[EUA] “Um ilustrador anarquista busca histórias radicais para combater o fascismo”

As ilustrações, murais e literatura de N.O. Bonzo se baseiam nas tradições da arte radical, abordando relações de trabalho e identidade em comunidades locais e movimentos de protesto.

Por Billy Anania| 19/10/2021

O ilustrador anarquista N.O. Bonzo produz mídia descentralizada numa paisagem cultural altamente burocrática. Suas ilustrações, murais e literatura emergem em locais inesperados, das ruas de Portland, Oregon, até os confins do Reddite doTwitter, mirando as relações laborais e de identidade no local de trabalho e nas ruas.

Crescimento e cuidado são temas centrais que se manifestam em corpos feitos de folhas, trabalhadores cultivando a terra e black blocs rompendo as barreiras policiais. Cada obra de arte manda uma mensagem clara e corajosa, com imagens luminosas sobre fundos pretos. Figuras em detalhe de famílias e camaradas parecem enérgicas, mas também íntimas, ocasionalmente justapostas a carros de polícia e trajes nazistas destruídos.

Canalizando desenhos monocromáticos de charges e xilogravuras do início do século 20, Bonzo se baseia nas tradições radicais com elementos de grafite, símbolos sindicais, erotismo queer e pessoas comuns vivendo sob vigilância policial e de fronteira. A gravura permite ao artista reproduzir e distribuir sua arte rapidamente através de variados meios (por exemplo, pôsteres, banners, roupas e adesivos), refletindo um desejo de quebrar o que eles chamam de “pequenos feudos de conhecimento técnico privatizado”.

“A arte colocada dentro de sua própria esfera, como uma instituição separada da vida cotidiana, foi e continua sendo um ataque ao espírito criativo – a alienação da criação da vida”, disse Bonzo ao Hyperallergic. “Muitas vezes quando você conversa com as pessoas sobre como elas foram atraídas pelo anarquismo, elas identificam subculturas dentro do punk ou do hip-hop. Estes espaços são incrivelmente ricos e repletos de expressões, muitas das quais não serão necessariamente identificadas como arte ou irão para uma galeria ou museu”.

Com a PM Press, Bonzo publicou Everyday Fire May Day Zine! – que retrata animais dançando em torno de uma fogueira de equipamentos antimotim – além de um livro de colorir antifascista e reedições ilustradas de Kropotkin (Mutual Aid: A Factor of Evolution [1902] e The Great French Revolution [1893]). Bonzo complementa as palavras do historiador russo com imagens de protestos e de despensas de alimentos, adaptando histórias de organização comunitária ao movimento abolicionista atual.

Influenciado pelas comunidades de arte “faça-você-mesmo”, Bonzo afirma que valores compartilhados criam uma estética comum. Isto pode ser visto, eles afirmam, não apenas nas paredes de casas punk ou em tatuagens “stick-and-poke” [artesanais], mas na organização contra o racismo e expropriação. Nesse sentido, seu trabalho é internacionalista, expressando solidariedade com todos aqueles que se opõem ao capitalismo e à extrema-direita em todo o mundo.

“Ter espaços públicos que apresentem fortes amostras visíveis de arte e projetos que explicitem o antirracismo estatal como um valor, que rejeitem totalmente a transfobia, que celebrem e valorizem a dignidade e a compaixão – estes podem ser as direções e sinais para as cenas ou comunidades que trabalham para derrubar o fascismo organizado”, eles dizem.

Bonzo postula que abolição não é a destruição da sociedade, mas seu renascimento. Na linha do falecido autor David Graeber, sua arte retrata o mundo como “algo que fazemos e que poderíamos, facilmente, fazer diferente”.

Uma seleção do trabalho de Bonzo pode ser encontrada em seu website (nobonzo.com), no Etsy (etsy.com/shop/streetleavespdx) shop e na PM Press (blog.pmpress.org/authors-artists-comrades/n-o-bonzo).

Fonte: https://hyperallergic.com/685478/no-bonzo-anarchist-illustration-labor-identity/

Tradução > Erico Liberatti

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