Um jornalista da área cultural. Homem underground. De gosto refinado
• Um reduto plural. Para Heteros, LGBTs, assexuados. Temperados com bebidas, rock´roll, punk, MPB, a velha Música Popular Brasileira
• Liberté é uma referência à liberdade, expõe o diretor artístico do casarão histórico da vanguarda estética de Goiânia, Heitor Vilela, jornalista
• Mix’ de ateliê Rabiscos e Escarros, Escultura Produções Editorias, Site Metamorfose, barbearia Mulher Barbada e Aurora Estúdio de tatuagem
por Renato Dias | 04/10/2018
Um ‘mix’ de ateliê Rabiscos e Escarros, Escultura Produções Editorias, Site Metamorfose, barbearia Mulher Barbada e Aurora Estúdio de tatuagem. Temperados com bebidas, rock´roll, punk, MPB. Um reduto plural. Para Héteros, LGBTs, assexuados. Assim é a Casa Liberté. Sob a gerência de Heitor Vilela.
Nada mais, nada menos do que o sobrinho rouge de Paulino Vilela, o presidente do Vila Nova Futebol Clube, a maior paixão do Centro-Oeste do Brasil, campeão brasileiro em 1996 e da Taça Maguito Vilela em 1997. Um jornalista da área cultural. Homem underground. Anarquista. Leitor de Mikhail Bakunin.
Não custa lembrar: o teórico russo adversário ideológico do velho barbudo Karl Marx. Proprietário de longas madeixas, óculos contemporâneos da modernidade, adepto do amor livre, Heitor Vilela foi editor do DMRevista, o caderno de cultura do Diário da Manhã. De raro talento, nas letras, desenhos, ilustrações e edição, fez história.
Liberté é uma referência à liberdade, expõe o diretor artístico do casarão histórico da vanguarda estética de Goiânia. Liberdade de expressão, de manifestação e de existência, pontua. Liberdade hoje e ao longo da história, sublinha Heitor Vilela. Em relação direta e com a resistência, atira. Resistir para existir, fuzila o ‘enfant terrible anticapitalista’.
DM Revista – Qual o nome da nova e underground casa de espetáculos e da noite, em Goiânia?
Heitor Vilela – Casa Liberté.
DM – Liberté é uma referência ao lema de 1789, na França, Liberté, Igualité e Fraternité?
Heitor Vilela – Liberté é uma referência a liberdade como um todo. Liberdade de expressão, de manifestação e liberdade de existência. Liberdade hoje e ao longo da história tem relação direta e objetiva a necessidade de resistência. Resistir para existir. Isso em todos aspectos da vida em sociedade. Trazendo para o contexto cultural, a ideia é promover a resistência cultural em suas mais diversas formas de manifestação e expressão artísticas. Exposições de artes visuais, música, poesia, dança, teatro e performances. O nome em si, grafado na língua francesa, é uma referência direta ao berço dos movimentos libertários, tanto sobre a revolução burguesa de 1789, mas sobretudo e principalmente as insurreições de Maio de 68′ em Paris, que neste ano completaram 50 anos e que até hoje influenciam movimentos culturais e políticos em todo o mundo. Liberté, pichado em muros da capital francesa e agora a nível de memória nesse novo espaço contracultural em Goiânia.
DM – Data, horário e local da inauguração?
Heitor Vilela – A inauguração está marcada para hoje [dia 04/11] a partir das 16 horas. A Casa Liberté fica na Rua 19, número 400, setor Central.
DM – Preço da entrada?
Heitor Vilela – Na inauguração não vai ser cobrada entrada, apenas uma contribuição voluntária para os artistas que vão se apresentar. No caso a programação do dia vai ter: discotecagem em vinil feita e selecionada por mim, shows de Cacau Mila e Projeto 8 Cordas e discotecagem também em vinil do projeto Tropikaos.
DM – O que terá a Liberté? A sua programação diária?
Heitor Vilela – A Liberté é um espaço cultural diverso, com espaço para exposições de artistas independentes, shows musicais, debates, rodas de conversa e todas formas de manifestações artísticas possíveis dentro do casarão. É também um espaço de trabalho coletivo, no andar superior temos a barbearia Mulher Barbada, comandada por duas mulheres, o Aurora estúdio de tatuagem com cinco artistas, o site Metamorfose que é um coletivo de comunicação e jornalismo independente, o ateliê Rabiscos e Escarros e a editora libertária Escultura Produções Editoriais. Dando liga a tudo isso, essencialmente e em todos os dias vai estar funcionando um bar bem completo, com cardápio amplo e variado, com cervejas, chopp, drinks, doses e comidas de todo tipo.
DM – Qual a fonte de inspiração para instalá-la?
