aprendi aqui condicionam a forma como vejo as coisas. Em parte devido a tudo o que aprendi aqui, em parte devido aos laços emocionais e vivenciais criados com estas terras e com as pessoas que nelas habitam. Esta não é, portanto, uma visão neutra, objetiva e estéril. É a opinião de alguém que, procurando aprender e compreender a partir de uma perspectiva de solidariedade crítica, toma partido no conflito.
Os que, de entre nós, embarcaram nesta viagem para experimentar a revolução a partir do interior encontram frequentemente inspiração e semelhanças com a revolução [Espanhola] de 1936, que também teve início a 19 de Julho. Lembro com certa nostalgia os debates com o meu amigo Joan, que estava a ler “Homenagem à Catalunha” nos primeiros meses da nossa chegada, quando nos deparávamos no nosso quotidiano com situações semelhantes às descritas por Orwell no seu livro. Isto levou-nos a pensar que há dinâmicas semelhantes que tendem a ocorrer em processos revolucionários, e isto é provavelmente verdade. Frantz Fanon menciona, no seu livro “The Damned of the Earth”, a conhecida citação “os últimos devem ser os primeiros” para resumir o processo de descolonização. Imagino que esta frase possa ser aplicada a todos os movimentos oprimidos e marginalizados que aspiram à revolução. É nestes processos de empoderamento, quando os que estão à margem da sociedade lutam pelo seu legítimo lugar nela, que as dinâmicas e processos se desenrolam e se repetem, ressoando uma e outra vez ao longo da história.
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agência de notícias anarquistas-ana
Cabelos tão brancos:
ancinho que raspa a terra,
colheita de anos.
Alckmar Luiz dos Santos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!