[Espanha] O Secretário-Geral da CIT, Mahmoud Homsy: “Se você diz ser um revolucionário, as pessoas se perguntam em que planeta você vive”

Por Betanzos (Galiza) | Ilustrado por: La Rara | Extraído do CNT nº 425.

▶ Durante o Congresso Inaugural da CIT (Confederação Internacional dos Trabalhadores) de 2018, realizado em Parma (Itália), as seções concordaram que a Secretaria Geral da CIT teria uma duração de dois anos. No mesmo congresso, foi decidido que a anarco sindical alemã, FAU, se tornaria a próxima seção, após a CNT, a assumir o bastão da Secretaria Geral.

▶ O novo secretário da CIT, Mahmoud Homsy, é membro da FAU Berlim. Ele tem sido ativo na área de trabalho internacional da FAU por anos e fez parte da fundação da nova confederação internacional.

Antes de mais nada, Mahmoud, obrigado por nos dar seu tempo para os leitores de nosso jornal confederal.

Pergunta: Como você enfrenta esta nova responsabilidade em nível pessoal?

Resposta: Conhecendo a longa história da Internacional, só posso me sentir honrado por ter sido encarregado desta posição, mas me sinto sobrecarregado. Já tenho muitos compromissos não diretamente relacionados a este secretariado e vejo a infinidade de tarefas que devo agora atender se quiser cumprir meus compromissos com a CIT da melhor forma possível. Imagino que esses nervos sejam normais diante de tanta responsabilidade.

P.- Embora as seções existam há muitos anos, a CIT é muito recente. Quão saudável é nossa Internacional e quais são, na sua opinião, nossas prioridades organizacionais hoje?

R.- Miguel, meu predecessor, da CNT de Madri, lançou com sucesso as bases para o desenvolvimento da CIT. Todos os canais de comunicação já estão instalados (o web site, as redes sociais), assim como as finanças (seção de anuidades) que são a base econômica de nossos orçamentos. Mas ainda há muito a fazer antes de podermos realmente começar a trabalhar. A prioridade óbvia é a implementação das áreas de trabalho adotadas no congresso. No momento, há cerca de 20 pessoas ajudando ativamente o comitê de comunicação e o secretariado, mas este número terá que crescer se quisermos atingir os objetivos que nos propusemos.

P.- Nossa abordagem e nosso modelo são claramente diferentes dos do sindicalismo oficial. Nosso modelo é válido e eficaz? Você acha que ele será bem recebido pelos trabalhadores?

R.- Posso dizer-lhe com mais segurança o que vejo na Alemanha. É muito difícil para nosso modelo sindical ganhar uma posição em um país ocidental como a Alemanha. Há tanto privilégio aqui. Há muito trabalho porque os mercados financeiros investem na Alemanha porque é vista como tendo uma economia segura e estável e a rede de segurança social é mais ou menos intacta. As pessoas pensam que o mercado e o Estado se encarregarão das coisas. Se você diz que é um revolucionário, eles se perguntam em que planeta você vive. Se você reclama de seu trabalho de má qualidade, eles lhe dizem que você é ingrato ou que você deveria trabalhar mais para conseguir um emprego melhor. As pessoas se perguntam se os sindicatos em geral são válidos. Assim, nesse ambiente, às vezes me pergunto se nossos princípios básicos de solidariedade, ajuda mútua, ação direta e de base e revolução não estarão fechados em uma sociedade como esta.

No final, estas dúvidas só me reafirmam em nossas ideias. A satisfação de ajudar as pessoas a falar em um conflito, o prazer de colaborar com pessoas que pensam da mesma maneira, não tem preço.

Não posso dizer se, em geral, os trabalhadores acolherão nosso modelo sindical. Tenho experimentado que fomos bem recebidos aqui e ali pelos trabalhadores nos conflitos em que nos apresentamos. Só posso esperar que eles o lembrem, acreditem nele e o pratiquem no futuro.

Mas as pessoas estão ocupadas, suas prioridades mudam, elas ficam frustradas com nossas estruturas ineficazes, por isso deixam de ser ativas. É por isso que é importante fortalecer nossas Organizações. Para ser eficaz.

Seja como for, o fato é que continuamos a lutar e há um claro crescimento no número de membros.

P.- A nível internacional, onde você espera que novas seções se candidatem à adesão a CIT?

R.- A IWW na Europa provavelmente se candidatará a membro da CIT dentro de pouco tempo (agora a IWW dos EUA e Canadá já estão), e isto significará que, por exemplo, na Alemanha, duas organizações diferentes poderão fazer parte da mesma Internacional.

No Brasil, esperamos que a FOB também venha a aderir.

Como parte de nossa estratégia de expansão, que foi uma das áreas de trabalho adotadas no último congresso, formamos grupos de trabalho regionais para a Ásia e as Américas, que estão se aproximando e trabalhando em rede com diferentes sindicatos e iniciativas sindicais. Veremos se, desta forma, despertaremos o interesse de qualquer organização em se tornar um novo membro.

O que espero é que no futuro sejam formados mais grupos de trabalho regionais deste tipo para estender estes esforços às regiões do mundo onde não temos presença…

P.- Como você acha que podemos aprofundar a relação com outros sindicatos alternativos e revolucionários à medida que a Internacional cresce em número e se estabelece em novos países?

R.- Em nível internacional, vejo nossos princípios de solidariedade e ajuda mútua como boas ferramentas para tornar a CIT conhecida e respeitada.

Nas últimas semanas aderimos à campanha da GWTUC contra o Dragon Sweater, deixando de lado as diferenças ideológicas, e estamos oferecendo nossa solidariedade aos nossos camaradas de todo o mundo. Estas atividades atrairão a atenção de outros sindicatos que verão a CIT como um ponto de referência.

Outra área de trabalho que adotamos no último congresso e que nos servirá como uma ferramenta de expansão é o treinamento. Propusemos coletar documentação sobre organização sindical e ação industrial das seções e utilizá-la para produzir novo material de treinamento que seja relevante em todo o mundo. Se pudéssemos apresentar este material a sindicatos de diferentes países, seria uma excelente maneira de apresentá-los a nossas ideias e de construir relações. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito a este respeito, pois não esqueçamos que somos uma organização muito jovem.

P.- E uma palavra final que você gostaria de enviar aos nossos militantes…

R.- Espero que todos os camaradas continuem saudáveis para este outono e inverno! Meus pensamentos estão com todos vocês.

Da CNT, desejamos a você todo o sucesso em sua tarefa para os próximos dois anos.

Fonte: https://www.cnt.es/noticias/mahmoud-homsy-secretario-general-de-la-cit-si-dices-que-eres-revolucionario-se-preguntan-en-que-planeta-vives/

Tradução > Liberto

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