Heitor Vilela – Minha principal inspiração é trazer de volta ao centro da capital um espaço de efervescência cultural, política e estética. Enquanto jornalista cultural, ao longo dos últimos cinco anos conheci muita gente forte e interessante, que tem uma produção de fato interessante e às vezes não encontra um local para desaguar essas expressões. A nível de lazer, a inspiração é um bar onde as pessoas se sintam seguras e confortáveis, e quem não tem respeito ao próximo, quem tem pensamentos e atitudes machistas, racistas, homofóbicas e fascistas no geral se sintam desconfortáveis em agir dessa maneira dentro do espaço. Basicamente um lugar para beber boas bebidas, comer bons petiscos e ter uma vivência cultural diferenciada e ativa. Acredito que nós somos a voz de nosso tempo, temos que gritar se necessário for. Ser ativos e fazer acontecer novos espaços e experiências, nunca se acomodar.
DM – É sua ou de um coletivo?
Heitor Vilela – Essencialmente eu quem estou organizando a casa. Porém de forma coletiva, todos vão contribuir para a gestão e ocupação cultural do espaço.
DM – Quais os nomes?
Heitor Vilela – A Casa Liberté é: ateliê Rabiscos e Escarros, Escultura Produções Editorias, Site Metamorfose, barbearia Mulher Barbada e Aurora Estúdio de tatuagem.
DM – Quais os seus projetos para a Liberté?
Heitor Vilela – A ideia é ter sempre exposições de artistas independentes, que também vão colocar à venda suas produções dentro da casa, onde vai funcionar uma galeria rotativa. Além da parte de artes visuais, semanalmente vamos ter shows, festas temáticas e discussões diversas.
DM – Por que em frente ao Lyceu?
Heitor Vilela – O casarão em si foi um achado. Uma casa histórica do começo dos anos 50 que tem o espaço perfeito para a proposta de ocupação do local. O fato de estar em frente ao colégio Lyceu é uma ótima coincidência. O colégio que é um dos mais antigos do estado é palco de grandes momentos da militância na capital goiana, um dos mais intensos deles foram as ocupações de secundaristas contra a privatização do ensino público via Organizações Sociais. O colégio Lyceu respira resistência, arquitetônica, cultural e de luta, desde a época da ditadura militar, passando pelas jornadas de Junho de 2013 até os dias de hoje, é um ponto central e ápice de borbulha social da juventude.
DM – Irish será homenageado?
Heitor Vilela – O camarada Guilherme Irish estará certamente presente em sua memória. Irish e todos que padeceram por suas convicções são a maior força motora de inspiração para os que continuam lutando. A ideia que a figura e memória dele representa é muito forte para nossa geração. Irish está presente! Não só Irish, como Marighella e sua ocupação incendiária da rádio nacional, capitão Lamarca e sua perseverança, Bakunin e seus sonhos poéticos de liberdade e emancipação, Durruti e sua bravura combativa junto de todas as mulheres ponta de lança contra o fascismo espanhol, Nestor Makhno e sua guerra heróica junto do exército negro ucraniano, os anarquistas insurrecionais e regicidas do final do século XIX, em especial a memória de Ravachol, os Black Blocks anticapitalistas contemporâneos a nossa época, os curdos que lutam contra o fascismo na Síria e as mulheres que lutam contra o fascismo no Brasil. Toda energia de resistência histórica se torna referência e força para a resistência de hoje e de amanhã.
DM – O anarquismo é uma possibilidade histórica no século 21?
Heitor Vilela – Temos exemplos claros que dentro da democracia burguesa e a competição pela retomada do estado, o povo que trabalha e luta, jamais alcançará nenhuma emancipação e tampouco liberdade. Ter a tomada do estado e não a sua destruição como objetivo de luta, é uma contradição e erro histórico. Enquanto um homem continuar a ter o poder institucional sobre o outro, e sobretudo ter a força armada para garantir esse poder, ele é um possível tirano e certamente vai continuar a massacrar e se opor a liberdade plena do trabalhador. Apostar nas eleições dominadas pela burguesia é outro erro clássico da esquerda, o assassinato de Salvador Allende no Chile, é a prova viva que o capitalismo jamais deixará que nenhuma mudança estrutural aconteça só porque o povo assim deseja e votou. O caminho mais claro para mim é a cooperação mútua e a federalização das lutas locais de trabalhadores, um novo e grande sindicato independente e descentralizado. O anarquismo é ordem e organização, sociedade sem líderes ou ninguém acima de outro, só olhando todos da mesma altura poderemos viver em verdadeira igualdade.
Casa Liberté
Rua 19, nº 400, QD. 42, Setor Central. Ao lado do Colégio Lyceu. Goiânia (GO)
Fonte: https://www.dm.com.br/entretenimento/2018/10/a-casa-onde-mora-a-liberdade.html
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