[Espanha] Às voltas com o Racismo – só no futebol?

Saúde!

Foi preciso que a elite do futebol nos fizesse perceber, quer sejamos fãs de futebol ou não, que existe racismo na Espanha. Não há clubes antirracistas no futebol espanhol, muito menos em outros países? Bem, sim, existem, por exemplo, no próprio Valencia CF há o grupo de torcedores Colla Blanc-i-Negra, ou os Bukaneros do SDRV ou as Brigadas Amarillas, de Cádiz…, não há necessidade de cansar o leitor. Essas torcidas, e muitas outras que não foram mencionadas, vêm denunciando o racismo, a homofobia, o fascismo… no futebol há anos, mas ninguém prestou atenção… E então aparece o presidente de um time comercial, um da elite, que está indignado com o racismo sofrido por um de seus jogadores – e digo seu porque ele o comprou e, pelo menos, pode fazer uso dessa mercadoria durante o contrato. É possível ver onde o futebol comercial está indo – desde que o capitalismo colocou suas mãos sujas no esporte – para nos ensinar como nos comportar no esporte ou socialmente.

Nem esse homem, nem qualquer outra pessoa da elite esportiva, nem da sociedade, tem algo a nos ensinar. Somos inteligentes o suficiente para entender que nas relações socioeconômicas dessa sociedade dita moderna, ou se preferir pós-moderna (só isso já seria suficiente para um ensaio inteiro), há racismo, machismo, homofobia, fascismo.

Sabemos, por exemplo, que um negro rico não sofre, ou sofre menos discriminação do que um pobre da mesma cor. Que um cigano rico não tem problemas de perseguição, mas outro cigano pobre não conseguirá alugar apartamentos, não terá empregos decentes… Também sabemos que um jogador de futebol (e eu uso o masculino, porque o feminino está mostrando que outro futebol é possível e as elites não gostam disso, até que vejam que gera benefícios) que chega, de avião, é claro, de um país pobre com um contrato oferecido pela elite, nunca terá problemas para encontrar uma casa, talvez sua família tenha, se o vendedor não souber que a pessoa que quer comprar é mãe de um jogador de futebol rico, como denunciou Iñaki Williams, do Athletic Club de Bilbao. Mas também sabemos que muitas pessoas pobres chegam, aquelas que não morreram na tentativa, em pequenos barcos, na parte de baixo de caminhões, enfiadas em contêineres em condições subumanas – como quando havia o tráfico de escravos que produziu grande acumulação capitalista – e a elite não apenas não denuncia isso, mas recorre aos CIEs, esses lugares onde as pessoas são trancadas por serem migrantes pobres, considerando-as ilegais. Ninguém deveria ser ilegal, apenas aqueles que traficam essas mercadorias.

Isso é claro e categórico: a sociedade não rejeita uma pessoa por causa de sua cor, sua condição sexual, sua religião…, mas sim os poderosos que dirigem a sociedade tentam vesti-la com roupas ideológicas (um time, uma cidade, uma região, um país…, uma religião, um partido político, uma organização…) e essas roupas servem para nos diluir no grupo, perder nossa autonomia individual e ver o outro como um inimigo, alguém que lutará contra mim para ficar com as migalhas da mesa dos poderosos. Enquanto os poderosos olham com complacência enquanto nos matamos uns aos outros.

Talvez seja hora de parar com as besteiras e falar claramente sobre LUTAS DE CLASSE, em vez de olhar para baixo. Porque é sobre isso que as elites não querem falar, para que outras consciências não sejam despertadas. É o confronto entre ricos e pobres, decorado, muito modernamente, com racismo, times de futebol, nacionalismo… e qualquer outro título que queiram dar a ele.

É claro que outro futebol (outro esporte) é possível, porque outra sociedade é possível, e necessária, já que o tempo de recuperação está se esgotando…, e como não há mais ciclos nas crises, já que vivemos em uma crise contínua, talvez o desejo de ser igual seja despertado, ou melhor, de ser igual e livre novamente (não para que seu ex não o veja na mesma cidade, ou apenas para tomar uma cerveja, algo que está se tornando cada vez mais distante de muitos bolsos), verdadeiramente livre, porque não podemos entender que um ser humano seja considerado ilegal.

Simon Peña

Tradução > Liberto

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2023/06/02/espanha-insultos-racistas-no-futebol/

agência de notícias anarquistas-ana

Silêncio de outono.
Nem o grito do carteiro…
cochicho de folhas.

Anibal Beça