Nota de repúdio para lembrar que a presença da extrema-direita nas manifestações dos Coletes Amarelos não é aceitável, nem justificável. E que o “Todas e todos juntxs” não é um argumento que deve ser utilizado nos debates acerca dessa questão.
Não deixemos a rua aos fascistas!
Não! Manifestar-se ao lado da extrema direita não é tolerável!
Vamos caçá-los em nossas manifestações!
Desde o início do movimento dos Coletes Amarelos, desde o início das manifestações, os grupos de extrema-direita estão presentes, cada vez mais numerosos, geralmente armados, utilizando a violência para intimidar e agredir.
Desde o início do movimento, ocorreram diversos debates e discussões, principalmente nas assembleias gerais, para saber se a presença desses grupelhos fascistas é “aceitável” dentro das nossas manifestações, e se devemos ou não tolerá-los.
Esses debates colocam de um lado aqueles que firmemente recusam que os neonazis se infiltrem em nossas passeatas e, de outro lado, aqueles que toleram o envolvimento e presença desses grupos, em nome do “viver junto”, de que é “interesse de todos” e de que “nós somos apolíticos”.
NÃO!
Manifestar-se junto a esses indivíduos que promovem o ódio e a violência não é tolerável e NADA pode justificar a presença deles!
Os grupelhos fascistas defendem valores racistas, sexistas, antissemitas e xenófobos. Eles promovem e defendem o ódio ao outro, ao estrangeiro, a pessoas de origens diversas, aos homossexuais ou ao diferente. Suas visões e relacionamentos com mulheres são machistas, patriarcais e antifeministas. Eles reivindicam uma sociedade injusta e desigual.
Grupos fascistas permanentemente ameaçam, intimidam, agridem, matam, mutilam e profanam em defesa e propaganda de suas ideias repugnantes.
Os exemplos são numerosos: a morte de Clément Méric, em 2013, por um militante de extrema-direita; assassinato de Mireille Knoll, queimada em sua própria casa, em 2018, porque ela era judia; múltiplos ataques contra locais e livrarias antifascistas, agressões de militantes, pessoas de origens diversas, homossexuais, etc.
E, em 2018, houve uma série de agressões que não se limitam a esta lista:
• uma dúzia de agressões dentro das universidades de Montpellier, Paris, Lille, Strasbourg, Tours, etc. por grupos de extrema-direita encapuzados e armados;
• agressões de militantes homossexuais em Angers;
• 8 militantes do Bastion Social¹ presos por agredir um policial;
• assassinato, motivado por questão racial, de uma pessoa de origem norte-africana em Landes;
• violência praticada com motivações racistas em Aix-en-Provence por um militante do Bastion Social que foi condenado à reclusão.
• prisões de 10 militantes de extrema-direita por práticas terroristas.
Para mais informações, ver o site: debunkersdehoax.org
Em Lyon, durante o movimento dos Coletes Amarelos:
• 12 de janeiro: tentativa de ataque à Câmara Municipal por parte dos militantes de extrema-direita;
• 19 de janeiro: ataque violento feito por trinta militantes do Bastion Social e da Action Française³ ao cais de pesca. O confronto resultou em vários feridos;
• 26 de janeiro: ao sair da praça Bellecour, quarenta militantes de extrema-direita tomaram a frente da manifestação. Na via Cours Gambetta, atacaram outros manifestantes.
• 2 de fevereiro: em Cordeliers, extremistas da direita atacam um grupo de manifestante, notadamente composto por estudantes sindicalistas do Solidaires.
• 9 de fevereiro – ataque extremamente violento feito por quarenta fascistas no fim da passeata;
Para mais informações, ver o site rue89lyon.fr
Não precisa ser politizado para rechaçar esses valores imundos e combater essas ideias injustas e profundamente violentas. O argumento de que o movimento Coletes Amarelos é “apolítico” e que não pertence a qualquer organização, não é admissível.
Rechaçar o racismo e o ódio ao outro não é somente uma ação de valor político. Ela provém de uma característica humana de solidariedade, base fundamental de qualquer sociedade justa e igualitária.
Os Coletes Amarelos protestam por mais justiça social, por mais liberdade e igualdade.
Como nós poderíamos imaginar defender essas reivindicações ao lado daqueles que, de modo totalmente oposto, lutam por uma sociedade em que os direitos e possibilidades de cada um não seriam os mesmos de acordo com nosso gênero, nossas origens, nossas aspirações culturais ou religiosas, nossas diferenças múltiplas e variadas.
Os fascistas aspiram a uma sociedade desigual, em que haveria a relação de dominação de um grupo sobre outro, relações baseadas em critérios essencialmente racistas: “nós somos superiores aos outros” e machistas: “as mulheres estão a serviço dos homens”.
Eles consideram que as pessoas de diferentes origens, as mulheres, as sexualidades não heteronormativas, etc., são inferiores e, portanto, devem ser dominadas, excluídas, oprimidas, e eles não hesitam em utilizar a violência, sob todas as suas formas, para alcançar esses fins.
Se você, Colete Amarelo, não se reconhece nesses valores.
Se você, enquanto Mulher, recusa a dominação machista e patriarcal.
Se você deseja a seus filhos, a seus próximos, aos outros um futuro melhor, uma vida diferente, em que a solidariedade, a igualdade e a justiça social têm primazia sobre a dominação, o ódio e a recusa da diferença.
Então, você não possui nenhum argumento para aceitar, tolerar a presença da extrema-direita dentro das nossas manifestações.
E, por aqueles e aquelas que continuam a defender “todas e todos juntxs”:
NÃO se manifestar ao lado de um racista, pois seria tolerar essas ideias;
NÃO se manifestar ao lado de um sexista, pois seria apoiar a dominação masculina;
NÃO se manifestar ao lado de um homofóbico, pois seria negar as diferenças sexuais.
Agradeço à leitura. Agradeço aos Coletes Amarelos por esta revolta espontânea e popular.
Agradeço àqueles e àquelas que ainda estão aqui e não irão abandonar a luta.
Só a luta transforma!
Um Colete Amarelo não sindicalizado, não organizado, mas profundamente Antifascista.
Fonte: https://rebellyon.info/NE-LAISSONS-PAS-LA-RUE-AUX-FACHOS-20204
Tradução > P.O.A.E.F.
> Notas
[1] ‘Social Bastion’ é um movimento político neofascista francês fundado em 2017, com sede em Lyon, por antigos membros da associação estudantil de extrema-direita ‘Groupe Union Défense’.
[2] Na França, utilizam o termo ‘ratonnade’ para designar a violência física praticada contra uma minoria étnica e ou grupo social, normalmente norte-africanos. A primeira utilização foi em 1937 e sua etimologia provém do substantivo ‘raton’ (rato) – designação extremamente pejorativa e racista de pessoas de origem norte-africanas.
[3] ‘Action Française’ é um movimento contrarrevolucionário monarquista e orleanista francês fundado em 1898 por Maurice Pujo e Henri Vaugeois, e cujo principal ideólogo foi Charles Maurras.
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