[Espanha] A história não contada de Durruti

O diretor leonês Gonzalo Mateos trabalha em um documentário sobre o histórico anarquista. Rodará também na capital leonesa no verão parte do filme que foi financiado graças a 267 mecenas

por Verónica Viñas | 28/04/2019

Morreu, como todos os heróis, demasiado jovem. E, apesar de levá-la no nome, teve de tudo menos boa sorte. O diretor de cinema leonês Gonzalo Mateos vai resgatar a história do legendário anarquista Durruti. Graças a 267 mecenas arrecadou 9.180 euros. O documentário “Durruti: hijo del pueblo” tenta reconstruir a vida de um dos personagens mais destacados da Guerra Civil cuja biografia e trajetória foram silenciadas quando não manipuladas. Isso foi o que primeiro chamou a atenção de Gonzalo Mateos.

O realizador, que planeja rodar no verão em León, já começou a recolher o testemunho dos familiares de Durruti, os últimos sobreviventes da contenda e de destacados especialistas. Se arrecadar 15.000 euros, haverá também reconstruções de alguns dos episódios mais célebres da vida de Durruti. “Ele foi apresentado como um herói ou como um vilão”, mas “foi filho de seu tempo e suas ideias tiveram muita presença na Espanha”.

Havia nascido em 14 de julho de 1896 em León, no seio de uma família humilde. Em uma cidade açoitada pela miséria e o desemprego, Buenaventura Durruti ingressou muito cedo na rede ferroviária, quando se filiou na UGT — depois, na CNT. Seu nome chegou aos jornais por causa do assalto ao Banco da Espanha em Gijón, com um botim de 675.000 pesetas. Durruti fugiu então para a França e regressaria em 1920.

Com vários grupos — “Los Justicieros”, “Crisol”, “Los Solidarios” — realizará vários planos insurrecionais, sempre sob os ideais anarquistas e de defesa do proletariado. Em 1932 será encarcerado e deportado às Canárias e ao Saara, mas a pressão popular conseguirá sua libertação em poucos meses. Em outubro de 1934 Durruti se soma à revolta das Astúrias, catorze dias de heroica e desigual batalha dos trabalhadores contra o Exército. Faleceu em 1936, em 20 de novembro — data que resulta numa ironia, porque também um 20-N morreu o ditador Franco. Sua morte segue sendo um enigma, porque nunca chegou a esclarecer-se.

Durruti faleceu por um disparo, talvez acidental, de sua própria pistola ou, segundo outra versão, foi executado pelo sargento Manzana, campeão de tiro olímpico com pistola, que havia se unido a Durruti. Suas exéquias, seguidas por centenas de milhares de pessoas, contribuíram para fazer dele um personagem lendário, apesar de que lutou por seus ideais sem tréguas nem fanatismos.

Novos dados do personagem

“Durruti: hijo del pueblo”, assegura Mateo, contribuirá com “novos dados dos pesquisadores” sobre o papel de Durruti na Guerra Civil. O filme incluirá gravações e vinhetas do ilustrador argentino radicado na Espanha, Agustín Comotto, que em 2016 publicou “155. Simón Radowitzky” (Nórdica Libros), sobre o histórico anarquista, condenado a prisão perpétua pelo atentado no qual morreu o chefe de polícia Falcón, responsável pela brutal semana vermelha de 1909 em Buenos Aires. O que Mateos quis gravar primeiro, foi Juan Mariné, que filmou o enterro de Durruti em Barcelona. Ele gostaria de entrevistar a filha de Durruti, que preserva o arquivo do político leonês que foi salvo de um incêndio na França durante a invasão nazi. O atual orçamento permitiu ao diretor leonês iniciar a rodagem e as entrevistas, mas com 15.000 euros poderá pagar direitos de imagens, fazer recriações e, definitivamente, concluir um projeto apto para ser exibido nas televisões.

“Sempre me interessou o personagem”, diz, “mas para a história oficial ele passou a um segundo plano”. Em sua opinião, “por trás da imagem do bandido há uma pessoa que lutava por um mundo melhor”. Mateos espera estrear a fita em junho do próximo ano.

O realizador leonés é autor do documentário “O Gobierno del miedo”, onde faz um percurso pela evolução jurídico-social do conceito de terrorismo. Também é obra sua o filme “Ingobernables”, sobre a Catalunha anarquista do século XXI. Em seu documentário “En la brecha: anarquistas contra Franco” conta com a participação do histórico anarquista Octavio Alberola, um dos criadores do movimento libertário Defesa Interior (DI).

Fonte: https://www.diariodeleon.es/articulo/cultura/historia-contada-durruti/201904280400001888576.html

Tradução > Sol de Abril

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