Se algo que a democracia liberal burguesa não tolera são os transbordamentos, pode aceitar como candidatos a legisladores, a presidentes, a prefeitos ou a genocidas. Mas o sistema estabelecido sobre a autoridade e a propriedade não concebe que se delibere, resolva e execute se não é pelos caminhos impostos.
Efetivamente, como assinalava Mikhail Bakunin, o casamento de Estado e capital é uma união indissolúvel. Para que reine a extração de mais valia são necessárias as instituições que garantam a dominação que assegura a exploração.
Todo o conjunto de mecanismos e dispositivos do capitalismo está a serviço do que Gilles Deleuze chama captação de subjetividades.
As constituições nacionais se fundam na ideia da delegação e da representação. O enunciado é taxativo: “o povo não delibera nem governa senão através de seus representantes”, os que violem este acordo legal, serão considerados sediciosos. Os acontecimentos do Chile evidenciam uma vez mais como o que rege nas sociedades contemporâneas é o “Estado de Exceção”, quer dizer, a sistemática violação de todas as liberdades para que obscenamente impere a única liberdade que importa às classes dominantes: a liberdade da produção de valor, a acumulação por expropriação, a liberdade de explorar, submeter e comercializar.
Para alguns jornalistas, as revoltas são uma anomalia, os desespera observar e não poder identificar a líderes ou caudilhos com os quais os hierarcas possam negociar a paz social.
A dinâmica da luta de classes não é letra morta fechada em livros como o Manifesto do Partido Comunista de 1848, as massas nas ruas são a evidência.
Albert Camus dizia que por dois motivos os povos decidiam se rebelar: por asco ou por cansaço.
As injustiças acumuladas fazem com que esporadicamente haja revoltas sociais. A única resposta para retomar a “normalidade”, ou seja, o escárnio cotidiano das elites com as maiorias é a força bruta das balas, os gases lacrimogêneos e os blindados com jatos d’água.
O único caminho a transitar por parte das oprimidas e oprimidos devem ser a de romper com o medo à liberdade.
De vez em quando “as e os ninguéns” se tornam visíveis e o sistema treme.
Carlos A. Solero
Quarta-feira, 23 de outubro de 2019
Tradução > Sol de Abril
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roçando o bigode.
Luciana Bortoletto
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!