[Reino Unido] Entrevista | Os cinco melhores livros anarquistas recomendados por Ruth Kinna

Às vezes difamado, muitas vezes incompreendido, raramente ensinado nas universidades, o anarquismo é uma filosofia política e um movimento social que está muito distante da política dominante atual. Mas foi e continua a ser um poderoso motivador. A teórica política Ruth Kinna nos fala sobre os livros para ler e para entender melhor o anarquismo.

Edouard Mathieu > Para começar, você pode tentar nos dar sua própria definição de anarquismo?

Ruth Kinna < É sempre complicado. Eu acho que o anarquismo descreve um conjunto de práticas; descreve políticas; também descreve uma tradição e dentro dessa tradição há um conjunto de culturas. É um movimento político delimitado, e pode ser definido pelo modo como seus defensores, aqueles que se chamam de anarquistas, se envolvem com essas tradições e culturas e mudam suas práticas ao longo do tempo.

Edouard Mathieu > É possivelmente a teoria política mais carregada por mal entendidos, e aquela que provoca o maior contraste entre como é definida pelos teóricos e como uma pessoa qualquer na rua pensa quando ouve a palavra “anarquia”. Por que você acha que é assim?

Ruth Kinna < É muito difícil para as pessoas que vêm de outros tipos de política, dentro da opinião dominante, entender o anarquismo. A maioria das maneiras como pensamos sobre nossas instituições, constituições e organizações políticas são moldadas de uma maneira particular: no mínimo, a premissa teórica é que precisamos de algum tipo de estrutura para tornar os cidadãos disciplinados e nos fazer cooperar. Os anarquistas partem de uma base muito diferente: que naturalmente podemos cooperar. Pode ser de uma maneira muito sociável, no sentido de que temos relações amigáveis, ou pode significar, de maneira mais restrita, que podemos cooperar, apesar de nossas ansiedades, antagonismos e conflitos. E os anarquistas pensam que é através dessa cooperação que vamos construir nossas instituições.

É muito difícil para os teóricos políticos pensarem sobre o anarquismo de qualquer outra forma que não negativa, porque parece contradizer tudo no que a política é baseada: a ideia de que precisamos de uma ordem construída e definida, e que não podemos coordenar nossas ações a menos que alguém nos ajude a fazer isso. Os anarquistas vêm com a ideia de que a anarquia é ordem e o que existe atualmente é desordem. Isso assusta as pessoas. E a forma como o movimento anarquista emergiu no contexto pós revoluções francesa e americana faz com que pareça ser muito mais ameaçador do que outros grupos críticos, porque eles não estão jogando de acordo com as regras do jogo.

Os primórdios da história da prática anarquista acontece assim: quando os anarquistas reagem à força repressora que é usada contra eles no final do século 19, eles entram nesses ciclos de violência e ganham a reputação de serem exatamente o que dizem não ser. Torna-se fácil apontar evidências de que os anarquistas são esses indivíduos terroristas, agressivos, destrutivos e niilistas, simplesmente porque você pode apontar vários assassinos e grupos que defendiam meios violentos para derrubar instituições existentes. A imagem é bastante poderosa e se torna quase romântica de certa forma. Atrai muita atenção na literatura e, mais tarde, nos filmes, o que ajuda a perpetuá-la. Torna-se muito difícil para os anarquistas se afastarem disso; mas eles próprios também, às vezes, brincam com isso.

Edouard Mathieu > É por isso que se tornou raro ouvir pessoas, especialmente intelectuais públicos, descrevendo-se como anarquistas? Enquanto o socialismo e o comunismo, apesar de sua história igualmente contaminada, parecem ainda ter muitas pessoas abertamente apoiando-os?

Ruth Kinna < Ainda há intelectuais públicos que se rotulam como anarquistas; Noam Chomsky é um deles, ou Naomi Klein – que eu não tenho certeza de que ela é anarquista, mas expressou claramente visões que são anarquistas. Ela fala sobre movimentos anarquistas, endossa práticas anarquistas. Então, há pessoas que se chamam anarquistas. Há também, certamente, movimentos sociais que se dizem anarquistas, ou organizações trabalhistas cheias de pessoas que se dizem anarquistas, mesmo que o sindicato não se chame assim. Os IWW, por exemplo, é essencialmente uma união anarquista em termos de seus membros, mesmo que não se inscreva em uma ideologia específica. Certamente, desde a ascensão do movimento de justiça social no final da década de 1990, tem sido muito maior o sentimento em que as raízes da esquerda são definidas por ideias anarquistas. Há uma literatura enorme agora sobre o anarquismo; existem editores e movimentos cooperativos que se chamam anarquistas. Então está lá, existe, mas você está certo de que não existe muito publicamente, pelo menos não no mainstream.

>> Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui:

https://drive.google.com/file/d/1S6_tGhEY_x9agweuKFibroJeeTWX7MJz/view?fbclid=IwAR0GfCuPj-tgk43H21eCgK3BYi2_X3CwHgB_2jBDkaDiwA8vEwvOlqVqXPU

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