A Plataforma contra os Crimes do Franquismo requer à Prefeitura de Miranda que seja autora na pendência argentina que o sindicalista defendeu em seus últimos anos de vida
A Praça de los Olivos, junto à estação de trem, acolhe desde ontem [21 de novembro] a escultura de Félix Padín, o anarcossindicalista que permaneceu seis anos encarcerado no campo de concentração de Miranda, onde sofreu as piores condições de vida que um ser humano possa padecer, privado de liberdade e obrigado a realizar trabalhos físicos para o regime de Franco. Uma experiência que Padín nunca deixou de recordar a quantos quiseram escutá-lo até o seu falecimento em 7 de outubro de 2014 aos 98 anos de idade. Isso sim, antes foi aos tribunais de Miranda para declarar contra os crimes do franquismo na ação aberta pela magistrada argentina María Servini em seu país. Era a primeira vez que narrava sua história ante a justiça e seu testemunho foi de especial relevância por tratar-se de um dos poucos represaliados que permanecia com vida.
Padín lutou nos batalhões de Isaac Puente e Durruti até cair prisioneiro, em 1937, em Vizcaya. Daí passou pelas prisões de Arrigorriaga, Galdakano, Vitoria e o campo de concentração de Miranda. No entanto, no discurso deste veterano combatente anti-franquista nunca se escutaram palavras de vingança, senão um desejo de justiça e reparação moral. Uns valores que se ressaltaram durante a homenagem, no que a encarregada de apresentar o ato, Mayte González sublinhou que “Félix transmitiu ao longo de sua vida e militância tudo o que foi vivido em sua luta ativa”. Também destacou que “era um homem especial, humilde, sem rancores mas sem esquecimento, cuja vida girou em torno à liberdade”.
Por sua parte, Josu Ibargutxi, porta voz da Plataforma Basca para a Pendência Argentina contra os Crimes do Franquismo, manifestou durante o ato que sua associação requererá à Prefeitura de Miranda que aprove uma moção e seja autora como instituição “neste processo contra a impunidade franquista”, assim como “estão pensando” outras cidades como Barcelona, Pamplona ou Zaragoza, além das que apoiam a plataforma no País Basco.
O busto, obra do artista local Claudio Palma, foi realizado com uma liga de metal e colocado sobre um pedestal com uma placa na qual pode-se ler: “Em memória de Félix Padín Gallo e na de todos os presos que cumpriram sua pena ou deram sua vida no Campo de Concentração de Miranda (1936-1950). Sua luta pela liberdade e a verdadeira democracia não foi em vão”.
Não é a primeira obra de Claudio Palma sobre a figura de Félix Padín que já em 2012 concebeu uma escultura do sindicalista, em resina e de tamanho natural e que tem como título ‘Luta e resistência’.
A iniciativa ficou a cargo de um grupo de cidadãos que durante meses reclamou a necessidade de realizar uma homenagem à memória deste homem e que realizaram várias atividades para arrecadar fundos para custear sua construção, na qual a Prefeitura colaborou com 800 euros.
Oriundo de Bilbao, Padín se filiou à CNT com 14 anos e se estabeleceu em Miranda de Ebro em 1854 em busca de emprego. Após a morte de Franco, reativou sua militância até converter-se na alma do sindicato local, que sempre o considerou como um “símbolo de resistência e luta contra a impunidade”. Seja porque, “fosse no cárcere ou na rua, Félix sempre manteve seu espirito de resistência”.
O último campo
Apenas uns muros servem de referência para localizar os escassos restos que se conservam do campo de concentração da cidade, que permaneceu ativo desde 1937 até 1947, por que foi o último a fechar na Espanha. Uma década na qual este centro, localizado entre as instalações ferroviárias e o rio Bayas, viu desfilar entre 65.000 e 80.000 prisioneiros republicanos.
Tradução > Sol de Abril
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