Por Frank McNab
STUART Christie, que morreu no último sábado (15/08), foi um pensador e ativista anarquista de renome internacional, mais conhecido pelo atentado à vida de Franco em 1964, quando ele tinha 18 anos. Ele também foi meu amigo. No curto período de tempo que o conheci, ele demonstrou a qualidade prática que você esperaria de um garoto de Partick. Mas que garoto de Partick!
O idealismo juvenil e o aço ainda estavam muito evidentes, embora endurecidos e forjados na caldeira da experiência. Onde a maioria tinha sonhado e passado para o próximo sonho, Stuart sonhou e, então, agiu de acordo com o sonho. Ele demonstrou uma real cordialidade e um entusiasmado interesse sobre o que eu tinha a dizer. Seu ensinamento e experiência brilhavam através de sua conversa e, a despeito de ser muito modesto em relação a suas experiências pessoais, eu estava extremamente consciente de que, quando eu conversava com ele, eu falava com um homem que tinha vivido umas dez vidas em comparação com a minha.
A última vez que falei com ele foi quando almoçamos no Glasgow Art Club, pouco antes do lockdown. Lembro-me de estar explicando minhas preocupações com o envelhecimento do meu cachorro Humphrey, e Stuart gastou um bom tempo debatendo como ajudar o cão e dar apoio a ele. Perguntei sobre suas memórias visuais mais marcantes do tempo na prisão Carabanchel de Franco, pois eu tinha a vaga ideia de uma imagem baseada em seu tempo lá. Ele quase pintou o quadro para mim com palavras. Ele descreveu alguém sendo levado ao longo de um corredor no meio da noite, passando por sua cela, a caminho da execução por garrote no porão da prisão. O prisioneiro era um cigano alto, os guardas eram praticamente anões perto dele, e o governador estava usando seu melhor uniforme com todas suas medalhas brilhantes tilintando em seu peito, enquanto a procissão seguia o murmurante padre ao longo do mal iluminado corredor. Isto ainda está para ser pintado em tela, mas permanece vivo em minha imaginação. Será meu tributo pessoal a um homem que representa o mais alto nível possível de comprometimento político e integridade.
Stuart também figura em outra composição na qual estou engajado no momento, uma grande pintura retratando um grupo de amigos com interesses artísticos e políticos compartilhados, que se encontram regularmente em Partick. Ela vai se basear na obra “Vocação de São Mateus”, de Caravaggio. Descobriu-se que vários membros do grupo conheciam Stuart e ficamos maravilhados quando, com muito humor e entusiasmo, ele literalmente concordou em entrar no quadro. Essa pintura será a celebração da amizade e sentimento em comum. Quando estiver finalizada no próximo mês, a presença de Stuart nela vai nos acrescentar um pungente sentimento.
O desenho aqui apresentado é minha representação de um jovem Stuart contemplando a perigosa ação que ele empreendeu na Espanha. Ele está vestido na moda para a época, 1964. Atrás dele, na parede, um símbolo da Cruz Negra, organização que ele ajudou a criar para dar apoio a prisioneiros do regime fascista de Franco. Através da janela está o café da rua em Madri onde ele foi preso pela polícia secreta de Franco, treinada pela Gestapo. Nas palavras do poeta Konstantinos Kavafis:
“Honra àqueles que, na vida que levam,
definem e defendem uma Termópilas.
Nunca traindo o que é certo,
consistentes e justos em tudo que fazem.”
Tradução >> Erico Liberatti
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